Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sábado, 1 de outubro de 2016

MÁGOA

Síndrome alarmante, de desequilibro, a presença da mágoa faculta a fixação de graves enfermidades físicas e psíquicas no organismo de quem a agasalha.

A mágoa pode ser comparada à ferrugem perniciosa que destrói o metal em que se origina.

Normalmente se instala nos redutos do amor-próprio ferido e paulatinamente se desdobra em seguro processo enfermiço, que termina por vitimar o hospedeiro.

De fácil combate, no início, pode ser expulsa mediante a oração singela e nobre, possuindo, todavia, o recurso de, em habitando os tecidos delicados do sentimento, desdobrar-se em modalidades várias, para sorrateiramente apossar-se de todos os departamentos da emotividade, engedrando cânceres morais irreversíveis. Ao seu lado, instala-se, quase sempre, a aversão, que estimulam o ódio, etapa grave do processo destrutivo.

A mágoa, não obstante desgovernar aquele que a vitaliza, emite verdadeiros dardos morbíficos que atingem outras vítimas incautas, aquelas que se fizeram as causadoras conscientes ou não do seu nascimento.

Borra sórdia, entorpece os canais por onde transita a esperança, impedindo-lhe o ministério consolador.

Hábil, disfarça-se, utilizando-se de argumentos bem urdidos para negar-se ao perdão ou fugir ao dever do esquecimento. Muitas distonias orgânicas são o resultado do veneno da mágoa, que, gerando altas cargas tóxicas sobre a maquinaria mental, produz desequilíbrio no mecanismo psíquico com lamentáveis consequências nos aparelhos circulatório, digestivo, nervoso...

O homem é, sem dúvida, o que vitaliza pelo pensamento. Suas ideias, suas aspirações constituem o campo vibratório no qual transita e em cujas fontes se nutre.

Estiolando os ideais e espalhando infundadas suspeitas, a mágoa consegue isolar o ressentido, impossibilitando a cooperação dos socorros externos, procedentes de outras pessoas.

Caça implacavelmente esses agentes inferiores, que conspiram contra a tua paz. O teu ofensor merece tua compaixão, nunca o teu revide.

Aquele que te persegue sofre desequilíbrios que ignoras e não é justo que te afundes, com ele, no fosso da sua animosidade.

Seja qual for a dificuldade que te impulsione à mágoa, reage, mediante a renovação de propósitos, não valorizando ofensas nem considerando ofensores.

Através do cultivo de pensamentos salutares, pairarás acima das viciações mentais que agasalham esses miasmas mortíferos que, infelizmente, se alastram pela Terra de hoje, pestilenciais, danosos, aniquiladores.

Incontáveis problemas que culminam em tragédias quotidianas são decorrência da mágoa, que virulenta se firmou, gerando o nefando comércio do sofrimento desnecessário.

Se já registras a modulação da fé raciocinada nos programas da renovação interior, apura aspirações e não te aflijas. Instado às paisagens inferiores, ascende na direção do bem. Malsinado pela incompreensão, desculpa. Ferido nos melhores brios, perdoa.

Se meditares na transitoriedade do mal e na perenidade do bem, não terás outra opção, além daquela: amar e amar sempre, impedindo que a mágoa estabeleça nas fronteiras da tua vida as balizas da sua província infeliz.

"Quando estiveres orando, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que vosso Pai que está nos Céus, vos perdoe as vossas ofensas". - Marcos: 11-25.

"Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isto, meus caros filhos, prova melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: "A felicidade não é deste mundo". - ESE Cap.V - Item 20.

Joanna de Ângelis (Espírito) atravês de Divaldo Franco. 
Livro: Florações Evangélicas

PERISPÍRITO

Como será o tecido sutil da espiritual roupagem que o homem envergará, sem o corpo de carne, além da morte?

Tão arrojada é a tentativa de transmitir informes sobre a questão aos companheiros encarnados, quão difícil se faria esclarecer à lagarta com respeito aoque será ela depois de vencer a inércia da crisálida.

Colado ao chão ou à folhagem, arrastando-se, pesadamente, o inseto não desconfia que transporta consigo os germes das próprias asas.

O perispírito é, ainda, corpo organização que, representando o molde fundamental da existência para o homem, subsiste, além do sepulcro, de conformidade com o seu peso específico.

Formado por substâncias químicas que transcendem a série estequiogenética conhecida até agora pela ciência terrena, é aparelhagem de matéria rarefeita, alterando-se, de acordo com o padrão vibratório do campo interno. 

Organismo delicado, extremo poder plástico, modifica-se sob o comando do pensamento.  É necessário, porém, acentuar que o poder apenas existe onde prevaleçam a agilidade e a habilitação que só a experiência consegue conferir. 

Nas mentes primitivas, ignorantes e ociosas, semelhante vestidura se caracteriza pela feição pastosa, verdadeira continuação do corpo físico, ainda animalizado ou enfermiço.

O progresso mental é o grande doador de renovação ao equipamento do espírito em qualquer plano de evolução. 

Note-se, contudo, que não nos reportamos aqui ao aperfeiçoamento interior. 

O crescimento intelectual, com intensa capacidade de ação, pode pertencer a inteligências perversas. 

Daí a razão de encontrarmos, em grande número, compactas falanges de entidades libertas dos laços fisiológicos, operando nos círculos da perturbação e da crueldade, com admiráveis recursos de modificação nos aspectos em que se exprimem. 

Não adquiriram, ainda, a verticalidade do Amor que se eleva aos santuários divinos, na conquista da própria sublimação, mas já se iniciaram na horizontalidade da Ciência com que influenciam aqueles que, de algum modo, ainda lhes partilham a posição espiritual.

Os “anjos caídos” não passam de grandes gênios intelectualizados com estreita capacidade de sentir.

Apaixonados, guardam a faculdade de alterar a expressão que lhes é própria, fascinando e vampirizando nos reinos inferiores da natureza.

Entretanto, nada foge à transformação e tudo se ajusta, dentro do Universo, para o geral aproveitamento da vida.

A ignorância dormente é acordada e aguilhoada pela ignorância desperta.

A bondade incipiente é estimulada pela bondade maior.

O perispírito, quanto à forma somática, obedece a leis de gravidade, no plano a que se afina. 

Nossos impulsos, emoções, paixões e virtudes nele se expressam fielmente. Por isso mesmo, durante séculos e séculos nos demoraremos nas esferas da luta carnal ou nas regiões que lhes são fronteiriças, purificando a nossa indumentária e embelezando-a, a
fim de preparar, segundo o ensinamento de Jesus, a nossa veste nupcial para o banquete do serviço divino.

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier 
no livro: Roteiro - Capítulo 6.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

SOU UM SER MAIOR

AUTOPERCEPÇÃO



“O Espírito que se comunica por um médium transmite diretamente seu pensamento, ou esse pensamento tem por intermediário o Espírito encarnado no médium?


R.: É o Espírito do médium que o interpreta, porque está ligado ao corpo que serve para falar, e é preciso um laço entre vós e os Espíritos estranhos que se comunicam, como é necessário um fio elétrico para transmitir uma notícia ao longe, e no fim do fio uma pessoa inteligente a recebe e a transmite.”


(O Livro dos Médiuns – 2ª parte – Capítulo XIX – Item 223)


***


 
Para cooperarmos convenientemente na mediunidade, a serviço do Bem Maior, devemos, acima de tudo, ser auxiliares do Plano Astral. 


Os médiuns não precisam tomar uma postura de absoluta imobilidade, esperando a manifestação das personalidades desencarnadas, como se fossem um boneco suspenso por fios presos nas mãos de um especialista na arte dramática. Eles, de fato, participam efetivamente, pois são intermediários, visto que recebem, processam, interpretam e transmitem pensamentos, ideias, sensações auditivas ou visuais.


Nas tarefas medianímicas, os sensitivos devem ter como base imprescindível a intuição e a inspiração, provindas do reino da alma. Porém, não podem desconsiderar as sensações do próprio veículo físico, para que haja um desenvolvimento integral e harmonioso da mediunidade.


Quando há equilíbrio entre o nosso “eu espiritual” e o nosso “eu corporal”, somos capazes de nos identificar com os Espíritos comunicantes e, a partir daí, começamos a criar uma maior percepção do fenômeno mediúnico. 


A Vida é energia organizadora, e o corpo denso é uma de suas inúmeras expressões. É tão importante termos uma clara consciência da fonte divina de onde provêm as nossas sensações transcendentais, como também sermos sensíveis às nossas sensações corporais, por mais simples e corriqueiras que possam parecer. Em nós tudo é sagrado, desde a ação mais comum de comer ou caminhar até o ato mais elevado de amor ao Criador.


A autopercepção é o somatório de todas as impressões internas e externas ao mesmo tempo. 
Através dessa “sensação generalizada”, a criatura entra em contato com si mesma, podendo traduzir com certeza se é sua ou não a emoção registrada e de onde ela se origina. Esse exercício constante nos leva a uma “conscientização extra-sensorial” e, consequentemente, a diferenciar ou desvendar as diversas energias que circulam em nossa volta. Quando não sabemos distinguir nossas impressões ou emoções, ficamos à mercê das mais diversas ondas magnéticas, como se estivéssemos oprimidos por um mundo desordenado.


A forma física é a condensação do corpo perispiritual. O sistema nervoso é a conexão do corpo astral à matéria e tem como função sensibilizá-la. Portanto, os “nervos” são elos sutis entre esses dois corpos.


Neste corpo perispiritual é que ocorrem as mais tênues sensações da alma humana. Sensibilidade é o nome que se dá à capacidade de perceber as conexões entre o mundo interior e o exterior.


A mente é a base no processo das comunicações espirituais, mas não podemos nos esquecer de que, além de registrar sentimentos, idéias e pensamentos da Espiritualidade, ela igualmente se manifesta através de uma linguagem corporal.


Querendo ou não, somos uma unidade enigmática. Corpo e alma são coesas e intimamente interligadas. Nada acontece em uma dessas partes sem que a outra não seja afetada.


Nos indivíduos plenamente desenvolvidos, não existe conflito entre corpo e alma, pois descobriram que seu instrumento físico é uma extensão de seu Espírito. Coração e razão decidem e agem lúcidos e unidos amorosamente.


A linguagem corporal é lida por meio das sensações que emergem de nossa intimidade e se expressam diretamente no corpo somático. Essas sensações nos transmitem informações importantes sobre nós mesmos, fazendo-nos usar expressões verbais peculiares. Vejamos alguns exemplos:


Quando a criatura se desenvolve e amadurece, dizemos que “ela caminha sobre as próprias pernas”; a intransigente chamamos de “cabeça dura”; a insensível de “coração de pedra”; a mesquinha de “mão fechada”; a fingida de “olhos apertados” e a inflexível de “perna de pau”. A frase “de todo o coração” quer dizer compromisso profundo e “ir ao fundo do coração” é o mesmo que atingir o âmago de uma questão. Também é comum usarmos as expressões “manteve a cabeça erguida”, quando uma pessoa se auto-responsabilizou por seus atos e atitudes, e “ficou em pedaços”, quando perdeu alguém que muito amava.


As emoções causam rações físicas, ou seja, movimentos ou impulsos internos que, por sua vez, produzem um efeito externo.


Nossas crenças inadequadas podem ter-nos levado a colocar uma forte divisória entre corpo e alma. Acreditávamos que o corpo nada tinha a ver com a alma. Na atualidade, sabemos que, para alcançarmos a plenitude das forças espirituais, é necessário ampla percepção de nossa unicidade – a natureza humana e transcendental.


À medida que a criatura se desenvolve e cresce rumo ao amadurecimento, vai dispondo de uma sensibilidade cada vez mais aguçada ao meio em que transita. Seleciona idéias, pensamentos, oscilações psíquicas, como o garimpeiro que separa do cascalho a gema preciosa ou o metal raro.


“É o Espírito do médium que o interpreta, porque está ligado ao corpo (...)”, assim esclarecem os Espíritos Superiores a Kardec ao se referirem ao mecanismo das comunicações espirituais.


O médium é um ser integral, ele não é somente a alma. O corpo faz parte do seu eu total, quer dizer, acima de tudo é uma individualidade, e não um ser dividido.


A nossa percepção pode vir acompanhada por um conjunto de impressões com qualidades diferentes, como: as sentimentais (amor, alegria, tristeza, angústia), as emocionais (raiva, libido, medo, surpresa), as cinestésicas (tato, olfato, gustação).


Para conseguirmos uma comunicação plena com a própria intimidade e com os outros, nas relações sociais, profissionais, afetivas ou mediúnicas, é necessário que o corpo e a alma estejam em perfeita sintonia. Quanto mais auto-observações fizermos, mais poderemos avaliar as energias das coisas e das pessoas dentro e fora de nós.


Muita gente guarda velhas crenças que valorizam mais o intelecto e desprezam, quase que totalmente, as sensações. Só através de uma observação lúcida é que poderemos recolher maiores registros do mundo invisível, a fim de colaborarmos com eficiência nas oficinas da Espiritualidade Maior.


O instrumento físico é a parte mais densa da alma; em realidade, é o indispensável assistente nos transes transcendentais. Ele pode ser comparado a “(...) um fio elétrico para transmitir uma notícia ao longe (...)”. A auto-percepção é uma atividade dos nossos sentidos. Portanto, lembremo-nos: se não exercitarmos uma constante comunicação com nós mesmos, simplesmente não poderemos nos comunicar, de forma apropriada, com os outros indivíduos, encarnados ou desencarnados.

Hammed (Espírito) através de Francisco do Espírito Santo Neto, 
no livro: Imensidão dos Sentidos.

LInk para baixar a apresentação utilizada no estudo AQUI!!!

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

AMNÉSIA ESPIRITUAL




A grave questão sobre o despertar dos espíritos recém-desencarnados e a sua consequente recordação da experiência concluída merecem valiosas considerações.


Pensam, muitas pessoas desinformadas e também alguns adeptos das fileiras espíritas, que o fenômeno morte, que despe o ser do seu invólucro material, igualmente concede-lhe de imediato lucidez e, consequentemente, conhecimento da sua situação na erraticidade.


De início, seja dito que não existem duas desencarnações iguais; por efeito, também não existem dois despertamentos idênticos no mundo espiritual. Cada espírito é a soma das experiências vivenciadas, com as tribulações e conquistas que facultam ou não o discernimento próprio da ocorrência após a morte.

Conforme o tipo de desencarnação - violenta, por acidente, homicídio, inundação, incêndio, por distúrbio orgânico, lentamente, em razão de enfermidades dilaceradoras e virulentas, suicídios de várias expressões, largas enfermidades e a correspondente conduta durante as mesmas, estado psicológico que anteceda as cirurgias - assim caracterizará a conscientização no após túmulo.

Aqueles que se compraziam no sensualismo, na avareza, no despotismo, na crueldade, vinculados aos despojos tentam reanimá-los, e pelo não conseguir, enlouquecem ou hebetam-se por largo período de sofrimento.

Outros tantos, que superaram os limites, vivendo testemunhos honrosos e provações lenificadoras, afeiçoados ao dever, ao bem e à caridade, abandonam o casulo com alegria, e, em saudades, singram os espaços atraídos para as regiões felizes a que fazem jus. 


Inumeráveis, que viveram no fragor das lutas, confiantes e trabalhadores, são recolhidos carinhosamente pelos afetos que os precederam e os conduzem a pousos de refazimento e orientação, despertando-os suavemente sem choques traumatizantes...


Cada grupo, conforme os hábitos cultivados, permanece vinculado às paixões terrenas ou atraído pela nova situação, de forma a se adaptar com equilíbrio ao novo estágio da vida - o verdadeiro.

Da mesma forma, quantos se transformaram em campo mental infestado por obsessões, logo se lhes ocorre a desencarnação, sofrem o assalto dos cômpares vibratórios, seus algozes, que os arrastam para os sítios de sevícias e aflições, que se prolongam até recomposição estrutural ou quando neles luzir a misericórdia do amor... 


Compreensivelmente, o despertar da consciência depende das próprias condições de harmonia ou de desequilíbrio pessoal. 


Nos espíritos saudáveis, a perturbação é rápida, embora permaneça breve amnésia sobre a recente existência concluída, que se vai diluindo até que as lembranças em caleidoscópio de recordações equipem-se de claridade mental e de conhecimento.


Unanimemente, a respeito das lembranças de outras existências transatas, permanece o olvido, que somente abre espaço para ocorrências que podem ser úteis e com fim providencial.

A medida que assume a realidade espiritual, painéis ricos de lembranças felizes tomam corpo, facultando melhor compreender os fatos próximos passados, tornando-se lógicos. Igualmente, surgem as recordações sombrias carregadas de culpa, caso não hajam sido reparados aqueles delitos, provocando tristeza e desejo de recomeço para superá-los. Traçam-se, nesses momentos, planos para futuros mergulhos no corpo, em tarefas de ressarcimento e socorro àqueles que lhes padeceram a conduta inconsequente.


Ao mesmo tempo, alegria imensa os invade, ao compreenderem a justeza das soberanas leis, que sempre conduzem para o Bem, embora a diversidade de caminhos.


Questões e situações que pareciam de suma importância durante a vilegiatura carnal, agora, quando despidos dos limites orgânicos, compreendem-nas melhor, e até sorriem da atitude ingênua com que se conduziram. Fazem recordar-se da postura de, quando adultos, consideravam os comportamentos infantis que se apresentavam naquele período de sumo valor...


Não são poucos os espíritos que desencarnam e reencarnaram sem dar-se conta de um e do outro fenômeno, vitimados por doentia amnésia sobre os acontecimentos. 


Multidões deambulam nas esferas espirituais inferiores sem conhecimento de si mesmas, sem recordações dos afetos ou dos adversários, desmemoriadas, sofrendo superlativas aflições.

Incontáveis, por outro lado, embora se apercebam da fase nova, não conseguem recordar-se de nomes, datas e antecedentes pessoais, exceto aqueles que foram mais expressivos e se imprimiram com vigor nas tecelagens do perispírito. 


A amnésia espiritual é capítulo da imortalidade que permanece desafiador, oferecendo advertências aos homens e mulheres, para que se desimpregnem das grosseiras fixações que são cultivadas nos campos das sensações perturbadoras, que sempre prosseguem além do corpo, em tormentosas necessidades que anulam outros tipos de vivências, mergulhando-as em esquecimentos afligentes.

Cabe ao ser lúcido, que empreende a tarefa da auto iluminação, reflexionar de quando em quando a respeito dos próprios clichês mentais, selecionando-os, a fim de que, no momento de desvestir-se do corpo físico, nele fiquem as impregnações que lhe dizem respeito, não conduzindo aquelas que são perturbadoras nos arquivos da mente. 


A morte é somente transição, veículo que conduz o viajante de uma para outra faixa vibratória, vestido ou liberado das opções a que se afervorou durante a experiência orgânica. 


O cultivo das ideias superiores, o conhecimento a respeito da vida após túmulo, as ações de fraternidade e de caridade cristã, os hábitos morigerados contribuem para a liberação da amnésia após o decesso celular, facultando a identificação da realidade espiritual, bem como dos amigos que o aguardam além da fronteira física, para o conduzirem em júbilo de volta ao Grande Lar.

Manoel Philomeno de Miranda (Espírito) através de 
Divaldo Pereira Franco, no livro: Mediunidade: desafios e bênçãos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

EM SESSÃO PRÁTICA


A situação no grupo doutrinário apresentava anormalidades significativas. Desentendiam-se os companheiros entre si. Olvidando obrigações respeitáveis, confiavam-se a críticas acerbas. Acentuavam-se hostilidades mal disfarçadas de cizânia, orientadas pela incompreensão. Ninguém se lembrava d’Aquele humilde e divino servidor que lavara os pés dos próprios companheiros. Cada aprendiz da comunidade chamava a si a posição de comando e o direito de julgar asperamente.

Debalde os mentores espirituais da casa convidavam à ponderação e ao entendimento recíproco.

Os operários descuidados recebiam-lhes as palavras, sem maior atenção pelas advertências educativas.

É que Cláudio e Elias, os dois abnegados diretores invisíveis do agrupamento, não se inclinavam a exortações contundentes.

Entre os desencarnados de nobre estirpe, há também fidalguia, cavalheirismo e gentileza e, na opinião deles, não deviam tratar os irmãos de trabalho como se fossem crianças inconscientes.

Certa noite em que as vibrações antagônicas se fizeram mais fortes, anulando os melhores esforços no campo da espiritualidade edificante, Elias dirigiu-se a Cláudio, sugerindo, esperançoso:

– Creio de grande eficácia a visita de alguns sofredores ao núcleo dos nossos amigos encarnados. Poderiam assim observar, de perto, os efeitos escuros da vaidade e da indisciplina. Amanhã, teremos sessão prática, de há muito tempo esperada, e admito a oportunidade de semelhante lição.

– Excelente medida! – exclamou o colega, satisfeito – não seria razoável recordar obrigações comuns, de modo direto, a cooperadores nossos que estudam o Evangelho, todos os dias. Afinal de contas, não obstante mergulhados na carne, possuem tantos deveres para com Jesus quanto nós, e, se já receberam inúmeras mensagens sobre as necessidades de ordem e concurso fraterno, como insistir com eles no serviço a fazer? O alvitre é, portanto, providencial. Traremos à reunião alguns infelizes, desviados da reta conduta. Observando lhes os padecimentos, é provável que sintam a lição, com segurança, tornando aos rumos legítimos...

Com efeito, na noite imediata, duas entidades perturbadas foram trazidas à sessão.

Mais de trinta frequentadores passaram a ouvir a palestra dolorosa.

O doutrinador Silvério Matoso fazia paciente esforço para acalmar os desventurados que choravam ruidosamente, através das organizações mediúnicas.

– Desgraçado de mim! – comentava um deles – sou um réprobo, amaldiçoado de todos! Onde o meu equilíbrio? Perdi tudo... Não tenho recursos para a locomoção, quanto antigamente!... Vivo no seio de tempestade sem bonança...

Enquanto as lágrimas lhe corriam, copiosas, da face, clamava o outro:

– Que será de mim, relegado às trevas? Para onde se foram os miseráveis que me ataram ao poste do martírio? Malditos sejam!...

Acostumado à doutrinação, Matoso dizia, fraternalmente:

– Meus amigos abstenham-vos da desesperação e da revolta! Confiemos no Divino Poder!

Inspirado diretamente por Elias, o benfeitor espiritual que se esforçava intensamente por gravar a lição da hora, prosseguia, enérgico:

– Viveis presentemente as realidades da alma. Notastes agora que o relaxamento interior no mundo ocasiona grandes males. Desditosos todos aqueles que conhecem o bem e o não praticam! Desventurados os rebeldes, os hipócritas e os indiferentes, porque a morte do corpo revela a verdade pura, e as almas transviadas não encontram senão abismos e trevas, lágrimas e tormentos. Jesus, porém, é a fonte inesgotável das bênçãos de paz renovadora. Tende calma e esperança!...

– Sou, todavia, um infame – soluçava uma das entidades comunicantes –, repetidamente escutei palavras da fé santificante e do bem salvador, mas nunca cedi a ninguém. Quis viver as minhas fraquezas, alimentá-las e defendê-las com todas as forças. Nunca ponderei, intimamente, quanto às realidades eternas. Ao alcance de meu coração, fluíam ensinamentos e socorros de toda sorte. Fui muita vez convidado ao Evangelho do Cristo; entretanto, zombei de todas as oportunidades de renovação espiritual. Considerava meus melhores amigos, no capítulo da religião, tão egoístas e mentirosos quanto eu mesmo. Agora... Quantas lágrimas devo chorar, eu que desprezei a paz divina e preferi as vibrações infernais?

– E eu? – exclamava o mais revoltado – poderá haver trevas mais densas que as minhas? Haverá dor maior que esta a devastar-me? Sinto-me desequilibrado, sem direção... Um náufrago perdido no abismo é mais feliz que eu... Rodeiam-me quadros de horror... Experimento fogo e gelo ao mesmo tempo... Podereis, acaso, compreender-me, a mim que penetrei o vale fundo da desgraça?!...

Matoso, porém, orientado espiritualmente por Elias, interferiu, solicito:

– Olvidai, meus irmãos, as algemas da vida material e ligai-vos ao Senhor, pelo coração. É indispensável extirpar a raiz dos enganos adquiridos na Terra! A vida não se resume a impressões físicas, a fantasia corporal; é vibração da eternidade, da divina eternidade! Acalmai os sentimentos em desequilíbrio para recolherdes a dádiva dos conhecimentos superiores. Esquecei o mal, tornai ao caminho reto! Atravessais, agora, a zona escura das consequências do erro. É necessário renovar as próprias forças, a fim de reacenderdes a lâmpada da fé.

Assim, Matoso, devagarinho, convenceu as pobres almas desiludidas e desesperadas. Exaltou a necessidade de disciplina, com a desistência do egoísmo e da vaidade, azorragando os maus costumes e os vícios vulgares.

Em terminando a longa palestra, ambos os comunicantes se revelavam diferentes. Despediram-se, revestidos de coragem, esperança e bom ânimo.

A assembleia de ouvintes encarnados mantinha-se sob forte impressão e, entre os invisíveis, Elias e Cláudio aguardavam, ansiosos, a colheita de ensinamentos.

Teriam os circunstantes compreendido que as lições se destinavam a eles mesmos? Que ainda se encontravam na carne, com sublimes oportunidades em mão? Guardariam as experiências ouvidas? Ponderariam sobre as lutas que aguardam os rixosos e imprevidentes, além do túmulo? Modificariam as diretrizes?

Ambos os orientadores, benevolentes e sábios, esperavam a manifestação dos amigos, por identificarem o aproveitamento havido, quando a Senhora Costa quebrou o silêncio, murmurando:

– Viram vocês quanta dureza e intransigência?

– É... é... – comentou o velho Silva Torres – pregam eles numerosas peças neste mundo para chorarem no outro...

– E nós, os médiuns – acrescentou Dona Segismunda Fernandes –, devemos suportar semelhantes Espíritos como se fôssemos caixas de pancada.

– Esses infelizes não chegaram a ser identificados – observou Alberto Lima, um dos companheiros mais entusiastas do núcleo –, e foi pena. Pareciam muito cultos e, sobremaneira, versados em matéria religiosa.

– Notei, porém – aduziu outro confrade –, que se não fora a palavra convincente de Matoso teríamos sofrido desastre. Tenho a idéia de que tratamos com entidades não somente sofredoras, mas igualmente perversas.

E o próprio doutrinador da casa, que recebera a inspiração brilhante de Elias, partilhando a conversação, afiançou contente:

– Em suma, estou satisfeito. Guardo a convicção de que esses desventurados integram a falange perturbadora que me persegue o lar. 

Elias e Cláudio, invisíveis ao raio de observação comum, entreolhavam-se com indizível desapontamento.

Os companheiros encarnados mantinham-se prontos para o comentário cintilante e vivo. Qualificavam as comunicantes, queixavam-se dos sacrifícios a que eram obrigados por semelhantes visitas, reclamavam-lhes a ficha individual, situavam-nos entre os verdugos da vida privada; todavia, não houve um só que entendesse a lição legítima da noite, nela reconhecendo uma advertência do Alto para reajustamento de roteiro, enquanto era tempo. Ninguém percebeu que, doutrinando os Espíritos, o grupo estava sendo igualmente doutrinado.

Irmão X (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier 
no livro: Pontos e Contos