Em resposta à comunicação anterior de Guttemberg que pode ser vista clicando-se aqui.
(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS
(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS
─ MÉDIUM: SR. A. DIDIER)
O
Espírito de Guttemberg definiu muito poeticamente os efeitos positivos e
tão universalmente progressivos da imprensa e do futuro da
eletricidade. Nada obstante, permito-me, como antigo construtor de
castelos, torreões, terraços e catedrais, expor certas teorias sobre o
caráter e o objetivo da arquitetura da Idade Média.
Todos sabem, e em nossos dias ilustres arqueólogos ensinaram que a
religião, a fé ingênua, ergueu com o gênio do homem esses soberbos
monumentos góticos espalhados por toda a superfície da Europa, e aqui,
mais do que nunca, a ideia expressa por Guttemberg é cheia de elevação.
Contudo, sentimo-nos na obrigação de emitir a nossa opinião, não contra, mas a favor.
A
ideia, essa luz da alma, centelha real que infunde a vontade e o
movimento ao organismo humano, manifesta-se de diversas maneiras, quer
pela arte, quer pela filosofia, etc. A arquitetura, essa arte elevada
que talvez melhor exprima a índole e o gênio de um povo, nas nações
impressionáveis e crentes foi consagrada ao culto de Deus e às
cerimônias religiosas.
A
Idade Média, sustentáculo do feudalismo e da crença, teve a glória de
fundar duas artes essencialmente diferentes em seu objetivo e sua
consagração, mas que exprimem perfeitamente o estado de sua civilização:
o castelo fortificado, habitado pelo senhor ou pelo rei; a abadia, o
mosteiro e a igreja; numa palavra, a arte arquitetônica militar e a
religiosa.
Os
Romanos, essencialmente administradores, guerreiros, civilizadores e
colonizadores universais, forçados que eram pela extensão de suas
conquistas, jamais tiveram uma arquitetura inspirada por sua fé
religiosa. Só a avidez, o amor ao ganho e ao poder executivo lhes
fizeram construir esses formidáveis montes de pedras, símbolo de sua
audácia e de sua capacidade intelectual.
A
poesia do Norte, contemplativa e nebulosa, unida à suntuosidade da arte
oriental, criou o gênero gótico, a princípio austero e discretamente
florido. Com efeito, vemos na arquitetura a realização das tendências
religiosas e do despotismo feudal.
Essas
ruínas famosas de muitas das revoluções humanas, mais do que o tempo,
ainda se impõem por seu aspecto grandioso e formidável. Parece que o
século que as viu erguer-se era duro, sombrio e inexorável como elas.
Mas daí não se deve concluir que a descoberta da imprensa, por mais que
distenda o pensamento, tenha simplificado a arte da arquitetura.
Não,
a Arte, que é uma parte da ideia, será sempre uma manifestação
religiosa ou política, ou militar, ou democrática, ou principesca.
A
Arte tem o seu papel, a imprensa tem o dela. Sem ser exclusivamente
especialista, não se deve confundir o objetivo de cada coisa. É preciso
dizer apenas que não se deve misturar as diferentes faculdades e as
diversas manifestações da ideia humana.
ROBERT DE LUZARCHES
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