Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sábado, 11 de junho de 2016

LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE


Liberdade, igualdade, fraternidade, estas três palavras são, por si só, o programa de toda uma ordem social, que realizaria o progresso mais absoluto da Humanidade, se os princípios que representam pudessem receber sua inteira aplicação. Vejamos os obstáculos que, no estado atual da sociedade, podem a isso se opor e, ao lado do mal, procuremos o remédio.

A fraternidade, na rigorosa acepção da palavra, resume todos os deveres dos homens relativamente uns aos outros; ela significa: devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência; é a caridade evangélica por excelência e a aplicação da máxima: "Agir para com os outros como gostaríamos que os outros agissem conosco." A contrapartida é o Egoísmo. A fraternidade diz: "Cada um por todos e todos por um." O egoísmo diz: "Cada um por si." Sendo essas duas qualidades a negação uma da outra, é tão impossível a um egoísta agir fraternalmente, para com os seus semelhantes, quanto o é para um avarento ser generoso, a um homem pequeno alcançar a altura de um homem grande. Ora, sendo o egoísmo a praga dominante da sociedade, enquanto ele reinar dominador, o reino da verdadeira fraternidade será impossível; cada um quererá da fraternidade em seu proveito, mas não a quererá para fazê-la em proveito dos outros; ou, se isso faz, será depois de estar seguro de que não perderá nada.

Considerada do ponto de vista de sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está em primeira linha: é a base; sem ela não poderia existir nem igualdade e nem liberdade sérias; a igualdade decorre da fraternidade, e a liberdade é a consequência das duas outras.

Com efeito, suponhamos uma sociedade de homens bastante desinteressados, bons e benevolentes para viverem, entre si, fraternalmente, não haveria entre eles nem privilégios nem direitos excepcionais, sem o que não haveria ali fraternidade. Tratar alguém como irmão, é tratá-lo de igual para igual; é querer-lhe o que desejaria para si mesmo; num povo de irmãos, a igualdade será a consequência de seus sentimentos, de sua maneira de agir, e se estabelecerá pela força das coisas. Mas qual é o inimigo da igualdade? É o orgulho. O orgulho que, por toda a parte, quer primar e dominar, que vive de privilégios e de exceções, pode suportar a igualdade social, mas não a fundará jamais e a destruirá na primeira ocasião. Ora, sendo o orgulho, ele também, uma das pragas da sociedade, enquanto não for destruído, oporá uma barreira  à verdadeira igualdade.

A liberdade, dissemos, é filha da fraternidade e da igualdade; falamos da liberdade legal e não da liberdade natural que é, por direito, imprescritível para toda criatura humana, desde o selvagem ao homem civilizado. Vivendo os homens como irmãos, com os direitos iguais, animados de um sentimento de benevolência recíproco, praticarão entre si a justiça, não procurarão nunca se fazerem mal, e não terão, consequentemente, nada a temer uns dos outros. A liberdade será sem perigo, porque ninguém pensará em dela abusar em prejuízo de seus semelhantes. Mas como o egoísmo que quer tudo para si, o orgulho que quer sempre dominar, dariam a mão à liberdade que os destronaria? Os inimigos da liberdade são, pois, ao mesmo tempo, o egoísmo e o orgulho, como o são da igualdade e da fraternidade.

A liberdade supõe a confiança mútua; ora, não poderia haver confiança entre pessoas movidas pelo sentimento exclusivo da personalidade; não podendo se satisfazer senão às expensas de outrem, sem cessar, estão em guarda uns contra os outros. Sempre com medo de perder o que chamam seus direitos, a dominação é a condição mesma de sua existência, por isso armarão sempre ciladas à liberdade, e a abafarão tanto tempo quanto o puderem.

Esses trés princípios são, pois, como o dissemos, solidários uns com os outros e se servem mutuamente de apoio; sem sua reunião, o edifício social não poderia estar completo. A fraternidade praticada em sua pureza não poderia estar só, porque sem a igualdade e a liberdade não há verdadeira fraternidade. A liberdade sem a fraternidade dá liberdade de ação a todas as más paixões, que não têm mais freio; com a fraternidade, o homem não faz nenhum mau uso de sua liberdade: é a ordem; sem a fraternidade, ele a usa para dar curso a todas as suas torpezas: é a anarquia, a licença.  É por isso que as nações mais livres são forçadas a fazerem restrições à liberdade. A igualdade sem a fraternidade conduz aos mesmos resultados, porque a igualdade quer a liberdade; sob pretexto de igualdade, o pequeno abate o grande, para se substituir a ele, e se torna tirano a seu turno; isso não é senão um deslocamento do despotismo.

Segue-se que, até que os homens estejam imbuídos do sentimento da verdadeira fraternidade, falta tê-los na servidão? Que sejam impróprios às instituições fundadas sobre os princípios de igualdade e de liberdade? Semelhante opinião seria mais do que um erro; seria absurda. Não se espera que uma criança haja feito todo o seu crescimento para fazê-la caminhar. Quem, aliás, a tem mais frequentemente em tutela? São homens de idéias grandes e generosas, guiados pelo amor ao progresso? Aproveitando da submissão de seus inferiores, para desenvolver neles o senso moral, e elevá-los, pouco a pouco, à condição de homens livres? Não; são, na maioria, homens ciosos de seu poder, ambição e cupidez dos quais outros homens servem de instrumento, mais inteligentes do que animais, e que, para esse efeito, em lugar de emancipá-los os têm, o maior tempo possível, sob o jugo e na ignorância. Mas essa ordem de coisas muda por si mesma pela força irresistível do progresso. A reação é, às vezes, violenta e tanto mais terrível quanto o sentimento de fraternidade, imprudentemente abafado, não vem interpor um poder moderador; a luta se estabelece, entre aqueles que querem agarrar e aqueles que querem reter; da um conflito que se prolonga,  frequentemente, durante séculos. Um equilíbrio factício se estabelece enfim; há melhoria; mas sente-se que as bases sociais não estão sólidas; o solo treme a cada instante sob os passos, porque não é, ainda, o reino da liberdade e da igualdade sob a égide da fraternidade, porque o orgulho e o egoísmo estão sempre ali, levando ao fracasso os esforços dos homens de bem.

Todos vós que sonhais com essa idade de ouro para a Humanidade, trabalhai, antes de tudo, na base do edifício, antes de querer coroar-lhe a cumeeira; dai-lhe por base a fraternidade em sua mais pura acepção; mas, para isso, não basta decretá-la e inscrevê-la sobre uma bandeira; é preciso que ela esteja no coração e não se muda o coração dos homens com decretos. Do mesmo modo que, para fazer um campo frutificar, é preciso arrancar-lhe as pedras e os espinheiros, trabalhai sem descanso para extirpar o vírus do orgulho e do egoísmo, porque a está a fonte de todo mal, o obstáculo real ao reino do bem; destruí nas leis, nas instituições, nas religiões, na educação, até os últimos vestígios, os tempos de barbárie e de privilégios, e todas as causas que mantém e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, que se recebe, por assim dizer, desde a meninice e que se aspira por todos os poros na atmosfera social; só então os homens compreenderão os deveres e os benefícios da fraternidade; então, também, se estabelecerão por si mesmos, sem abalos e sem perigo, os princípios complementares da igualdade e da liberdade.


A destruição do egoísmo e do orgulho é possível? Dizemos alta e ousadamente SIM, de outro modo seria preciso colocar uma suspensão ao progresso da Humanidade. O homem cresce em inteligência, é um fato incontestável; chegou ao ponto culminante que não poderia ultrapassar? Quem ousaria sustentar essa tese absurda? Progride ele em moralidade? Para responder a esta pergunta, basta comparar as épocas de um mesmo país. Por que, pois, teria antes alcançado o limite do progresso moral do que do progresso intelectual? Sua aspiração, para uma ordem de coisas melhor, é um indício da possibilidade de a isso chegar. Aos homens progressistas cabe ativar o movimento pelo estudo e pela prática dos meios mais eficazes.


Allan Kardec, no livro "Obras Póstumas". 

quinta-feira, 9 de junho de 2016

O JUIZ RETO


Ao tribunal de Eliaquim ben Jefté, juiz respeitável e sábio, compareceu o negociante Jonatan ben Caiar arrastando Zorobabel, miserável mendigo.

— Este homem — clamou o comerciante, furioso — impingiu-me um logro de vastas proporções! Vendeu-me um colar de pérolas falsas, por cinco peças de ouro, asseverando que valiam cinco mil. Comprei as jóias, crendo haver realizado excelente negócio, descobrindo, afinal, que o preço delas é inferior a dois ovos cozidos. Reclamei diretamente contra o mistificador, mas este vagabundo já me gastou o rico dinheiro. Exijo para ele as penas da justiça! É ladrão reles e condenável!...        

O magistrado, porém, que cultuava a Justiça Suprema, recomendou que o acusado se pronunciasse por sua vez:        

— Grande juiz — disse ele, timidamente —, reconheço haver transgredido os regulamentos que nos regem. Entretanto, tenho meus dois filhos estirados na cama e debalde procuro trabalho digno, pois mo recusam sempre, a pretexto de minha idade e de minha pobre apresentação. Realmente, enganei o meu próximo e sou criminoso, mas prometo resgatar meu débito logo que puder. 

O juiz meditou longamente e sentenciou:

— Para Zorobabel, o mendigo, cinco bastonadas entre quatro paredes, a fim de que aprenda a sofrer honestamente, sem assalto à bolsa dos semelhantes, e, para Jonatan, o mercador, vinte bastonadas, na praça pública, de modo a não mais abusar dos humildes. 

O negociante protestou, revoltado: 

— Que ouço? Sou vítima de um ladrão e devo pagar por faltas que não cometi? Iniqüidade! iniqüidade!...

O magistrado, todavia, bateu forte com um martelo sobre a mesa, chamando a atenção dos presentes, e esclareceu, em voz alta: 

— Jonatan ben Caiar, a justiça verdadeira não reside na Terra para examinar as aparências. Zorobabel, o vagabundo, chefe de uma família infeliz, furtou-te cinco peças de ouro, no propósito de socorrer os filhos desventurados, porém, tu, por tua vez, tentaste roubar dele, valendo-te do infortúnio que o persegue, apoderando-te de um objeto que acreditaste valer cinco mil peças de ouro ao preço irrisório de cinco. Quem é mais nocivo à sociedade, perante Deus: o mísero esfomeado que rouba um pão, a fim de matar a fome dos filhos, ou o homem já atendido pela Bondade do Eterno, com os dons da fortuna e da habilidade, que absorve para si uma padaria inteira, a fim de abusar, calculadamente, da alheia indigência? Quem furta por necessidade pode ser um louco, mas quem acumula riquezas, indefinidamente, sem movimentá-las no trabalho construtivo ou na prática do bem, com absoluta despreocupação pelas angústias dos pobres, muita vez passará por inteligente e sagaz, aos olhos daqueles que, no mundo, adormeceram no egoísmo e na ambição desmedida, mas é malfeitor diante do Todo-Poderoso que nos julgará a todos, no momento oportuno. 

E, sob a vigilância de guardas robustos, Zorobabel tomou cinco bastonadas em sala de portas lacradas, para aprender a sofrer sem roubar, e Jonatan apanhou vinte, na via pública, de modo a não mais explorar, sem escrúpulos, a miséria, a simplicidade e a confiança do povo. 

Neio Lúcio (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, 
no livro "Alvorada Cristã".

ALIMENTA A ESPERANÇA

A esperança não pode desaparecer dos nossos ideais. Ela é uma flor que nos predispõe para os rumos do despertar espiritual e faz desaparecer as dúvidas, fornecendo-nos um ambiente favorável à vida feliz e alegre. Quem espera, sempre trabalha para alcançar.

Acredita em ti mesmo e em Deus, e luta por isso todos os dias, mesmo que o tempo esteja contrário às tuas idéias. Avança, sem que o esmorecimento amarre teus passos. Alimenta a esperança, que ela te libertará das sombras do desinteresse. Confia no Senhor Todo Poderoso, sem esquecer de confiar em ti mesmo, que os caminhos se abrirão para ti, mostrando-te as portas onde encontrarás a paz do coração. Sê fiel aos princípios do Amor e nunca deixes de praticar a caridade, porque sabemos não existir salvação sem o brilho desta virtude sem par.

Em tudo o que fizeres, meu irmão, não poderás esquecer a esperança. Esse anseio de encontrar o melhor nos leva à alegria e ao bem-estar indizível. Os iniciados no Bem, no Amor e na Caridade nunca desconhecem o exercício que deve ser feito no campo do coração e no ambiente dos sentimentos, sob a regência da vontade. Para o conhecimento das verdades eternas do espírito, a universidade maior está dentro de nós mesmos. Cada experiência nos dá condições para um novo alcance de compreender as leis da natureza e respeitá-las. 

Os tempos são chegados. Já se encontra maturidade espiritual na coletividade para que seja pregado o Evangelho de Jesus, em espírito e em verdade. A palavra escrita e falada está ressoando nos quatro cantos do mundo e todas as criaturas estão sentindo, ouvindo e compreendendo o objetivo da mensagem espiritual. Jesus está nos chamando pelas bocas dos anjos, para que tomemos posições de lutas e, desta vez, a batalha é travada dentro de nós, contra os nossos inimigos internos, que nos escravizam há milênios e que devem ser extirpados do nosso mundo íntimo e lançados ao fogo bendito do amor, para que possamos sentir a liberdade na região da consciência e a paz em todos os sentimentos. 

Alimenta a esperança, pois além da morte física, um mundo grandioso te espera com a bagagem que conquistaste no aprimoramento da moral. Fase uma cirurgia moral em todos os teus atos e abstém-te de novos distúrbios conscienciais, para que não venhas a sofrer maiores danos. A boca acostumada a falar asneiras é instrumento do lixo mental e quando a cabeça está cheia de inferioridade não se pode pensar em falar em esperança, pois não sobra espaço para a virtude mantenedora da alegria. 

Se não sabes por onde começar na limpeza interna de sentimentos destruidores, procura livros que te possam orientar. Existem muitos que te ajudarão na reforma interior. Mas, se a ignorância domina por completo a tua alma, vá com moderação, porque os rejeitos são volumosos e poderás esmorecer. 

Luta devagar, mas sempre.

Lancellin (Espírito) através de João Nunes Maia, 
no livro "Cirurgia Moral".  

quarta-feira, 8 de junho de 2016

DEPOIS DA MORTE

Vi, deitadas em suas mortalhas de pedra ou de areia, as cidades famosas da antiguidade: Cartago, em brancos promontórios, as cidades gregas da Sicília, os arrabaldes de Roma, com os aquedutos partidos e os túmulos abertos, as necrópoles que dormem um sono de vinte séculos, debaixo das cinzas do Vesúvio. Vi os últimos vestígios das cidades longínquas, outrora formigueiros humanos, hoje ruínas desertas, que o sol do Oriente calcina com suas carícias ardentes.

Evoquei as multidões que se agitaram e viveram nesses lugares: vi-as desfilar, diante do meu pensamento, com as paixões que as consumiram, com seus ódios, seus amores e suas ambições desvanecidas, com seus triunfos e reveses — fumaças dissipadas pelo sopro dos tempos. Vi os soberanos, chefes de impérios, tiranos ou heróis, cujos nomes foram celebrados pelos fastos da História, mas que o futuro esquecerá.

Passavam como sombras efémeras, como espectros truanescos que a glória embriaga uma hora, e que o túmulo chama, recebe e devora. E disse comigo mesmo: Eis em que se transformam os grandes povos, as capitais gigantes — algumas pedras amontoadas, colinas silenciosas, sepulturas sombreadas por mirrados vegetais, em cujos ramos o vento da noite murmura suas queixas. A História registrou as vicissitudes de sua existência, suas grandezas passageiras, sua queda final, porém tudo a terra sepultou. Quantos outros cujos nomes mesmos são desconhecidos; quantas civilizações, raças, cidades grandiosas, jazem para sempre sob o lençol profundo das águas, na superfície dos continentes submersos!

E perguntei a mim mesmo: por que essas gerações a se sucederem como camadas de areia que, acarretadas incessantemente pelas ondas, vão cobrir outras camadas que as precederam? Por que esses trabalhos, essas lutas, esses sofrimentos, se tudo deve terminar no sepulcro? Os séculos, esses minutos da eternidade, viram passar nações e reinos, e nada ficou de pé. A esfinge tudo devorou!

Em sua carreira, para onde vai, pois, o homem? Para o nada ou para uma luz desconhecida? A natureza risonha, eterna, moldura as tristes ruínas dos impérios, com os seus esplendores. Nela nada morre, senão para renascer. Leis profundas, uma ordem imutável, presidem às suas evoluções. Só o homem, com suas obras, terá por destino o nada, o olvido? A impressão produzida pelo espetáculo das cidades mortas, ainda a encontrei mais pungente diante dos frios despojos dos entes que me são caros, daqueles que partilharam a minha vida.

— Um desses a quem amais vai morrer. Inclinado para ele, com o coração opresso, vedes estender-se lentamente, sobre suas feições, a sombra da morte. O foco interior nada mais dá que pálidos e trêmulos lampejos; ei-lo que se enfraquece ainda, depois se extingue. E agora, tudo o que nesse ser atestava a vida, esses olhos que brilhavam, essa boca que proferia sons, esses membros que se agitavam, tudo está velado, silencioso, inerte. Nesse leito fúnebre mais não fui que um cadáver! Qual o homem que a si mesmo não pediu a explicação desse mistério, e que, durante a vigília lúgubre, nesse silenciar solene com a morte, deixou de refletir no que o espera a si próprio? A todos interessa esse problema, porque todos estamos sujeitos à lei.

Convém saber se tudo acaba nessa hora, se mais não é a morte que triste repouso no aniquilamento, ou, ao contrário, o ingresso em outra esfera de sensações.

Mas, de todos os lados levantam-se problemas. Por toda parte, no vasto teatro do mundo, dizem certos pensadores, reina como soberano o sofrimento; por toda parte, o aguilhão da necessidade e da dor estimula esse galope desenfreado, esse bailado terrível da vida e da morte. De toda parte, levanta-se o grito angustioso do ser que se precipita no caminho do desconhecido. Para esse, a existência só parece um perpétuo combate: a glória, a riqueza, a beleza, o talento — realezas de um dia! A morte passa, ceifando essas flores brilhantes, para só deixar hastes fanadas.

A morte é o ponto de interrogação ante nós incessantemente colocado, o primeiro tema a que se ligam questões sem-número, cujo exame faz a preocupação, o desespero dos séculos, a razão de ser de imensa cópia de sistemas filosóficos. Apesar desses esforços do pensamento, a obscuridade tem pesado sobre nós. A nossa época se agita nas trevas e no vácuo, e procura, sem achar, um remédio a seus males. Imensos são os progressos materiais, mas no seio das riquezas acumuladas, pode-se ainda morrer de privações e de miséria. O homem não é mais feliz nem melhor. No meio dos seus rudes labores, nenhum ideal elevado, nenhuma noção clara do destino o sustém; daí seus desfalecimentos morais, excessos de revoltas. Extinguiu-se a fé do passado; o cepticismo, o materialismo, substituíram-na, e, ao sopro destes, o fogo das paixões, dos apetites, dos desejos, tem-se ateado. Convulsões sociais ameaçam-nos.

Às vezes, atormentado pelo espetáculo do mundo e pelas incertezas do futuro, o homem levanta os olhos para o céu, e pergunta-lhe a verdade. Interroga silenciosamente a Natureza e o seu próprio espírito. Pede à Ciência os seus segredos, à Religião os seus entusiasmos. Mas, a natureza parece-lhe muda, e as respostas dos sábios e dos sacerdotes não satisfazem à sua razão nem ao seu coração. Entretanto, existe uma solução para esses problemas, solução melhor, mais racional e mais consoladora que todas as oferecidas pelas doutrinas e filosofias do dia; tal solução repousa sobre as bases mais sólidas que conceber se possa: o testemunho dos sentidos e a experiência da razão.

No momento mesmo em que o materialismo atingia o seu apogeu, e por toda parte espalhava a ideia do nada, surge uma crença nova apoiada em fatos. Ela oferece ao pensamento um refúgio onde se encontra, afinal, o conhecimento das leis eternas de progresso e de justiça. Um florescimento de ideias que se acreditava mortas, mas que dormitavam apenas, produz-se e anuncia uma renovação intelectual e moral. Doutrinas, que foram a alma das civilizações passadas, reaparecem sob mais desenvolvida forma, e numerosos fenômenos, por muito tempo desdenhados, mas cuja importância enfim é pressentida por certos sábios, vêm oferecer-lhe uma base de demonstração e de certeza. As práticas do magnetismo, do hipnotismo, da sugestão; mais ainda, os estudos de Crookes, Russel Wallace, Paul Gibier, etc., sobre as forças psíquicas, fornecem novos dados para a solução do grande problema. Abrem-se abismos, formas de existência revelam-se em centros onde não mais se cuidava de observá-los. E, dessas pesquisas, desses estudos, dessas descobertas, nascem uma concepção do mundo e da vida, um conhecimento de leis superiores, uma afirmação da ordem e da justiça universais, apropriados a despertar no coração do homem, com uma fé mais firme e mais esclarecida no futuro, um sentimento profundo dos seus deveres, um afeto real por seus semelhantes, capazes de transformarem a face das sociedades.

É essa doutrina que oferecemos aos pesquisadores de todas as ordens e todas as classes. Ela já tem sido divulgada em numerosos volumes. Acreditamos nosso dever resumi-la nestas páginas, sob uma forma diferente, na intenção daqueles que estão cansados de viver como cegos, ignorando-se a si mesmos, daqueles que não se satisfazem mais com as obras de uma civilização material e inteiramente superficial, mas que aspiram a uma ordem de coisas mais elevada. É sobretudo para vós, filhos e filhas do povo, para quem a jornada é áspera, a existência difícil, para quem o céu é mais negro, mais frio o vento da adversidade; é para vós que este livro foi escrito. Não vos trará ele toda a ciência — que o cérebro humano não poderia conter — porém, será mais um degrau para a verdadeira luz. Provando-vos que a vida não é uma ironia da sorte nem o resultado de um acaso estúpido, mas a conseqüência de uma lei justa e equitativa, abrindo-vos as perspectivas radiosas do futuro, ele fornecerá um alvo mais nobre às vossas ações, fará luzir um raio de esperança na noite de vossas incertezas, aliviará o fardo de vossas provações, e ensinar-vos-á a não mais tremer diante da morte. Abri-o confiantemente; lede-o com atenção, porque emana de um homem que, acima de tudo, quer o vosso bem.

Entre vós, muitos talvez rejeitem nossas conclusões: um pequeno número somente as aceitará. Que importa! Não vamos em busca de êxitos. Um único móbil inspira-nos: o respeito, o amor à verdade. Uma só ambição anima-nos: quereríamos, quando nosso gasto invólucro voltasse à terra, que o Espírito imortal pudesse dizer a si mesmo: minha passagem pelo mundo não terá sido estéril se contribuí para mitigar uma só dor, para esclarecer uma só inteligência em busca da verdade, para reconfortar uma só alma vacilante e contristada.


Introdução do livro "Depois da Morte" de Leon Denis. 

GLORIFICANDO O SANTO NOME


O professor contou, em aula, que, no princípio da vida na Terra, quando os minerais, as plantas e os animais souberam que era necessário santificar o nome de Deus, houve da parte de quase todos um grande movimento de atenção.

Certas pedras começaram a produzir diamantes e outras revelaram ouro e gemas preciosas.

As árvores mais nobres começaram a dar frutos.

O algodoeiro inventou alvos fios para a vestimenta do homem.

A roseira cobriu-se de flores.

A grama, como não conseguia crescer, alastrou-se pelo chão, enfeitando a Terra.

A vaca passou a fornecer leite.

A galinha, para a alegria de todos, começou a oferecer ovos.

O carneiro iniciou a criação de lã. 

A abelha passou a fazer mel.

E até o bicho-da-seda, que parece tão feio, para santificar o nome de Deus fabricou fios lindos, com os quais possuímos um dos mais valiosos tecidos que o mundo conhece. 

Nesse ponto da lição, como o instrutor fizera uma pausa, Pedrinho perguntou: 

- Professor, e que fazem os homens para isso? 

O orientador da escola pensou um pouco e respondeu: 

- Nem todos os homens aprendem rapidamente as lições da vida, mas aqueles que procuram a verdade sabem que a nossa inteligência deve glorificar a Eterna Sabedoria, cultivando o bem e fugindo ao mal. As pessoas que se consagram às tarefas da fraternidade, compreendendo os semelhantes e auxiliando a todos, são as almas acordadas para a luz e que louvam realmente o nome de nosso Pai Celeste.

E, concluindo, afirmou:

- O Senhor deseja a felicidade de todos e, por isso, todos aqueles que colaboram pelo bem-estar dos outros são os que santificam na Terra a sua Divina Bondade. 

Meimei (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, 
no livro "Pai Nosso". 

terça-feira, 7 de junho de 2016

MEDO E MEDIUNIDADE


- Gosto das reuniões espíritas, contudo, tenho medo de comparecer...

- Sinto a mediunidade, mas temo... 

- Creio racionalmente no Mundo dos Espíritos, entretanto, não posso nem pensar seja possível que um espírito me apareça... 

Se surgem comumente confissões quais essas, é preciso anotar que elas exprimem apenas reduzido número daquelas criaturas que dizem com franqueza o que pensam.

Quantos médiuns se afastam em silêncio da ação edificante a que foram chamados e só os Amigos da Espiritualidade lhes testemunham o medo inconfessável, a lhes enrodilhar nos corações por visco entorpecente! Sim! Um dos muitos tipos de medianeiros frustrados no intercâmbio espiritual e que escapam até agora de toda classificação é o médium medroso. 

As pessoas impressionáveis quase sempre revelam espontâneas suscetibilidades incluindo naturalmente o medo por um dos agentes essenciais da sensibilização mediúnica. Complexadas por algum fato ou conversa ouvida, leitura ou referência que lhes vincaram a emotividade, alimentam terror pânico e difuso ante o exercício das faculdades psíquicas, sem qualquer razão de ser.

Certifiquem-lhes de que o medo é uma espécie de braço invisível, frenando inutilmente legiões de trabalhadores valorosos à margem do serviço. Fobia, - muitas vezes derivada de atitudes infantis -, é necessário saibamos curá-la, pela medicação do amor fraternal e do esclarecimento lógico, sem perder de vista que a ocorrência mediúnica é manifestação de espírito para espírito igual aos sucessos corriqueiros da vida terrestre. 

Médium, se o medo é o teu problema individual, no que respeita à prática medianímica, situa na construção da fé raciocinada a ,melhoria a que aspiras!

A coerência com os princípios que esposamos ensina-nos que a criatura de fé verdadeira nada teme, senão a si própria, atenta que vive às fraquezas pessoais. Em razão disso, é correto receares simplesmente a ti mesmo, em todos os sentimentos que ainda não conseguiste disciplinar.

Se não te amedrontas face à condição de intérprete para a troca verbal entre criaturas que versam idiomas diferentes por que temer a posição de instrumento entre pessoas domiciliadas em esferas diferentes, carecidas da cooperação mediúnica? 

Por que motivo te assustares diante dos desencarnados, que são, na essência, personalidades iguais a ti mesmo? 

Espíritos benevolentes e esclarecidos são mentores preciosos que merecem apreço e espíritos doentes ou infelizes não devem ser temidos, por necessitados de mais amor. 

Medo é inexperiência. 

Corrige-te, através do labor mediúnico, raciocinado com o Evangelho Vivo e perseverando na tarefa de fraternidade. 

Na edificação doutrinária, onde se objetiva o intercâmbio puro com as Esferas Superiores, todos os companheiros se esforçam na garantia dos bons pensamentos e assistência espiritual se levanta de preces sinceras sendo, portanto, num templo espírita, o local em que a pessoa humana cousa alguma deve temer, por encontrar aí as fontes de seu próprio consolo e sustentação. 

Não te admitas incapaz de dominar o medo perante as efusões do reino da alma. Reage contra qualquer receio infundado, mantendo-te na tranqüilidade da confiança, no desassombro da fé, na leitura edificante e na meditação construtiva e, ao fazeres a tua parte na supressão de semelhante fantasma íntimo, reconhecerás que os benfeitores da Vida Maior te farão descobrir na lavra mediúnica o áureo caminho da verdade e o portal sublime do amor. 

Comentário à questão 159 do Livro dos Médiuns.

Pelo Espírito André Luiz - Do livro: Opinião Espírita, 
Médiuns: Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.


CONDIÇÃO COMUM

  “Imediatamente, o pai do menino, clamando com lágrimas, disse:
Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade.” - Marcos 9,24.
Aquele homem da multidão, em se aproximando de Jesus com o filho enfermo, constitui expressão representativa do espírito comum da humanidade terrestre. 

Os círculos religiosos comentam excessivamente a fé em Deus, todavia, nos instantes da tempestade, são escassos os devotos que permanecem firmes na confiança. 

Revelam-se as massas muito atentas aos cerimoniais do culto exterior, participam das edificações alusivas à crença, contudo, ante as dificuldades do escândalo, quase toda gente resvala no despenhadeiro das acusações recíprocas. 

Se falha um missionário, verifica-se a debandada. A comunidade dos crentes pousa os olhos nos homens falíveis, cegos às finalidades ou indiferentes às instituições. Em tal movimento de insegurança espiritual, sem paradoxo, as criaturas humanas crêem e descrêem, confiando hoje e desfalecendo amanhã. 

Somos defrontados, ainda, pelo regime de incerteza de espíritos infantis que mal começam a conceber noções de responsabilidade. 

Felizes, pois, aqueles que, à maneira do pai necessitado, se acercarem do Cristo, confessando a precariedade da posição Intima. Assim, em afirmando a crença com a boca, pedirão, ao mesmo tempo, ajuda para a sua falta de fé, atestando com lágrimas a própria miserabilidade. 

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, 
no livro "Pão Nosso".