Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

FELICIDADE POSSÍVEL

Acreditavas que a felicidade seria semelhante a uma ilha fantástica de prazer constante e paz permanente. Um lugar onde não houvesse preocupação, nem se apresentasse a dor; no qual os sorrisos brilhassem nos lábios, e a beleza engrinaldasse de festa as criaturas. Uma felicidade feita de fantasias parecia ser a tua busca.

Planejastes a vida, objetivando encontrar esse reino encantado, onde, por fim, descansasses da fadiga, da aflição e fruísses a harmonia. Passam-se anos, e somas frustrações, anotando desencantos e amarguras, sem anelada conquista. Lentamente, entregas-te ao desânimo, e sentes que estás discriminado no mundo, quando vês as propagandas apresentadas pela mídia, nas quais desfilam os jovens, belos e jubilosos, desperdiçando saúde, robustez, corpos venusinos e apolíneos, usando cigarros e bebidas famosas, brincando em iates de luxo, ou exibindo-se em desportos da moda, invejáveis, triunfantes...

Crês que eles são felizes...

Não sabes quanto custa, em sacrifício e dor, alcançar o topo da fama e permanecer lá. Sob quase todos aqueles sorrisos, que são estudados, estão a face da amargura e as marcas do ressaibo, do arrependimento. Alguns envenenaram a alma dos charcos por onde andaram, antes de serem conhecidos e disputados. Muitos se entregaram a drogas perturbadoras, que lhes consomem a juventude, qual ocorreu com as multidões de outros, que os anteciparam e desapareceram. Esquecidos e enfermos, aqueles que foram pessoas-objeto, amargam hoje a miséria a que se acolheram ou foram atirados.

Felicidade, porém, é conquista íntima.

Todos os que se encontram na Terra, nascidos em berços de ouro ou de palha, homenageados ou desprezados, belos ou feios, são feitos do mesmo barro frágil de carne, e experimentam, de uma ou de outra forma, vicissitudes, decepções, doenças e desconforto. Ninguém, no mundo terreno, vive em regime especial. O que parece, não excede a imagem, a ilusão.

Se desejas ser feliz, vive, cada momento, de forma integral, reunindo as cotas de alegria, de esperança, de sonho, de bênção, num painel plenificador.

As ocorrências de dor são experiências para as de saúde e de paz.

A felicidade não são coisas: é um estado interno, uma emoção.

Abençoa os acidentes de percurso, que denominas como desdita, segue na direção das metas, e verás quantas concessões de felicidade pela frente, aguardando por ti. Quem avança monte acima, pisa pedregulhos que ferem os pés, mas também flores miúdas e verdejante relva, que teimam em nascer ali colocando beleza no chão. Reúne essas florezinhas em um ramalhete, toma das pedras pequeninas fazendo colares, e descobrirás que, para a criatura ser feliz, basta amar e saber discernir, nas coisas e nos sucessos da marcha, a vontade de Deus e as necessidades para a evolução.

Joanna D'Ângelis (Espírito) através de Divaldo Pereira Franco, 
no livro "Momentos Enriquecedores".



PERANTE A DOR

"E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus". - Romanos, 12:2.)


Nossas dores podem ser analisadas como fonte de aprendizagem ou cárcere de lamentação. Elas surgem para que possamos perceber o que precisamos melhorar ou reformular interiormente.

Dificuldades e conflitos são materializações de atos e atitudes íntimas que precisam ser reavaliados. Portanto, não tomemos postura de vítima perante as dores; antes busquemos em nós mesmos as causas que as motivaram.

Quem vive se justificando diante do sofrimento não quer renovar-se, e quem se acomoda transforma as dificuldades em conflito, fazendo da existência um verdadeiro tormento. 

Talvez a falta de flexibilidade seja a causa primária de muitos de nossos desajustes. A vítima não quer ver a realidade, o equívoco e os limites humanos; simplesmente veste o "manto da infelicidade" e culpa o mundo que a rodeia.

Criaturas flexíveis e abertas utilizam-se de atitudes experimentais, jamais definitivas. Fazem novas "leituras de mundo" e reavaliam ideias e ideais, sempre que surjam novos fatos ou acontecimentos.

Eis a regra de ouro diante da dor: "jamais se imobilizar no tempo e nunca fechar as 'cortinas da janela' da alma, pois isso leva a uma vida de ilusões e vazia de experiências". O amanhã existe para que não fiquemos presos no hoje. 

"E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a nossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus". 

A "vontade de Deus" nada nos apresenta que não seja educativo e fecundo para o nosso crescimento e renovação interior. Examinemos cuidadosamente nossas aflições; nelas estão contidos os avisos e lembretes de que necessitamos para harmonizar a nossa existência. 

Hammed (Espírito) através de Francisco do Espírito Santo Neto, 
no livro " Um modo de entender - uma nova forma de viver". 





quinta-feira, 4 de agosto de 2016

BILHETE FRATERNO

"Porquanto, quem vos der de beber um copo de água porque sois do Cristo, amém vos digo que de modo nenhum terá perdido a sua recompensa". - Marcos 9: 41. 

Meu amigo, ninguém te pede a santidade dum dia para outro.

Ninguém reclama de tua alma espetáculos de grandeza.

Todos sabemos que a jornada humana é inçada de sombras e aflições criadas por nós mesmos.

Lembra-te, porém, de que o Céu nos pede solidariedade, compreensão, amor.

Planta uma árvore benfeitora à beira do caminho.

Escreve algumas frases amigas que consolem o irmão infortunado.

Traça pequenina explicação para a ignorância.

Oferece a roupa que se faz inútil agora, ao teu corpo, ao companheiro necessitado que segue à retaguarda.

Divide, sem alarde, as sobras de teu pão com o faminto.

Sorri para os infelizes.

Dá uma prece ao agonizante.

Acende a luz de um bom pensamento para aquele que te precedeu na longa viagem da morte.

Estende o braço à criancinha enferma.

Leva um remédio ou uma flor ao doente.

Improvisa um pouco de entusiasmo para os que trabalham contigo.

Emite uma palavra amorosa e consoladora onde a candeia do bem estiver apagada.

Conduze uma xícara de leite ao recém-nascido que o mundo acolheu sem um berço enfeitado.

Concede alguns minutos de palestras reconfortante ao colega abatido.

O rio é um conjunto de gotas preciosas.

A fraternidade é um sol composto de raios divinos, emitidos por nossa capacidade de amar e servir.

Quantos raios libertaste hoje do astro vivo que é teu próprio ser imortal?

Recorda o Divino Mestre que teceu lições inesquecíveis, em torno do vintém de uma viúva pobre, de uma semente de mostarda, de uma dracma perdida.

Faze o bem que puderes.

Ninguém espera que apagues sozinho o incêndio da maldade.

Dá o teu copo de água fria.

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, 
publicado originalmente na Revista Reformador, julho de 1949, e republicado nos livros "Segue-me" e "Nosso Livro". 

terça-feira, 2 de agosto de 2016

A FÉ RELIGIOSA. CONDIÇÃO DA FÉ INABALÁVEL



Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem controle, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana. Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade; preconizar alguém a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão.

Diz-se vulgarmente que a fé não se prescreve, donde resulta alegar muita gente que não lhe cabe a culpa de não ter fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se impõe. Não; ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais básicas e não de tal ou qual crença particular. Não é à fé que compete procurá-los; a eles é que cumpre ir-lhe ao encontro e, se a buscarem sinceramente, não deixarão de achá-la. Tende, pois, como certo que os que dizem: “Nada de melhor desejamos do que crer, mas não o podemos”, apenas de lábios o dizem e não do íntimo, porquanto, ao dizerem isso, tapam os ouvidos. As provas, no entanto, chovem-lhes ao derredor; por que fogem de observá-las? Da parte de uns, há descaso; da de outros, o temor de serem forçados a mudar de hábitos; da parte da maioria, há o orgulho, negando-se a reconhecer a existência de uma força superior, porque teria de curvar-se diante dela.

Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não menos evidente de naturezas retardatárias. As primeiras já creram e compreenderam; trazem, ao renascerem, a intuição do que souberam: estão com a educação feita; as segundas tudo têm de aprender: estão com a educação por fazer. Ela, entretanto, se fará e, se não ficar concluída nesta existência, ficará em outra.

A resistência do incrédulo, devemos convir, muitas vezes provém menos dele do que da maneira por que lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega já não é deste século, tanto assim que precisamente o dogma da fé cega é que produz hoje o maior número dos incrédulos, porque ela pretende impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio. É principalmente contra essa fé que se levanta o incrédulo, e dela é que se pode, com verdade, dizer que não se prescreve. Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa de vago, que dá nascimento à dúvida. A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.

A esse resultado conduz o Espiritismo, pelo que triunfa da incredulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e interessada. 

Allan Kardec, no livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo", 
capítulo XIX - A Fé Transporta Montanhas.

ORIGEM DA LINGUAGEM


Meus caros e bem-amados amigos ouvintes, pedis-me hoje que eu dite ao meu médium a história da linguagem. Tentarei satisfazer-vos. Deveis, porém, compreender que me será impossível, nalgumas linhas, tratar inteiramente da importante questão, à qual se liga forçosamente outra mais importante, a da origem das raças humanas.

Que Deus Todo-Poderoso, tão benevolente para com os espíritas, me conceda a lucidez necessária para afastar de minha dissertação toda confusão, toda obscuridade e sobretudo todo erro.

Entro na matéria dizendo-vos que admitamos, inicialmente, como princípio, esta eterna verdade: O Criador deu a todos os seres da mesma raça um modo especial, mas seguro, para se entenderem reciprocamente. Não obstante, esse modo de comunicação, essa linguagem, era tanto mais restrita quanto mais inferiores eram as espécies. É em virtude dessa verdade, dessa lei, que os selvagens e os povos pouco civilizados possuem línguas tão pobres que uma porção de termos usados nas regiões favorecidas pela civilização lá não encontram vocábulos correspondentes, e é em obediência a essa mesma lei que as nações que progridem criam novas expressões para novas descobertas e novas necessidades.

Como eu disse alhures, a Humanidade já atravessou três grandes períodos: a fase bárbara, a fase hebraica e pagã e a fase cristã. A esta última sucederá o grande período espírita, cujos alicerces lançamos entre vós.

Examinemos, pois, a primeira fase e o começo da segunda, e aqui só posso repetir o que eu já disse. A primeira fase humana, que poderemos chamar pré-hebraica ou bárbara, arrastou-se por muito tempo e lentamente em todos os horrores e convulsões de uma barbárie terrível. Aí o homem é peludo como um animal selvagem e, como as feras, abriga-se em cavernas e nos bosques. Vive de carne crua e se repasta de seu semelhante, como de uma excelente caça. É o mais absoluto reino da antropofagia. Não há sociedade nem família! Alguns grupos dispersos aqui e ali, vivem na mais completa promiscuidade, sempre prontos a se entredevorarem. Tal é o quadro desse período cruel.

Nenhum culto, nenhuma tradição, nenhuma ideia religiosa. Apenas as necessidades animais a satisfazer, eis tudo!

Prisioneira de uma matéria estupidificante, a alma fica morna e latente em sua prisão carnal. Ela nada pode contra os muros grosseiros que a encerram, e sua inteligência mal pode mover-se nos compartimentos de um cérebro estreito.

O olho é embaciado, a pálpebra pesada, o lábio grosso, o crânio achatado, e alguns sons guturais bastam como linguagem.

Nada prenuncia que desse animal bruto sairá o pai das raças hebraicas e pagãs. Contudo, com o tempo, eles sentem a necessidade de se defenderem contra os outros carnívoros, como o leão e o tigre, cujas presas terríveis e garras afiadas facilmente dominavam o homem isolado. Assim realiza-se o primeiro progresso social. Não obstante, o reinado da matéria e da força bruta se manteve durante toda essa fase cruel.

No homem dessa época, não procureis sentimentos nem razão, nem linguagem propriamente dita. Ele obedece apenas à sua sensação grosseira, e só tem como objetivo comer, beber e dormir. Nada além disso. Pode-se dizer que o homem inteligente ainda está em germe, mas que não existe ainda.

Contudo, é preciso constatar que entre as raças brutais já aparecem alguns seres superiores, Espíritos encarnados, com a tarefa de conduzir a Humanidade ao seu objetivo e apressar o advento da era hebraica e pagã.

Devo acrescentar que, além desses Espíritos encarnados, o globo terrestre era frequentemente visitado por esses ministros de Deus cuja memória foi conservada pela tradição sob os nomes de anjos e de arcanjos, que quase diariamente se punham em contato com os seres superiores, Espíritos encarnados, dos quais falei. A missão de alguns desses anjos continuou durante uma grande parte da segunda fase humanitária. Devo acrescentar que o rápido quadro que acabo de fazer dos primeiros tempos da Humanidade vos ensina, um pouco, a que leis rigorosas são submetidos os Espíritos que se exercitam a viver nos planetas de formação recente.

A linguagem propriamente dita, como a vida social, não começa a ter um caráter certo senão a partir da era hebraica e pagã, durante a qual o Espírito encarnado, sempre sujeito à matéria, começa a se revoltar e a quebrar alguns elos de sua pesada cadeia. A alma fermenta e se agita em sua prisão carnal; por seus esforços reiterados reage energicamente contra as paredes do cérebro, cuja matéria ela sensibiliza; ela melhora e aperfeiçoa por um trabalho constante o desempenho de suas faculdades e, consequentemente, os órgãos físicos se desenvolvem; enfim, o pensamento se deixa ler num olhar límpido e claro. Já estamos longe das frontes achatadas! É que a alma se sente, se reconhece, tem consciência de si mesma e começa a compreender que ela é independente do corpo. Também, a partir deste momento, ela luta com ardor para se desvencilhar da opressão de sua robusta rival. O homem se modifica cada vez mais e a inteligência se move mais livremente num cérebro mais desenvolvido. Todavia, constatamos que nessa época o homem ainda é cercado e registrado como o gado, o homem escravo do homem; a escravidão é consagrada pelo Deus dos Hebreus, tanto quanto pelos deuses pagãos, e Jeová, assim como Júpiter Olímpico, pede sangue e vítimas vivas.

Essa segunda fase oferece aspectos curiosos do ponto de vista filosófico; sobre o que já tracei um quadro rápido, que meu médium logo vos comunicará.

Como quer que seja, e para voltar ao tema deste estudo, tende por certo que não foi senão na época dos grandes períodos pastorais e patriarcais que a linguagem humana tomou uma marcha regular e adotou formas e sons especiais.

Durante essa época primitiva, em que a Humanidade saía dos cueiros e balbuciava na primeira infância, poucas palavras bastavam aos homens, para os quais ainda não tinha nascido a ciência, cujas necessidades eram muito restritas, e cujas relações sociais paravam à porta das tendas, à soleira da família, e mais tarde nos confins da tribo. Era a época em que o pai, o pastor, o ancião, o patriarca, numa palavra, dominava como senhor absoluto, com direito de vida e de morte.

A língua primitiva foi uniforme; mas, à medida que crescia o número de pastores, estes, deixando por sua vez a tenda paterna, foram fundar nas regiões desabitadas novas famílias, novas tribos. Então a língua por eles usada se diferenciou gradativamente, de geração em geração, da que era usada na tenda paterna; foi assim que os diversos idiomas foram criados.

De resto, ainda que minha intenção não seja dar um curso de linguística, não vos passa despercebido que, nas línguas mais díspares, encontrais palavras cujo radical pouco variou e cuja significação é quase a mesma. Por outro lado, posto tenhais a pretensão de ser um velho mundo, o mesmo motivo que corrompeu a língua primitiva, reina ainda soberano em vossa França tão orgulhosa de sua civilização, onde vedes as consonâncias, os termos e a significação variarem, não direi de província a província, mas de comuna a comuna. Apelo para o testemunho daqueles que viajaram pela Bretagne, como para os que percorreram a Provence e o Languedoc. É uma variedade de idiomas e de dialetos que espanta aquele que os quisesse coligir num único dicionário.

Uma vez que os homens primitivos, ajudados nisso pelos missionários do Eterno, emprestaram a certos sons especiais certas ideias especiais, foi criada a língua falada, e as modificações que ela sofreu mais tarde foram sempre em razão do progresso humano; por conseguinte, conforme a riqueza de uma língua, pode-se estabelecer facilmente o grau de civilização atingido pelo povo que a fala. O que posso acrescentar é que a Humanidade marcha para uma língua única, como consequência forçada de uma comunidade de ideias em moral, em política, e sobretudo em religião. Tal será a obra da filosofia nova, o Espiritismo, que hoje vos ensinamos.

ERASTO (Espírito)
(Revista Espírita, novembro de 1862 - Dissertações espíritas)
(Sociedade Espírita de Paris - Médium: Sr. d’Ambel)

O QUE É O FILOSOFAR ESPÍRITA

Publicado originalmente na Revista Internacional de Espiritismo, dezembro de 2009.

“Para filosofar precisamos de aprender a ciência do mergulho em nós mesmos.” (J.H.Pires)

Há uma grande importância no significado prático da filosofia e da filosofia espírita, como grandes incentivadores à reflexão que faculta o autoconhecimento e abre amplas perspectivas ao entendimento das magnas questões humanas e espirituais. Se pensarmos em filosofia apenas como uma disposição para o pensar, estaremos minimizando a sua importância no contexto da história humana. Na filosofia, aprendemos a analisar os elementos que compõem a existência do ser-no-mundo; e isto, porque há em nós uma inquietação existencial congênita. Já a filosofia espírita amplia essa busca, e revela a existência do ser interexistente em infinitas dimensões temporais, evolutivas, manifestando as suas luzes ou suas sombras nas formas concernentes ao seu nível de consciência.

A filosofia busca respostas, eleva-se, desenvolve-se, reflete-se, retoma ao reconsiderar as respostas anteriores. Não conclui, apenas conduz. E é nessa caminhada que o ser se descobre, na constante e infinita perquirição de si mesmo. O personagem shakesperiano, Hamlet, frente ao espelho, e com os restos mortais de seu bobo-da-corte à frente, abre essa perspectiva angustiante do nada, do vazio desconcertante e avassalador que nos toma de assalto frente ao silêncio da morte. A grande questão, ele diz, está no ser, ou no não-ser? É nisto (restos mortais) que nos transformamos?

O existencialismo – ou a angústia de existir – exorta o homem a existir inteiramente “aqui” e “agora”, para aceitar sua intensa “realidade humana” do momento presente – o futuro não é outra coisa que visões e ilusões para dar ao nosso presente direção e propósito. “Cem anos após Kardec, a filosofia na França quase se desfez nos sofismas do nada, com Jean Paul Sartre e sua escola. Mas Simone de Beauvoir, companheira e discípula de Sartre, confirma e ilustra as considerações de Kardec, ao escrever: ‘…detesto pensar no meu aniquilamento. Penso com melancolia nos livros lidos, nos lugares visitados, no saber acumulado e que não mais existirá.(…)’, em La Force des Choses”. A aproximação da morte, sob a idéia do nada, acarreta às criaturas mais cultas essa desesperança amarga. (PIRES, J.H.).”

É sob essa angustiante perspectiva que a inteligência humana tem buscado minimizar a realidade inegável e irrecusável da morte. O Pensador (Le Penseur) é uma das mais famosas esculturas de bronze do escultor francês Auguste Rodin. Retrata um homem em meditação profunda, num gestual próprio de quem está em luta com uma poderosa força interna. Tornou-se arquétipo do pensar filosófico como busca de si mesmo. Todos aqueles que já conseguiram ultrapassar a superfície do existir como usufruto das formas, mesmo porque elas trazem em si mesmas o sinal de sua intrínseca fragilidade, se identificam com essa figura. O Pensador traz a angústia da forma dilacerada pelo sofrimento; quase disforme, desproporcional, transmite o intenso drama interior de que é portador. Seu cenho carregado, oculta o olhar que permanece voltado para baixo. Ele não busca respostas no céu acima de seu pensamento, mas na terra abaixo de seus pés. Ele não demonstra um pensar sereno, mas uma dor atormentada pela ausência de respostas. Está nu. Abandonado ou desprovido das ilusões que pudessem ocultar-lhe a própria realidade, ele se expõe. E deixa uma das mais eloquentes mensagens ao ser humano atual: a verdadeira realidade do ser não jaz aqui, na temporalidade perecível, mas na imortalidade daquele que pensa: o Espírito.

As “previsões” de grandes tragédias por acontecer, através do cinema e da TV, retratam, metaforicamente esse drama atual: o ser humano, perdido em seus dramas interiores quer destruir a si mesmo, destruindo a fonte de sua própria existência – o planeta em que vive.

Outros autores cujas obras estão hoje nas telas, utilizam-se dos sentidos humanos (Babel, Ensaio sobre a Cegueira), para um novo mergulho dentro de si, através do mundo sensível, buscando trazer à tona as suas tragédias pessoais projetando-as aos seus semelhantes num movimento catártico, em busca de identificação.

Em 25 séculos de filosofia, temos inumeráveis doutrinas contraditórias. Nenhum dos pensadores ocidentais estiveram de acordo com relação às suas proposições. Há uma insatisfação profunda, gerada pela ausência de concordância. A meta final deve ser a realização, mas quem a conseguiu até agora?

Louvemos todos aqueles que tentaram. Seus esforços imortalizaram a trajetória do espírito humano em sua infinita jornada pelo autoconhecimento. Mesmo aqueles que se perderam no próprio vazio. Assim agiram, pela absoluta necessidade de identificação com o outro, e todos, com Deus.

“Deus está morto”, disse Nietzsche, certa vez. O deus apresentado pelas religiões, este sim, está morto. Morreu por falta de misericórdia, por ausência de amor ao próximo. Morreu por asfixia, mergulhado nos milhões de moedas geradas pela arrecadação criminosa obtida da ingenuidade e da falta de conhecimento. Morreu em cada ritual vazio de respostas, que perpetua a crença de que a crucifixão é nossa libertação (!?). Morreu em cada ser mutilado ou assassinado por balas perdidas ou bombas amarradas ao próprio coração daquele que O busca em desespero. Morreu em cada árvore caída, em cada rio poluído, no super-aquecimento do ar que respiramos.

Morreu ainda, pela ausência de amabilidade, cordialidade e respeito mútuo entre aqueles que se dizem seus seguidores.

Herculano cunhou a expressão “agonia das religiões” (PIRES, J.H.), para bem definir esse processo de transmutação da ostentação para a interiorização. Ostentação da fé, para auto afirmar-se. Para perpetuar a representação olímpica do deus humano sobre a Terra, na figura daqueles que insistem em representá-lo.

Deus não tem representantes. Tem filhos. E foi o maior deles, desfigurado pelo psiquismo arquetípico humano, fazendo de sua pessoa e de suas ações projeções de um herói mitológico, filho de um deus com uma mortal, e, portanto portador de virtudes milagrosas e espetaculares, misto de herói-mártir-guerreiro, que veio libertar-nos do Mal, igualmente projetado na figura arquetípica do anjo decaído que persiste em atormentar os seres humanos com doenças e flagelos, que surge entre nós, num dos momentos mais graves de nossa evolução.

Renascido na doutrina espírita, de forma igualmente simples, assim como viera em pessoa na manjedoura de luz, Jesus transfigura-se no Ser completo, naquele que é uno com o Pai porque identifica-se com suas leis, em sua consciência dilatada pelo Amor aceito porque compreendido.

No formato de Filosofia, o Espiritismo sintetiza os esforços humanos em busca de si, ilustrado pela imagem de O Pensador. Como Filosofia, analisa os elementos que compõem, sim, a existência do ser no mundo, porém, acrescidos da grande jornada que o aguarda na linha do tempo, fora deste mundo também.

O Ser é – jamais poderia não ser. O existencialismo kierkegaardeano, nietzscheniano, sartreano, serviu como uma lâmpada vermelha a pulsar, intemitente, como a dizer: acordem! A angústia beauvoiriana frente às possíveis perdas de seus tesouros intelectuais com o apelo inequívoco da morte, permanece no coração das mães e dos pais que perdem seus filhos adolescentes para as drogas, para o álcool, para o crime, para a sexualidade em patológico desvario.

A desesperança gerada pelo “escândalo” tem seu lenitivo na filosofia dos Espíritos Superiores; Sócrates a antecedeu, com a sua amorável vivência ético-moral com bases na lógica incontestável da Verdade. Platão, com a realidade do mundo das idéias que jazia acobertada no fundo da caverna. Aristóteles, a premência do mundo das formas a delinear a persona e suas realizações.

A Filosofia Espírita não é instrumento para mera elucubração. Nem tampouco de ostentação frente aos troféus humanos e mundanos. É sim uma alternativa, um convite (por ora) para a mudança do atual sistema de pensar.

O pensar filosófico-espírita prevê um universo de auto-descobertas, porém, impõe nesse processo, o reconhecimento da presença de Deus em nós através de suas leis, condutoras de nossa lógica, de nosso desenvolvimento, de nosso evoluir, de nossa amorosidade. As Leis Morais didaticamente definidas pelos Espíritos a Kardec, representam parte do processo de conscientização e de reconhecimento do divino em nós.

Não-ser é o desvario acima descrito; não-ser compõe os torpes sentimentos que nos afastam uns dos outros: a inveja, a soberba com sua filha, a prepotência. Esses elementos, poderosos em sua capacidade auto e alo destrutiva, faz estagnar o ser em sua nulidade existencial. E proclama a sua necessidade de sofrer para despertar.

Tal jornada ainda não terminou. O exemplo de Jesus, permanece como uma imagem-mensagem subliminar a permear o nosso momento existencial. Seu apelo continua pulsando nos corações humanos. A leitura desse chamamento tem sido decodificado de forma errada. Porém, ele continua ali. E quando o ser fartar-se de não-ser, abrirá seu coração e sua mente para o banquete – não o platonico, como representação do sensível, mas o nupcial, o inteligível, porque pleno de alegria, esperança e identificação com Deus.

(Sonia Theodoro da Silva- São Paulo-SP- Brasil: soniatheodoro_espiritismo@hotmail.com)

O MUNDO E A CRENÇA

"O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e acreditemos.) - Marcos 15: 32.
Por isso que são muito raros os homens habilitados à verdadeira compreensão da crença pura em seus valores essenciais, encontramos os que injuriaram o Cristo para confirmá-lo.

A mentalidade milagreira sempre nadou na superfície dos sentidos, sem atingir a zona do espírito eterno, e, se não alcança os fins menos dignos aos quais se dirige, descamba para os desafios mordazes.

E, no caso do Mestre, as observações não partem somente do populacho.

Assevera Marcos que os principais dos sacerdotes com os escribas partilhavam dos movimentos insultuosos, como a dizer que intelectualismo não traduz elevação espiritual.

Os manifestantes conservavam-se surdos para a Boa Nova do Reino, cegos para a contemplação dos benefícios recebidos, insensíveis ao toque do amor que Jesus endereçara aos corações.

Pretendiam apenas um espetáculo.

Descesse o Cristo da Cruz, num passe de mágica, e todos os problemas de crença inferior estariam resolvidos.

O divino interpelado, contudo, não lhes deu outra resposta, além do silêncio, dando-lhes a entender a magnitude de seu gesto inacessível ao propósito infantil dos inquiridores.

Se és discípulo sincero do Evangelho, não te esqueças de que, ainda hoje, a situação não é muito diversa.

Trabalha, ponderadamente, no serviço da fé. 

Une-te ao Senhor, dá quanto puderes em nome d'Ele e prossegue servindo na extensão do bem, convicto de que o vasto mundo inferior apenas te pedirá maliciosamente distrações e sinais.

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, 
através do livro "Pão Nosso".