Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sábado, 4 de fevereiro de 2017

O EGOÍSMO E O ORGULHO - SUAS CAUSAS, SEUS EFEITOS E OS MEIOS DE DESTRUÍ-LOS


Está bem reconhecido que a maioria das misérias humanas tem a sua fonte no egoísmo dos homens. Então, desde que cada um pensa em si, antes de pensar nos outros, e quer a sua própria satisfação antes de tudo, cada um procura, naturalmente, se proporcionar essa satisfação, a qualquer preço, e sacrifica, sem escrúpulo, os interesses de outrem, desde as menores coisas até as maiores, na ordem moral como na ordem material; daí todos os antagonismos sociais, todas as lutas, todos os conflitos e todas as misérias, porque cada um quer despojar o seu vizinho.

O egoísmo tem a sua fonte no orgulho. A exaltação da personalidade leva o homem a se considerar como acima dos outros, crendo-se com direitos superiores, e se fere com tudo o que, segundo ele, seja um golpe sobre os seus direitos. A importância que, pelo orgulho, liga à sua pessoa, torna-o naturalmente egoísta.

O egoísmo e o orgulho têm a sua fonte num sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porque Deus nada pode fazer de inútil. Deus não criou o mal; foi o homem que o produziu pelo abuso que fez dos dons de Deus, em virtude de seu livre arbítrio. Esse sentimento, encerrado em seus justos limites, portanto, é bom em si; é o exagero que o torna mau e pernicioso; ocorre o mesmo com todas as paixões que o homem, freqüentemente, desvia de seu objetivo providencial. De nenhum modo Deus criou o homem egoísta e orgulhoso; criou-o simples e ignorante; foi o homem que se fez egoísta e orgulhoso exagerando o instinto que Deus lhe deu para a sua conservação.

Os homens não podem ser felizes se não vivem em paz, quer dizer, se não estão animados de um sentimento de benevolência, de indulgência e de condescendência recíprocos, em uma palavra, enquanto procurarem se esmagar uns aos outros. A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e todos os deveres sociais; mas supõem a abnegação; ora, a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho; portanto, com seus vícios nada de verdadeira fraternidade, partindo, da igualdade e da liberdade, porque o egoísta e o orgulhoso querem tudo para eles. Estarão sempre aí os vermes roedores de todas as instituições progressistas; enquanto eles reinarem, os sistemas sociais mais generosos, mais sabiamente combinados, desabarão sob os seus golpes.

É belo, sem dúvida, proclamar o reino da fraternidade, mas para que serve se existe uma causa destruidora? É edificar sobre um terreno movediço; tanto valeria decretar a saúde para um país insalubre. Num tal país, querendo-se que os homens se portem bem, não basta enviar-lhe médicos, porque eles morrerão como os outros; é necessário destruir as causas da insalubridade. Se quereis que vivam como irmãos sobre a Terra, não basta lhes dar lições de moral; é necessário destruir as causas do antagonismo; é necessário atacar o princípio do mal: o orgulho e o egoísmo. Aí está a praga; aí deve se concentrar toda a atenção daqueles que querem seriamente o bem da Humanidade. Enquanto esses obstáculos subsistirem, verão seus esforços paralisados, não só por uma resistência de inércia, mas por uma força ativa que trabalhará, sem cessar, para destruir a sua obra, porque toda idéia grande, generosa e emancipadora, arruína as pretensões pessoais.

Destruir o egoísmo e o orgulho é coisa impossível, dir-se-á, porque esses vícios são inerentes à espécie humana. Se isso fora assim, seria necessário desesperar de todo o progresso moral; no entanto, quando se considera o homem em suas diferentes idades, não se pode desconhecer um progresso evidente: portanto, se ele progrediu, pode progredir ainda. Por outro lado, é que não se encontra nenhum homem desprovido do orgulho e do egoísmo? Não se vêem, ao contrário, essas naturezas generosas nas quais o sentimento de amor ao próximo, de humildade, de devotamento e de abnegação, parecem inatos? O número é menor do que o dos egoístas, isto é certo, de outro modo estes últimos não fariam a lei; mas há deles mais do que se crê, e se parecem tão pouco numerosos é que o orgulho se põe em evidência, ao passo que a virtude modesta permanece na sombra. Se, pois, o egoísmo e o orgulho estivessem nas condições necessárias à Humanidade, como as de se nutrir para viver, não haveria exceções; o ponto essencial é, pois, chegar a fazer a exceção passar ao estado de regra; para isso, antes de tudo, trata-se de destruir as causas que produzem e sustentam o mal.

A principal dessas causas se liga, evidentemente, à falsa idéia que o homem faz de sua natureza, de seu passado e de seu futuro. Não sabendo de onde vem, se crê mais do que não o é; não sabendo para onde vai, concentra todo o seu pensamento sobre a vida terrestre; ele a vê tão agradável quanto possível; quer todas as satisfações, todos os gozos: é porque caminha, sem escrúpulos, sobre o seu vizinho, se este lhe faz obstáculo; mas, para isso, é necessário que ele domine; a igualdade daria a outros direitos que quer ter sozinho; a fraternidade lhe imporia sacrifícios que estariam em detrimento de seu bem-estar; a liberdade, ele a quer para si, e não a concede, aos outros, senão quando ela não leve nenhum prejuízo às suas prerrogativas. Tendo cada um as mesmas pretensões, disso resultam conflitos perpétuos, que fazem pagar bem caro alguns dos gozos que venham a se proporcionar.

Que o homem se identifique com a vida futura, e a sua maneira de ver muda completamente, como a de um indivíduo que não deve permanecer senão poucas horas numa habitação má, e que sabe que, à sua saída, terá outra magnífica, para o resto de seus dias.

A importância da vida presente, tão triste, tão curta, tão efêmera, se apaga diante do esplendor do futuro infinito que se abre diante dele. A conseqüência natural, lógica, dessa certeza, é a de sacrificar um presente fugidio a um futuro durável, ao passo que antes sacrificava tudo ao presente.


Tornando-se a vida futura o seu objetivo, pouco lhe importa ter um pouco mais, ou um pouco menos neste; os interesses mundanos são os acessórios, em lugar de serem o principal; ele trabalha no presente tendo em vista assegurar a sua posição no futuro, além disso, sabe em que condições pode ser feliz.

Pelos interesses mundanos, os homens podem lhe opor obstáculos: é preciso que os afaste, e se torna egoísta pela força das coisas; se leva suas vistas mais alto, para uma felicidade que nenhum homem pode entravar, não tem interesse em esmagar ninguém, e o egoísmo não tem mais objeto; mas resta-lhe sempre o estímulo do orgulho.

A causa do orgulho está na crença que o homem tem de sua superioridade individual; e é aqui que se faz sentir ainda a influência da concentração do pensamento sobre a vida terrestre. No homem que nada vê diante dele, nada depois dele, nada acima dele, o sentimento da personalidade o arrebata, e o orgulho não tem nenhum contrapeso.

A incredulidade não só não possui nenhum meio de combater o orgulho, mas o estimula e lhe dá razão negando a existência de um poder superior à Humanidade. O incrédulo não crê senão em si mesmo; é, pois, natural que ele tenha orgulho; ao passo que, nos golpes que o atingem, ele não vê senão o acaso e se endireita, aquele que tem a fé, vê a mão de Deus e se inclina. Crer em Deus e na vida futura é, pois, a primeira condição para moderar o orgulho, mas isso não basta; ao lado do futuro, é preciso ver o passado para se fazer uma idéia justa do presente.

Para que o orgulhoso cesse de crer em sua superioridade, é preciso lhe provar que ele não é mais do que os outros, e que os outros são tanto quanto ele; que a igualdade é um fato e não, simplesmente, uma bela teoria filosófica; verdades que ressaltam da preexistência da alma e da reencarnação.

Sem a preexistência da alma, o homem é levado a crer que Deus o beneficiou excepcionalmente, quando crê em Deus; quando não crê, rende graças ao acaso e ao seu próprio mérito. A preexistência, iniciando-o na vida anterior da alma, lhe ensina a distinguir a vida espiritual infinita, da vida corpórea, temporária; sabe, por aí, que as almas saem iguais das mãos do Criador; que têm um mesmo ponto de partida e um mesmo objetivo, que todas devem alcançar, em mais ou menos tempo segundo os seus esforços; que ele mesmo não chegou ao que é senão depois de ter, por muito tempo e penosamente, vegetado como os outros nos graus inferiores: que não há, entre as mais atrasadas e as mais avançadas, senão uma questão de tempo; que as vantagens de nascimento são puramente corpóreas e independentes do Espírito; que o simples proletário pode, numa outra existência, nascer sobre um trono, e o mais poderoso renascer proletário. Se não considera senão a vida corpórea, vê as desigualdades sociais do momento; elas o ferem; mas se leva seus olhares sobre o conjunto da vida do Espírito, sobre o passado e sobre o futuro, desde o ponto de partida até o ponto de chegada, essas desigualdades se apagam, e reconhece que Deus não favoreceu a nenhum de seus filhos em prejuízo dos outros; que fez parte igual a cada um e não aplainou o caminho mais para uns do que para outros; que aquele que é menos avançado do que ele sobre a Terra, pode chegar antes dele, se trabalha mais do que ele pelo seu aperfeiçoamento; reconhece, enfim, que cada um não chegando senão pelos seus esforços pessoais, o princípio de igualdade se acha ser, assim, um princípio de justiça e uma lei da Natureza, diante das quais cai o orgulho do privilégio.

A reencarnação, provando que os Espíritos podem renascer em diferentes condições sociais, seja como expiação, seja como prova, ensina que naquele que se trata com desdém, pode-se encontrar um homem que foi nosso superior ou nosso igual numa outra existência, uma amigo ou um parente. Se o homem o soubesse, tratá-lo-ia com respeito, mas, então, não teria nenhum mérito; e, pelo contrário, se soubesse que seu amigo atual foi seu inimigo, seu servidor ou seu escravo, o repeliria; ora, Deus não quis que isso fosse assim, por isso lançou um véu sobre o passado; desta maneira, o homem é levado a ver, em todos, irmãos e seus iguais; daí uma base natural para a fraternidade; sabendo que ele mesmo poderá ser tratado como houver tratado os outros, a caridade se torna um dever e uma necessidade, fundados sobre a própria Natureza.


Jesus colocou o princípio da caridade, da igualdade e da fraternidade; fez dele uma condição expressa de salvação; mas estava reservado à terceira manifestação da vontade de Deus, ao Espiritismo, pelo conhecimento que dá da vida espiritual, pelos horizontes novos que descobre e as leis que revela, sancionar esse princípio, provando que não é somente uma doutrina moral, mas uma lei da Natureza, e que está no interesse do homem praticá-lo. Ora, ele o praticará quando, cessando de ver no presente o começo e o fim, compreenderá a solidariedade que existe entre o presente, o passado e o futuro. No campo imenso do infinito que o Espiritismo lhe faz entrever, sua importância pessoal se anula; compreende que sozinho não é nada e nada pode; que todos têm necessidade uns dos outros; duplo revés para o seu orgulho e o seu egoísmo.

Mas, para isso, lhe é necessária a fé, sem a qual ficará forçosamente na rotina do presente; não a fé cega que foge da luz, restringe as idéias, e, por isso mesmo, mantém o egoísmo, mas a fé inteligente, raciocinada, que quer a claridade e não as trevas, que rasga temerariamente o véu dos mistérios e alarga o horizonte; é essa fé, primeiro elemento de todo o progresso, que o Espiritismo lhe traz, fé robusta porque está fundada sobre a experiência e os fatos, porque lhe dá provas palpáveis da imortalidade de sua alma, lhe ensina de onde vem, para onde vai, e porque está sobre a Terra; porque, enfim, ela fixa suas idéias incertas sobre seu passado e sobre seu futuro.

Uma vez entrado largamente nesse caminho, o egoísmo e o orgulho, não tendo mais as mesmas causas de superexcitação, se extinguirão, pouco a pouco, por falta de objetivo e de alimento, e todas as relações sociais se modificarão sob o império da caridade e da fraternidade bem compreendidas.

Isso pode chegar por uma mudança brusca? Não, isso é impossível: nada é brusco na Natureza; jamais a saúde se torna, subitamente, em uma doença; entre a doença e a saúde há sempre a convalescênça. O homem não pode, pois, instantaneamente, mudar seu ponto de vista, e levar os seus olhares da Terra ao céu; o infinito o confunde e o ofusca; é-lhe necessário o tempo para assimilar as idéias novas. O Espiritismo é, sem contradita, o mais poderoso elemento moralizador, porque mina o egoísmo e o orgulho pela base, dando um ponto de apoio à moral: fez milagres de conversões; não são ainda, é verdade, senão cuidados individuais,e freqüentemente parciais; mas o que produziu sobre os indivíduos é a garantia do que produzirá um dia sobre as massas. Ele não pode arrancar as más ervas de repente; dá a fé; a fé é uma boa semente, mas é necessário, a essa semente, o tempo para germinar e dar frutos; eis porque todos os espíritas não são ainda perfeitos. Ele pegou o homem no meio da vida, no fogo das paixões, na força dos preconceitos, e se, em tais circunstâncias, operou prodígios, que será quando o tomar em seu nascimento, virgem de todas as impressões malsãs; quando aquele receber a caridade desde a meninice, e for embalado pela fraternidade; quando, enfim, toda uma geração será elevada e nutrida nas idéias que a razão aumenta, fortificará em lugar de desunir? Sob o império dessas idéias, tornadas a fé para todos, o progresso, não encontrando mais obstáculo no egoísmo e no orgulho, as próprias instituições se reformarão e a Humanidade avançará rapidamente para os destinos que lhe foram prometidos sobre a Terra, esperando os do céu.

Por Allan Kardec publicado no livo "Obras Póstumas". 
(grifos nossos)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

JESUS - GUIA E MODELO DA HUMANIDADE

Quarta-feira, dia 01 de fevereiro de 2017, estivemos palestrando na Fraternidade Espírita Recanto da Vô Ana sobre o Jesus. 
Na oportunidade gravamos a mesma e a disponibilizamos para aqueles que queiram escutá-la. 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

OS MÉDIUNS E AS FRAUDES

Quando os céticos clamam por comprovações sobre a mediunidade, essa exigência não é a toa. Ao longo dos últimos 150 anos demonstrações mediúnicas e fraudes sempre andaram juntas, diga-se de passagem, até de médiuns aparentemente genuínos.

Já é conhecido que muitos médiuns (principalmente ingleses) cobravam por seus serviços, isso opostamente à cultura francesa, parecia colaborar para tal feito, afinal, muitos médiuns que demonstravam uma mediunidade efetiva em um momento de suas vidas, ao longo do tempo tal “poder" parecia desaparecer, obrigando-os a tomar caminhos obscuros e que seriam, mais tarde, fraudes facilmente detectáveis.

Mas e os médiuns voluntários, porque fraudariam já que não existia remuneração envolvida?

Essa é uma pergunta que vem sendo feita por décadas e a resposta mais objetiva passa a ser: Crença exagerada e ego.

Parece estranho que uma postura religiosa de crença, onde a caridade passa a ser um referencial, conduza certas pessoas a um caminho tão anti-cristão, para não dizer criminoso.

De certa forma isso tudo ocorre num momento espirita onde a cultura da “não colaboração” com pesquisas está em seu auge. Atualmente é muito difícil encontrarmos médiuns dispostos a submissão de testes que venham a demonstrar sua mediunidade efetiva, isto é, não tem sido fácil médiuns aceitarem a convites de pesquisadores para demonstrarem se seus “poderes" são verdadeiros.

Em geral tal postura gera sempre uma problemática, onde a recusa não evidencia necessariamente uma fraude, mas deixa todo mundo com um pé atrás pois, se a pessoa é realmente um médium, então por que não colaborar?

Um dos argumentos usados por alguns médiuns é o fato de que ele poderia estar ajudando pessoas ao invés de estar colaborando com pesquisas, mas essa parece ser uma desculpa que passa a não ser bem aceita, principalmente quando o estudo envolve famílias e a ajuda estaria ocorrendo da mesma forma, mas agora com um grupo pequeno e restrito delas. 

Este artigo foi elaborado para atualizar e situar nosso leitor, pois sabemos que o grupo interessado na parte cientifica sempre mantém um nível crítico mais elevado, diferenciando-se da grande maioria espírita, dessa forma é possível perceber que a fraude está associada com três elementos: Dinheiro, ego e crença doentia. 

Por que precisamos das pesquisas?

As pesquisas são necessárias basicamente por dois motivos: Descartar a fraude, demonstrando que o fenômeno ocorre de fato e; para melhor compreendermos os limites da mediunidade e capacidade dos espíritos.

Como exemplo, temos nessa edição da RCE (para fazer download da edição integral, clique A.Q.U.I.) um breve resumo dos estudos de Drayton Thomas, com os procedimentos elaborados por ele podemos melhor compreender como ocorre a visão por parte dos espíritos, algo que ficou incompleto na elaboração da Codificação.

Conhecer os limites da mediunidade é fundamental, isso porque a crença, por vezes, domina e abafa a razão, escondendo uma verdade e conduzindo a doutrina por um caminho sinistro da ignorância, algo combatido por Kardec durante toda sua vida. Como exemplo disso posso citar um caso não comentado no meio espirita: 

Alguém já ouviu falar de Emily Rose?

Ela era uma jovem que, quando incentivada pelos pais, elaborou um método cientifico simples para testar ditos médiuns que faziam o “Toque Terapêutico” (TT), isso nada mais é do que a aplicação do passe, oficialmente instalado em hospitais americanos anos atrás. A pergunta básica do estudo dela era: O TT funciona?

Ela tomou um caminho lógico de experimentação, mas pelo fato dos médiuns não possuírem entendimento de como o passe (ou TT) funciona de fato, e desconhecerem seus limites, esses “médiuns” afirmavam terem o poder de sentir a energia do corpo das pessoas, assim como emitir de seus também.

A proposta de Emily era “cegar" as médiuns e estas colocariam suas mãos espalmadas para cima, então a jovem Emily selecionaria/escolheria, de forma aleatória, uma das mãos para colocar a sua a uma distância de aproximadamente 30cm, a fim de evitar que o calor do corpo indicasse (ou induzisse falsamente) qual mão da médium ela teria escolhido para o teste. As médiuns tinham simplesmente que dizer qual das suas mãos estava captando a energia da menina (esquerda ou direita). 

O experimento foi um sucesso, para os céticos! Os médiuns acertaram cerca de 44%, ou seja, algo esperado para o acaso, uma vez que haviam somente duas opções (esquerda ou direita). Isso demonstrou que os médiuns estavam totalmente iludidos.

Houve erro ou falha no método? Absolutamente não! Infelizmente não houve pois o erro estava na crença de que isso era possível de ocorrer, gerando uma péssima imagem para o espiritismo e principalmente para o potencial do passe, algo que não tem nada a ver com uma crença descabida. 

Emily foi condecorada pela iniciativa e o espiritismo/misticismo, de modo geral, ridicularizado no meio cientifico, acadêmico e social, exatamente porque a crença e fé cega não limitaram ou compreendiam o fenômeno. No exemplo citado não temos caso de fraude mas sim de ignorância absoluta por parte dos praticantes.

Em outras pesquisas com médiuns, por exemplo, em eventos de cartas psicografadas publicamente ou “cartas consoladoras”, um estudo ainda não publicado¹ revela que a grande dificuldade dos pesquisadores na atualidade é o fácil acesso a internet, buscamos investigar alguns médiuns e verificar como ocorrem as fraudes e, por outro lado, onde se fixam os detalhes do verdadeiro médium. 

Primeiramente é importante compreender que, devido ao fácil acesso à internet, é praticamente impossível garantir que um médium não fraude, até porque é muito fácil de se obter dados de pessoas já falecidas, principalmente com o uso das redes sociais e banco de dados. Em casos raros é possível se ter maiores garantias da genuinidade mediúnica quando surge uma informação relevante e muito particular (esse foi o caso citado no artigo que passa por revisão por pares). Contudo, na atualidade, não há outro caminho senão um teste controlado com o médium, onde ele basicamente faria uma sessão dentro do seu
modus operandi, ou seja, atuaria da mesma forma só que as famílias envolvidas na sessão seriam escolhidas por pesquisadores ou um grupo a parte.

Como ocorrem as fraudes?

As fraudes podem ocorrer basicamente de duas formas: 

- A primeira é com entrevistas às famílias. Geralmente, sem perceber, as famílias acabam fornecendo dados e detalhes que posteriormente vem a surgir nas cartas psicografadas. Os médiuns que aplicam essa técnica, normalmente não psicografam a carta na mesma sessão, a fim de não ficar tão evidente, esperando que os pais retornem em outros momentos. Como fator colaborador, o médium entrevista outras famílias e não é incomum surgirem casos onde grupos de famílias vão até o evento mediúnico devido a um acidente coletivo ou que possuam ralação parental. Dessa forma já é possível se obter dados suficientes para “construir” uma carta, some a isso uma “pitada" de informações genéricas lógicas, algo que pareça pessoal mas é redundante, por exemplo: “mamãezinha, por vezes fico aqui sofrendo ao ver você olhando para aquela foto onde estamos abraçados”, em qual caso isso não ocorre? Se uma carta é fraudulenta, uma informação desse nível não possui limite de maldade, onde o fraudador usa do sofrimento alheio para obter algum tipo de benefício e facilidade pela ânsia e
dor do familiar.

- A segunda, que pode ou não ser associada à primeira, é a que mais impressiona. Como uma espécie de show, o médium (sem pegar qualquer nome ou pedido das pessoas presentes), começa a escrever uma carta atrás da outra, então depois do “momento mediúnico” o médium começa a ler, uma a uma, e as pessoas que se identificam com o texto aparecem aos prantos. São famílias desesperadas, mães prestes a suicídios por terem perdido seus filhos que estão lá e nem percebem do novo golpe que sofrem, só que dessa vez, da mentira. 

Esse tipo de fraude ocorre de maneira discreta. Sem perceber várias famílias ficam focadas em receber noticias e daí compartilham ou participam de momentos (ou movimentos) sociais na internet demonstrando seu interesse. Elas acabam sendo alvos desses oportunistas que acompanham na mídia social suas futuras vítimas. Além dessas pessoas “indefesas" ocorre a técnica do “caso aleatório”, ou seja, o fraudador procura por eventos trágicos na região onde irá fazer a sessão e elabora uma carta, a única diferença é que tal mensagem fica “ao chute”, isto é, a carta surge na sessão, se por um acaso a pessoa não compareceu, então foi o espirito (dentre as centenas de mães sofredoras) que veio a deixar uma mensagem para ser entregue em outro momento à família desinteressada. Se, por outro lado, a família está presente, o poder de convencimento é maior ainda, uma vez que não tinham avisado ninguém ou comentado que iriam ao evento. Isto surte um poder fenomenal incrível, dando maior credibilidade aparente ao médium.

Geralmente tal fraude está associada a detalhes muito convincentes, parecendo que o espirito quer efetivamente demonstrar quem ele é e usa de todo o “poder” do médium para garantir isso. Informações tais como CPF, RG, telefone, endereço ou datas muito específicas surgem aos montes, pena que o público leigo não imagina que tais dados são extremamente raros de ocorrer e geralmente aparecem em médiuns mecânicos (então a letra teria que ser a mesma) ou em médiuns com uma vidência muito rara.



Nesse "segundo caso", os médiuns acabam sendo desmascarados quando ocorre conflito de dados ou quando eles acidentalmente se enganam ou erram. Nomes ou apelidos desconhecidos, endereços errados na internet, ligação parental incorreta são os pontos chaves que podem alertar os pesquisadores (e familiares) a detectar uma possível fraude.

É oportuno comentar que, tudo isso necessariamente deve estar associado a (no mínimo) um dos 3 itens “pilares" das fraudes, ou seja, ganho financeiro, ego e crença exarcebada. Em geral médiuns envolvidos com as fraudes vendem seus livros nas sessões, algo que lhes rende ganhos financeiros (chegando a mais de R$5.000,00 por evento), nesses casos geralmente eles não possuem custos uma vez que grupos de familiares organizam tudo e pagam-lhes as passagem e estadia durante o “show”. 

E os médiuns verdadeiros?

Infelizmente esses se tornam vítimas também mas dessa vez da sua imagem e seu trabalho honesto. É um tanto difícil de separar os resultados de ambos, pois um médium verdadeiro vai reproduzir exatamente o mesmo “material" (cartas) que os fraudadores, sendo praticamente impossível de distinguir entre um e outro. A única forma para se ter certeza são os experimentos controlados, ficando assim o verdadeiro médium “certificado" de sua honestidade.

É triste termos de chegar a esse ponto, mas por “maus médiuns” os bons acabam tendo que pagar o preço de provar sua honestidade.

Algum se propõe ao teste?


[1] O estudo está passando por uma revisão por pares e será publicado em edição futura da Revista Ciência Espirita.

Por Sandro Fontana, publicado originalmente na Revista Ciência Espírita, edição 10, dezembro de 2016.


SEM OUVIDOS PARA O RELIGIOSO


São cada vez mais numerosos os que, entre nós, se confessam descrentes. Mas, se observarmos mais de perto sua postura, talvez tenhamos que dizer que sua incredulidade não é tanto fruto de uma decisão responsável quanto resultado de uma vida alienada e privada de interioridade.

Na vida de muitos contemporâneos faltam as condições mínimas para tomar uma postura séria e responsável diante da fé ou da descrença. Vive-se um modo de vida onde nem sequer aparece a necessidade de dar uma sentido último à existência. Como diz um ateu contemporâneo, "somos simplesmente nós que devemos dar um sentido à nossa vida, vivendo-a" (J. Jeanson).

Mas quando se vive buscando só um bem-estar material cada vez maior, unicamente interessado em "ter dinheiro" e "adquirir símbolos de prestígio", preocupado em ser "algo" e não em ser "alguém", perde-se a capacidade de escutar os apelos mais profundos que se encerram no ser humano. 

Quem vive assim carece de ouvidos para qualquer rumor que não seja o que provém de seu mundo de interesses. Não tem olhos para perceber outras dimensões que não sejam as dom bem-estar material, da posse e do prestígio social. Como diria Max Weber, são pessoas que "carecem de ouvido para o religioso". 

A parábola de Jesus (O festim de bodas - Mt 22, 1-14) nos faz lembrar, a todos nós, sempre de novo, que no fundo da vida há um convite para buscar a liberdade e a plenitude por outros caminhos. E nosso maior equívoco pode ser desatender levianamente o convite de Deus, indo cada um de nós para "nossas terras e nossos negócios".

Vamos continuar fugindo de nós mesmos, perdendo-nos em mil formas de evasão, tratando de esquecer a Deus e evitando cuidadosamente tomar a sério a vida. Mas o convite não cessa. No fundo de muitas posturas de descrença, será que não se esconde um medo de mudança, uma mudança que necessariamente deveria operar-se em nossa vida se tomássemos Deus a sério? 

Sem dúvida, uma grande verdade se encerra na oração de São João da Cruz: "Senhor, meu Deus, Tu não és estranho para quem não se estranha contigo. Como dizem que tu te ausentas?" 

José Antônio Pagola no livro "O caminho aberto por Jesus - Mateus", capítulo 32, intitulado "O convite de Deus".


terça-feira, 31 de janeiro de 2017

OS TESOUROS

"Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os consomem e onde os ladrões penetram e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram nem roubam, porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. A lâmpada do corpo são os olhos; se pois estes forem sãos, todo o teu corpo será luminoso mas se teus olhos forem doentes, todo o teu corpo será tenebroso. Se, pois, a luz que há em ti são trevas, quão grandes são essas trevas! Ninguém pode servir a dois senhores, pois ou há de aborrecer a um e amar o outro, ou há de unir-se a um e desprezar o outro: não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6, 19-24)

"Não temas pequeno rebanho, porque é do agrado de vosso Pai dar-vos o reino. Vendei o que possuis, e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não envelheçam, um tesouro inexaurível nos céus, onde o ladrão não chega e a traça não rói, porque onde está vosso tesouro, também estará vosso coração". (Lucas 12, 32-34)


Neste trecho, recomenda-nos Jesus o desprendimento ou desapego das riquezas. Que valem elas aqui, no planeta, onde podem ser perdidas por ação das traças, da ferrugem ou dos ladrões? Aconselha-nos antes a ajuntar tesouros espirituais de conhecimento e obras meritórias, que jamais se perdem. Tapetes no chão ou nas paredes roupas caras nos armários, jarros de louça e aparelhos de cristal, quadros célebres, adegas de vinho e despensas com largas provisões, dinheiro nos bancos e jóias nas caixas-fortes, tudo isso, além de perecível, deve ser aqui deixado quando abandonarmos o corpo físico. Mas o que, é conquista do Espírito, isso acompanha-nos para além do mundo da matéria, e jamais o perdemos.

A fórmula axiomática "onde está teu tesouro, aí estará teu coração” esclarece a razão de todo o ensinamento. O essencial não é NÃO TER, e sim NÃO APEGAR-SE, não prender o pensamento (cuja sede reside no coração) a essas coisas externas e transitórias.

Depois aparece um ensinamento em forma de comparação. Na realidade, só conseguimos ter luz se os olhos forem sadios. Então parece, e nos vemos, todos luminosos, pois distinguimos os objetos, suas formas e cores. Mas se os olhos adoecerem, isto é, cegarem, todo o corpo parece nadar em densas trevas, que custamos a romper, tateando com as mãos à frente. E termina com um enigma: "se a luz que há em ti são trevas, quão grandes são essas trevas" . Como pode a luz ser trevas?


As frases referem-se ao ensinamento anterior e o comentam, deixando-se ao leitor a tarefa de compreendê-las. Realmente, o coração (o pensamento) pode apegar-se a riquezas materiais ou aos bens espirituais, tal como ocorre com os olhos, cujo primordial papel é servir de lâmpada para o corpo. Se os olhos forem sadios (haplõus), isto é, sem defeito, simples, sem crostas e "sem apegos" nem cobiças, então sua tarefa de iluminar desenvolve-se perfeitamente. Mas se esses olhos, que "são a luz do corpo" começam a criar agregações externas (quase películas de catarata), pela ambição e cobiça, eles começam a ficar velados e, portanto, doentes ou maus (ponêrós) e então enxergam tudo torto, as perspectivas ficam distorcidas e falsas. Daí compreender-se que o olho "mau" ou doente prejudica todo o ser.

Essa interpretação leva-nos um passo adiante: é pelos olhos que nasce, geralmente, o sentimento baixo e indigno da inveja, que lança raios mortíferos sobre as coisas e sobre as criaturas que as possuem. Essa má qualidade envenena o espírito de quem a sente, e sobretudo de quem a alimenta; e os fluídos lançados pelos olhos ("mau olhado") fazem definhar tudo o que foi atingido; mas, em primeiro lugar, faz definhar a própria criatura que os lançou, porque, antes de atingir a aura dos outros os fluídos atingem a própria aura da pessoa que os lança.

E Jesus termina declarando peremptoriamente que "ninguém pode servir a dois senhores": a Deus, dedicando-se ao espiritualismo, e às riquezas.

A palavra usada, e bastante conhecida, mamon (grego mamônas, proveniente do aramaico mamônâ) pertence ao hebraico mais recente do Eclesiástico (31:8) e do Talmud. Deriva do verbo âman, que significa "confiar” ou "depositar" (cfr. Dalman, Gramática, pág. 170, na nota).

Realmente, o espiritualismo olha as posses como ilusões transitórias, ao passo que o materialismo as considera como as únicas realidades objetivas e palpáveis. Então, não há conciliação possível entre os dois: ou a criatura se apega a um, ou ao outro, pois os dois pólos se repelem mutuamente. O que não impede que o espiritualista conserve seus bens materiais e os administre, desde que os considere como são de fato: empréstimos temporários que lhe foram confiados para gerir, mas sem que seu coração se lhes apegue.

Em Lucas aparecem dois conceitos novos: um, assegurando ao "pequeno rebanho" - frase de grande poesia e de profundo carinho - que o Pai tem prazer, e até quer de boa-vontade (eudókêsen, de eu, "bem" e déchomai, "querer") dar-lhes o "reino dos céus", ou seja, o Encontro Consigo.

Temos, então, o conselho de vender o que possuímos (tà hupárchonta, de hupárchô, "existo", "sou") e dar esmolas, ou fazer misericórdia, no sentido de ter tal desapego, que nos não incomodemos em desfazer nos do que é nosso, caso outros necessitem; é a generosidade e a liberalidade com tudo o que temos, inclusive com os nossos veículos inferiores, com sacrifício de nossa personalidade.

Esses conceitos de Lucas serão repisados em outros passos, fixando e determinando a doutrina de Jesus quanto ao desprendimento.

Para o Espírito, esta é uma lição preciosa. Nada de apegos ao que a personalidade transitória conquistou no planeta, depois que aqui chegou, pois tudo lhe será tirado inexoravelmente. Ou se gasta com o tempo, ou se consome pela velhice, ou nos é roubado pela "morte". Para que, então, lixar o coração em coisas que teremos que abandonar forçados, queiramos ou não? Muito melhor mantermos desde cedo desapegados, para poder ter o voo livre para as regiões etéreas. Nada pertence a ninguém: tudo nos é emprestado por tempo determinado.

Ouvimos pequena história que esclarece bem o tema. 

Certo grande fazendeiro norte-americano, após ouvir um bispo falar sobre o desapego e afirmar "nada é de ninguém", convidou-o a almoçar em sua fazenda. Antes do repasto levou-o a visitar as imensas propriedades cultivadas. Ao regressar na hora do aperitivo, indagou do bispo: 

- Agora diga-me, senhor bispo, tudo isso não é meu? Foi tudo comprado, pago e construído por mim ... Não é MEU?

O bispo calmamente bebeu mais um trago do aperitivo e disse: 

- Faça-me esta pergunta daqui a cem anos! ...

Vemos ainda uma vez, neste trecho comentado, a sabedoria profunda dos ensinamentos de Jesus, que nos trazem a REALIDADE, afastando-nos da ilusão da posse. Tudo o que é de personalidade - inclusive a própria personalidade de que tanto nos envaidecemos - é passageiro, é tudo ilusão (mayá), é tudo perecível.

Cabe então ao Espírito desprender-se de tudo. Precisa viver no mundo REAL, embora entre riquezas terrenas, mas como se as não possuísse, como se DE FATO fossem um empréstimo que ele tivesse por obrigação gerir cuidadosamente.

Além disso, muito cuidado com o coração: jamais coloquemos nossa felicidade em qualquer objeto (ou em qualquer pessoa!) fora de nosso EU verdadeiro, porque se assim não agirmos, seremos infelizes. Tudo o que é externo traz dor e sofrimento. Só o Verdadeiro Esposo, o Cristo, pode constituir nossa felicidade plena e permanente.

Então, os olhos, por onde o Espírito vê, enquanto permanece no corpo físico na Terra, devem estar sempre sadios, sempre SIMPLES, sem apego a coisa alguma no mundo material transitório, a fim de que não invertamos os valores - coisa tão fácil de ocorrer e tão comum no pólo negativo em que se encontram mergulhadas nossas personalidades. Uma vez que penetra pelos olhos a imagem, surge o desejo no coração, e este pode apegar-se e cobiçar o que vê, se for doentio, participando dos vícios da personalidade insaciável. Mas, se for simples e desapegado, continuará a brilhar a luz límpida do desprendimento de tudo.

Daí a conclusão: ou a personalidade se apega aos bens terrenos, prendendo a individualidade, de forma que esta não pode expandir-se; ou a individualidade penetra o Eu Crístico, não dando a menor importância às posses materiais. Por isso, na história, encontramos com frequência muita falta de equilíbrio, daqueles que só conseguiam desapegar-se espiritualmente, quando abandonavam de todo as riquezas. Maior evolução lhes faria compreender que não é disso que se trata: não é desfazer-se fisicamente, mas antes desapegar-se espiritualmente.

Então a lição é preciosa: ou servimos à individualidade (ao Deus Interno) atendendo equilibradamente às necessidades da personalidade; ou servimos à personalidade (às riquezas) com prejuízo da individualidade. Concomitantemente não podemos servir às duas. Quando nos prendemos à personalidade, nós a amamos e aborrecemos o Espírito (Deus em nós), e quando, ao contrário, nos voltamos para a individualidade (Deus) e a Ele nos unimos pelo Contato Místico, então desprezamos a personalidade (no sentido etimológico: isto é, não lhe damos "preço" ou valor).

Por Carlos Torres Pastorino, no Livro Sabedoria do Evangelho, 
volume II, páginas 128 a 130.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O FILHO EGOÍSTA

“Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo, há tantos anos,
sem jamais transgredir um mandamento teu, e nunca me deste um cabrito
para alegrar-me com os meus amigos.”
(LUCAS, 15, 29).
  

A parábola não apresenta somente o filho pródigo. Mais aguçada atenção e encontraremos o filho egoísta.

O ensinamento velado do Mestre demonstra dois extremos da ingratidão filial. Um reside no esbanjamento; o outro, na avareza. São as duas extremidades que fecham o círculo da incompreensão humana.

De maneira geral, os crentes apenas enxergaram o filho que abandonou o lar paterno, a fim de viver nas estroinices do escândalo, tornando-se credor de todas as punições; e raros aprendizes conseguiram fixar o pensamento na conduta condenável do irmão que permanecia sob o teto familiar, não menos passível de repreensão. 

Observando a generosidade paterna, os sentimentos inferiores que o animam sobem à tona e ei-lo na demonstração de sovinice. 

Contraria-o a vibração de amor reinante no ambiente doméstico; alega, como autêntico preguiçoso, os anos de serviço em família; invoca, na posição de crente vaidoso, a suposta observância da Lei Divina e desrespeita o genitor, incapaz de partilhar-lhe o justo contentamento.

Esse tipo de homem egoísta é muito vulgar nos quadros da vida. Ante o bem-estar e a alegria dos outros, revolta-se e sofre, através da secura que o aniquila e do ciúme que o envenena. 

Lendo a parábola com atenção, ignoramos qual dos filhos é o mais infortunado, se o pródigo, se o egoísta, mas atrevemo-nos a crer na imensa infelicidade do segundo, porque o primeiro já possuía a bênção do remorso em seu favor.

Francisco Cândido Xavier pelo espírito Emmanuel no livro "Pão Nosso".


Para fazer download da apresentação utilizada clicar A.Q.U.I.

Para escutar a narração do texto utilize o player abaixo: