A providencial sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas
coisas, como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide
da sua justiça, nem da sua bondade.
O
fato do ser infinita uma qualidade, exclui a possibilidade de uma
qualidade contrária, porque esta a apoucaria ou anularia. Um ser infinitamente bom não poderia conter a mais insignificante parcela de malignidade, nem o ser infinitamente mau
conter a mais insignificante parcela de bondade, do mesmo modo que um
objeto não pode ser de um negro absoluto, com a mais ligeira nuança de
branco, nem de um branco absoluto com a mais pequenina mancha preta.
Deus,
pois, não poderia ser simultaneamente bom e mau, porque então, não
possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, não seria
Deus; todas as coisas estariam sujeitas ao seu capricho e para nenhuma
haveria estabilidade. Não poderia ele, por conseguinte, deixar de ser ou
infinitamente bom ou infinitamente mau. Ora, como suas obras dão
testemunho da sua sabedoria, da sua bondade e da sua solicitude,
concluir-se-á que, não podendo ser ao mesmo tempo bom e mau sem deixar
de ser Deus, ele necessariamente tem de ser infinitamente bom.
A soberana bondade implica a soberana justiça, porquanto, se ele procedesse injustamente ou com parcialidade numa só circunstância que fosse, ou com relação a uma só de suas criaturas, já não seria soberanamente justo e, em consequência, já não seria soberanamente bom.
A Gênese - Capítulo II - Deus - Da Natureza Divina
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