O professor Chaves, pioneiro da Doutrina Espírita, em Uberaba, Minas,
foi procurado por prestigioso amigo do campo social, que lhe falou sem
rebuços:
— Chaves, agora desejo doar duzentos contos para obras espíritas;
entretanto, como você não desconhece, tenho aspirações políticas desde
muito tempo.
O distinto educador, sumamente conhecido por sua virtuosa austeridade, guardava silêncio.
E o outro prosseguia:
— Já auxiliei construções espíritas numerosas, mas tudo sem
resultado. Tenho apenas recebido ingratidões e mais ingratidões. É uma
lástima. Em toda parte, mentiras e mentiras. Queria, desse modo…
Como a reticência se prolongasse, Chaves perguntou:
— Queria o que, meu amigo?
— Desejava a sua palavra empenhada, o apoio de seu prestígio diante dos espíritas, para que me garantissem o voto.
— Nada posso fazer — disse o professor, peremptório.
— Que é isso? — falou o amigo, com ar de censura. — Você prometeu receber-me e atender ao meu problema.
— Pensei que o senhor estivesse tratando de caridade, mas o que
francamente procura é a realização de um negócio — disse Chaves,
imperturbável.
— Que ideia! — falou o visitante, desencantado. — Entrego duzentos contos, duzentos contos de réis… Que é caridade, então?
Humilde e simples, o professor explicou:
— Caridade é o amor de Deus no coração humano. E esse amor, meu
amigo, conforme nos ensina o Espiritismo, não tem preço. Onde é que o
senhor já viu alguém pagar a luz do Sol, a bênção do ar, o tesouro do
verdadeiro amor ou o espetáculo do céu estrelado?…
— Mas Chaves — disse o outro —, isso é muita filosofia… O que eu
desejo é fazer uma dádiva… Para vocês, espíritas, o que vem a ser uma
dádiva?
E o educador respondeu, sereno:
— Dádiva é o bem que a gente faz sem esperar recompensa de coisa alguma.
O político, nervoso,
despediu-se e procurou distração num bilhar. E inquirido por alguns
correligionários quanto aos resultados da entrevista, deu primorosa
tacada e falou que o professor João Augusto Chaves não passava de um
louco.
Francisco Cândido Xavier pelo espírito Hilário Silva no livro "A vida escreve - Hilário Silva - 2ª parte", publicado em fevereiro de 1960
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