"O que é universalmente admirado o é, portanto, também pelos maus e pelos imbecis. São eles tão bons juízes assim?
"A virtude não é um espetáculo e não lhe importam os aplausos.
"(...) Embora sempre estimada, de um ponto de vista psicológico ou sociológico, a coragem só é, verdadeiramente estimável, do ponto de vista moral quando se põe, ao menos em parte, a serviço de outrem, quando escapa, pouco ou muito, do interesse egoísta imediato.
"Não se escapa de ego; não se escapa do princípio de prazer, mas encontrar seu prazer em servir ao outro, encontrar seu bem-estar na ação generosa, longe de contrariar o altruísmo é a própria definição e o princípio de virtude.
"O justo sem a prudência, não saberia como combater a injustiça, mas sem a coragem, não ousaria empenhar-se nesse combate.
"A coragem não é a ausência de medo, é a capacidade de enfrentá-lo, de dominá-lo, de superá-lo, o que supõe que ela existe ou deveria existir.
"Só esperamos o que não depende de nós; só queremos o que depende de nós. É por isso que a esperança só é uma virtude para os crentes, ao passo que a coragem o é para qualquer homem.
"A vida nos ensina que é preciso coragem para suportar o desespero, e também que o desespero, às vezes, pode dar coragem."
André-Comte Sponville. Livro: Pequeno tratado das grandes virtudes.