"A fala do poder não nos causa embaraço algum. Sobre ela não paira nenhum interdito. Tanto que, ao que me consta, as autoridades eclesiásticas, até o momento, não lançaram proibições sobre os rambos da vida nem sobre aqueles que se dedicam à fabricação das armas. No entanto, pudicos parlamentares evangélicos se movimentaram para que se retirassem, no salão do congresso, telas que mostravam os seios nus das mulheres, enquanto conservadores e liberais católicos se uniram para impedir a apresentação de Je vous salue, Marie! Camisinhas de vênus são terrores infernais maiores que a violência do poder. Como disse alguém, censor é aquele que corta a cena quando o mocinho beija o seio da mocinha e deixa a cena quando o mocinho corta o seio da mocinha. Brinco coma insólita possibilidade de que o discurso político tenha a função não confessada de silenciar o discurso erótico. É sintomático que, até agora, tanto as teologias conservadoras quanto as revolucionárias não tenham sido capazes de elaborar um discurso prazeroso, e muito menos um discurso sobre o prazer. A ética e a política parecem-me ser a continuação moderna do ascetismo que faz silêncio sobre as vozes do corpo".
Rubem Alves, no livro: Se eu pudesse viver minha vida novamente..., página 45.
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