Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

COMO SER ÚNICO EM UM MUNDO TÃO VASTO?

A diversidade cultural é evidente em nossa sociedade, sendo responsável por contribuir na definição da personalidade dos indivíduos. Essa diversidade é caracterizada por diversos aspectos, especialmente, linguagem, crença, vestuário, tradições, enfim tudo que diferencie uma pessoa da outra. Essa relação é, no mínimo, complexa, uma vez que acarreta intermináveis debates e possíveis conflitos.

Inúmeros sociólogos buscaram entender as diferenças culturais em várias sociedades e como os indivíduos se relacionam. Peter Berger foi um deles, em sua obra privilegiou a análise do problema da interação social, enfatizando acontecimentos que afetam o comportamento das pessoas, afirmando que o "caráter processual de toda construção identitária no meio social leva a compreender que a sociedade define o ser humano’’, mas que "o ser humano também define a sociedade’’.

Comportamentos como esses podem ser constatados, principalmente, na escola, pois lá são ensinados que todos são iguais, sem distinção alguma, quando na verdade, não é o que ocorre. As crianças, por exemplo, se diferem desde pequenas umas das outras, seja no modo de pensar ou de agir, isso só tem a se intensificar ao longo do tempo; e tendem a refletir, posteriormente, na produção cultural e na bagagem de cada ser humano, ou seja, aquilo que faz do homem um ser singular.

Muitas vezes, há a supervalorização de estilos e a depreciação de outros, por consequência, a exclusão dos que se contrapõem ao gosto da maioria. A escola como agente educador e socializador, juntamente com as famílias são fundamentais para mostrar aos estudantes – de qualquer faixa etária – maneiras de fazer das diferenças, oportunidades, construção de suas próprias identidades e para isso o respeito é essencial.

Nesse sentido, a escola, certamente, tem influência na formação cultural e social dos alunos, porém não apenas ela, mas todos que fazem ou fizeram parte da vida deles. Dessa forma, ações de conscientização são boas alternativas que devem ser realizadas desde o início da vida escolar alcançando resultados promissores ao longo do tempo.

Débora Lucinda Alves, estudante do 3º ano do ensino médio em uma escola estadual do estado de São Paulo, que ganhou menção honrosa em concurso promovido pela Revista Cult. Matéria completa e original aqui.


AMOR, IMBATÍVEL AMOR





        O amor é substância criadora e mantenedora do Universo, constituído por essência divina.

        É um tesouro que, quanto mais se divide, mais se multiplica, e se enriquece à medida que se reparte.
        Mais se agiganta, na razão que mais se doa. Fixa-se com mais poder, quanto mais se irradia.
        Nunca perece, porque não se entibia nem se enfra­quece, desde que sua força reside no ato mesmo de doar-se, de tornar-se vida.
        Assim como o ar é indispensável para a existência orgânica, o amor é o oxigênio para a alma, sem o qual a mesma se enfraquece e perde o sentido de viver
        É imbatível, porque sempre triunfa sobre todas as vicissitudes e ciladas.
        Quando aparente — de caráter sensualista, que bus­ca apenas o prazer imediato — se debilita e se envene­na, ou se entorpece, dando lugar à frustração.
        Quando real, estruturado e maduro — que espera, estimula, renova — não se satura, é sempre novo e ideal, harmônico, sem altibaixos emocionais. Une as pes­soas, porque reúne as almas, identifica-as no prazer geral da fraternidade, alimenta o corpo e dulcifica o eu profundo.
O prazer legítimo decorre do amor pleno, gerador da felicidade, enquanto o comum é devorador de ener­gias e de formação angustiante.
        O amor atravessa diferentes fases: o infantil, que tem caráter possessivo, o juvenil, que se expressa pela insegurança, o maduro, pacificador, que se entrega sem reservas e faz-se plenificador.
Há um período em que se expressa como compen­sação, na fase intermediária entre a insegurança e a ple­nificação, quando dá e recebe, procurando liberar-se da consciência de culpa.
O estado de prazer difere daquele de plenitude, em razão de o primeiro ser fugaz, enquanto o segundo é permanente, mesmo que sob a injunção de relativas aflições e problemas-desafios que podem e devem ser vencidos.
Somente o amor real consegue distingui-los e os pode unir quando se apresentem esporádicos.
A ambição, a posse, a inquietação geradora de in­segurança — ciúme, incerteza, ansiedade afetiva, cobran­ça de carinhos e atenções —, a necessidade de ser ama­do caracterizam o estágio do amor infantil, obsessivo, dominador, que pensa exclusivamente em si antes que no ser amado.
A confiança, suave-doce e tranqüila, a alegria na­tural e sem alarde, a exteriorização do bem que se pode e se deve executar, a compaixão dinâmica, a não-posse, não-dependência, não-exigência, são benesses do amor pleno, pacificador, imorredouro.
Mesmo que se modifiquem os quadros existenci­ais, que se alterem as manifestações da afetividade do ser amado, o amor permanece libertador, confiante, in­destrutível.
Nunca se impõe, porque é espontâneo como a pró­pria vida e irradia-se mimetizando, contagiando de jú­bilos e de paz.
Expande-se como um perfume que impregna, agra­dável, suavemente, porque não é agressivo nem em­briagador ou apaixonado...
O  amor não se apega, não sofre a falta, mas frui sempre, porque vive no íntimo do ser e não das gratifi­cações que o amado oferece.
O  amor deve ser sempre o ponto de partida de to­das as aspirações e a etapa final de todos os anelos hu­manos.
O  clímax do amor se encontra naquele sentimento que Jesus ofereceu à Humanidade e prossegue doan­do, na Sua condição de Amante não amado.

Joanna D'Angelis, Espírito, através de Divaldo Franco, no livro: Amor Imbatível Amor


terça-feira, 24 de novembro de 2015

O MANDAMENTO MAIOR





1. Os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca aos saduceus, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, para o tentar, propôs-lhe esta questão: – “Mestre, qual o mandamento maior da lei?” – Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. – Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” (S. MATEUS, 22: 34 a 40.)


2. Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas. (Idem, 7:12.)
Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem. (S. LUCAS, 6:31.)

3. O reino dos céus é comparável a um rei que quis tomar contas aos seus servidores. – Tendo começado a fazê-lo, apresentaram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. – Mas, como não tinha meios de os pagar, mandou seu senhor que o vendessem a ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que lhe pertencesse, para pagamento da dívida. – O servidor, lançando-se-lhe aos pés, o conjurava, dizendo: “Senhor, tem um pouco de paciência e eu te pagarei tudo” – Então, o senhor, tocado de compaixão, deixou-o ir e lhe perdoou a dívida. – Esse servidor, porém, ao sair encontrando um de seus companheiros, que lhe devia cem dinheiros, o segurou pelo pescoço e, quase a estrangulá-lo dizia: “Paga o que me deves.” – O companheiro, lançando-se-lhe aos pés, o conjurava, dizendo: “Tem um pouco de paciência e eu te pagarei tudo: – Mas o outro não quis escutá-lo; foi-se e o mandou prender, para tê-lo preso até pagar o que lhe devia. Os outros servidores, seus companheiros, vendo o que se passava, foram, extremamente aflitos, e informaram o senhor de tudo o que acontecera. – Então, o senhor, tendo mandado vir à sua presença aquele servidor, lhe disse: “Mau servo, eu te havia perdoado tudo o que me devias, porque mo pediste. – Não estavas desde então no dever de também ter compaixão do teu companheiro, como eu tivera de ti?” E o senhor, tomado de cólera, o entregou aos verdugos, para que o tivessem, até que ele pagasse tudo o que devia. É assim que meu Pai, que está no céu, vos tratará, se não perdoardes, do fundo do coração, as faltas que vossos irmãos houverem cometido contra cada um de vós. (S. MATEUS, 18:23 a 35.)

4. “Amar o próximo como a si mesmo; fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós”, é a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem para com o próximo. Não podemos encontrar guia mais seguro, a tal respeito, que tomar para padrão, do que devemos fazer aos outros, aquilo que para nós desejamos. Com que direito exigiríamos dos nossos semelhantes melhor proceder, mais indulgência, mais benevolência e devotamento para conosco, do que os temos para com eles? A prática dessas máximas tende à destruição do egoísmo. Quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas, tão-somente, união, concórdia e benevolência mútua. 

Texto retirado do Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, capítulo XI, intitulado, Amar o próximo com a si mesmo.

A MENSAGEM CRISTÃ

Não se reveste o ensinamento de Jesus de quaisquer fórmulas complicadas.

Guardando embora o devido respeito a todas as escolas de revelação da fé com os seus colégios iniciáticos, notamos que o Senhor desce da Altura, a fim de libertar o templo do coração humano para a sublimidade do amor e da luz, através da fraternidade, do amor e do conhecimento.

Para isso, o Mestre não exige que os homens se façam heróis ou santos de um dia para outro. Não pede que os seguidores pratiquem milagres, nem lhes reclama o impossível.

Dirige-se a palavra d'Ele à vida comum, aos campos mais simples do sentimento, à luta vulgar e às experiências de cada dia.

Contrariamente  a  todos  os  mentores  da  Humanidade, que  viviam,  até  então,  entre mistérios religiosos e dominações políticas, convive com a massa popular, convidando as criaturas a levantarem o santuário do Senhor nos próprios corações.

Ama a Deus, Nosso Pai - ensinava Ele -, com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todo o teu entendimento.

Ama o próximo como a ti mesmo.
 
Perdoa ao companheiro quantas vezes se fizerem necessárias.
 
Empresta sem aguardar retribuição.
 
Ora pelos que te perseguem e caluniam.
 
Ajuda aos adversários.
 
Não condenes para que não sejas condenado.
 
A quem te pedir a capa cede igualmente a túnica.
 
Se alguém te solicita a jornada de mil passos, segue com ele dois mil.
 
Não  procures  o  primeiro  lugar  nas  assembleias,  para  que a  vaidade  te  não  tente  o coração.

Quem se humilha será exaltado. 

Ao que te bater numa face, oferece também a outra. 

Bendizes aquele que te amaldiçoa. 

Liberta e serás libertado. 

Dá e receberás. 

Sê misericordioso. 

Faze o bem ao que te odeia.

Qualquer que perder a sua vida, por amor ao apostolado da redenção, ganhá-lo-á mais perfeita, na glória da eternidade. 

Resplandeça a tua luz. 

Tem bom ânimo. 

Deixa aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos. 

Se pretendes encontrar-me na luz da ressurreição, nega a ti mesmo, alegra-te sob o peso da cruz dos próprios deveres e segue-me os passos no calvário de suor e sacrifício que precede os júbilos da aurora divina! 

E,  diante  desses  apelos,  gradativamente,  há  vinte séculos, calam-se  as  vozes  que  mandam revidar e ferir!... E a palavra do Cristo, acima de editos e espadas, decretos e encíclicas, sobe sempre e cresce cada vez mais, na acústica do mundo, preparando os homens e a vida para a soberania do Amor Universal.

ESTA É A MENSAGEM



"Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros." - (1 Jo, 3-11)



Em todo o mundo sentimos a enorme inquietação por novas mensagens do  Céu.  Forças  dinâmicas  do  pensamento insistem em  receber  modernas expressões  de  velhas  verdades, ensaiando-se  criações  mentais  diferentes. 


Notamos,  porém,  que  a  arte  procura  novas  experimentações  e  se  povoa  de imagens  negativas,  que  a  política  inventa ideologias  e  processos  inéditos  de governar e dilata o curso da guerra destruidora, que a ciência busca desferir vôos mais altos e institui teorias dissolventes da concórdia e do bem-estar.

Grandes facções religiosas efetuam trabalho heroico na demonstração da eternidade  da  vida,  suplicando sinais espetaculares do  reino  invisível  ao homem comum. 

Convenhamos  que  haverá  sempre  benefício  nas  aspirações elevadas  do espírito  humano,  quando  sinceramente  procura  as vibrações  de  natureza divina;  todavia,  necessitamos  reconhecer que  se  há  inúmeras  mensagens substanciosas, edificantes e iluminadas na Terra, a maior e mais preciosa de todas, desde o princípio da organização planetária,é aquela da solidariedade fraternal, no “amemo-nos uns aos outros”. 

Esta  é  a  recomendação  primordial.  Sentindo-a,  cada  discípulo pode examinar, nos círculos da luta diária, o índice de compreensão que já possui, acerca dos Desígnios Divinos.

Mesmo  que  esse  ou  aquele  irmão  ainda  não  a  tenha entendido,  inicia  a execução do paternal conselho em ti mesmo. Ama  sempre.  Faze  todo  bem.  Começa  estimando  os  que  te não compreendem, convicto de que esses, mais depressa, te farão melhor. 

Emmanuel, (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, no Livro: "Pão Nosso".

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O INSTINTO E A INTELIGÊNCIA


A controvérsia prosseguia. Alfredo e Pirilo, dois amigos dedicados ao estudo da filosofia, permaneciam, horas inteiras, dialogando sobre a função da alma humana.



Qual teria sido a primeira força a desdobrar-se na criatura recém-criada pela Sabedoria Divina? A inteligência ou o instinto?



Alfredo admitia que a inteligência tivesse tido a prioridade, enquanto Pirilo acreditava que o instinto teria sido o começo das tarefas evolutivas da alma humana. O primeiro exaltava os méritos da razão, filha da inteligência, e o segundo se reportava ao instinto como sendo o agente da natureza que operava lentamente, preparando o caminho para o discernimento e, muitas vezes, Pirilo justificava o seu ponto de vista, acentuando:



-Do instinto para a inteligência, a estrada é longa a percorrer. De forma em forma ou de experiência em experiência, o instinto vai despindo a própria inferioridade, ou perdendo os impulsos selvagens, até conquistar a inteligência que o conduzirá ao discernimento e à razão.

Por isso é que devemos usar de muita tolerância e paciência, de uns para com os outros, porque muitos irmãos se fazem delinquentes por excesso de agressividade, pelo estado de evolução deficitária em que se encontram.



Alfredo ouvia, esboçando gestos de incredulidade, até que, um dia, propôs ao amigo:



-Façamos uma experiência em que provarei a você que a educação cultivada pela inteligência dispensa todas as afirmativas que colocam o instinto na base do processo evolutivo. Demonstrarei que basta educar a inteligência e todo o primitivismo do instinto desaparecerá.



E continuou:



- Compraremos junto um gato comum, em cuja impulsividade o instinto esteja reinando... O gato ficará comigo em minha casa e me disponho a educa-lo esmeradamente. Daqui a um ano; convidarei você para almoçarmos juntos e o animal se portará com as características de um menino carinhosamente preparado para a vida social.



Concordaram ambos com o empreendimento e Alfredo levou o felino para sua própria residência.



Decorrido um ano, Alfredo solicitava a presença de Pirilo para o almoço do dia seguinte e comunicou:


- Você verá o prodígio da educação. O gato assimilou todos os meus ensinos. Tem os hábitos de um rapaz de certo nível intelectual.



Pirilo aceitou o convite com satisfação e na hora aprazada pela manhã do dia imediato, ei-lo com Alfredo na sala de estar. O dono da casa trouxe o gato ao exame do amigo. O visitante ficou encantando. O felino obedecia a todas as ordens do dono. Sentava-se, erguia-se sobre as patas dianteiras e retornava à posição certa, atendendo ao pedido do educador. Ao almoço alimentava-se em um prato especial, levando a comida à boca com a patinha direita.       



Terminada a refeição, disse Alfredo, entusiasmado:



- Você viu, Pirilo, a superioridade da inteligência educada sobre o instinto?



- Estou vendo – respondeu o amigo.



Foi o momento em que Pirilo voltou à palavra e pediu ao companheiro que fechasse as portas do aposento em que se achavam e pediu licença para ver até que ponto chegaria o experimento do bichano.



Alfredo apoiou a solicitação, e Pirilo, enfiando a mão direita num dos bolsos do paletó, dali tirou uma caixinha da qual escapou um rato pequeno que saltou para a mesa, saltitando e correndo qual se estivesse sedento de liberdade. Bastou isso e o gato pulou apressado, perseguindo o rato e quebrando todas as peças em que o almoço fora servido, até que pegou o animalzinho e pôs-se a devora-lo à vista dos amigos espantados.



Foi quando Pirilo dirigiu-se a Alfredo, perguntando:

- Você vê, Alfredo, o poder do instinto que antecede a inteligência e a educação?



Alfredo sorriu com desapontamento, mas não disse palavra.

Emmanuel (Espírito), no livro "Semente de Mostarda", psicografia de Francisco Cândido Xavier.


SOBRE OS INSTINTOS - REVISTA ESPÍRITA 02/1862





(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS ─ MÉDIUM: SRA. COSTEL)


Ensinar-te-ei o verdadeiro conhecimento do bem e do mal, que o Espírito confunde com muita frequência. O mal é a revolta dos instintos contra a consciência, este tato interior e delicado que é o tato moral. Quais os limites que o separam do bem que ele contorna por toda parte? O mal não é complexo; é uno e emana do ser primitivo, que quer a satisfação dos instintos às custas do dever. 

Primitivamente destinado a desenvolver no homem animal o cuidado de sua conservação e de seu bem-estar, o instinto é a única origem do mal, porque, persistindo mais violento e mais áspero em certas naturezas, ele as impele a se apoderarem do que desejam ou a concentrar o que possuem. 

O instinto a que os animais obedecem cegamente, e que é a sua própria virtude, deve ser incessantemente combatido pelo homem que quer elevar-se e substituir o grosseiro utensílio da necessidade pelas armas finamente cinzeladas da inteligência.


Pensas, porém, que nem sempre o instinto é mau e que, por vezes, a Humanidade lhe deve sublimes inspirações, como, por exemplo, na maternidade e em certos atos de dedicação, nos quais com presteza e segurança substitui a reflexão. Minha filha, tua objeção é precisamente a causa do erro em que caem os homens prontos a desconhecerem a verdade sempre absoluta nas suas consequências.


Sejam quais forem os bons resultados de uma causa má, os exemplos jamais devem levar a concluir contra as premissas estabelecidas pela razão. O instinto é mau, porque é puramente humano e a Humanidade não deve pensar senão em despojar-se, em deixar a carne para elevar-se ao Espírito. Se o mal caminha paralelamente ao bem, é que o seu princípio muitas vezes tem resultados opostos a si mesmo, que o fazem desconhecido do homem leviano e arrastado pela sensação.


Nada de verdadeiramente bom pode emanar do instinto. Um impulso sublime não é devotamento, assim como uma inspiração isolada não é gênio. O verdadeiro progresso da Humanidade é a sua luta e o seu triunfo contra a essência mesma de seu ser. Jesus foi enviado à Terra para o provar humanamente. Ele pôs a descoberto a verdade, bela fonte escondida nas areias da ignorância. Não perturbeis mais a limpidez da linfa divina pelos compostos do erro. E, crede, os homens que não são bons e devotados senão instintivamente, são maus, porque sofrem uma cega dominação que de repente pode precipitá-los no abismo 


LÁZARO



OBSERVAÇÃO: Não obstante o nosso respeito pelo Espírito de Lázaro, que nos tem dado tantas e tão belas páginas, permitimo-nos não concordar com suas últimas proposições. Pode-se dizer que há duas espécies de instintos: o animal e o moral. O primeiro, como diz muito bem Lázaro, é orgânico; é dado aos seres vivos para a sua conservação e a de sua descendência. Ele é cego e quase inconsciente, porque a Providência quis dar um contrapeso à sua indiferença e à sua negligência. Já o mesmo não se dá com o instinto moral, que é privilégio do homem. Pode assim ser definido: Propensão inata para fazer o bem ou o mal. Ora, essa propensão é devida ao estado de maior ou menor avanço do Espírito. O homem cujo Espírito já é depurado faz o bem sem premeditação e como uma coisa muito natural, pelo que se admira de ser louvado. Assim, não é justo dizer que “os homens que não são bons e devotados senão instintivamente, são maus, porque sofrem uma cega dominação que de repente pode precipitá-los no abismo.” Os que são instintivamente bons e devotados denotam um progresso realizado; nos que o são intencionalmente, o progresso está por realizar-se, por isso há trabalho e luta entre os dois sentimentos. No primeiro, a dificuldade está vencida; no segundo, deve ser vencida. O primeiro é como um homem que sabe ler, e lê sem esforço, quase sem se aperceber; o segundo é como o que soletra. Por que um chegou mais tarde, terá menos mérito que o outro?

ALLAN KARDEC