Bem que os espíritas se consideravam uma escola filosófica, mas nunca
lhes tinha vindo à mente se julgar um partido. Ora, eis que um belo dia
o Moniteur lhes dá esta notícia, que os surpreendeu um pouco. E
quem foi que lhes deu esta qualificação? Foi um desses jornalistas
inescrupulosos, que lançam epítetos ao acaso, sem lhes compreender o
alcance? Não; é um relatório oficial, feito ao primeiro corpo do Estado,
ao Senado. Assim, não é provável que, num documento dessa natureza,
essa palavra tenha sido pronunciada levianamente. Sem dúvida não foi a
benevolência que a ditou, mas foi dita e faz sucesso, porque os jornais
não a deixaram cair. Alguns, crendo aí encontrar um agravo a mais contra
o Espiritismo, nada tiveram de mais urgente do que estampar em suas
colunas o título de: O Partido Espírita.
Assim, esta pobre escolinha, tão ridicularizada, tão humilhada, que
caridosamente pretendiam enviar em massa ao hospício; sobre a qual
diziam que bastava soprar para que ela desaparecesse; que vinte vezes a
declararam morta e para sempre enterrada; à qual não há mais fino
escritor hostil que não se tenha gabado de lhe haver dado o golpe de
misericórdia, mas concordando, com estupefação, que ela invadia o mundo e
todas as classes da sociedade; da qual quiseram, a todo custo, fazer
uma religião, gratificando-a com templos e sacerdotes, grandes e
pequenos, que ela jamais viu, ei-la de repente transformada em partido.
Por esta qualificação, o Sr. Genteur, o relator do Senado, não lhe deu o
seu verdadeiro caráter, mas a exaltou; deu-lhe uma posição, um lugar,
pondo-a em evidência. Porque a ideia de partido implica a de uma
certa força, de uma opinião bastante importante, bastante ativa e
bastante espalhada para representar um papel, e com a qual é preciso
contar.
Por sua natureza e por seus princípios, o Espiritismo é
essencialmente pacífico; é uma ideia que se infiltra sem ruído, e se
encontra numerosos aderentes, é que agrada; jamais fez propaganda nem
exibições quaisquer; forte pelas leis naturais, nas quais se apoia,
vendo-se crescer sem esforços nem abalos, não vai ao encontro de
ninguém, não violenta nenhuma consciência; diz o que é e espera que a
ele venham. Todo o ruído que se fez a sua volta é obra de seus
adversários; atacaram-no, ele teve que se defender, mas sempre o fez com
calma, moderação e só pelo raciocínio; jamais se afastou da dignidade
que é própria de toda causa que tem consciência de sua força moral;
jamais usou de represálias, pagando injúria por injúria, maus
procedimentos por maus procedimentos. Hão de convir que não é este o
caráter ordinário dos partidos, turbulentos por natureza, fomentando a
agitação e a quem tudo é bom para chegar aos fins. Mas, já que lhe dão
este nome, ele o aceita, certo de que não o desonrará por qualquer
excesso, pois repudiaria quem quer que dele se prevalecesse para
suscitar a menor perturbação.
O Espiritismo seguia sua rota sem provocar qualquer manifestação
pública, mas aproveitando a publicidade que lhe faziam os seus
adversários; quanto mais a sua crítica era zombeteira, acerba e
virulenta, tanto mais excitava a curiosidade dos que não o conheciam e
que, para saberem como proceder diante dessa assim chamada nova
excentricidade, iam simplesmente informar-se na fonte, isto é, nas obras
especiais; estudavam-no e encontravam outra coisa do que tinham ouvido
dizer. É um fato notório que as declamações furibundas, os anátemas e as
perseguições ajudaram poderosamente a sua propagação, porque, em vez de
lhe desviar a atenção, provocaram o seu exame, ainda que fosse pela
atração do fruto proibido. As massas têm sua lógica; elas se dizem que
se uma coisa nada fosse, dela não falariam, e medem a sua importância
precisamente pela violência dos ataques de que é objeto e pelo pavor que
causa aos seus antagonistas.
Instruídos pela experiência, certos órgãos de publicidade se
abstinham de falar dele, bem ou mal, evitando mesmo pronunciar o seu
nome, para não lhe dar repercussão, limitando-se, de vez em quando, a
lhe lançar alguns ataques violentos às escondidas, quando uma
circunstância o punha forçosamente em evidência. Alguns também guardaram
silêncio, porque a ideia tinha penetrado em suas fileiras e, com ela,
se não talvez a convicção, pelo menos a hesitação.
Então a imprensa em geral se calava sobre o Espiritismo, quando uma
circunstância, que não poderia ser obra do acaso, a obrigou a falar
dele. E quem provocou o incidente? Sempre os adversários da ideia que,
ainda dessa vez, se equivocaram, produzindo um efeito totalmente
contrário ao que esperavam. Para dar mais repercussão ao seu ataque,
conduzem-no com pouca habilidade, não no terreno de uma folha sem
caráter oficial e cujo número de leitores é limitado, mas por via de
petições à própria tribuna do Senado, onde ela é objeto de discussão e
de onde saiu a expressão de partido espírita. Ora, graças aos
jornais de todas as colorações, obrigados a notificar o debate, a
existência desse pequeno partido foi revelada instantaneamente a toda a
Europa e além.
É verdade que um membro da ilustre assembleia disse que não havia senão patetas
que fossem espíritas, ao que o presidente respondeu que os tolos também
podiam formar um partido. Ninguém ignora que hoje os espíritas se
contam por milhões, e que altas notabilidades simpatizam com suas
crenças; é, pois, de admirar que um epíteto tão pouco cortês e tão
generalizado tenha saído daquele recinto, dirigido a notável parte da
população, sem que o autor tenha refletido até onde ele atingia.
De resto, os próprios jornais se encarregaram de desmentir tal
qualificação, certamente não por benevolência, mas, que importa! O
jornal Liberté, entre outros, que aparentemente não quer que se seja livre
de ser espírita, como se o é de ser judeu, protestante, são-simonista
ou livre-pensador, publicou, em seu número de 13 de junho, um artigo
assinado por Liévin, do qual eis um extrato:
“O Sr. Genteur, comissário do governo, revelou ao Senado a existência de um partido que não conhecíamos,
e que, como os outros, parece contribuir, no limite de suas forças,
para abalar as instituições do império.” Sua influência já se fizera
sentir o ano passado, e o partido espírita — nome que lhe deu o
Sr. Genteur — tinha obtido do Senado, sem dúvida graças à sutileza dos
meios de que dispõe, a remessa ao governo da famosa petição de
Saint-Etienne, na qual eram denunciadas, como se lembram, não as tendências
materialistas da Escola de Medicina, mas as tendências filosóficas da
biblioteca da comuna. Até aqui tínhamos atribuído ao partido da
intolerância a honra desse sucesso, e o considerávamos por si como uma
consolação por seu último revés; mas parece que nos tínhamos enganado e
que a petição de Saint-Etienne não passava de uma manobra desse partido espírita, cujo poder oculto parece querer exercer-se mais particularmente em detrimento das bibliotecas.
“Assim, segunda-feira o Senado ocupava-se de uma nova petição, na qual o partido espírita, levantando ainda a cabeça, denunciava as tendências da biblioteca de Oullins (Rhône). Mas desta vez a venerável assembleia, posta em guarda pelas
revelações do Sr. Genteur, frustrou os cálculos dos espíritas, por uma
unânime ordem do dia. Apenas o Sr. Nisard se deixou apanhar mais ou menos por esta astúcia de guerra, e de boa-fé
estendeu a mão a esses pérfidos inimigos. Deu-lhes o apoio de um
parecer em que, por sua vez, assinalava os perigos dos maus livros.
Felizmente o equívoco do honrado senador não foi partilhado e os
espíritas, arrependidos e confusos, foram reconduzidos como mereciam.”
Um outro jornal — Revue politique hebdomadaire — de 13 de junho, assim começa um artigo sobre o mesmo assunto:
“Ainda não conhecíamos todos os nossos perigos. Caso se acredite no Constitutionnel,
não eram bastantes os partidos legitimista, orleanista, republicano,
socialista, comunista e o partido vermelho, sem contar o partido
liberal, que os resume todos? Era mesmo sob o segundo império, cuja
pretensão é dissolver todos os partidos, que devia nascer um novo
partido, crescer e ameaçar a sociedade francesa, o partido
espírita? Sim, o partido espírita! Foi o Sr. Genteur, Conselheiro de
Estado, quem o descobriu e que o denunciou em pleno Senado.”
Dificilmente se compreende que um partido que só se componha de tolos
possa fazer o Estado correr sérios perigos; apavorar-se com isto seria
fazer crer que se tem medo dos bobos. Soltando esse grito de alarme à
face do mundo, prova-se que o partido espírita é alguma coisa. Não tendo
podido abafá-lo sob o ridículo, tentam apresentá-lo como um perigo para
a tranquilidade pública. Ora, qual será o resultado inevitável desta
nova tática? Um exame tanto mais sério e mais profundo mais terá
exaltado o seu perigo; quererão conhecer as doutrinas deste partido,
seus princípios, sua palavra de ordem, suas filiações. Se o ridículo
lançado sobre o Espiritismo, como crença, despertou curiosidade, será
bem outra coisa quando for apresentado como um partido temível; cada um
está interessado em saber o que ele quer, para onde conduz: é tudo o que
ele pede; agindo às claras, não tendo nenhuma instrução secreta,
fora do que é publicado para uso de tudo o mundo, ele não teme nenhuma
investigação, certo que está, ao contrário, de ganhar por ser conhecido e
que, quem quer que o perscrute com imparcialidade, verá em seu código
moral uma poderosa garantia da ordem e da segurança. Um partido, pois é
um partido, que inscreve em sua bandeira: Fora da caridade não há salvação, indica suas tendências com bastante clareza, para que ninguém tenha
razão para o temer. Aliás, a autoridade, cuja vigilância é conhecida,
não pode ignorar os princípios de uma doutrina que não se esconde. Não
falta gente para lhe dar conta do que se diz e se faz nas reuniões
espíritas, e ela bem saberia chamar à ordem as que dela se afastassem.
É de admirar que homens que fazem profissão de liberalismo, que
reclamam com insistência a liberdade, que a querem absoluta para as suas
ideias, seus escritos, suas reuniões, que estigmatizam todos os atos de
intolerância, queiram proscrevê-la para o Espiritismo.
O debate que ocorreu
no Senado foi provocado por duas petições: uma, do ano passado, contra a
biblioteca de Saint-Etienne; outra deste ano, contra a biblioteca de
Oullins, assinadas por alguns habitantes daquelas cidades, e que
reclamavam contra a introdução, naquelas bibliotecas, de certas obras,
em cujo número figuravam as obras espíritas.
Pois bem! o autor do artigo do jornal Liberté, que sem dúvida
examinou a questão um tanto levianamente, imagina que a reclamação emana
do partido espírita e conclui que este recebeu uma pancada na cabeça
pela ordem do dia pronunciada contra a petição de Ouillins. Eis, pois,
esse partido tão perigoso, tão facilmente derrubado, e que peticiona
para pedir a exclusão de suas próprias obras! Então seria
verdadeiramente o partido dos tolos. Aliás, este estranho equívoco nada
tem de surpreendente, visto que o autor declara, de início, que não conhecia esse partido, o que não o impede de o declarar capaz de abalar as instituições do império.
Longe de se inquietarem com esses incidentes, os espíritas devem
regozijar-se; esta manifestação hostil não podia produzir-se em
circunstâncias mais favoráveis, e por certo a Doutrina receberá um novo e
salutar impulso, como tem acontecido em todos os levantes de que ela
foi objeto. Quanto mais esses ataques repercutirem, mais proveitosos
serão. Dia virá em que se transmutarão em aprovações abertas.
O jornal Siècle,
de 18 de junho, também publicou seu artigo sobre o partido espírita.
Todos aí notarão um espírito de moderação, que contrasta com os dois
outros que mencionamos; nós o reproduzimos integralmente:
“Quem disse que não há nada de novo debaixo do sol? O céptico que
assim falava não suspeitava que um dia a imaginação de um Conselheiro de
Estado faria, em pleno Senado, a descoberta do partido espírita.
Já contávamos alguns partidos na França, e Deus sabe se os ministros
oradores cometem erro ao enumerar os perigos que podem causar esta
divisão dos espíritos! Há o partido legitimista, o partido orleanista, o
partido republicano, o partido socialista, o partido comunista, o
partido clerical, etc., etc.
“A lista não pareceu bastante longa ao Sr. Genteur. Ele acaba de
denunciar à vigilância dos veneráveis pais da política, que têm assento
no Palácio do Luxemburgo, a existência do partido espírita.
A esta revelação inesperada, um frisson percorreu a assembleia. Os
defensores das duas morais, com o Sr. Nisard à frente, estremeceram.
“Quê! A despeito do zelo desses inumeráveis funcionários, o império
francês está ameaçado por um novo partido? – Na verdade, é para
desesperar da ordem pública. Como este inimigo, invisível até agora ao
próprio Sr. Genteur, pôde ocultar-se a todas as vistas? Há nisto um
mistério, que o Sr. Conselheiro de Estado, se o penetrar, bem que nos
poderá ajudar a compreender. Pessoas oficialmente informadas afirmam que
o partido espírita escondia o exército de seus representantes —
os Espíritos batedores — atrás dos livros das bibliotecas de
Saint-Etienne e de Oullins.
“Eis-nos, pois, de volta aos belos tempos das histórias da
carochinha, das mesas girantes e das indiscretas mesinhas de
pés-de-galo!
“Embora o Espiritismo e seu primeiro apóstolo, o Sr. Delage — o mais
suave dos pregadores – não tenham ainda convencido muita gente, contudo
chegaram a constituir um partido. Isto pelo menos se diz no Senado, e
não seremos nós que alguma vez nos permitiremos suspeitar da exatidão do
que se afirma num lugar tão importante.
“A influência oculta do partido recentemente assinalado se fez sentir
até na última discussão do Senado, onde o Sr. Désiré Nisard, um dos maiorais, mostrou-se forte contra os reacionários. Um tal papel
cabia de direito ao homem que foi, desde a sua saída da escola normal,
um dos agentes mais ativos das ideias retrógradas.
“Depois disto, é para admirar ouvir o honrado senador invocar o
arbítrio para justificar as medidas restritivas tomadas a propósito da
escolha dos livros da biblioteca de Oullins? “Esse estabelecimentos
populares, diz o Sr. Nisard, são fundados por associações; encontram-se,
pois, sob o disposto do artigo 291 do Código Penal e, por consequência,
à mercê do Ministro do Interior. Ele usou, usa e usará desta ditadura.”
“Deixamos ao partido espírita e ao seu Cristovão Colombo,
o Sr. Genteur, Conselheiro de Estado, o cuidado de interrogar os
Espíritos reveladores, a fim de que nos digam o que o Senado espera
obter impedindo os cidadãos de organizarem livremente as bibliotecas
populares, como se pratica na Inglaterra?” (Anatole de la Forge)
Publicado por Allan Kardec na Revista Espírita em julho de 1868.
Um dos nossos correspondentes de Sens nos transmitiu as observações seguintes, sobre a qualificação de partido, dada ao Espiritismo, a propósito de nosso artigo do mês de julho sobre o mesmo assunto.
“Num artigo do último número da Revista, intitulado: O partido espírita, dizeis que, uma vez que assim nomeiam o Espiritismo, ele o aceita. Mas deve aceitá-lo? Isto talvez mereça um exame sério.
“Todas as religiões, assim como o Espiritismo, não ensinam que todos
os homens são irmãos, que são todos filhos de um pai comum, que é Deus?
Ora, deveria haver partidos entre os filhos de Deus? Não é uma ofensa ao
Criador? porque é próprio dos partidos armar os homens uns contra os
outros; e pode a imaginação conceber maior crime que armar os filhos de
Deus uns contra os outros?
“Tais são, senhor, as reflexões que julguei dever submeter à vossa
apreciação. Talvez fosse oportuno submetê-las, também, à dos
benevolentes Espíritos que guiam os trabalhos do Espiritismo, a fim de
conhecer a sua opinião. Essa questão talvez seja mais grave do que
parece à primeira vista. De minha parte, repugnar-me-ia pertencer a um
partido. Creio que o Espiritismo deve considerar os partidos como uma
ofensa a Deus.”
Estamos perfeitamente de acordo com o nosso honrado correspondente,
cuja intenção só podemos louvar. Contudo, cremos que seus escrúpulos são
um pouco exagerados no caso de que se trata, sem dúvida por não ter
examinado suficientemente a questão.
A palavra partido implica, por sua etimologia, a ideia de
divisão, de cisão e, por conseguinte, a de luta, de agressão, de
violência, de intolerância; de ódio, de animosidade, de vingança, coisas
todas contrárias ao espírito do Espiritismo. Não tendo o Espiritismo
nenhum desses caracteres, pois que os repudia, por suas tendências
mesmas, não é um partido na acepção vulgar da palavra, e nosso
correspondente tem muitíssima razão para repelir a qualificação deste
ponto de vista.
Mas ao nome de partido se liga também a ideia de uma força,
física ou moral, bastante forte para pesar na balança, bastante
preponderante para que se possa contar com ela; aplicando-o ao
Espiritismo, pouco ou nada conhecido, é dar-lhe um ato de notória
existência, uma posição entre as opiniões, constatar a sua importância
e, como consequência, provocar o seu exame, o que ele não cessa de
pedir. Sob esse aspecto, devia repudiar tanto menos essa qualificação,
embora fazendo reservas sobre o sentido a ligar a isto, quanto, partida
do alto, ela dava um desmentido oficial aos que pretendem que o
Espiritismo seja um mito sem consistência, que se gabavam de o haver
enterrado vinte vezes. Foi possível julgar do alcance desta palavra pelo
ardor desajeitado com o qual certos órgãos da imprensa dela se apoderam
para transformá-la num espantalho.
É por esta consideração, e neste sentido, que dissemos que o
Espiritismo aceita o título de partido, já que lho dão, porque era
engrandecê-lo aos olhos do público; mas não tivemos em vista fazê-lo
perder sua qualidade essencial, a de doutrina filosófica moralizadora,
que faz sua glória e a sua força. Longe de nós, pois, o pensamento de
transformar em partidários os adeptos de uma doutrina de paz, de tolerância, de caridade e de fraternidade. A palavra partido,
aliás, nem sempre implica a ideia de luta, de sentimentos hostis; não
se diz: o partido da paz? o partido das pessoas honestas? O Espiritismo
já provou, e provará sempre, que pertence a esta categoria.
Quanto ao mais, faça o que fizer, o Espiritismo não pode deixar de
ser um partido. Com efeito, que é um partido, abstração feita da ideia
de luta? é uma opinião que não é partilhada senão por uma parte
da população. Mas essa qualificação só é dada às opiniões que contam um
número de aderentes bastante considerável para chamar a atenção e
representar um papel. Ora, não sendo ainda de todos, a opinião espírita
é, necessariamente, um partido em relação às opiniões contrárias, que o
combatem, até que os tenha unido a todos. Em virtude de seus princípios,
ele não é agressivo; não se impõe; não subjuga; não pede para si senão a
liberdade de pensar à sua maneira, seja; mas, desde que é atacado,
tratado como pária, deve defender-se e reivindicar para si o que é de
direito comum; ele o deve, é seu dever, sob pena de ser acusado de
renegar sua causa, que é a de todos os seus irmãos em crença, que não
poderia abandonar sem cobardia. Entra, pois, forçosamente na luta, por
maior repugnância que experimente; não é inimigo de ninguém, é verdade,
mas tem inimigos que procuram esmagá-lo; é por sua firmeza, por sua
perseverança e por sua coragem que se lhes imporá; suas armas são
completamente diversas das dos adversários, também é verdade; mas não
deixa de ser para eles, e apesar deles, um partido, pois não lhe teriam
dado este título se não o tivessem julgado bastante forte para os
contrabalançar.
Tais são os motivos pelos quais julgamos que o Espiritismo podia
aceitar a qualificação de partido, que lhe era dado por seus
antagonistas, sem que o tenha tomado por si mesmo porque era aceitar o
repto que lhe era lançado. Pensamos que o podia, sem repudiar os seus
princípios.
Publicado por Allan Kardec na Revista Espírita em agosto de 1868