Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

QUERER, SABER, AMAR...


Todo o poder da alma resume-se em três palavras: querer, saber, amar! 

Querer, isto é, fazer convergir toda a atividade, toda a energia, para o alvo que se tem de atingir, desenvolver a vontade e aprender a dirigi-la. 

Saber, porque sem o estudo profundo, sem o conhecimento das coisas e das leis, o pensamento e a vontade podem transviar- se no meio das forças que procuram conquistar e dos elementos a quem aspiram governar. 

Acima de tudo, porém, é preciso amar, porque sem o amor, a vontade e a ciência seriam incompletas e muitas vezes estéreis. O amor ilumina-as, fecunda-as, centuplica-lhes os recursos. Não se trata aqui do amor que contempla sem agir, mas do que se aplica a espalhar o bem e a verdade pelo mundo. A vida terrestre é um conflito entre as forças do mal e as do bem. O dever de toda alma viril é tomar parte no combate, trazer-lhe todos os seus impulsos, todos os seus meios de ação, lutar pelos outros, por todos aqueles que se agitam ainda na via escura. 

O uso mais nobre que se pode fazer das faculdades é trabalhar por engrandecer, desenvolver, no sentido do belo e do bem, a civilização, a sociedade humana, que tem as suas chagas e fealdades, sem dúvida, mas que é rica de esperanças e magníficas promessas; essas promessas transformar-se-ão em realidade vivaz no dia em que a humanidade tiver aprendido a comungar, pelo pensamento e pelo coração, com o foco de amor, que é o esplendor de Deus. 

Amemos, pois, com todo o poder do nosso coração; amemos até ao sacrifício, como Joana d'Arc amou a França, como o Cristo amou a humanidade, e todos aqueles que nos rodeiam receberão nossa influência, sentir-se-ão nascer para nova vida. 

Ó homem, procura em volta de ti as chagas a pensar, os males a curar, as aflições a consolar. Alarga as inteligências, guia os corações transviados, associa as forças e as almas, trabalha para ser edificada a alta cidade de paz e de harmonia que será a cidade de amor, a cidade de Deus! Ilumina, levanta, purifica! Que importa que se riam de ti! Que importa que a ingratidão e a maldade se levantem na tua frente! Aquele que ama não recua por tão pouca coisa; ainda que colha espinhos e silvas, continua sua obra, porque esse é seu dever, sabe que a abnegação o engrandece. 

O próprio sacrifício também tem suas alegrias; feito com amor, transforma as lágrimas em sorrisos, faz nascer em nós alegrias desconhecidas do egoísta e do mau. Para aquele que sabe amar, as coisas mais vulgares são de interesse; tudo parece iluminar-se; mil sensações novas despertam nele. 

São necessários à sabedoria e à Ciência longos esforços, lenta e penosa ascensão para conduzir-nos às altas regiões do pensamento. O amor e o sacrifício lá chegam de um só pulo, com um único bater de asas. Na sua impulsão conquistam a paciência, a coragem, a benevolência, todas as virtudes fortes e suaves. O amor depura a inteligência, engrandece o coração e é pela soma de amor acumulada em nós que podemos avaliar o caminho que temos percorrido até Deus. 


Léon Denis, no livro: "O Problema do Ser, do Destino e da Dor".

EFEITOS DA PRECE


A prece é uma aspiração sublime, à qual Deus concedeu um poder tão mágico que os Espíritos a reivindicam constantemente. Orvalho suave como um refrigério para o pobre exilado na Terra e uma organização fecunda para a alma em prova. A prece age diretamente sobre o Espírito para o qual é dirigida. Ela não transforma seus espinhos em rosas, mas modifica sua vida de sofrimentos (nada podendo sobre a vontade imutável de Deus) imprimindo-lhe esse impulso de vontade que levanta a sua coragem, ao dar-lhe força para lutar contra as provas e dominá-las. Por esse meio é abreviado o caminho que conduz a Deus e, como efeito maravilhoso, nada pode ser comparado à prece.

Aquele que blasfema contra a prece não passa de Espírito inferior, de tal modo terreno e atrasado que nem mesmo compreende que deve apegar-se a essa tábua de salvação. Orai, pois a prece é uma palavra descida do Céu; é a gota de orvalho no cálice de uma flor; é o sustentáculo do caniço durante a borrasca; é a tábua do pobre náufrago na tempestade; é o abrigo do mendigo e do órfão; é o berço para a criança dormir. Emanação divina, a prece nos liga a Deus pela linguagem, chamando sua atenção para nós. Orar por nós é amá-lo. Suplicar-lhe por um irmão é um ato de amor dos mais meritórios. A prece que vem do coração é a chave dos tesouros da graça; é o ecônomo que dispensa benefícios em nome da misericórdia infinita. A alma que se eleva para Deus por um desses impulsos sublimes da prece, desprendida de seu envoltório grosseiro, parece apresentar-se cheia de confiança perante ele, certa de obter o que pede com humildade. Orai! Orai! Fazei um reservatório de vossas santas aspirações, que será aberto no dia da justiça. Preparai o celeiro da abundância, tão precioso durante a carestia. Escondei o tesouro de vossas preces até o dia escolhido por Deus para distribuir o rico depósito. Acumulai para vós e para os vossos irmãos, o que diminuirá as vossas angústias e vos fará transpor mais rapidamente o espaço que vos separa de Deus. Reflete em tua miserável natureza; conta as tuas decepções e teus riscos; sonda o abismo profundo para onde podem arrastar-te as paixões; olha em torno de ti os que caem, e sentirás a necessidade imperiosa de recorrer à prece. É âncora de salvação que impedirá o esfacelamento do teu navio, tão sacudido pelas tormentas do mundo.

Teu Espírito familiar.

(15 de outubro de 1860 - Publicado na Revista Espírita de novembro de 1861, extraída da procura O Espiritismo ou Espiritualismo em Metz, publicada pela Sociedade Espírita de Metz)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O SONHO DE UMA SOMBRA - UM POEMA DE PÍNDARO

A sorte dos mortais
cresce num só momento;
e um só momento basta
para a lançar por terra,
quando o cruel destino
a venha sacudir.
 
Efêmeros! que somos?
que não somos? O homem
é o sonho de uma sombra.
Mas quando os deuses lançam
sobre ele a luz,
claro esplendor o envolve
e doce é então a vida.


Ser o sonho de uma sombra. Píndaro nesses versos respira o destino que está nas mãos dos deuses, sendo a sorte humana lançada nas mãos deles. Mas volto: ser o sonho de uma sombra. Ser o que uma sombra sonha é ser o efêmero. É mais: é ser a afemeridade do efêmero. Não é ser a sombra - é muito mais denso ou ainda muito mais efêmero - é ser o sonho dela, ou melhor, é ser o transitório do que em si não tem luz, portanto nem mesmo se vê e nem escolhe [é o ser homem]. A efemeridade está muito antes do que se imagina. É estar envolto à pergunta sem resposta: "quem somos? quem não somos?".

Mas Píndaro fala também dos deuses; estes podem lançar luz ou escuridão ao sonho da sombra, pois nós só sabemos do que pode vir - que apenas sabemos ser incerto. A sorte é o porvir que não se sabe. Para nós quem poderiam ser os deuses? Para ele parece ser o próprio destino - a própria sorte que não se desvenda jamais. Suportar o destino é viver os deuses. É estar por um fio, é saber que tudo pode acabar em um só momento - em um segundo. 
(Jefferson Bessa)

Publicado originalmente AQUI.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

PRATIQUE O DESAPEGO


Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos que já se acabaram. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas possam ir embora. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.

Fernando Pessoa

CONSERVA O MODELO

"Conserva o modelo das sãs palavras". - Paulo
(II Timóteo, 1:13)

Distribui os recursos que a Providência te encaminhou às mãos operosas, todavia, não te esqueças de que a palavra confortadora ao aflito representa serviço direto de teu coração na sementeira do bem.

O pão do corpo é uma esmola pela qual sempre receberás a justa recompensa, mas o sorriso amigo é uma bênção para a eternidade.

Envia mensageiros ao socorro fraternal, contudo, não deixes, pelo menos uma vez por outra, de visitar o irmão doente e ouvi-lo em pessoa.

A expedição de auxílio é uma gentileza que te angariará simpatia, no entanto, a intervenção direta no amparo ao necessitado conferir-te-á preparação espiritual à frente das próprias lutas.

Sobe  à  tribuna  e  ensina  o  caminho  redentor  aos  semelhantes; todavia, interrompe as preleções, de vez em quando, a fim de assinalar o lamento de um companheiro na experiência humana, ainda mesmo quando se trata de um filho  do  desespero  ou  da ignorância,  para  que  não  percas  o  senso  das  proporções em tua marcha. 

Cultiva  as  flores  do  jardim  particular  de  tuas  afeições  mais queridas, porque, sem o canteiro de experimentação, é muito difícil atender à lavoura nobre e intensiva, mas não fujas sistematicamente à floresta humana, com receio dos vermes e monstros que a povoam, porquanto é imprescindível te prepares a avançar, mais tarde, dentro dela. 

Nos círculos da vida, não olvides a necessidade do  ensinamento gravado em ti mesmo. 

Assim como não podes tomar alimento individual, através de um substituto, e nem podes aprender a lição, guardando-lhe os caracteres na memória alheia, não  conseguirás  comparecer,  ante as  Forças  Supremas da  Sabedoria  e  do Amor, com realizações e vitórias que não tenham sido vividas e conquistadas por ti mesmo.

“Conserva”, pois, contigo, “o modelo das sãs palavras”.

Emmanuel [Espírito], através de Francisco Cândido Xavier,
 no livro "Pão Nosso", páginas 207 e 208.