Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sábado, 9 de janeiro de 2016

O BURRO MANCO


Antes da reunião mediúnica, o problema de Espíritos e médiuns era o tema na conversação dos companheiros.
  
- Não compreendo – dizia a irmã Fortunata – porque os benfeitores da Vida Maior haveriam de tomar criaturas de má vida para instrumentos de suas manifestações, se a própria Doutrina Espírita é tão clara em maioria de afinidades...

- Meus amigos – atalhava Sidônio Pires, advogado e diretor do grupo -, se o trabalho fosse confiado pelos Céus apenas aos fortes e aos sábios, que restaria aos fracos e aos ignorantes? A mediunidade não será comparável a uma riqueza de espírito que Deus distribui entre os bons e os menos bons, tendo em conta o progresso e o aperfeiçoamento de todos? Nesse sentido, é claramente compreensível que, em mediunidade, como em qualquer ramo da experiência humana, cada qual receberá pelo que faça...

- De acordo – objetou o irmão Luís de Souza -, mas o problema é muito complexo. Para ilustrar, pergunto: como acreditar que um Espírito culto venha trazer determinada mensagem por medianeiro que se expressa em língua exótica?  

A irmã Leopoldina fitou o opositor, de frente, e contradisse:  

- E se você fosse, por exemplo, um médico, longe de casa e incapaz de viajar, com necessidade de transmitir um recado à família, com relação a determinado enfermo? Vamos que você não encontrasse uma pessoa com os seus conhecimentos e modos e tão-só dispusesse de um índio domesticado, que falasse imperfeitamente o idioma? que faria?

- Instruiria o índio, até que ele pudesse reproduzir corretamente as minhas palavras.  

- E se o caso estivesse revestido de urgência extrema? – insistiu Dona Leopoldina – um problema de vida ou morte em criatura profundamente ligada ao seu coração?  

- Escreveria um bilhete.  

- Mas se não houvesse uma folha de papel ao seu dispor?  

Observando que Luís de Souza começava a irritar-se, Dona Catarina interferiu, conselheiral:  

- Efetivamente, a questão não é simples. Que há muita coisa esquisita, em mediunidade, há mesmo. Por mais se pense no assunto, em toda parte existem problemas sem solução. Devemos estudar cada vez mais. Cá por mim, não estendo gente má, falando por Espíritos bons...  

O relógio, porém, marcava o início das tarefas e a palestra foi abandonada.  

No transcurso da sessão, os encargos diversos foram atendidos e, no encerramento das atividades gerais, porque o Irmão Gustavo, mentor espiritual da casa, se preparasse para as despedidas, o Dr. Sidônio, diretor da equipe, indagou se ele registrara o entrechoque de opiniões sobre médiuns e Espíritos, ali havido momentos antes, ao que o paciente orientador respondeu:  

- Ouvi tudo, meus filhos.  

- E pode, por favor, dar-nos o seu ponto de vista?  

O guia sorriu pelo rosto do médium e considerou:  

- Antes de tudo, todos estamos na escola da vida e cada qual, no setor de aprendizado em que se encontre, deve doar o máximo pelo auto-burilamento. Vocês não podem perder a vocação do melhor e precisam intensificar lições e purificar ensinamentos. Aperfeiçoar tudo e elevar sempre. Quanto à prática do bem, honorifiquemos cada trabalhador na sinceridade e no proveito que demonstrem. Vocês falam em instrumentos mediúnicos deficitários, mas não ignoram que os talentos psíquicos são comuns a todos. Não seria justo que vocês, meus filhos, cada qual na pauta dos próprios recursos, tentassem oferecer alguma colaboração aos desencarnados amigos? Que pusessem de lado escrúpulos tolos e diligenciassem servir como intermediários, entre o Socorro Divino e a necessidade humana?  

E ante o grupo atento, o Irmão Gustavo narrou, com graça:  

- Com respeito a Espíritos e médiuns, quero contar a vocês um episódio simples de minha própria experiência. Eu era médico em São Joaquim da Barra, no interior de S. Paulo, quando fui chamado para assistir um doente, num sítio a vinte e seis quilômetros. Nesse tempo, as viagens de carro eram muito raras e o animal de sela era o nosso melhor veículo. Acontece que, no terceiro dia de minha vigília profissional no referido sítio, o meu cavalo adoeceu, justamente quando recebi por mensageiro que seguia de São Joaquim para Ribeirão Preto o recado de um amigo, solicitando minha presença à cabeceira da esposa, prestes a dar à luz. Conhecia o caso e sabia que minha cliente arrostaria com embaraços que lhe poderiam ser fatais. O enfermo a que prestava concurso acusava melhoras e, por isso, afobei-me. Dei-me pressa e procurei o Coronel Cândido, proprietário de excelentes animais; entretanto, o estimado amigo informou-me que só possuía cavalos árabes, de imenso valor, garanhões de fama, e não podia concordar em colocá-los na estrada com a obrigação de suar para cavaleiros. Busquei o sitiante João Pedro, mas João Pedro alegou que apenas dispunha de Manga-largas puros, de alto preço, e não estava inclinado a prejudicá-los. Corri até à vivenda de Amaro Silva, dono de grande haras; no entanto, ainda aí, somente existiam animais nobres e selecionados, que não me podiam ajudar em coisa alguma. Fui, então, à tapera de Tonico Jenipapo, um pobre cliente nosso, expondo-lhe o meu problema. Tonico não teve dúvida. Desceu ao quintal e trouxe de lá um asno arrepiado, e apresentou: “Doutor, este burro é manso e lerdo, mas, se serve...” Não houve mais conversa. Arreamos o animal e, aguentando espora e taça, tropeçando e manquitolando, o burro me colocou nas ruas de São Joaquim, para o desempenho de meu dever, a que atendi com absoluto êxito.  

Depois de expressiva pausa, o guia rematou:  

- Vocês estudem sempre. Passem a limpo quaisquer fenômenos e exercícios de mediunidade nos cadernos de lições da nossa Renovadora Doutrina; no entanto, em matéria de serviço aos outros, respeitemos cada obreiro no lugar que lhe é próprio. Pensem nisso, porquanto, apesar da era do automóvel e do avião, em que vocês se acham, é possível surja um dia em que venham a precisar de um burro manso, capaz de ser a solução de muita necessidade e amparo de muita gente.  

O mentor afastou-se e, terminada a tarefa, a equipe dispersou-se com a promessa de examinar a comunicação e debatê-la na sessão seguinte.  

Irmão X [Espírito] através de Francisco Cândido Xavier no livro "Estante da Vida".

ANTE OS QUE PARTIRAM

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O ESPÍRITO E O JURADO


Um dos nossos correspondentes, homem de grande saber e portador de títulos científicos oficiais, o que não o impede de cometer a fraqueza de acreditar que temos uma alma e que essa alma sobrevive ao corpo, que depois da morte fica errante no espaço e ainda pode comunicar-se com os vivos, tanto mais quanto ele próprio é um bom médium e mantém conversas com os seres de além-túmulo, dirige-nos a seguinte carta:

“Senhor, talvez julgueis acertado agasalhar na vossa interessante revista o fato seguinte:

Há algum tempo eu era jurado. O tribunal devia julgar um moço, apenas saído da adolescência, acusado de ter assassinado uma senhora idosa em circunstâncias horríveis. O acusado confessava e contava os detalhes do crime com uma impassibilidade e um cinismo que faziam fremir a assembleia.

Entretanto é fácil prever, em virtude da sua idade, da sua absoluta falta de educação e dados os estímulos recebidos em família, que fossem apresentadas em seu favor circunstâncias atenuantes, tanto mais que ele fora levado pela cólera, agindo contra uma provocação por injúrias.

Eu quis consultar a vítima a respeito do grau de sua culpabilidade. Chamei-a, no decorrer da sessão, por uma evocação mental. Ela me fez saber que estava presente e eu pus minha mão à sua disposição. Eis a conversação que tivemos - eu, mentalmente, ela pela escrita:

Pergunta: O que a senhora pensa de seu assassino?

Resposta: - Não serei eu quem o acusará.

P. Por quê?

R. - Porque ele foi levado ao crime por um homem que me fez a corte há cinquenta anos e que, nada tendo conseguido de mim, jurou vingar-se. Conservou, após a sua morte, o desejo de vingança e aproveitou as disposições do acusado para lhe inspirar o desejo de matar-me.

P. Como sabe disso?

R. - Porque ele mesmo me disse, quando cheguei a este mundo que hoje habito.

P. Compreendo sua reserva diante dos estímulos que o seu assassino não repeliu como deveria e poderia. Mas a senhora não pensa que a inspiração criminosa, à qual ele voluntariamente obedeceu, não teria sobre ele o mesmo poder, se não houvesse nutrido ou entretido, durante muito tempo, sentimentos de inveja, de ódio e de vingança contra a senhora e a sua família?

R. - Com certeza. Sem isso ele teria sido mais capaz de resistir. Eis por que digo que aquele que quis vingar-se aproveitou as disposições desse moço. O senhor compreende que ele não se teria dirigido a alguém que se dispusesse a resistir.

P. Ele goza com a sua vingança?

R. - Não, pois vê que isso lhe custará caro. Além disso, em lugar de me fazer mal, ele me prestou um serviço, fazendo-me entrar mais cedo no mundo dos Espíritos, onde sou mais feliz. Foi, pois, uma ação má sem proveito para ele.

Circunstâncias atenuantes foram admitidas pelo júri, baseadas nos motivos acima indicados, e a pena de morte foi descartada.

A respeito do que acabo de contar, deve fazer-se uma observação moral de grande importância. É necessário concluir, com efeito, que o homem deve vigiar os seus menores pensamentos malévolos e até mesmo os seus maus sentimentos, aparentemente os mais fugidios, pois eles podem atrair para si Espíritos maus e corrompidos, e expô-lo, fraco e desarmado, às suas inspirações culposas: é uma porta que ele abre ao mal, sem compreender o perigo. Foi, pois, com um profundo conhecimento do homem e do mundo espiritual que Jesus Cristo disse: ‘Todo aquele que olhar para uma mulher para cobiçá-la, já em seu coração adulterou com ela.’ (Mat. 5:28).

Tenho a honra, etc. SIMON M…”

(Revista Espírita, novembro de 1859)

TORMENTAS


Contam que um dia um camponês pediu a Deus permitir-lhe mandar sobre a Natureza para - segundo ele - conseguir melhores  colheitas.

E  Deus lhe concedeu! 

Então quando o camponês queria chuva ligeira, assim acontecia; quando pedia sol, este brilhava em seu esplendor; se necessitava mais água, chovia mais regularmente; etc.

Mas quando chegou o tempo da colheita, sua surpresa e estupor foram grandes porque o resultado foi um total fracasso.

Desconcertado e meio aborrecido perguntou a Deus por que aconteceu aquilo, se ele havia escolhido os climas que achou adequados.

Mas Deus respondeu - "Tu pediste o que quiseste, mas não o que de verdade convinha. Nunca pediste tormentas, e estas são muito necessárias para limpar a semente, afugentar aves e animais que a consomem, e purificá-la de pragas que a destroem..."

Assim acontece conosco, queremos que nossa vida seja puro amor e doçura, nada de problemas. O otimista não é aquele que não vê as dificuldades, mas aquele que não se assusta com elas, não se deixa ultrapassar. Por isso podemos afirmar que as dificuldades são vantagens, as dificuldades amadurecem  as pessoas, as fazem crescer…

Por isso faz falta uma verdadeira tormenta na vida de uma pessoa, para fazê-la compreender o quanto se tem preocupado com bobagens, por chuviscos passageiros.

O IMPORTANTE NÃO É FUGIR DAS TORMENTAS, MAS TER FÉ E CONFIANÇA EM QUE LOGO PASSARÃO E NOS DEIXARÃO ALGO DE BOM EM NOSSAS VIDAS.

Há derrotas que têm mais dignidade do que a vitória... Uma retirada a tempo é em si uma vitória...

O primeiro êxito não significa vitória e o primeiro fracasso não significa derrota. Pergunta-te se o que estás fazendo hoje te aproxima do lugar aonde queres estar amanhã.

Antes de por uma barreira em tua vida, recorda o que vais deixar dentro e o que que ficará fora.

Deus guarde teu caminho.

COMO VER A VIDA?

Havia em uma aldeia uma velha chamada “mulher chorosa”, pois todos os dias, chovendo ou fazendo sol, ela sempre estava chorando. Ela vendia bolinhos na rua, e um monge sempre passava por ela quando ia ao grande templo para os ritos. Um dia, curioso, ele lhe perguntou:

“Sempre que passo, seja em belos dias ensolarados, seja em suaves dias chuvosos, vejo a senhora chorando. Por que isso acontece?”

“Tenho dois filhos”, ela respondeu, “Um faz delicadas sandálias, o outro guarda-chuvas. Quando faz sol, penso que ninguém comprará os guarda-chuvas de meu filho, e ele e sua família vão passar necessidades. Quando chove, penso no meu filho que faz sandálias, e que ninguém vai comprá-las. Então ele também vai ter dificuldade para sustentar sua família”.

O monge sorriu e disse:

“Mas… a senhora deveria ver as coisas de forma correta. Veja: quando o sol brilha, seu filho que faz sandálias venderá muito, e isso é muito bom! Quando chove, seu filho que faz guarda-chuvas venderá muito, e isso é também muito bom!”

A velha olhou-o com alegria e exclamou:

“Tem razão!”

Desde então a velha passa todos os dias, chovendo ou fazendo sol, sorrindo feliz.


ANTE OS QUE PARTIRAM


Nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio.

Ver a névoa da morte estampar-se, inexorável, na fisionomia dos que mais amamos, e cerrar-lhes os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo...

Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito um filhinho transfigurado em anjo da agonia; um esposo que se despede, procurando debalde mover os lábios mudos; uma companheira, cujas mãos consagradas à ternura pendem extintas; um amigo que tomba desfalecente para não mais se erguer, ou um semblante materno acostumado a abençoar, e que nada mais consegue exprimir senão a dor da extrema separação, através da última lágrima!

Falem aqueles que, um dia, se inclinaram, esmagados de solidão, à frente de um túmulo; os que se rojaram em prece nas cinzas que recobrem a derradeira recordação dos entes inesquecíveis; os que caíram, varados de saudade, carregando no seio o esquife dos próprios sonhos; os que tatearam, gemendo, a lousa imóvel, e os que soluçaram de angústia, no adito dos próprios pensamentos, perguntando, em vão, pela presença dos que partiram...

Todavia, quando semelhante provação te bata à porta, reprime o desespero e dilui a corrente da mágoa na fonte viva da oração, porque os chamados mortos são apenas ausentes e as gotas de teu pranto lhes fustigam a alma como chuva de fel.

Também eles pensam e lutam, sentem e choram.

Atravessam a faixa do sepulcro como quem se desvencilha da noite, mas, na madrugada do novo dia, inquietam-se pelos que ficaram... Ouvem-lhes os gritos e as súplicas, na onda mental que rompe a barreira da grande sombra e tremem cada vez que os laços afetivos da retaguarda se rendem à inconformação ou se voltam para o suicídio.

Lamentam-se quanto aos erros praticados e trabalham, com afinco, na regeneração que lhes diz respeito.

Estimulam-te à prática do bem, partilhando-te as dores e as alegria.

Rejubilam-se com as tuas vitórias no mundo interior e consolam-te nas horas amargas para que te não percas no frio do desencanto.

Tranquiliza, desse modo, os companheiros que demandam o Além, suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram.

Recorda que, em futuro próximo que imaginas, respirarás entre eles, comungando-lhes as necessidades e os problemas, porquanto terminarás também a própria viagem no mar das provas redentoras...

E, vencendo para sempre o terror da morte, não nos será lícito esquecer que Jesus, o nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio, nasceu em noite escura, viveu entre os infortúnios da Terra e expirou na cruz, em tarde pardacenta, sobre um monte empedrado, mas ressuscitou aos cânticos da manhã, no fulgor de um jardim.

Emmanuel [Espírito] através de Francisco Cândido Xavier, no livro "Religião dos Espíritos".

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A SEMENTE DA MOSTARDA


Krisha Gotami teve um filho e este morreu. Transida de dor, ia com o filho morto de casa em casa, pedindo um remédio, e as pessoas diziam:

-Está doida: a criança está morta."

Finalmente, Krisha Gotami encontrou um camponês que respondeu sua súplica dizendo:

-Não posso dar um remédio para a criança, porém sei de um médico capaz de o dar.

E Krisha Gotami respondeu:

-Suplico-te que me digas quem é.

-Vai ver o Buda.

Krisha Gotami foi ver o Iluminado e exclamou, chorando:

- Senhor meu e mestre. Meu filho estava brincando entre as flores e tropeçou numa serpente que se enroscou no seu braço. Ficou logo pálido e silencioso. Não posso aceitar que ele deixe de brincar ou que deixe o meu colo. Senhor meu mestre, dá-me um remédio que cure o meu filho.

O Iluminado respondeu:

- Sim irmãzinha, há uma coisa que pode curar teu filho e a ti, se puderes consegui-la, porque os que consultam os médicos tomam o que lhes é receitado. Procura uma simples semente de mostarda preta, porém só deves receber de uma casa onde nunca tenha entrado a morte, onde não tenha ainda morrido pai, mãe, filho nem filha, nem irmão, nem irmã, nem escravo nem parente.

Aflita, Krisha Gotami foi de casa em casa pedindo o grão de mostarda. As pessoas se compadeciam dela e lhe davam, porém, quando ela pergunta se já tinha morrido alguém naquela casa, lhe respondiam:

- Ah! Poucos são os vivos e muitos os mortos. Não despertes nossa dor.

Agradecida, ela lhes devolvia a mostarda e dirigia-se a outros que lhes diziam:

- Aqui está a semente, porém já morreu nosso escravo.

- Aqui está a semente, porém o semeador morreu entre a estação chuvosa e a colheita.

E não encontrou nenhuma casa onde não tivesse morrido alguém.

Krisha Gotami voltou chorosa para o Iluminado dizendo-lhe:

- Ah! Senhor, não pude encontrar mostarda em casa onde não tivesse havido morte. Então, entre as flores silvestres, na margem do rio, deixei meu filho que não queria mamar nem sorrir, e volto para ver teu rosto e beijar teus pés suplicando-te que me digas onde encontrar essa semente, sem deparar ao mesmo tempo com a morte, pois, apesar de tudo não posso crer na morte de meu filho, como todos me disseram e temo tenha acontecido.

O mestre respondeu-lhe:

- Minha irmã, procurando o que não podes encontrar, achaste o amargo bálsamo que eu queria dar-te. Sobre teu seio, o ser que amas dormiu hoje o sono da morte. Agora já sabes que todo mundo chora uma dor semelhante à tua. O sofrimento que aflige todos os corações pesa menos do que se concentrado num só. Escuta! Derramaria eu meu sangue se, derramá-lo pudesse deter tuas lágrimas e descobrir o segredo de o amor causar angústia e através de prados floridos conduzir-vos ao sacrifício, qual mudos animais conduzidos por seus donos. Nenhum nascido pode evitar a morte. Assim como os frutos maduros caem da árvore, assim os mortais estão expostos à morte desde que nascem. A vida corporal do homem acaba partindo-se como a vasilha de barro do oleiro. Jovens e adultos, néscios e sábios, todos estão sujeitos à morte. Porém, o sábio que conhece a Lei não se perturba, porque nem pelo pranto nem pelo desânimo obtém a paz, mas pelo contrário, isso tudo aviva as dores e os sofrimentos do corpo. A morte não faz caso de lamentações. Morre o homem, e seu destino está determinado por suas ações. Embora viva dez ou cem anos, acaba o homem por separar se de seus parentes ao sair deste mundo. Quem deseja a paz da alma, deve arrancar de sua ferida a flecha do desgosto, da queixa, da lamentação. Feliz será aquele que consegue vencer a dor. Sepulta tu mesma o teu filho.

Extenuada pela dor, Krisha Gotami sentou-se à beira do caminho, pôs-se a meditar no silêncio do entardecer e disse consigo: "Quão egoísta sou eu em minha dor! A morte é o destino comum de tudo quando vive. Porém, neste vale desolado há um caminho que conduz à imortalidade - aquele que elimina de si todo egoísmo.

E sufocando o amor egoísta que sofria por seu filho, enterrou-o no bosque. E foi logo refugiar-se no Iluminado, e encontrou consolo que alivia o coração dilacerado pela dor.

Texto original em:

A CEPA E A IMORTALIDADE DA ALMA


Em Prolegômenos, de O Livro dos Espíritos, os Espíritos instruíram Kardec a colocar no cabeçalho do livro uma cepa, um ramo de videira, por eles desenhada. Buscando entender a mensagem da Espiritualidade superior, lembramos que, na ceia com seus apóstolos, que antecedeu à sua crucificação, Jesus repartiu o pão e serviu-lhes vinho.

O texto bíblico descreve: E, tomando o cálice e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue [...]. (Mateus, 26:27-28.)

Não é sem razão que Jesus tenha utilizado este símbolo. Na cultura hebraica a videira era tida como árvore sagrada que oferecia, entre outros atributos, prosperidade e proteção para aqueles que sob ela se estabelecessem. O próprio Jesus se comparou à videira: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador”. (João, 15:1.) A arte cristã se apropriou deste símbolo. A videira, suas folhas e a própria uva estão representadas em pinturas relacionadas à vida de Jesus. Na iconografia (área da História da Arte que identifica os símbolos e sua interpretação – Iconologia) constata-se que a videira e seus frutos são universalmente utilizados e têm vários significados, incluindo os da imortalidade, do conhecimento e da preexistência. (1)

Na arte funerária cristã, a presença da videira e das uvas também está relacionada à imortalidade. (1) O vinho, em razão de sua cor, é associado ao sangue, que sustenta a vida, vida corpórea do Espírito, ser imortal.

Para a arte cristã a imortalidade está relacionada à vitória do Cristo sobre a morte, pela ressurreição. Tal vitória assegura aos seus adeptos uma vida contemplativa no céu. A cepa desenhada em Prolegômenos, de O Livro dos Espíritos, é também apresentada como um conceito de imortalidade, e é interessante observarmos como os Espíritos se utilizam desse símbolo da arte cristã para definir tal conceito de forma simples. É preciso também ressaltar que o próprio desenho da cepa é bem simples e apresenta as principais características do ramo de uma videira, quais sejam: um galho, algumas folhas e um cacho de uvas.

Os Espíritos apresentam a iconologia para a videira: (2) Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque é o emblema do trabalho do Criador. Aí se acham reunidos todos os princípios materiais que melhor podem representar o corpo e o espírito. O corpo é a cepa; o espírito é o licor; a alma ou espírito ligado à matéria é o bago. O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e tu sabes que só mediante o trabalho do corpo o Espírito adquire conhecimentos. (2)

Na interpretação da gravura, os Espíritos destacam a comparação entre as propriedades da cepa, os atributos do Espírito imortal e o mecanismo por meio do qual o Espírito ganha domínio de si mesmo. A interpretação dada por eles mostra que o conceito de imortalidade na visão espírita não a relaciona a uma vida de contemplação em um plano invisível, mas de trabalho para que o Espírito imortal depure a si mesmo: “O homem quintessencia o Espírito pelo trabalho”, (2) através das reencarnações, “o trabalho do corpo”. (2)

Aplicando a análise iconográfica à cepa, identificamos primeiramente o seu significado convencional, ou seja, seus atributos mais facilmente reconhecíveis: a uva que se reproduz, nascendo, extinguindo-se e renascendo. A interpretação simbólica (iconológica) indica, segundo a obra Kardequiana, que “o espírito é o licor”. (2) Dessa forma, quando o texto bíblico sugere que o vinho é o sangue de Jesus, que venceu a morte física, deduzimos que se o Espírito é o licor (sumo ou seiva da uva), e entendendo o vinho como produto desta seiva, o Espírito também é imortal. Quando encarnado o Espírito é “a alma ou Espírito ligado à matéria”, (2) ou seja, “é o bago”. (2) O bago aqui representa a reencarnação do Espírito, licor, que fica confinado ao corpo físico. Na concepção espírita da imortalidade nós, Espíritos imortais, evoluímos por meio do “trabalho do corpo”, (2) isto é, da reencarnação, como apresentado nas perguntas 166 a 167 de O Livro dos Espíritos.

166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se? “Sofrendo a prova de uma nova existência.”

166a. Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito? “Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”

166b. A alma passa então por muitas existências corporais? “Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles.” 

166c. Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. É assim que se deve entender? “Evidentemente.”

167. Qual o fim objetivado com a reencarnação? “Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”

Entendemos assim, que a cepa apresentada pela Espiritualidade em O Livro dos Espíritos expressa a mensagem divina da imortalidade. O Espírito imortal conquista sua própria salvação, quando coloca em prática a mensagem de Jesus, o Cristo. Para o Espírito, a morte não existe, mas sim o aprendizado em diferentes vidas, como a uva da vinha que, submetida à pressão, gera o suco, libera a semente, que renasce, mantendo a vida.

Observamos que, ao contrário das pinturas cristãs, os Espíritos não associam a cepa à figura humana, consequentemente não a relacionam com qualquer escola religiosa preexistente. A imortalidade aqui é apresentada como atributo de todos, concedido por Deus, o Criador. Jesus, “guia e modelo” (Op. cit., q. 627) da Humanidade, é referência, mas não propriedade de uma dada religião cristã, pois Ele governa espiritualmente todo o Planeta3 e atende a todas as criaturas. Todo ser é imortal, e o que se busca é ser bom e estar em sintonia com as leis do Criador.

Apesar da simplicidade, representada na gravura na obra kardequiana, identifica-se ali a utilização pelos Espíritos, de forma didática, de um símbolo cristão, apresentando o conceito acerca da imortalidade da alma. A forma de sua utilização é diferenciada na Doutrina Espírita porque não invoca apenas a imagem de Jesus, mas a da sua seara, a sua vinha.

Magda Luzimar de Abreu - REFORMADOR OUTUBRO 2012

1-CHAVALIER, Jean; GHEERBRANT,Alain. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: Editora José Olympio Ltda., 2009.
2-KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.Guillon Ribeiro. 92. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2012. Prolegômenos, p. 60 e 62.
3-XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2012. Cap. 59.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

RESISTE À TENTAÇÃO

"Bem-aventurado o homem que sofre a tentação. - (Tiago, 1:12)

Enquanto  nosso  barco  espiritual  navega  nas águas  da inferioridade,  não podemos aguardar isenção de ásperos conflitos interiores. Mormente na esfera carnal,  toda  vez  que  empreendemos  a melhoria  da  alma,  utilizando  os trabalhos  e obstáculos  do  mundo,  devemos  esperar  a multiplicação  das dificuldades  que  se  nos deparam,  em  pleno  caminho  do conhecimento iluminativo.

Contra  o  nosso  anseio  de  claridade,  temos milênios  de  sombra. Antepondo-se-nos  à  mais humilde  aspiração  de  crescer  no  bem,  vigoram os séculos em que nos comprazíamos no mal. 

É por isto que, de permeio com as bênçãos do Alto, sobram na senda dos discípulos as tentações de todos os matizes. 

Por  vezes,  o  aprendiz  acredita-se  preparado  a vencer  os  dragões  da animalidade que lhe rondam as portas; todavia, quando menos espera, eis que as sugestões  degradantes  o  espreitam  de  novo, compelindo-o  a  porfiada batalha.

Claro, portanto, que nem mesmo a sepultura nos exonera dos atritos com as trevas, cujas raízes se nos alastram na própria  organização espiritual. Só a morte da imperfeição em nós livrar-nos-á delas.

Haja,  pois,  tolerância  construtiva  em  derredor  da caminhada  humana, porque  as  insinuações malignas  nos  cercarão  em  toda parte, enquanto nos demoramos na realização parcial do bem.

Somente alcançaremos libertação, quando atingirmos plena luz. 

Entendendo  a  transcendência  do  assunto,  o apóstolo  proclama  bem-aventurado  aquele  “que sofre  a  tentação”.  Impossível,  por  agora, qualquer referência  ao  triunfo  absoluto,  porque vivemos ainda  muito  distantes  da condição angélica; entretanto,  bem-aventurados  seremos  se bem sofremos esse  gênero  de  lutas,  controlando os impulsos  do  sentimento  menos aprimorado e aperfeiçoando-o, pouco a pouco, à custa do esforço próprio, a fim de  que  não  nos  entreguemos inermes  às  sugestões  inferiores  que procuram converter-nos em vivos instrumentos do mal. 

Emmanuel [Espírito] através de Francisco Cândido Xavier,
 no livro "Pão Nosso", capítulo 101.

domingo, 3 de janeiro de 2016

TENDÊNCIAS: REFLEXOS DO PASSADO



A reencarnação não apaga as experiências adquiridas no pretérito; apenas as encobre com o véu do esquecimento, a fim de que o indivíduo possa prosseguir, sem interferências diretas, a sua jornada evolutiva. Na busca constante de novos conhecimentos, o Espírito completará o seu aprendizado ao longo das eras.

O ser humano, a cada encarnação, enfrentará as vicissitudes que definirão o seu aprimoramento. Se bem-sucedido, incorporará novas conquistas; se derrotado, árduas lutas se travarão entre os verdadeiros e falsos valores incorporados.

Jesus apresenta ao homem a fórmula segura para alcançar os seus objetivos sem tombar pelos atalhos:

“Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. [...]

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”. (Mateus, 7:13 e 21.)

Portanto, todo aquele que direciona a vontade pelos caminhos do estudo, do trabalho digno, do respeito a Deus e aos semelhantes, consegue enriquecer o espírito de bens perenes. Estes bens são conquistas que o tempo jamais apagará.

Experiências adquiridas ficam impressas nos arquivos mentais do Espírito e acompanham-no ao longo das reencarnações, razão pela qual a criança revela tendências incompreensíveis àqueles que desconhecem as leis da reencarnação. De tempos em tempos a mídia revela crianças-prodígio que apresentam o dom da música e se identificam com certos instrumentos sem qualquer aprendizado anterior. Outras encontram tanta intimidade com os números a ponto de realizar cálculos impossíveis de se conceber na faixa etária em que se encontram. Não é raro observar crianças mal saídas do berço que já revelam tendências agressivas e paixão por armas. São tendências que demonstram seu cabedal de experiências adquiridas em outras vidas. Algumas delas se manifestam logo na primeira idade; enquanto outras podem vir à tona em momentos marcantes da vida. Os pais, geralmente, assistem, atônitos, a seus adoráveis rebentos revelarem caráter agressivo ou dócil; confiante ou temeroso; obediente ou revoltado; amoroso ou arredio. Se os genitores apresentam traços semelhantes, certamente se convencerão de que a virtude ou a falha moral, que se manifesta no seu descendente, é de origem hereditária. Daí se ouvir certos refrões: “Aquele menino puxou o gênio do pai, ou a inteligência da mãe”; “Aquele outro tem a agressividade do seu avô”. Há características que em nada se assemelham às dos seus familiares.

O Espiritismo faz luz sobre a diferença entre a hereditariedade e as tendências inatas. Assim, os traços físicos que se assemelham aos dos familiares, como a cor dos olhos, da pele, dos cabelos; compleição física e outros tantos traços, próprios do corpo carnal, pertencem à lei da hereditariedade, pois sua origem está nos elementos biológicos herdados de seus antecessores, os quais compõem a vestimenta material. No entanto, se a criança apresenta deficiências físicas, congênitas ou, até certo ponto, adquiridas, não se pode dizer que são heranças biológicas e sim os reflexos atuais de mazelas que foram armazenadas em vidas anteriores, pelo Espírito que reencarna para cumprir expiação voluntária ou compulsória, a fim de quitar seus débitos com a lei. Entretanto, a hereditariedade pode colaborar para que a lei se cumpra.

As características psicológicas inatas não são heranças que se transmitem de pais para filhos. São, sim, conseqüências de créditos ou débitos adquiridos pelo Espírito em encarnações precedentes. Determinadas tendências que caracterizam o indivíduo podem apresentar semelhanças com as apresentadas por seus genitores. Todavia, se esses traços não foram adquiridos nesta vida, pelos veículos da educação ou do exemplo, certamente se explicam pelas leis da reencarnação. Os dons semelhantes se revelam pela afinidade existente entre famílias espirituais. Há grupos que partilharam, em outras vidas, ou no plano espiritual, experiências afins. Assim, um ou mais membros de uma mesma família podem ter vivenciado situações pretéritas em que todos ou parte deles perpertenceram à mesma família, mesma região, ou participaram de organizações científicas, religiosas, artísticas, profissionais, políticas, que lhes propiciaram tendências semelhantes. Um outro grupo familiar pode se identificar com guerreiros , desordeiros, viciosos com os quais conviveram no passado.

A infância é, portanto, o período apropriado para se reforçar as tendências boas e desfazer as infelizes. E os pais que amam seus filhos não possuem instrumento melhor para educá-los senão o Evangelho, complementado pela disciplina e hábitos saudáveis. Este é o mecanismo para a educação moral do ser em formação.

O insigne Codificador expõe o processo educativo ideal:

“[...] Há um elemento, [...] sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto, a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. [...]”. (O Livro dos Espíritos, questão 685, comentário de Kardec.)

É importante ressaltar que o renascimento não ocorre aleatoriamente, há sempre uma programação com finalidade útil para o Espírito renascente. Portanto, reencarnar não tem por objetivo único cumprir provas e expiações, mas, sobretudo, promover o crescimento do Espírito. Quanto maior o crédito acumulado, mais curto se torna o caminho que conduz aos ideais superiores. Daí a responsabilidade dos pais de investir na educação, no aprimoramento moral dos filhos, ainda no período infantil, a fim de que a reencarnação deles seja proveitosa. Esse é o caminho para que o Espírito cresça de conformidade com os padrões morais evangélicos e, no momento aprazado, retorne à vida espiritual com o futuro consolidado nas leis divinas.

A Doutrina Espírita, alicerçada no Evangelho de Jesus, propõe ao homem o trabalho constante de sua escultura moral.

Aceitar a hereditariedade como causa das insuficiências morais é duvidar da Justiça Divina. A lei da reencarnação é a expressão mais justa da misericórdia do Criador para com suas criaturas. É a oportunidade de desfazer enganos e apagar delitos; de refazer amizades e ampliar vínculos no equilíbrio de energias afins; de se reconstruir o que se destruiu em existências anteriores. É oportunidade de crescer. Afirma Kardec: Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4).

Esse é o objetivo primordial da reencarnação. É importante que o ser humano se conscientize de que nenhuma educação, nenhuma aquisição moral se efetiva sem perseverança, sem esforço, sem Evangelho. A conquista da luz interior só se alcança com muito suor e lágrimas.

Jesus legou ao homem o mais perfeito roteiro de vida: o seu Evangelho, programado para se projetar futuramente no Consolador, que floresceu na Doutrina Espírita. É preciso valorizar esse tesouro.

Para o Espírito recalcitrante, cujos instrumentos educacionais não surtem o efeito desejado, um outro se apresenta infalível: a dor.

Nesse mecanismo de conquistas e aquisições, ou quedas e sofrimentos, de acordo com as leis da vida, a hereditariedade pode colaborar para a realização desse feito. Assim, o conjunto de hábitos morais e intelectuais, adquiridos e aprimorados por uma educação bem direcionada, se agregarão às tendências inatas arquivadas ao longo do carreiro evolutivo, e jamais se perderão com a desintegração da matéria.

Um físico saudável é benesse adquirida em vivências de equilíbrio e respeito à veste carnal, enquanto que um corpo doente reflete os abusos e vícios cultivados. É, pois, a lei da hereditariedade que faculta esta tarefa. Uma mente prodigiosa revela as conquistas encetadas ao longo de muitas encarnações. Porém, somente um Espírito evangelizado irradiará a paz das conquistas sedimentadas nos celeiros de obras realizadas em sincronia com as leis divinas.

Esta realidade, revelada pela Doutrina dos Espíritos, é o cerne da semente plantada pelo Divino Lavrador.

Publicado originalmente por A. Merci Spada Borges na revista Reformador, ano 125, nº 2.135, fevereiro de 2007. (grifos nossos)