Alguém se aproxima e comenta algo sobre a qualidade de alguns exemplares, questionando como as pessoas poderiam doar algo naquele estado. Silêncio. Alguém comenta então que no caso de roupas que são doadas à mesma casa de fraternidade cristã, ocorrem coisas semelhantes. Doam roupas sujas, rasgadas, à vezes no caso de calçados, com apenas um exemplar, sem o par correspondente. Silêncio novamente.
Surge então um comentário de que o importante era que estavam doando, e por isso fazer uma triagem logo na chegada de tais materiais à casa não seria uma atitude caridosa. Era necessário valorizar o gesto de quem doa, que assim poderia vivenciar emoções positivas e com o tempo, ele entenderia a diferença entre doar de verdade, e livrar-se de algo.
Eis que um comentário rompe nossos ouvidos, penetra o íntimo de nossas almas e provoca-nos uma sensação boa de algo novo que necessitava de reflexão:
- Nós damos aquilo que temos...
Eureka! Não, não é uma invenção inovadora e nem um achado espetacular. Isso é a lógica invadindo nossas mentes e corações e nos mostrando que, evidentemente, só podemos dar o que possuímos. E em sendo assim, no caso de nos doarmos ou de doarmos algo há dois lados: o dos que doam e o dos que recebem.
Vivenciamos de maneira intermitente e contínua, dinâmica e cotidiana os dois lados dessa moeda: vivemos para doarmos e para recebermos. Assim é a vida. Sejam bens transitórios, sejam bens permanentes, sejam bens materiais, sejam bens não-materiais, sejam bens construtivos, sejam bens destrutivos. Tudo o que fazemos e como fazemos, pode ser resumido em dar e receber. Contudo a fim de que o processo seja completado, quem doa algo espera que alguém o receba.
Trazendo essa reflexão para a nossa vida podemos nos perguntar:
- Como tem sido recebidos ou recebidas, como queiram, as minhas doações por aqueles que são objetivo das mesmas?
- Como tenho recebido o que me tem sido doado por aqueles que comigo convivem?
Tomando a segunda pergunta para o raciocínio, buscando facilitar o entendimento da primeira, precisamos aceitar que estão me doando aquilo que possuem os que assim agem, porém para que o processo se concretize, necessito aceitar, receber. Emmanuel, guia espiritual de Chico Xavier, uma vez nos asseverou que aquilo que pensam e falam sobre nós pertence a quem o faz, todavia tomamos posse da doação se assim o quisermos. E a partir dessa aceitação ou não caminhemos seguros com o que essa ação nos fez. O contrário acontece quando somos nós que ofertamos, que doamos. O outro só o receberá, e assim concluir o processo, se o quiser, também. A via é de mão-dupla e como diz o ditado popular "pau que dá em Chico dá em Francisco".
Por isso antes de nos encolhermos perante o que temos recebido, sofrendo e nos martirizando pela dureza da vida, precisamos analisar o porque de aceitarmos...
Antes de nos revoltarmos com o que nos fazem, precisamos entender porque nos sintonizamos com isso e o que fazemos com essas doações. Se não nos servem, que não à conservemos conosco, que as rebatemos, que delas nos livremos, nos valendo de nossa inteligência e senso moral.
Por outro lado, se nos sentimos fora de sintonia com o que doamos e ofertamos aos outros, que também nos analisemos para compreender o motivo da sintonia não acontecer. Se o outro não percebe o que temos feito por ele, talvez seja porque nossa oferta não é tão especial quanto achamos que é. Essa análise com certeza provocará em nós modificações pois perceberemos que estamos doando algo não tão bom, não tão construtivo e por isso, alterar-nos permitirá que ofertemos algo melhor e que seja realmente conveniente e imprescindível para o outro. E fechando o ciclo da concepção, realização, doação e recepção, a energia produzida sintonizará com certeza com as sintonias do Mais Alto, pois Deus, o Pai, é amor, e amor para ser pleno necessita de reciprocidade.
Tudo tem origem e fim (no sentido de finalidade) em nossa maneira de nos posicionar perante a vida, considerando que viver é assumir riscos, fazer escolhas, errar, acertar, construir pontes de entendimento interior e exterior e destruir muros enormes de preconceitos, baixa auto-estima, coerência dogmática, orgulho, vaidade e egoísmo.
Seremos mais fortes na proporção em que nos aceitarmos e aceitarmos aos outros, de uma maneira menos culpada e acusadora, compreendendo que todos nós, sem exceção, somos aprendizes do projeto amoroso do Pai Celestial.
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