A avenida segue majestosa o leito de um filete de água suja e mal cheirosa que um dia foi um ribeirão. Importante via de escoamento de tráfego, atravessa uma parte considerável da cidade ligando extremos e favorecendo a todos.
À sua margem, como a dar vida além dos carros, ônibus e caminhões que nela circulam, uma ciclovia propicia espaço para a prática de exercícios físicos. Não raro vemos bicicletas e caminhantes, ou mesmo adeptos da corrida, valendo-se do espaço para aprimoramento do corpo e por conseguinte da alma, pois como nos legaram os gregos: mente sã e corpo são.
À parte isso, há casas e estabelecimentos comerciais. Nas casas se vê pouca movimentação externa e nos comércios apenas mesmo os que dele necessitam serviços. A vida acontece de maneria semelhante a muitos lugares do mundo, com o ir e vir de carros e pessoas, a cimentar ainda mais a paisagem cinzenta do asfalto.
Porém, como que a revelar que há mais ainda a ser visto, surge ele. Imponente, vistoso, belo, instigante: o Ipê. Ele está lá há muito tempo, mas quase poucos o veem, mas sua função de embelezar o mundo independe do que ele é, depende do que são os que com ele se relacionam, se interajam, se encontram.
Hoje, absorto em meus pensamentos e como que contando as passadas de uma caminhada despretensiosa, ousei olhar à margem, não a procura do que me incomoda, como o lixo, a sujeira, os pequenos roedores, as águas que insistem em permanecer paradas acumulando mal cheiro. Olhei de relance e fui surpreendido. O que era aquilo? Como podia ser tão bonito? Como se destacava na paisagem barulhenta e sem cores desse cotidiano de estar à margem. Ele lá estava. Imponente e bonito. Sereno. Quieto. Impactante. Estava lá como a me mostrar que é importante sim o foco no caminho, mas as belezas das margens não podem e nem devem ser menosprezadas. Quantas metáforas podemos extrair após refletirmos sobre um acontecimento assim? Várias. Duas se destacaram em mim:
1 - Quantas vezes nos preocupamos com os objetivos, os caminhos a serem traçados e seguidos para alcançá-los e de tão bitolados que ficamos esquecemos de olhar para o lado e percebermos que há belezas que podemos considerar e assim amenizarmos nossa ansiedade gerada pela vontade inequívoca de encerrarmos a caminhada. A beleza nos propõe uma quietude, que acalma, sereniza, fortalece e nos permite re-avaliações;
2 - O Ipê está lá, sobrevivendo à especulação imobiliária, aos maus tratos dos que com ele mantém, contato, mas permanece firme no seu propósito de ser belo, por si só, sem se preocupar se os outros o perceberão, mas esperançoso de que isso ocorra para significar ainda mais sua existência. Ele permanece firme na certeza de que o tempo que lhe tiver disponível, se preparará para florescer, para com suas flores e frutos impactar os que dele se utilizam, por motivos os mais diversos, mas caso ninguém o note, ele terá cumprindo a potencialidade existente no seu gérmen, quando ainda era só uma semente.
O Ipê seguirá firme até quando queiram, e assim será eternizado na alma daqueles que souberem avaliar positivamente sua contribuição para uma vida mais bonita, mais leve, mais suave.
Ele está lá, na Avenida Tereza Cristina, no Bairro Salgado Filho, encravado na selva de pedra, amolecendo a alma dos que se permitem enxergar perifericamente.
Ele está lá, cumprindo sua missão, independente do reconhecimento de terceiros, fazendo a diferença apenas para os que querem que ele seja a diferença, sem imposições, sem verdades absolutas, apenas se valendo do que tem de melhor: a beleza de ser criatura divina!
Introdução
Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
NÃO ESTÁS DEPRIMIDO, ESTÁS DISTRAÍDO
Não estás deprimido, estás distraído.
Distraído em relação à vida que te preenche, distraído em relação à vida que te rodeia, golfinhos, bosques, mares, montanhas, rios.
Não caias como caiu teu irmão que sofre por um único ser humano, quando existem cinco mil e seiscentos milhões no mundo. Além de tudo, não é assim tão ruim viver só. Eu fico bem, decidindo a cada instante o que desejo fazer, e graças à solidão conheço-me. O que é fundamental para viver.
Não faças o que fez teu pai, que se sente velho porque tem setenta anos, e esquece que Moisés comandou o Êxodo aos oitenta e Rubinstein interpretava Chopin com uma maestria sem igual aos noventa, para citar apenas dois casos conhecidos.
Não estás deprimido, estás distraído.
Por isso acreditas que perdeste algo, o que é impossível, porque tudo te foi dado. Não fizeste um só cabelo de tua cabeça, portanto não és dono de coisa alguma. Além disso, a vida não te tira coisas: te liberta de coisas, alivia-te para que possas voar mais alto, para que alcances a plenitude.
Do útero ao túmulo, vivemos numa escola; por isso, o que chamas de problemas são apenas lições. Não perdeste coisa alguma: aquele que morre apenas está adiantado em relação a nós, porque todos vamos na mesma direção.
E não esqueças, que o melhor dele, o amor, continua vivo em teu coração.
Não existe a morte, apenas a mudança.
E do outro lado te esperam pessoas maravilhosas: Gandhi, o Arcanjo Miguel, Whitman, São Agostinho, Madre Teresa, teu avô e minha mãe, que acreditava que a pobreza está mais próxima do amor, porque o dinheiro nos distrai com coisas demais, e nos machuca, porque nos torna desconfiados.
Faz apenas o que amas e serás feliz. Aquele que faz o que ama, está benditamente condenado ao sucesso, que chegará quando for a hora, porque o que deve ser será, e chegará de forma natural.
Não faças coisa alguma por obrigação ou por compromisso, apenas por amor.
Então terás plenitude, e nessa plenitude tudo é possível sem esforço, porque és movido pela força natural da vida. A mesma que me ergueu quando caiu o avião que levava minha mulher e minha filha; a mesma que me manteve vivo quando os médicos me deram três ou quatro meses de vida.
Deus te tornou responsável por um ser humano, que és tu. Deves trazer felicidade e liberdade para ti mesmo. E só então poderás compartilhar a vida verdadeira com todos os outros.
Lembra-te: "Amarás ao próximo como a ti mesmo". Reconcilia-te contigo, coloca-te frente ao espelho e pensa que esta criatura que vês, é uma obra de Deus, e decide neste exato momento ser feliz, porque a felicidade é uma aquisição.
Aliás, a felicidade não é um direito, mas um dever; porque se não fores feliz, estarás levando amargura para todos os teus vizinhos.
Um único homem que não possuiu talento ou valor para viver, mandou matar seis milhões de judeus, seus irmãos.
Existem tantas coisas para experimentar, e a nossa passagem pela terra é tão curta, que sofrer é uma perda de tempo.
Podemos experimentar a neve no inverno e as flores na primavera, o chocolate de Perusa, a baguette francesa, os tacos mexicanos, o vinho chileno, os mares e os rios, o futebol dos brasileiros, As Mil e Uma Noites, a Divina Comédia, Quixote, Pedro Páramo, os boleros de Manzanero e as poesias de Whitman; a música de Mahler, Mozart, Chopin, Beethoven; as pinturas de Caravaggio, Rembrandt, Velázquez, Picasso e Tamayo, entre tantas maravilhas.
E se estás com câncer ou AIDS, podem acontecer duas coisas, e ambas são positivas: se a doença ganha, te liberta do corpo que é cheio de processos (tenho fome, tenho frio, tenho sono, tenho vontades, tenho razão, tenho dúvidas).
Se tu vences, serás mais humilde, mais agradecido... portanto, facilmente feliz, livre do enorme peso da culpa, da responsabilidade e da vaidade, disposto a viver cada instante profundamente, como deve ser.
Não estás deprimido, estás desocupado.
Ajuda a criança que precisa de ti, essa criança que será sócia do teu filho. Ajuda os velhos e os jovens te ajudarão quando for tua vez.
Aliás, o serviço prestado é uma forma segura de ser feliz, como é gostar da natureza e cuidar dela para aqueles que virão.
Dá sem medida, e receberás sem medida.
Ama até que te tornes o ser amado; mais ainda converte-te no próprio Amor. E não te deixes enganar por alguns homicidas e suicidas. O bem é maioria, mas não se percebe porque é silencioso.
Uma bomba faz mais barulho que uma caricia, porém, para cada bomba que destrói há milhões de carícias que alimentam a vida.
Facundo Cabral
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
QUANDO ORARDES
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E, quando estiverdes orando, perdoai - Jesus (Marcos, 11:25) |
A sincera atitude da alma na prece não obedece aos movimentos mecânicos vulgares. Nas operações da luta comum, a criatura atende, invariavelmente, aos automatismos da experiência material que se modifica de maneira imperceptível, nos círculos do tempo; todavia, quando se volta a alma aos santuários divinos do plano superior, por meio da oração, põe-se a consciência em contato com o sentido eterno e criador da vida infinita.
Examine cada aprendiz as sensações que experimenta se colocando na posição de rogativa ao Alto, compreendendo que se lhe faz indispensável a manutenção da paz interna perante as criaturas e quadros circunstanciais do caminho.
A mente que ora permanece em movimentação na esfera invisível.
As inteligências encarnadas, ainda mesmo quando se não conheçam entre si, na pauta das convenções materiais, comunicam-se por tênues fios do desejo manifestado na oração. Em tais instantes, que devemos consagrar exclusivamente à zona mais alta de nossa individualidade, expedimos mensagens, apelos, intenções, projetos e ansiedades que procuram objetivo adequado.
É digno de lástima todo aquele que se utiliza da oportunidade para dilatar a corrente do mal, consciente ou inconscientemente. É por esse motivo que Jesus, compreendendo a carência de homens e mulheres isentos de culpa, lançou este expressivo programa de amor, em benefício de cada discípulo do Evangelho: "E, quando estiverdes orando, perdoai."
terça-feira, 25 de novembro de 2014
CURAS
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E curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: É chegado a vós o Reino de Deus. - Jesus (Lucas, 10:9) |
Realmente Jesus curou muitos enfermos e recomendou-os, de modo especial, aos discípulos. Todavia, o Médico celestial não se esqueceu de requisitar ao Reino divino quantos se restauram nas deficiências humanas.
Não nos interessa apenas a regeneração do veículo em que nos expressamos, mas, acima de tudo, o corretivo espiritual.
Que o homem comum se liberte da enfermidade, mas é imprescindível que entenda o valor da saúde. Existe, porém, tanta dificuldade para compreendermos a lição oculta da moléstia no corpo, quanta se verifica em assimilarmos o apelo ao trabalho santificante que nos é endereçado pelo equilíbrio orgânico.
Permitiria o Senhor a constituição da harmonia celular apenas para que a vontade viciada viesse a golpeá-la e quebrá-la em detrimento do espírito?
O enfermo pretenderá o reajustamento das energias vitais; entretanto, cabe-lhe conhecer a prudência e o valor dos elementos colocados à sua disposição na experiência edificante da Terra.
Há criaturas doentes que lastimam a retenção no leito e choram aflitas, não porque desejem renovar concepções acerca dos sagrados fundamentos da vida, mas por se sentirem impossibilitadas de prolongar os próprios desatinos.
É sempre útil curar os enfermos, quando haja permissão de ordem superior para isto; contudo, em face de semelhante concessão do Altíssimo, é razoável que o interessado na bênção reconsidere as questões que lhe dizem respeito, compreendendo que raiou para seu espírito um novo dia no caminho redentor.
Emmanuel [Espírito] através de Francisco Cândido Xavier no livro "Pão Nosso", páginas 101 e 102.
O SONHO DE RAFAELA
"Disse então Jesus estas palavras:
– Graças te rendo, meu Pai, Senhor do
Céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes, e
por as teres revelado aos pequeninos." (MATEUS, 11:25.)
Em certo dia, durante os deveres assumidos com o exercício do aprendizado que me fora indispensável no mundo invisível, para desenvolvimento do meu progresso pessoal, necessitei visitar a Terra, onde sempre me fora dado observar tantas lágrimas crestando o coração do meu próximo. Desci em vôo lento, ao acaso... e planei, atraído, de certo, por afinidades especiais, sobre uma região pobre do Piemonte, nas encostas nevadas dos Apeninos. (1)
Era uma aldeia de pobres camponeses, que tiravam das entranhas do solo o sustento para os seus semelhantes, mais para estes do que para si próprios, pois esses meus irmãos, almas heróicas, geradas, como eu, da mesma Luz, eram resignados na sua pobreza e se conformavam com o mínimo que lhes era indispensável.
Um travo de tristeza anuviou a satisfação de que nos últimos tempos minhalma se alcandorava, à vista daquela aldeia onde os problemas se multiplicavam, sem soluções compensadoras. Lembrei-me então dos dias melancólicos da minha existência terrena, quando, palmilhando os gelos de minha terra natal, eu peregrinava por aqui, por ali e acolá à procura das dores alheias para que Deus, suavizando-as por meu intermédio, também a mim, permitisse a misericórdia da suavização das minhas próprias dores, que não foram poucas.
Entrei, agora, de palhoça em palhoça, visitei os camponeses, os operários, os cavouqueiros, os pescadores. E a desolação crescia em minha alma, porque verifiquei que o homem, tal como nos meus velhos tempos, antes de mais nada, conservava-se sofredor, e assim se conservava por ignorar o próprio destino imortal.
Mas... mais além, à beira de uma palhoça com vistas para a cordilheira, um grupo de mulheres conversava amistosamente. À frente, a sombra de um pinheiro tingia de penumbras o alpendre tosco da entrada, enfeitado de jasmins e trepadeiras, ao passo que tílias floridas bordavam de tonalidades suaves o terreno cultivado, a par de videiras tenras que tentavam frutificar.
Que diriam entre si aquelas pobres camponesas?...
Seu mundo era tão restrito, tão modestos os seus ideais, que não passavam do desejo da boa saúde dos maridos e do crescimento dos filhos, que bem cedo deveriam marchar para a lavoura, com o pai.
Aproximei-me :
Elas eram ruivas e brancas, de faces rosadas e frescas, como legítimas italianas, volumosas em suas saias berrantes e fartas, com alvos aventais e toucas típicas, que as tornavam graciosas. Sim, que diriam?...
Detive-me a ouvi-las, como outrora, durante meus passeios solitários, ao encontrar um e outro "mujik" (2), que vinham solicitar a ajuda que nunca lhes pude plenamente conceder. E uma lágrima deslizou de minha alma, a essa melancólica evocação.
Eis o que se passava:
– Sim, Senhora Rafaela, conta à nossa Gertrudes o que te sucedeu durante esta noite... para ver se ela deixará de também chorar a morte do seu pequerrucho, que lá vai dois anos se foi para o bom Deus, sem que ela, a mãe, o esqueça... Conta-lhe...
– Sim, Rafaela, não te faças rogada... Conta-nos novamente o teu lindo sonho...
E Rafaela contou às vizinhas, pela décima vez, naquela manhã de primavera, o sonho que tivera, tendo agora, porém, um ouvinte a mais, invisível, do qual nenhuma delas se apercebia:
– Lembra-te, Gertrudes, da minha Adda?... Morreu há seis meses, quando justamente completaria os três anos de idade... e lhe iam sair os últimos queixais... Era tão viva e tão levada, a minha filha...
– Pois sim, lembro-me!... Pois não fui eu que a amamentei por ti, naqueles primeiros dias, quando a febre do leite te fazia variar?... Era tão linda como o meu Giovanino, que também se foi... e sua irmã de leite...
– Lembra-te do que tenho chorado e lamentado durante seis meses, sem dar acordo de mim mesma, inconsolável pela ausência de minha Adda, sem ânimo para o campo, sem comer, sem dormir, já sem crença em Deus, que me levou?...
– Como não havia de me lembrar, ó Rafaela!... Então não sei que assim mesmo tens feito?... Pois assim mesmo não te tenho visto, há seis meses?...
– Pois, Gertrudes, esta noite sonhei – prosseguiu Rafaela –, sonhei que fui convidada para uma festa onde somente crianças deveriam divertir-se. Parece que a tal festa se realizaria pelos arredores do Céu, mais ou menos...
Então, fui.
Era um lugar florido e bonito, e as crianças ali dançavam e cantavam, alegrezinhas, entoando hinos, enquanto se arremessavam punhados de pétalas de rosas brilhantes como estrelas... Traziam coroas de flores luminosas às cabecinhas louras e asas luzentes como devem ser as dos anjos que cortejam a Santa Mãe de Nosso Senhor Menino...
Embevecida, eu as admirava, assistindo à festa com as mãos entrançadas, como se contemplasse anjos do próprio Paraíso...
Mas, de súbito, que pensas que eu vejo?...
Adda! A minha Addazinha!... Mas... triste, contundida e chorosa, asas molhadas, sem bastante brilho para também participar do folguedo dos anjos... porque encharcadas também as suas vestes, e como comparecendo ali clandestinamente, sem se poder apresentar como seria devido numa festa de tal importância.
– Que significa isto, minha filha? – perguntei-lhe eu, no cúmulo da estupefação. – Tu, tão triste, quando eras alegrezinha, assim molhada e transida de frio, como se te houveras afogado nas torrentes do nosso rio Pó... (3) Por que não te divertes com os outros anjos, tu que eras o anjinho do meu coração, a doce bênção de Nosso Pai em meu lar?...
– Não poderia, mãezinha!... – respondeu em lágrimas, que me amarguraram.
– E por que não poderias, filhinha?... Porventura o bom Deus não é complacente contigo?...
– O bom Deus é complacente comigo, sim, mãezinha... Mas é que, na Eternidade, existem leis disciplinares irrevogáveis...
– Francamente, não te entendo, minha filha! Se és um anjo... Não tiveste sequer tempo de pecar... Porque leis severas contigo?...
– Não vês, mamãe, como me encontro?... assim molhada, com minhas asas pesadas, minhas roupagens sombrias, desguarnecidas de fulgurâncias, como não convém aos anjos trazê-las?...
– Mas... por que estás assim, filhinha?... Que te aconteceu?... Dize tudo a tua mãezinha... Quem sabe poderei ajudar-te em alguma coisa?...
– Pois justamente és tu a culpada de tudo, mãezinha... Tanto choras e blasfemas contra Deus, por minha causa, que me prendes ao teu lado, pela compaixão que me inspiras com tua mágoa demasiada e o teu desespero... Tuas lágrimas molham minhas asas, sombreiam minhas vestes, que devem ser de luz... E neste estado não me será possível compartilhar das alegrias das outras crianças que habitam felizes moradas dos Céus, nem alçar vôos pelo Infinito, onde deverão residir aqueles que deixaram o mundo, para se tornarem ditosos...
Promete que não mais hás de chorar e lamentar assim e serei feliz como o são estes que aqui vês, porque poderei seguir, sem pesares, para o seio dAquele que criou leis que tu desconheces, mas que mesmo assim deverás acatar porque são justas e muito sábias... E um dia, mãezinha, aqui mesmo virás ter... para continuarmos a felicidade momentaneamente interrompida...
– Ora, minha filha querida! – respondi-lhe eu, sorridente e comovida – Deus seja louvado! Prometo que me resignarei a essas leis, para não impedir teus vôos para o Céu com as minhas revoltas... Orarei ao bom Deus, isso sim! para que sejas feliz, podendo volitar em torno da Mãe Santíssima, como os demais anjos... e para que, quando possível, venhas até mim, tal como neste momento, a fim de me esclareceres e orientares sobre as coisas de Deus, que desconheço...
Quando Rafaela cessou de falar tinha os olhos secos. Mas as outras mulheres choravam, enquanto eu, invisível a todas elas, monologava com a alma enternecida:
– Oh, Deus dos simples e dos pequeninos! Eu louvo a tua misericórdia, que concede aos pobres e ignorantes do mundo revelações singelas, mas sublimes como esta, para que suas amarguras sejam acalentadas, revelações que, no entanto, encerram profunda essência filosófico-transcendental!...
Na Terra existe uma Ciência, revelada pelo Céu aos homens, que traduz a essência desta história tão repetida entre todas as mães que viram morrer os filhos pequeninos, Ciência capaz de explicá-la, desdobrando-a em ensinamentos de alta significação espiritual. Tu conheces tal Ciência, meu amigo! É a Doutrina que professas, a sacrossanta revelação daqueles que habitam o mundo dos Espíritos. Difunde-a, pois, com todas as forças do teu coração e do teu entendimento, para consolo do teu próximo, que precisa dela para se tornar menos desgraçado.
Leon Tolstoi (espírito), psicografia de Yvonne A. Pereira. Livro: Ressurreição e Vida
(1) Piemonte – Região da Itália. Situa-se entre os Alpes, o rio Tessino e os Apeninos. Capital: Turim. Apeninos – Cordilheira de montes calcáreos, que se estende ao longo da península Itálica. Altitude máxima, 2.921m. Grandes jazidas de mármore.
(2) Mujik – Camponês.
(3) Rio da Itália. Atravessa o Piemonte e a Lombardia.
terça-feira, 11 de novembro de 2014
SEMPRE VIVOS
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Ora, Deus não é de mortos, mas sim de vivos. Por isso, vós errais muito. - Jesus ( Marcos, 12:27) |
Espiritualmente falando, apenas conhecemos um gênero temível de morte - a da consciência denegrida no mal, torturada de remorso ou paralítica nos despenhadeiros que marginam a estrada da insensatez e do crime.
É chegada a época de reconhecermos que todos somos vivos na Criação eterna.
Em virtude de tardar semelhante conhecimento nos homens é que se verificam grandes erros. Em razão disso, a Igreja Católica Romana criou, em sua teologia, um céu e um inferno artificiais; diversas coletividades das organizações evangélicas protestantes apegam-se à letra, crentes de que o corpo, vestimenta material do Espírito, ressurgirá um dia dos sepulcros, violando os princípios da Natureza, e inúmeros espiritistas nos têm como fantasmas de laboratório ou formas esvoaçantes, vagas e aéreas, errando indefinidamente.
Quem passa pela sepultura prossegue trabalhando e, aqui, quanto aí, só existe desordem para o desordeiro. Na crosta da Terra ou além de seus círculos, permanecemos vivos invariavelmente.
Não te esqueças, pois, de que os desencarnados não são magos nem adivinhos. São irmãos que continuam na luta de aprimoramento. Encontramos a morte tão somente nos caminhos do mal, onde as sombras impedem a visão gloriosa da vida.
Guardemos a lição do Evangelho e jamais esqueçamos que nosso Pai é Deus dos vivos imortais.
(Emmanuel, espírito, através de Francisco Cândido Xavier, no livro "Pão Nosso", páginas 97 e 98)
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
ABENÇOE SEU FILHO
Quando Deus lhe confia a alma que vem do Invisível, dando-lhe a
honra da maternidade e da paternidade, é porque sabe que no meio em que você vive e com os recursos
variados ou parcos de que dispõe, terá as responsabilidades de bem orientá-la
para a vida.
Não podemos
desconsiderar o cômputo de preocupações e esforços que vivem tantos pais
ensejarem a seus descendentes o que há de melhor nas sociedades terrenas, de
modo que os fizesse desenvolver-se.
Não devemos ignorar
quantos sacrifícios fazem muitos pais para darem a seus filhos excelentes
possibilidades de conforto, do mundo social.
A tudo respeitamos, em
verdade, sensibilizando-nos com tamanha boa vontade. Entretanto, precisamos
encarecer a importância dos cuidados paternais, sob a luz da realidade espiritual,
tão desleixada, esquecida pelos progenitores.
Se é válido vacinar os
pequeninos contra certas doenças devastadoras, que amedrontam, não deveremos
olvidar a grandeza de que se constitui a Doutrina de Jesus, como abençoada
medicação profilática, a fim de que os filhos tenham estrutura para conseguirem
viver no mundo com os valores morais-espirituais, assimilados no lar bem
orientado.
Pensando que nossos
filhos carecem da assistência dos pais, o maior tempo possível, particularmente
na fase infantil, evitemos entregá-los a escolas, a institutos, creches,
jardins e pré-jardins, quando sejam muito novinhos, preservando-os de tantos
problemas de carências, ansiedades e inseguranças, de acordo com a sua
estrutura psicológica e emocional.
Durante a primeira e segunda
infâncias, mais do que nunca, será ultra-importante recolha a criança a ternura
da convivência do lar, com sua mãe, quando não seja possível esteja com os
pais.
Não exponhamos a nossa
criança aos tormentos do mundo. Se os adultos se sentem agredidos, violentados,
perante múltiplas situações, que dizer dos pequenos?
Sim, as crianças
precisam de sociabilização, entretanto, que as iniciemos nas disciplinas
domésticas, no convívio dos seus genitores, alimentando a alma nas fontes do
Evangelho, decantado no ambiente familiar.
* * *
Abençoe seu filho, a
cada manhã, a cada anoitecer, sem que ele seja um peso, um estorvo para você.
Mantenha-o, um pouco mais, ao lado dos seus cuidados, junto à sua vigilância
tranquila e atenta, sob a aura dos seus primeiros ensinos. Muitos tormentos e
desestruturações do adolescente, e mesmo da criança, têm começo no desamparo a
que os pequenos tão submetidos, ou no clima de insegurança a que são expostos.
Somente com Jesus a
orientar-nos a marcha humana, vendo a grandeza da psicologia delicada da
infância, sob a óptica da Doutrina Espírita, conseguiremos orientar os
pequeninos para que cumpram seus nobres destinos na Terra, pelo entendimento da
anterioridade da alma, da reencarnação, o que nos confere, na condição de pais
ou tutores, inabordável responsabilidade perante a confiança com que o Criador
honra a Humanidade.
Abençoe seu filho,
preparando-o para ser feliz.
(Pelo Espírito Thereza
de Brito - Psicografia de José Raul Teixeira - Livro: Vereda Familiar - Ed. Frater)
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
QUE COMECE AGORA!
Que comece agora.
E que seja permanente essa vontade de ir além daquilo que me espera. E que eu espero também.
Uma vontade de ser.
Aquela, que nasceu comigo e que me arrasta até a borda pra ver as flores que deixei de rastro pelo caminho. Que me dê cadência das atitudes na hora de agir.Que eu saiba puxar lá do fundo do baú, o jeito de sorrir pros nãos da vida.
Que as perdas sejam medidas em milímetros e que todo ganho não possa ser medido por fita métrica nem contado em reais. Que minha bolsa esteja cheia de papéis coloridos e desenhados à giz de cera pelo anjo que mora comigo. Que as relações criadas sejam honestamente mantidas e seladas com abraços longos.
Que eu possa também abrir espaço pra cultivar a todo
instante as sementes do bem e da felicidade de quem não
importa quem seja ou do mal que tenha feito para mim. Que a vida me ensine a amar cada vez mais, de um jeito mais leve.
instante as sementes do bem e da felicidade de quem não
importa quem seja ou do mal que tenha feito para mim. Que a vida me ensine a amar cada vez mais, de um jeito mais leve.
Que o respeito comigo mesmo (a) seja sempre obedecido com a paz de quem está se encontrando e se conhecendo com um coração maior. Um encontro com a vontade de paz e o desejo de viver.
Caio Fernando Abreu
terça-feira, 4 de novembro de 2014
AMOR - ESSÊNCIA DIVINA
Você já se perguntou, alguma vez, porque certas pessoas cometem crimes ou outros delitos contra si ou contra terceiros?
Talvez a resposta da maioria seria a de que essas pessoas são delinquentes. Isso é verdade, mas por que se tornaram delinquentes?
Tomemos como exemplo esses delinquentes infantis e juvenis, que perambulam pelas ruas e cometem pequenos furtos contra os cidadãos.
Imaginemos que eles tivessem um lar decente, uma mãe amorosa que os acariciasse e educasse. Tivessem um pai equilibrado, empregado, com salário digno, que lhe permitisse sustentar a família com honradez. Em última análise, se houvesse amor, eles não estariam pelas ruas, perambulando sem rumo.
Quando uma pessoa, num ato de desespero, põe fim à própria vida, é porque faltou o tempero do verdadeiro amor para envolver suas horas. Se houvesse amor no lar desses “homens-bomba”, que são usados como explosivos, atirando-se para a morte num ato insano de autodestruição, com certeza não o fariam. Se tivessem uma mãe ou esposa que os amasse verdadeiramente, envolvendo-os em carícias de afeto e compreensão, não fariam o que fazem. Se em seu lar deixassem olhares carinhosos de filhos a lhes perguntar: “Papai, quando você volta? Não demore! Vou esperar você com saudades. Volte logo, papai!” - certamente ficariam longe do terrorismo.
Se houvesse mais amor na face da Terra, tudo seria diferente. O amor é antídoto eficaz contra todo tipo de violência. Quando o amor adoece, o desespero se instala nos corações. As explosões de ódios, de vinganças cegas, são resultados de um amor enfermo, pois não se pode odiar alguém que não se conhece. Só pode haver traição por parte de alguém em quem foi depositada confiança plena.
Ah! Se houvesse amor... Se houvesse amor não haveria crimes hediondos, nem guerra, nem fome, nem misérias, nem outra violência qualquer. Se houvesse amor, não faltaria o necessário a nenhum ser humano, porque o amor fraternal não permitiria. Se houvesse amor não haveria desemprego, nem subemprego, porque só o amor é capaz de desarmar o egoísmo, esse verdugo cruel que alimenta a ganância, a prepotência, o desejo desenfreado de posses materiais.
Ah! Se houvesse amor... Esse sentimento adormecido no íntimo de muitas criaturas... Um dia, um homem chamado Jesus ensinou que o amor é a chave da felicidade. Resumiu toda a Lei e os profetas na máxima: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo com a si mesmo”. Mas, infelizmente muitos de nós, que nos dizemos cristãos, temos esquecido esse ensinamento. Muitos de nós, que nos declaramos seguidores do Cristo, estamos alimentando as grandes guerras com nossas guerras familiares e nosso terrorismo particular e ainda com a nossa beligerância social.
Ah! Se houvesse amor... Se o amor fosse uma realidade em nosso Mundo, seguramente aqui habitaria a paz.
O amor é de essência divina e todos nós, do primeiro ao último, temos, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. Por isso, amemos e felicitemo-nos, colocando na estrada do amor sinais de luz, a fim de que nunca mais haja sombra por onde o amor tenha transitado a derramar sua invencível
claridade.
O amor é de essência divina e todos nós, do primeiro ao último, temos, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. Por isso, amemos e felicitemo-nos, colocando na estrada do amor sinais de luz, a fim de que nunca mais haja sombra por onde o amor tenha transitado a derramar sua invencível
claridade.
Redação do Momento Espírita
NO FUTURO
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E não mais ensinará cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: - Conhece o Senhor! Porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior. - Paulo (Hebreus, 8:11) |
Quando o homem gravar na própria alma
Os parágrafos luminosos da divina Lei,
O companheiro não repreenderá o companheiro,
O irmão não denunciará outro irmão.
O cárcere cerrará suas portas,
Os tribunais quedarão em silêncio.
Canhões serão convertidos em arados,
Homens de armas volverão à sementeira do solo.
O ódio será expulso do mundo,
As baionetas repousarão,
As máquinas não vomitarão chamas para o incêndio e para a morte,
Mas cuidarão pacificamente do progresso planetário.
A justiça será ultrapassada pelo amor.
Os filhos da fé não somente serão justos,
Mas bons, profundamente bons.
A prece constituir-se-á de alegria e louvor
E as casas de oração estarão consagradas ao trabalho sublime da fraternidade suprema.
A pregação da Lei
Viverá nos atos e pensamentos de todos,
Porque o Cordeiro de Deus
Terá transformado o coração de cada homem
Em tabernáculo de luz eterna,
Em que seu Reino divino
Resplandecerá para sempre.
[Emmanuel, (espírito), através de Francisco Cândido Xavier, no livro "Pão Nosso", páginas 95 e 96]
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