Allan Kardec utilizou
alguns conceitos próprios de sua época para a exposição de teses espíritas.
Alguns deixaram de ser usados pelas respectivas áreas da ciência, o que
exige do leitor da codificação um resgate do sentido dos termos na época e
do contexto teórico no qual eles foram utilizados para uma compreensão
clara do raciocínio do codificador e dos espíritos que dialogaram com ele.
“Letargia” e “catalepsia” são conceitos associados à tese da emancipação da
alma e que, com o passar do tempo, foram ganhando novos sentidos, até
caírem em desuso na medicina e na psicologia.
É possível que o sentido utilizado por Kardec tenha sido obtido nas teorias
do magnetismo animal, desenvolvidas depois de Mesmer, especialmente na
obtenção do sonambulismo provocado.
Letargia, em O livro dos espíritos, significa estado de “perda temporária
da sensibilidade e do movimento”, em que o corpo parece morto, no qual os
sinais vitais se tornam quase imperceptíveis, a respiração reduz-se
bastante e a pessoa pode ser tomada como morta.
Catalepsia em Kardec é uma espécie de letargia parcial, que atinge apenas
alguns órgãos do corpo e que pode não prejudicar a comunicação com o seu
portador, estado que poderia ser induzido pelo magnetismo animal (passes,
como dizemos hoje).
Alguns fenômenos parapsicológicos (humanos, mas não estudados
convenientemente pela psicologia) podem ser encontrados concomitantemente a
estes dois estados. Um deles é a hiperestesia, ou seja, uma ampliação
paradoxal da capacidade dos sentidos. Há registros de casos de sonâmbulos
que, em estado cataléptico, eram capazes de descrever o que acontecia a uma
distância muito superior à capacidade de nossos órgãos, ou de descrever,
por exemplo, percepções, que eles alegavam ter, de órgãos internos do
organismo de pacientes que lhes eram trazidos.
Kardec analisou situações de quase-morte na Revista espírita.
Posteriormente, o hipnotismo e a neurologia dariam outro sentido à letargia
e à catalepsia, que hoje se encontram em desuso, substituídas pelo conceito
mais preciso de “coma”. Mas os estranhos fenômenos descritos por Kardec
continuam acontecendo.
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