"O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente na terra; ele dorme
e acorda, de noite e de dia, mas a semente germina e cresce, sem que ele saiba
como. A terra por si mesma produz fruto: primeiro a erva, depois a espiga e, por fim a
espiga cheia de grãos".
(Marcos, 4:26 a 28.)
O que nós conhecemos não é a realidade, mas o que a nossa instrumentalidade pode
perceber sobre ela. A plenitude da realidade é muito maior do que a ideia ou
imagem que concebemos do mundo.
Podemos definir como "míope espiritual" aquele que toma a parte pelo
todo e impõe a si e aos outros essa parte como sendo o todo. Da mesma forma que não podemos calcular com precisão, e de modo consciente,os
benefícios da respiração, da água, dos alimentos e das energias da Natureza em
nossa vida orgânica, igualmente não nos damos conta dos benefícios da
movimentação desencadeada pelos processos transcendentais que nos alcançam a
vida íntima.
O Criador, Guardião de tudo o que existe, Artífice da máquina da vida, nos
protege de forma contínua, suprindo-nos interna e externamente, quer
reconheçamos, ou não, como verdadeira a Vida Providencial.
Na vida física, a criatura se desenvolve sem notar precisamente como ocorre
esse fenômeno invisível em seu cosmo orgânico. Do mesmo modo, espiritualmente,
progredimos e amadurecemos sem perceber como se processam os
"insights", isto é, a clareza súbita na mente, ou os saltos evolutivos
promovidos no interior de todas as coisas e seres viventes.
Jesus de Nazaré se reportou a esse respeito, afirmando: "O Reino de Deus é
como um homem que lançou a semente na terra: ele dorme e acorda, de noite e de
dia, mas a semente germina e cresce, sem que ele saiba como. A terra por si mesma
produz fruto: primeiro a erva, depois a espiga e por fim, a espiga cheia de
grãos". Não podemos acreditar que somos "órfãos do Universo". Podemos chamar
Deus de Providência, uma vez que o seu pensamento é que provê o espaço cósmico;
podemos também intitulá-lo de Destino, pois Ele é a Causalidade Excelsa;
igualmente podemos denominá-lo de Natureza, visto que tudo nasce do seu Psiquismo
Criador.
Quando cremos que os auxílios invisíveis fazem parte de nossa existência,
desenvolvemos o potencial de religiosidade - encontrar Deus em nós - e saímos da
nossa zona de conforto para níveis de consciência cada vez mais amplos e
elevados.
No campo da fisiologia, o termo homeostase foi criado para definir o
processo auto-regulador pelo qual um organismo se mantém num adequado e
constante ponto de equilíbrio. É um mecanismo de proteção ou de compensação que o corpo físico dispõe para
equilibrar as diversas funções e composições químicas internas, a saber: pressão
arterial, temperatura corporal, pulsação cardíaca, taxa de açúcar no sangue e
outras tantas.
Tomemos como exemplo a temperatura. Uma das funções da pele é ajudar a conter
qualquer disposição do corpo de ficar demasiado quente ou frio. O principal regulador da temperatura corporal acha-se localizado no cérebro (no
hipotálamo). Ele possui termostatos para registrar a elevação e a queda da
temperatura. Ao menor sinal de excesso de calor, acelera-se a circulação do sangue na pele,
e o calor dos órgãos internos se transporta para os pequenos vasos sanguíneos,
abaixo da pele, ali se desfazendo. O mesmo termostato estimula a atividade das glândulas sebáceas localizadas no
fundo do tecido subcutâneo. O suor secretado pelas glândulas sudoríparas é
destilado pelos poros através da transpiração, evaporando-se ao contato com o
ar exterior, e isso proporciona um resfriamento eficaz.
Podemos traçar um paralelo entre o princípio da homeostase existente no organismo
humano com o processo auto regulador atuante na estrutura da psique.
No inconsciente, o Self, arquétipo central que tem a função de unificar, reconciliar e reequilibrar todo o governo psíquico, mantém, de modo semelhante, uma sabedoria instintiva que pode corrigir desacertos e excessos de consciência, equilibrando-a e protegendo-a dos perigos da alienação.
No inconsciente, o Self, arquétipo central que tem a função de unificar, reconciliar e reequilibrar todo o governo psíquico, mantém, de modo semelhante, uma sabedoria instintiva que pode corrigir desacertos e excessos de consciência, equilibrando-a e protegendo-a dos perigos da alienação.
Como psicólogo e psiquiatra, Jung foi quem melhor soube entender e respeitar a
providencialidade do auxílio invisível que a tudo apóia e equilibra. Jung colocou no centro de todo o processo psicoterápico o princípio do
"poder atuante e autônomo do inconsciente". Em virtude disso
entendemos que a autêntica psicoterapia nada mais é do que "saber escutar
e acompanhar" o outro, com ouvido empático, interpretando as manifestações e
possibilidades oferecidas pelo poder criativo e atuante do próprio
inconsciente.
Fazendo uma analogia da teoria do "poder criativo e autônomo do
inconsciente" com os nossos conceitos, poderíamos interpretá-lo como a
"onipresença e a onipotência de Deus em nós". Com muita propriedade disse Cristo Jesus: "Em verdade vos digo: se
tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te
daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos será impossível". A fé de que se fala aqui é a entrega incondicional aos desígnios de Deus. Essa
fé não se limita à esfera religiosa, não se identifica com estudos teológicos e
eclesiásticos e não se deixa restringir a nenhuma igreja ou seita. Ninguém
possui o monopólio dessa fé, uma vez que ninguém pode viver sem ela.
O auxílio invisível chega a todos nós com a mesma sutileza com que os raios do
sol fazem aparecer o dia. Justos e injustos recebem invariavelmente o
suprimento divino, e ele desce imperceptível sobre as criações e as criaturas
como um orvalho fecundo e fundamental à nossa vida de espíritos imortais.
(Do
livro: Um modo de entender; de Francisco do Espírito Santo Neto, pelo espírito
Hammed).
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