Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sábado, 5 de março de 2016

NOTA MENTAL IMPORTANTE: PENSAR DIFERENTE NÃO FAZ DE NINGUÉM SEU INIMIGO

Originalmente publicado no BLOG DO SAKAMOTO.


Política é bom e é sensacional que as pessoas estejam vivendo, fazendo e respirando política.

Mas achei por bem resgatar esta discussão porque a condução coercitiva do ex-presidente Lula para depor na Polícia Federal inflamou as redes sociais, de um lado e de outro, gerando uma escalada de violência que começa a vazar para a rua e tem tudo para tornar mais turvas ainda as relações sociais neste período turbulento do país

Fazer política significa também estômago forte e alma tranquila, considerando que está em jogo a forma pela qual achamos que o país deve ser conduzido.

Ou seja, em tese, o seu interlocutor – seja ele um avatar estranho teclando loucamente em uma rede social ou o seu melhor amigo lançando perdigotos em um debate acalorado – não é seu inimigo.

Ele está no mesmo barco e, também em tese, compartilha com você um mesmo objetivo comum: uma vida melhor.

Enfim, manter um mínimo de civilidade é importante, como sempre lembro por aqui. Até porque o país continua depois que campanhas eleitorais terminam e que grandes investigações de corrupção são finalizadas. O mundo não começou ontem, muito menos acaba amanhã.

Há pessoas que parecem não aceitar serem questionadas. Talvez para afastar os medos e inseguranças sobre suas próprias crenças. E há outras que acham que exercer sua cidadania é xingar ou difamar alguém. Talvez porque aceitem tudo o que é dito a elas sem refletir ou fazer um exercício básico de lógica.

Acreditamos que nossos pontos de vista estão corretos. E defendemos eles de corpo e alma. Mas isso não os faz únicos. Uma outra pessoa pode defender que a forma mais correta de acabar com a fome, a violência, as guerras, a injustiça seja por outro caminho.

Já encontrei respostas para indagações pessoais em pessoas que escrevem sob um ponto de vista totalmente diferente do meu. E, creio, que o mesmo já aconteceu para muita gente.

Desse enfrentamento de ideias e de propostas sairá um vetor resultante que apontará para uma direção, dependendo da correlação de forças envolvidas, dos atores dedicados a isso, da aceitação dessas propostas pelo restante de uma sociedade. E não da vontade de um pequeno grupo.

Eu sei que é duro acreditar nisso neste momento. E, pior: com as redes sociais distribuindo granadas à população para que entre em uma guerra fratricida.

Mas vamos discutir os argumentos que embasam as diferentes posições e não chamar o outro de canalha ou burro, esquerdista idiota ou direita fascista, e travar por aí a discussão.

A saída para contrapor uma voz não é um xingamento, mas sim outra voz.

Discordo o que defendem vários colegas de profissão, mas não quero que eles sejam atacados.

Pelo contrário, desejo que se fortaleçam, bem como as vozes dissonantes a eles, de forma a contemplar devidamente o espectro ideológico, garantindo ponto e contraponto, peso e contrapeso à democracia.

Repetindo Voltaire, discordo, mas defendo o direito de que seja dito. Lembrando, contudo, que os discursos que incitarem a violência a terceiros, indo contra o que está determinado pela Constituição, terão que responder legalmente após serem ditos. 

Nunca antes, pois isso seria censura.

Muitos simplesmente repetem mantras que leem na internet, ouvem em bares ou veem na igreja, desde que concordem com aquilo, sem parar para pensar se aquilo é verdade ou não. Ou seja, desde que isso sirva na sua matriz de interpretação do mundo, retuita-se, compartilha-se, curte-se.

É um Fla-Flu, um nós contra eles cego, que utiliza técnica de desumanização, tornando esse outro uma coisa sem sentimentos.

É mais fácil pensar de forma binária, preto no branco, os de lá, os de cá. “Ah, mas você faz isso!'' Todos nós em alguma medida fazemos, infelizmente. Mas é como percebemos isso e atuamos para mudar nossas atitudes que realmente conta. Afinal, ninguém nasce pronto.

Pois, caso contrário, a vida vai ficando mais pobre, paramos de evoluir como humanidade. Do outro lado sempre estará um monstro e do lado de cá os santos. 

Isso sem contar a impossibilidade de apreciar tudo o que o outro tem de melhor – do ombro amigo à conversa inflamada em uma mesa de bar.

Sugiro que busquem a tolerância no diálogo, mesmo que firme e duro, e se perguntem, a todo o momento, se as informações que usam são confiáveis e fazem sentido, uma vez que nossa natureza não é de certezas e sim de dúvidas e falhas que só poderão ser melhor percebidas no tempo histórico.

sexta-feira, 4 de março de 2016

POLÍCIA FRANCESA PEDE QUE PAIS NÃO POSTEM FOTOS DOS FILHOS NO FACEBOOK

Publicado originalmente em HUFFPOST BRASIL


A polícia nacional da França fez um apelo para que pais "pensem duas vezes" antes de postarem fotos de seus filhos no Facebook.

De acordo com o The Verge, o argumento das autoridades é que a publicação de imagens dos pequenos pode pôr em perigo sua privacidade e sua segurança.

Um estudioso disse ainda que os pais podem ser processados pelos próprios filhos no futuro, por causa da violação de privacidade que divulgar imagens no Facebook representa. De acordo com o Independent, atualmente, as penas por violação de privacidade vão de uma multa de US$ 190 mil até um ano na cadeia.

O post, publicado em forma de advertência, veio após a repercussão do desafio da maternidade, onde mães se propõem a publicar três fotos que mostram o orgulho que têm de seus filhos. 

Além do risco da violação de privacidade, há também o risco de pedófilos se aproximarem das crianças por meio das redes.

O Facebook estuda criar uma ferramenta para alertar sobre as configurações de privacidade quando forem postadas fotos com crianças. 

O TENEBROSO MUNDO DAS "NOVAS" FESTAS INFANTIS

Por Laís Fontenelle, no site OUTRAS PALAVRAS

Bolo, balão, brigadeiro, amigos, familiares e parabéns. Onde encontramos todas essas coisas? Em festas de aniversário, especialmente nas de crianças, é claro! Infelizmente essa afirmação já não é tão óbvia assim nos dias atuais, quando as festas, nas classes médias e elites, ganharam espaços e formatos bem singulares – na maioria das vezes inadequados para os pequenos e massificados pelo mercado.

Sem tempo de preparar as festas dos filhos com a devida atenção os pais, hoje, acabam recorrendo a um mercado extremamente rentável de festas infantis customizadas que fazem tudo sob medida para o aniversariante. Os preços começam de aproximadamente R$ 2,5 mil e chegam até a espantosa soma de R$15 mil, segundo reportagem do ano passado.

Comecei a refletir sobre esse fenômeno no final dos anos 90, por ocasião do boom das festas em bufês. Nelas, a única coisa que remete ao aniversariante e à infância é, muitas vezes, o convite com a assinatura da própria criança. Ao chegar, você se depara com um baú onde deve “depositar o presente ao homenageado” – é esse o verbo usado pela recepcionista que fica na entrada. Depositar o presente, sem se esquecer de anotar seu nome no embrulho, para a criança saber, quando chegar em casa e abrir seu baú cheio de presentes, muitos repetidos, quem foi o “ coleguinha remetente”. Aquela delícia de dar o presente, escolhido a dedo ou feito com as próprias mãos; e de receber, desembrulhar e agradecer parece estar fora de moda.

A festa se desenrola, na maioria das vezes, em horário e com músicas, comidinhas ou brincadeiras nada adequadas à faixa etária convidada. No decorrer da comemoração, o pequeno aniversariante é estimulado, incansavelmente, por animadores que a todo momento nos fazem lembrar que hoje é o seu dia – e não do personagem famoso, geralmente licenciado, estampado nos quatro cantos do salão tentando roubar a cena das crianças.

A decoração em geral não foge ao padrão princesas para as meninas e super heróis para os meninos – como dita Walt Disney. Enquanto isso os pais, aqueles que conseguiram acompanhar seus filhos, ficam geralmente tomando uma bebidinha e jogando conversa fora, num merecido momento de descontração. Mas quem acompanha as crianças nas festas são, muitas vezes, as ditas folguistas – as babás de fim de semana –, que formam um séquito de branco de olhos atentos nos pequenos

No fim da festa, a criança geralmente volta para casa exausta com tantos estímulos sonoros, visuais e gustativos, e um saco cheio de presentes, com uma ressalva para as famílias que pedem doações para crianças carentes no lugar de presentes ao homenageado. Ainda assim, somos levados a questionar o que foi celebrado ali: as conquistas de mais um ano de vida entre amigos e familiares – ou o consumo?

É claro que os bufês infantis foram se modernizando e ganharam novos conceitos que acompanham as tendências das classes mais favorecidas, tais como alimentação mais light, sucos verdes, brigadeiros gourmet, brinquedos mais orgânicos, brindes inovadores e decoração ligada à natureza. Contudo, a essência consumista não mudou em nada e segue impregnada nesse rentável modelo de negócios.

Festas das elites

Mas isso não é tudo. O ano de 2011 marcou o início das festas sobre rodas. Meninas entre 6 e 11 anos, das elites de grandes centros urbanos, começaram a cobiçar festas que acontecem dentro de limusines locadas, geralmente cor de rosa. As mães das pequenas “noivas” alugam esses veículos pelo valor aproximado de dois mil reais para festejar mais um ano da vida de seus filhas, confinadas no trânsito de grande metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo – ao som ensurdecedor de celebridades mirins e ao sabor de doces e refrigerantes.


A festa pode esgotar-se ali mesmo – sem espaço para troca ou movimento –, mas muitas vezes prolonga-se com uma ida a um cabeleireiro ou spa infantil, onde as convidadas podem pintar as unhas, maquiar-se ou exibir penteados arrojados. Exercitam assim o consumismo, valores materialistas e a sexualidade precoce.

E os meninos, peças fundamentais no exercício da brincadeira, e amigos queridos da aniversariante? Ficam de fora, como manda o figurino e o sexismo – desde a mais tenra idade. O sucesso dessas festas foi tão grande que a moda se reinventou e hoje atinge o público adolescente e o adulto com as famosas Festbus, que acontecem dentro de ônibus – transformados num grande salão de festas com pista de dança itinerante.

Já no ano passado o maior hit das festas infantis foram as chamadas festas do pijama, antes reconhecidamente caseiras – quando um grupo seleto de amigos passava a noite na casa do aniversariante. Hoje, mercantilizadas e abocanhadas pelo mercado infantil, têm decoração personalizada, com brindes que podem ir de pijamas e cobertores até tendas ou sacos de dormir, feitos sob medida para os convidados. Estes, depois de passarem horas navegando individualmente em seus tablets, adormecem na casa do amigo e levam os “mimos” para casa.

O velho colchão de dobrar, guardado embaixo da cama ou em cima do armário da casa da vovó saiu de moda, assim como também ligar para mãe que está recebendo os amigos para saber como estão as crianças ou simplesmente agradecer o pernoite. A comunicação entre pais fica restrita a seus filhos via whatsapp, denunciando a perda do sentido de coletividade e comunidade. E quem entretém as crianças são geralmente animadores contratados, com atividades tipo guerra de travesseiro.

Em pouco tempo, este tipo de festa tornou-se a principal escolha de meninas entre 6 e 11 anos – como previu uma empresa carioca pioneira em festas para crianças que criou, inclusive, uma cartela de opções para o que chama de minisleep. Ideias para lá de “criativas” compõem o cardápio da empresa: festas de culinária, festas em sítios, focadas em futebol e onde mais sua imaginação e recursos financeiros puderem alcançar. Outra empresa focada nesse mercado inventa o que seu desejo mandar para a festa dos seus filhos, sem que você precise sequer sair de casa e desde, claro, que possa pagar por isso.

Vale dizer que até o singelo bolinho na escola ganhou novos contornos, estimulados pela própria instituição de ensino – que deveria ter o papel de fomentar outros valores e formas de homenagear o aniversariante. Hoje, o famoso “parabéns” em sala de aula pode ser acompanhado por uma roda de presentes, enviados pelas famílias para o “dono do dia”, que sai da escola com um saco de 15 presentes ou mais, sendo que, muitas vezes, nenhum tem a autoria do amigo. Presente feito coletivamente na escola, cantoria de músicas ou algo que o valha parecem valores esquecidos, numa sociedade que mercantilizou as datas comemorativas e tem ensinado às crianças que, para ser, é preciso ter.

Mudaram, portanto, os valores, e não apenas os locais das festas. O que é transmitido para as crianças quando seu aniversário é festejado dentro de salões de beleza ou limusines? O que elas vão querer na festa de quinze anos ou no dia do casamento? O que pensar de famílias que se endividam o ano inteiro para isso e que, quando a festa acaba, já querem saber da criança o que ela pretende ter na festa do ano que vem?”.

Cabe aos pais essa reflexão, numa tentativa de reinventar, criativamente, a comemoração do aniversário de seus filhos, de uma forma mais sustentável e que valha a pena rememorar no futuro. E, claro, às escolas cabe a reflexão sobre o lugar social que ocupam na vida dessas famílias – lugar que deveria ser de formação para cidadania e não de bufê infantil.

Mas, nem tudo está perdido. A tendência contrária são as comemorações ao ar livre, em parques, com a criançada correndo solta atrás da bola, entre as árvores. Foi reconfortante receber um convite da festa de aniversário do filho de amigos, feito pela própria criança. A comemoração foi no Jardim Botânico do Rio. Lá, tive a chance de entregar o presente na mão da criança e lanchar delícias feitas pelas tias e avós. Tudo muito original, com o lugar decorado por um grande mural de fotos dos momentos vividos no último ano pelo aniversariante e seus amigos, que ali estavam. No fim, o “dono do dia” carregava um saco não tão grande de presentes, mas um enorme sorriso no rosto. Ele pode partilhar, com pessoas importantes na sua vida, conquistas e atividades que ficarão na memória. E o brinde foi um cd, gravado pelo seu pai e ilustrado pelo irmão mais velho, com suas músicas preferidas. Isso, sim, merece ser festejado!

Laís Fontenelle Pereira, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio e autora de livros infantis, é especialista no tema Criança, Consumo e Mídia. Ativista pelos direitos da criança frente às relações de consumo, é consultora do Instituto Alana, onde coordenou durante 6 anos as áreas de Educação e Pesquisa do Projeto Criança e Consumo.

quinta-feira, 3 de março de 2016

EVANGELHO PARA UMA NOVA CIÊNCIA

Físico quântico indiano Amit Goswami propõe a conciliação entre a Ciência e a espiritualidade, e contribui para validar conceitos da Psicologia como inconsciente

Por Marcelo Galli*

Publicado originalmente no Portal Ciência e Vida.

O físico quântico indiano Amit Goswami é referência mundial sobre a conciliação entre a "Ciência Dura", mais especificamente a Física Quântica, e a espiritualidade. A nova ciência que ele propõe, segundo o próprio, está ajudando a Psicologia a se desenvolver ao contribuir para a validação de conceitos usados internamente pela disciplina e que não têm lastro científico.

"Na Psicologia está uma das maiores aplicações dessa nova ciência", disse, em entrevista à Psique Ciência & Vida. "Pudemos desde o começo explicar a distinção entre consciência e inconsciência e isso deu um impulso para a Psicanálise, para as teorias de Jung, para a Psicologia de forma geral, e definitivamente para a Psicologia Transpessoal", explicou.

Na visão dele, que se tornou mundialmente conhecido ao participar e expor suas ideias no filme Quem Somos Nós?, de 2005, o Brasil é importante para o desenvolvimento do seu trabalho porque no País as emoções ainda são valorizadas, diferente de muitos países ocidentais, em que a racionalidade é superestimada e menospreza, tais quais as experiências pessoais e profundas como a intuição.  Segundo Amit, o não reconhecimento da emoção é barreira, por exemplo, para se lidar com as emoções negativas. "A economia montada no Ocidente, especialmente nos EUA, é um exemplo de como emoções negativas podem ser dispensáveis, como a ganância. Dessa maneira, fica claro que superestimar a racionalidade é um erro".

Formado em Física Quântica pela Universidade de Calcutá, Índia, Amit é professor emérito do Departamento de Física da Universidade de Oregon, EUA. No Brasil já publicou os seguintes livros pela editora Aleph: A Física da Alma, O Universo Autoconsciente, Criatividade Quântica, Deus Não Está Morto, Evolução criativa das espécies, Médico Quântico e a Janela visionária. O físico esteve recentemente no Brasil divulgando mais um trabalho, O Ativista Quântico, em que ele volta a se apoiar em princípios desse ramo da Física para apontar o potencial da consciência e mostra como essa nova perspectiva pode influenciar a mudança de valores da sociedade e ajudar as pessoas a viverem melhor.

Você acredita que a proposição do seu trabalho, ou seja, a união entre ciência e espiritualidade, seja a expressão de uma nova era que está por vir ou já está acontecendo?
Goswami: Sim, e eu também acredito que dessa vez será uma permanente união porque a Ciência agora é baseada em metafísica espiritual consciência é a base de todo ser graças à Física Quântica. Essa é uma era de integração em geral, especificamente entre a Ciência e a espiritualidade. Esse movimento já acontece em alguma medida, mas tanto na comunidade científica quanto na religiosa há muita inércia. O movimento é lento, mas está tomando forma, podemos esperar muitas mudanças nas próximas décadas.

Qual é o motivo dessa inércia?
Goswami: Existem muitos interesses ocultos. O ponto é que a Ciência teve problemas filosóficos, paradoxos, por décadas. Mesmo quando a Física Quântica apareceu, em 1925, naquela época as pessoas que eram filosoficamente orientadas souberam que a Ciência Clássica materialista não funcionava. Fomos adiante, resolvemos paradoxos, não há questão no espírito da Ciência que possa resistir, mas há muito dinheiro envolvido, as pessoas vivem disso. Demora um tempo para cederem, como a Igreja não cedeu sobre Galileu ou Newton e manteve sua posição por muito tempo. 

Algumas teorias do físico alemão Werner Heisenberg seguem a mesma direção das suas proposições, não?
Goswami: Ele foi o primeiro a sugerir que a consciência é importante na mudança de possibilidades quânticas na realidade. Ele disse que o colapso do evento, nome técnico para a mudança da possibilidade na realidade, é uma mudança do nosso conhecimento. O que é o nosso conhecimento? É o que chamamos de consciência, é saber. Ele estava consciente de que a nossa consciência envolve todas as possibilidades de mudanças na realidade. 

Qual é a explicação quântica para Deus?
Goswami: Na nova ciência, Deus é o agente causal. Interações materiais produzem possibilidades para (Deus) a consciência escolhê-las. A Física Quântica diz que Deus é uma questão científica porque a questão é se Deus tem poder causal. Nessa disciplina temos essas possibilidades quânticas que são previstas pela matemática, mas nossas possibilidades de mudança na realidade, por outro lado, não são previstas pela matemática. A questão que surge é como isso acontece, porque isso de fato acontece.
Em cada observação, em cada experimento, nunca vemos possibilidades, mas eventos nas nossas experiências. Essa é uma questão de Deus. Existe alguma outra causação além da causação material? Esse Deus não é um Deus da tradição religiosa popular, ele é baseado em teoria, em tradições filosóficas espirituais. Por que não admitir que existe uma tradição que essa nova ciência está redescobrindo? A cada momento temos fenômenos que não têm interações materiais, e isso pode ser identificado porque eles têm características de não sinal, não localidade, há uma descontinuidade. Qualquer causação que não é material pode ser chamada dessa maneira.

É uma questão de se acreditar?
Goswami: Não é fé, porque temos teoria e tecnologia para prová-la. É como a eletricidade, você não pode ver, mas está ali. Temos teorias, experimentos datados e tecnologia científica na base dessa nova ciência. Tecnologia que está curando pessoas, que nos dá uma nova fonte de energia que não a material e que pode ser economicamente usada, e que já é utilizada.

No mundo das humanidades, quem você acha que chegou perto de fazer essa ponte entre ciência e espiritualidade?
Goswami: O psicólogo Carl Jung chegou bem perto. Os psicólogos já propuseram essa metafísica espiritual para algumas práticas psicológicas, o que eles chamam de Psicologia Transpessoal. Eles estão em sincronia com a nova visão quântica. E também a medicina alternativa, mas o poder estabelecido impede que essas técnicas sejam ensinadas no ensino da Medicina tradicional. Porém, existem muitas instituições de medicina alternativa que ensinam no mundo todo e estão produzindo conteúdo. Biologia também vai responder às mudanças porque há fatos que o darwinismo não pode explicar.

Na Psicologia, como essa troca pode ajudar a explicar alguns fenômenos?
Goswami: Na Psicologia está uma das maiores aplicações dessa nova Ciência. Na Psicologia Transpessoal temos a metafísica, eles corretamente avançaram no sentido de considerar a consciência como a base do ser humano. Mas a metafísica não tem base científica no sentido que a Psicologia Transpessoal aborda. A Física Quântica está dando as bases científicas para essa disciplina. Sigmund Freud introduziu o conceito de 'inconsciente' e esse termo é usado amplamente em terapia, mas ainda não há bases científicas para comprová-lo. Em ciência materialista, a Psicanálise é denominada de psicologia vodu. Mas pudemos desde o começo explicar a distinção entre consciência e inconsciência, e isso deu um impulso para a Psicanálise, para as teorias de Jung, para a Psicologia de forma geral, e definitivamente para a Psicologia Transpessoal.

Como suas teorias contribuíram para o desenvolvimento de temas da Psicologia?
Goswami: A nova Ciência está me ajudando a integrar ramos e conceitos da Psicologia. Por exemplo, interno e externo, Psicologia Convencional e Psicologia Transpessoal. São coisas difíceis de fundamentar partindo puramente de um ponto de vista psicológico.

Como a cura quântica pode ajudar a Psicologia?
Goswami: Esse é outro exemplo de como conceitos da Física Quântica são cruciais para entender a relação de cura entre mente e corpo.

Quando escuto você falar em consciência coletiva penso sobre as chamadas mídias socias como Facebook e twitter. Você já analisou o fenômeno da mídia social à luz da sua teoria?
Goswami: No mínimo, seremos capazes de utilizar a conexão local para provocar a consciência não local, quando necessário. Essas mídias poderiam ter um componente de coletividade. A interconexão está crescendo em um senso local, mas no futuro seremos capazes de usar esse gatilho local para alcançar consciência não local. Estou estudando sobre o tema. Talvez, com essas comunidades, possamos inventar um tipo de conceito e com mais compreensão fazer nossas interações se tornarem reais e acessar consciência não local de um modo coletivo. A internet trouxe algumas esperanças, mas temos que saber como materializá-las.

Você sempre usa a palavra 'sutil' nas suas entrevistas e escritos. Existe uma falta de sutileza para entender o mundo?
Goswami: Não, eu quero dizer isso mais literalmente. As experiências sutis que temos são verdadeiramente sutis. Por exemplo, elas são privadas. Nossas experiências intuitivas são tão sutis que apenas temos tempo para fazer a representação mental delas quando somos conscientes delas. Temos três compartimentos das nossas experiências internas: sentimento, pensamento e intuição, esses três juntos formam o corpo sutil, e temos o corpo físico.

As teorias de William James sobre consciência influenciaram seu trabalho de alguma maneira?
Goswami: Eu não havia lido James até depois que eu escrevi O Universo Autoconsciente.

Conte um pouco sobre sua aproximação com o psiquiatra tcheco Stan Grof, um dos pioneiros da Psicologia Transpessoal.
Goswami: Fico muito feliz em contar que em uma conferência recente sobre Psicologia Transpessoal em Moscou, enquanto escutava as ideias dele mais uma vez, elas iluminaram em minha mente a maneira como integrar o trabalho dele à corrente principal da Psicologia. Estou escrevendo um artigo sobre o tema. Eu e ele temos algumas ideias paralelas, ele sempre foi muito receptivo em relação ao meu trabalho no sentido de que podemos integrar a Psicologia à Ciência, da maneira que estamos desenvolvendo. O trabalho dele está contribuindo para o desenvolvimento do ser humano porque a nova ciência jogou nova luz sobre a sua teoria. Experiências do tipo pré-natal e perinatal. Através dessas experiências é possível descobrir aspectos da viagem de reencarnação, e a nova Física pode validá-las. Esse é um aspecto interessante do trabalho de Grof.

Alguns estão rotulando a época em que vivemos com a "era da ansiedade". Qual é o estudo do "doutor quântico" ou do "psicólogo quântico" sobre esse fenômeno?
Goswami: Emoções negativas de maneira geral, não só a ansiedade, são o nosso maior problema. Minha solução é tentar fazer circuitos emocionais positivos em massa. De acordo com a nova teoria baseada na ideia do biólogo e pesquisador da telepatia, Rupert Sheldrake, de campos não locais morfogenéticos, esses circuitos podem ser herdados por toda a humanidade em poucas gerações.

Na sua visão, o que é a mente? Memórias, Sentimentos?
Goswami: 'Mente' é o nome que comumente as pessoas usam para o local onde se armazena nossas experiências internas. Memórias são mais do que o que é armazenado no cérebro. Existem componentes não locais disso que ajudam a explicar a reencarnação. E sentimento vem das nossas experiências de movimentos de energia vital. A nova Ciência distingue dois aspectos da mente. Um é a consciência, que é o grande terreno da existência onde matéria e mente existem. Dizemos que matéria é a experiência externa e a mente é a interna. Ao mesmo tempo, também reconhecemos que esse é o sentido geral do que seja a mente, mas também o específico do termo. Reconhecemos também que a mente mais amplamente pode ser classificada em três aspectos.
Um deles é como energia, chamado de energia vital. Depois vem o que podemos chamar de pequena mente, que é pensamento, sentido. E a terceira pode ser chamada de supramental porque é dada no contexto do pensamento, é a ideia de onde nossos valores vêm, de onde intuímos. Só acessamos a região supramental por meio da intuição, ou seja, temos uma intuição e fazemos a representação dela em pensamento. É melhor se fizermos essa distinção.

Como o Brasil e a sua cultura podem contribuir para o desenvolvimento do seu trabalho?
Goswami: Bastante. Em 1996, quando eu apresentei pela primeira vez meu trabalho para o público brasileiro, a resposta emocional realmente me tocou e soube que o País é importante para o meu trabalho. Estamos realmente indo adiante com o movimento do ativismo quântico no Brasil, que é um país único atualmente, muito parecido com a Índia de alguma maneira, porque as emoções ainda são valorizadas no Brasil. Um dos grandes problemas dos países ocidentais é de serem muito racionais.
Quando uma sociedade se torna muito racional ela não valoriza sentimento e também intuição. Não reconhecendo a emoção, não podemos lidar com as emoções negativas. Ninguém pode evitar emoções negativas porque são instintivas, nós as seguimos sem sabê-lo. Apesar da racionalidade do ocidente, a violência continua. Por quê? Somos guiados pelas emoções. A economia montada no ocidente, especialmente nos EUA, é um exemplo de como emoções negativas podem ser dispensáveis, como a ganância... Dessa maneira, fica claro que superestimar a racionalidade é um erro.

Um certo declínio dos valores ocidentais, reflexo da crise econômica de 2008, poderá fazer com que seu trabalho seja mais conhecido?
Goswami: Sim. As condições da crise estão só piorando até que nós mudemos nossa visão de mundo do materialismo científico para o idealismo monista. Repito, consciência é a base de todo ser humano.

Ainda sobre a crise econômica. A desorientação das finanças mundiais contribuiu para a mudança de modelos e padrões?
Goswami: Os modelos não foram trocados ainda, mas sim a consciência de que o capitalismo, como está estabelecido, próximo do modelo de filosofia do cientificismo materialista, não funciona, falhou. Esse capitalismo não é mais o original proposto por Adam Smith. Esse sistema é caracterizado por algumas ideias da Ciência materialista, como transformar a Economia em matemática. É uma péssima ideia, você nunca pode precisar o porquê da decisão de uma pessoa em comprar um produto. É completamente irracional fundamentar isso por meio da matemática. Esses são alguns erros que devem ser corrigidos. Eu já propus a Economia Espiritual, e gostaria de contribuir para solucionar o problema.

E como funcionaria essa nova modalidade de capitalismo?
Goswami: A ideia é simples. Há muito tempo eu reconheci que as necessidades dos seres humanos são mais do que materiais. Esse capitalismo atual foi estabelecido para satisfazer as necessidades materiais. Precisamos estender esse sistema para incluir como valores, necessidades mais elevadas, energia vital, necessidades de sentido mental, e até necessidades intuitivas. Quando fazemos isso estamos espiritualizando a Economia.

Tendo em vista as teorias defendidas por você, seria possível um Amit Goswami ter aparecido num país ocidental? Digo isso por causa da tradição espiritual do seu país de origem.
Goswami: Acredito que cedo ou tarde alguém descobriria a base espiritual da Ciência. As coisas estão mudando, o oriente está ficando mais materialista e o ocidente mais espiritual. O sempre acreditou em intuição. Espiritualidade aparece através da intuição, e sempre acreditamos [os orientais] na intuição, porque experiências intuitivas dão crédito aos experimentos. Nunca tivemos problemas com a espiritualidade. O ocidente, por outro lado, sempre foi cético em relação a esse tipo de experiência. O que satisfaz a mente ocidental é a possibilidade de provar uma teoria por meio de um experimento.
O ocidente foi cético sobre a espiritualidade até agora porque ela não pode ser certificada por meio de testes. Mas agora as teorias sobre Deus e espiritualidade são verificáveis e podem ser desenvolvidas tecnologias a partir dessa base.

Qual foi a sua maior dificuldade para dar o passo na direção do pensamento de caráter espiritual, já que você era materialista?
Goswami: Minha grande dificuldade foi abandonar a crença materialista de que a consciência é um fenômeno do cérebro.

Qual foi o motivo da sua mudança para uma abordagem mais espiritual?
Goswami: Minha visão de mundo foi totalmente invertida em um salto quântico de criatividade. Fui materialista por muito tempo. Estava dando uma conferência sobre Física Nuclear e não sentia que estava fazendo um bom trabalho, as outras apresentações eram melhores do que a minha, eu estava insatisfeito com o meu desempenho e sentia inveja da performance dos outros. Aquela energia foi esmagadora. Percebi que tinha uma desconexão entre o jeito em que eu vivia e o jeito que ganhava a vida. Eu quis reintegrar a minha vida. Fui procurar e descobri afortunadamente a nova metafísica para fazer Ciência.

O que você diria para um cético que, apesar de ter lido toda esta entrevista, não acredita nas suas teorias?
Goswami: Eu diria: "Por que você está escolhendo ser não científico? Quando há dados e teoria, não é mais discutível. É enfrentá-lo e aceitá-lo. Você só vai estar mais integrado e será mais feliz por causa disso".

*Marcelo Galli é jornalista e colabora com esta publicação.



terça-feira, 1 de março de 2016

PERDÃO DAS OFENSAS II


Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si próprio; perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era. Perdoai, pois, meus amigos, a fim de que Deus vos perdoe, porquanto, se fordes duros, exigentes, inflexíveis, se usardes de rigor até por uma ofensa leve, como querereis que Deus esqueça de que cada dia maior necessidade tendes de indulgência? Oh! ai daquele que diz: “Nunca perdoarei”, pois pronuncia a sua própria condenação. Quem sabe, aliás, se, descendo ao fundo de vós mesmos, não reconhecereis que fostes o agressor? Quem sabe se, nessa luta que começa por uma alfinetada e acaba por uma ruptura, não fostes quem desferiu o primeiro golpe, se vos não escapou alguma palavra agressiva, se não procedestes com toda a moderação necessária? Sem dúvida, o vosso adversário andou mal em se mostrar excessivamente suscetível; mais uma razão para serdes indulgentes e para não vos tornardes merecedores do reproche que lhe lançastes. Admitamos que, em dada circunstância, fostes realmente ofendido: quem dirá que não envenenastes as coisas por meio de represálias e que não fizestes degenerasse em querela grave o que houvera podido cair facilmente no olvido? Se de vós dependia impedir as conseqüências do fato e não as impedistes, sois culpados. Admitamos, finalmente, que nenhuma censura tendes a vos fazer: mostrai-vos clementes e com isso só fareis que o vosso mérito cresça.

Mas, há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitas pessoas dizem, com referência ao seu adversário: “Eu lhe perdoo”, mas, interiormente, alegram-se com o mal que lhe advém, comentando que ele tem o que merece. Quantos não dizem: “Perdoo” e acrescentam: “mas, não me reconciliarei nunca; não quero tornar a vê-lo em toda a minha vida.” Será esse o perdão, segundo o Evangelho? Não; o perdão verdadeiro, o perdão cristão é aquele que lança um véu sobre o passado; esse o único que vos será levado em conta, visto que Deus não se satisfaz com as aparências. Ele sonda o recesso do coração e os mais secretos pensamentos. Ninguém se lhe impõe por meio de palavras e de simulacros vãos. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é peculiar às grandes almas; o rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade. Não olvideis que o verdadeiro perdão se reconhece muito mais pelos atos do que pelas palavras. – Paulo, apóstolo. (Lyon,1861.)

Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo X
Bem-aventurados os que são misericordiosos
Instruções dos Espíritos

PERDÃO DAS OFENSAS I

Quantas vezes perdoarei a meu irmão? Perdoar-lhe-eis, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes. Aí tendes um dos ensinos de Jesus que mais vos devem tocar a inteligência e mais alto falar ao coração. Confrontai essas palavras de misericórdia com a oração tão simples, tão resumida e tão grande em suas aspirações, que ensinou a seus discípulos, e o mesmo pensamento se vos deparará sempre. Ele, o justo por excelência, responde a Pedro: perdoarás, mas ilimitadamente; perdoarás cada ofensa tantas vezes quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmo, que torna uma criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e às injúrias; serás brando e humilde de coração, sem medir a tua mansuetude; farás, enfim, o que desejas que o Pai celestial por ti faça. Não está ele a te perdoar freqüentemente? Conta porventura as vezes que o seu perdão desce a te apagar as faltas?

Prestai, pois, ouvidos a essa resposta de Jesus e, como Pedro, aplicai-a a vós mesmos. Perdoai, usai de indulgência, sede caridosos, generosos, e mesmo pródigos do vosso amor. Dai, que o Senhor vos restituirá; perdoai, que o Senhor vos perdoará; abaixai-vos, que o Senhor vos elevará; humilhai-vos, que o Senhor fará vos assenteis à sua direita.

Ide, meus bem-amados, estudai e comentai estas palavras que vos dirijo da parte daquele que, do alto dos esplendores celestes, vos tem sempre sob as suas vistas e prossegue com amor na tarefa ingrata a que deu começo faz dezoito séculos. Perdoai aos vossos irmãos, como precisais que se vos perdoe. Se seus atos pessoalmente vos prejudicaram, mais um motivo aí tendes para serdes indulgentes, porquanto o mérito do perdão é proporcionado à gravidade do mal. Nenhum merecimento teríeis em relevar os agravos dos vossos irmãos, desde que não passassem de simples arranhões.

Espíritas, jamais vos esqueçais de que, tanto por palavras, como por atos, o perdão das injúrias não deve ser um termo vão. Pois que vos dizeis espíritas, sede-o. Olvidai o mal que vos hajam feito e não penseis senão numa coisa: no bem que podeis fazer. Aquele que enveredou por esse caminho não tem que se afastar daí, ainda que por pensamento, uma vez que sois responsáveis pelos vossos pensamentos, os quais todos Deus conhece. Cuidai, portanto, de os expungir de todo sentimento de rancor. Deus sabe o que demora no fundo do coração de cada um de seus filhos. Feliz, pois, daquele que pode todas as noites adormecer, dizendo: Nada tenho contra o meu próximo. – Simeão. (Bordeaux, 1862.) 

Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo X 
 Bem-aventurados os que são misericordiosos 
 Instrução dos Espíritos

O PERDÃO


SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS
MÉDIUM: SR. A. DIDIER

Como se pode achar em si a força para perdoar? A sublimidade do perdão é a morte do Cristo no Gólgota. Ora, eu já vos disse que o Cristo tinha resumido em sua vida todas as angústias e lutas humanas. Todos os que mereciam o nome de cristãos diante de Jesus Cristo morreram com o perdão nos lábios. Os defensores das liberdades oprimidas, os mártires das verdades e das grandes causas de tal modo compreenderam a elevação e a sublimidade de sua vida que não faliram no último instante e perdoaram. Se o perdão de Augusto não é inteiramente sublime historicamente, o Augusto de Corneille, o grande trágico, é senhor de si como do Universo, porque perdoa. Ah! Como são mesquinhos e miseráveis os que possuíam o mundo e não perdoavam! Como é grande aquele que continha, no futuro dos séculos, todas as humanidades espirituais e que perdoou! O perdão é uma inspiração e, por vezes, um conselho dos Espíritos. Infelizes os que fecham o coração a essa voz. Eles serão punidos, como diz a Escritura, porque tinham ouvidos e não escutaram. Então! Se quereis perdoar; se vos sentis fracos diante de vós mesmos, contemplai a morte do Cristo. Quem conhece a si próprio triunfa facilmente de si mesmo. Eis por que o grande príncipe da sabedoria antiga sabia, antes de tudo, conhecer-se a si próprio. Antes de se lançar à luta ensinava-se aos atletas para os jogos, para as lutas grandiosas, os meios seguros de vencer. Ao lado disso, nos liceus, Sócrates ensinava que havia um Ser Supremo e, algum tempo depois, séculos antes do Cristo, ensinava toda a nação grega a morrer e a perdoar.

O homem vicioso, mesquinho e fraco, não perdoa. O homem habituado às lutas pessoais, às reflexões justas e sãs, perdoa facilmente.

LAMENNAIS

Revista Espírita - 1862 - Dissertações Espíritas

SAIBA O QUE É O PERDÃO GENUÍNO E COMO ELE PODE BENEFICIAR SUA SAÚDE


Por Itamar Melo, no JORNAL ZERO HORA.

Se você anda em busca de uma prática que melhore a condição cardíaca, reforce as defesas do organismo e combata o estresse, não precisa procurar mais: experimente o perdão. Item tradicional e obrigatório no portfólio das franquias religiosas, desculpar as ofensas ganhou novo fôlego no mercado, reembalado como remédio eficaz contra males variados, status conferido por uma série de estudos científicos recentes.

O problema é que ainda não se pode entrar em uma farmácia e adquirir perdão em comprimidos. O processo é bem mais trabalhoso do que isso. Envolve superar rancores, engavetar planos de vingança e reconciliar-se com quem nos feriu. E trata-se de um medicamento que não admite genéricos. Para colher os frutos, é necessário que o perdão seja genuíno, de coração.

— Perdoar é fazer as pazes com não alcançar aquilo que você queria. Essa atitude reduz o estresse físico e mental, confere otimismo para que uma pessoa tenha sucesso nas coisas da vida e melhora os sistemas nervoso, cardiovascular e imunológico. Tudo é perdoável, mas não por todo mundo. Nem sempre é a pior ofensa que não se consegue perdoar, mas, sim, aquela que causa mais dano ou que foi mais inesperada. É preciso praticar o perdão, começando pelas pequenas coisas, para aprender a perdoar — disse a ZH um dos papas do assunto, o psicólogo Frederic Luskin, diretor do Projeto Perdão, da Universidade Stanford (EUA).

Luskin é reconhecido por ter elaborado um programa em nove passos que ajuda a superar o ressentimento e alcançar o nirvana do "o que passou, passou". Outro pesquisador renomado, Everett Worthington, da Virginia Commonwealth University (EUA), desenvolveu um sistema mais sintético, em cinco etapas, conhecido como REACH, para chegar ao que chama de perdão emocional. Ele explica o conceito:

— Existem dois tipos de perdão. O decisional é aquele em que se toma a decisão de agir de determinada forma em relação ao agressor, sem vingança e tratando-o como um ser humano de valor. Já o perdão emocional significa substituir emoções negativas, como ressentimento, amargura, ódio e medo, por emoções positivas, como empatia, simpatia, compaixão e amor pelo agressor.

Empatia é fundamental

Não por acaso, Luskin e Worthington são norte-americanos. Encarar o perdão como prática terapêutica é uma área bem desenvolvida nos Estados Unidos, onde há inúmeras pesquisas realizadas sobre o tema e abundância de profissionais capacitados a oferecer tratamento específico. No Brasil, é algo pouco difundido. Introdutor do conceito no país e investigador do assunto há mais de 20 anos, Júlio Rique Neto, coordenador do grupo de pesquisa em desenvolvimento sócio-moral da Universidade Federal da Paraíba, afirma que o ideal, para uma pessoa que está sofrendo por não conseguir perdoar, seria consultar um terapeuta. Mas ele reconhece que faltam profissionais habilitados.

— No meu trabalho, chamou a atenção o fato de que, na hora de uma injustiça, quando querem se livrar da raiva, a primeira iniciativa das pessoas é buscar a igreja. Muitas relatam ter passado por um processo semelhante ao que eu trabalhava, refletindo diante da imagem de um santo de devoção ou na conversa com um padre ou pastor.

O que estou querendo dizer é que talvez a autoridade religiosa possa ser uma boa figura de orientação para o caminho do perdão. Eu não seria contra. Talvez religiosos sejam até mais preparados do que um psicólogo ou um terapeuta sem conhecimento da área, que não valorize a necessidade do cliente de perdoar — observa.

Como escasseiam no Brasil os profissionais especializados, o pesquisador da Paraíba oferece algumas dicas para quem quer construir o perdão por conta própria. O primeiro passo, afirma, é reconhecer a injustiça e a dor resultante dela.

Em seguida, a vítima deve avaliar se as tentativas feitas para superar a dor trouxeram resultado positivo, analisar se ela própria já foi capaz de provocar injustiças em contextos semelhantes e tentar encontrar algo de bom na pessoa que causou a mágoa.

— Geralmente, são pessoas próximas, então elas têm uma história passada, elas têm momentos agradáveis juntos. Recomendo recuperar um pouco o lado bom daquela pessoa. E, finalmente, perguntar o que pode tê-la levado a agir daquela forma. Dessa forma, a vítima vai ter de sair da sua dor e se colocar no lugar do outro. A empatia é fundamental. No final, o comportamento não é perdoado, mas o outro enquanto pessoa pode ser. Perdoar significa ter capacidade de argumentar e de não sofrer ao falar de uma injustiça sofrida e tentar reconciliar a partir da mudança de comportamento do outro — afirma Rique Neto.

Os benefícios do perdão

Saúde cardíaca

Perdoar, mostram diferentes estudos, tem entre seus efeitos reduzir a pressão arterial, o que pode prevenir problemas do coração. Um estudo de 2011, feito com casais, mostrou que, quando um perdoava o outro, ambos registravam redução da pressão arterial. Outro trabalho, da New York University, feito com pacientes cardíacos, mostrou que aqueles com propensão a perdoar tinham menos ansiedade e depressão, além de apresentar menores níveis de colesterol.

Expectativa de vida

Um estudo do Luther College (EUA), publicado em 2011 no Journal of Behavioral Medicine, aponta que pessoas capazes de perdoar incondicionalmente podem viver mais, em comparação com as pessoas que só perdoam quando alguém se desculpa.

Fortalecimento do sistema imunológico

Portadores do vírus HIV que perdoaram alguém registraram um incremento nas células de defesa, segundo um trabalho desenvolvido em 2011 no Duke University Medical Center (EUA), sugerindo que o perdão pode ter efeitos positivos para o sistema imunológico.

Saúde mental e redução do estresse

Uma série de estudos associou a dificuldade de perdoar a emoções como raiva e tristeza e a reações fisiológicas que incluem tensão muscular, suor e aumento da pressão arterial. O perdão tem a capacidade de reduzir esses efeitos negativos, contendo a ansiedade, a depressão e a ira. Até o sono fica melhor. Pesquisas apontam também que a capacidade de perdoar protege contra os efeitos negativos do estresse na saúde mental.

Redução do cortisol

Perdoar reduz níveis do hormônio cortisol, o que além de ser bom para controlar o estresse no curto prazo pode trazer benefícios mais duradouros: no longo prazo, altos níveis podem afetar várias funções do organismo, incluindo cérebro, sistema digestivo e sistema cardiovascular.

Em paz consigo mesmo

No caso das pessoas que sentem remorso por algo que fizeram, a reconciliação com a vítima pode ter efeito terapêutico, conforme uma pesquisa publicada no Journal of Positive Psychology. De acordo com o trabalho, obter o perdão ajuda a pessoa a também se autoperdoar.

8 RAZÕES PELAS QUAIS O PERDÃO FAZ BEM PRA SUA SAÚDE


Publicado originalmente em REVISTA GALILEU.

Perdoar é o ato consciente de abrir mão do ressentimento ou do desejo de vingança contra alguém que, de alguma forma, causou algum mal – mesmo que a pessoa não mereça. Ao contrário do que muitos acreditam, o ato não necessariamente implica no esquecimento dos agravos. A definição é do Greater Good Science Center (Centro de Ciências do Bem Maior, em tradução livre), órgão vinculado à Universidade de Berkeley, na Califórnia.

Um número cada vez maior de pesquisas indica que o perdão, longe de ser um gesto de pouca importância, proporciona uma série de benefícios à saúde. Qualquer pessoa pode se tornar mais indulgente através de hábitos como desenvolver a empatia, focar no lado bom das coisas e expressar melhor os próprios sentimentos. Confira abaixo todos os benefícios mentais e físicos de aprender a perdoar:

1 - Perdoar incondicionalmente pode fazer você viver mais 

Um estudo de 2011 do Journal of Behavioral Medicine mostrou que pessoas que praticam o perdão condicional, ou seja, aquelas que só são capazes de perdoar caso a outra parte peça desculpas ou prometa não repetir a ofensa, têm propensão a morrer mais cedo do que os que perdoam incondicionalmente. Os pesquisadores explicaram que o pedido de desculpas pode ajudar a dar um “arranque” no processo – mas se for indispensável, as chances para um perdão verdadeiro diminuem muito. “Aqueles que causam uma ofensa nem sempre vão satisfazer tais condições, e a parte ofendida não tem o poder de fazer com que ocorram”, escreveram.

2 - Perdoar te deixa menos nervoso 

Estar cronicamente nervoso causa efeitos na pressão arterial e no batimento cardíaco, enquanto perdoar de verdade pode levar a uma redução no stress e, portanto, a conter o nervosismo. “Existe um enorme fardo físico em estar machucado e desapontado”, disse a doutora Karen Swartz em um comunicado do Hospital Johns Hopkins. Persistir no ressentimento, além de aumentar a irritação, também provoca tristeza e sentimentos de perda de controle, segundo um estudo de 2001 do jornal Psychological Science. Ficar preso ao rancor causa aumento em atividades fisiológicas como tensão dos músculos da face, batimento cardíaco, pressão arterial e suor, de acordo com o site WebMD.

3 - Melhora a sua saúde em todos os sentidos (até o sono!) 

Perdoar alguém é um verdadeiro remédio que atua em instâncias que vão desde a qualidade do sono até a fadiga, reduzindo sentimentos e patologias prejudiciais à saúde como a tensão, raiva e depressão. Pesquisadores da Universidade do Tennessee descobriram que a “limpeza” destas emoções negativas desempenha um papel importante para a manutenção do bem-estar. “A vítima renuncia às ideias de vingança, e se sente menos hostil, irritada ou chateada a respeito das experiências”, escreveram no artigo.

4 - Fazer as pazes te ajuda a perdoar a si próprio 

Quando quem fez algo errado foi você, ser absolvido pela pessoa que você magoou ajuda substancialmente no processo de autoperdão, descobriram pesquisadores da Universidade Baylor. Em um estudo publicado no Journal of Positive Psychology, eles descobriram que quem pede perdão por um agravo tem maiores chances de perdoar a si mesmo. “Uma barreira que as pessoas enfrentam para perdoarem a si próprias é que elas pensam que merecem se sentir mal. Nosso estudo descobriu que fazer as pazes nos dá permissão para deixar as coisas passarem”, disse em um comunicado Thomas Carpenter, um dos autores do artigo.

5 - Seu coração agradece 

O principal motivo é que a prática da indulgência se mostrou capaz de diminuir a pressão arterial em diversas pesquisas. Em 2011, um estudo publicado no jornal Personal Relationships mostrou que quando uma pessoa perdoa a outra, ambas apresentam redução na pressão arterial. De acordo com os autores, a pesquisa foi a primeira a provar que os “culpados” também são agraciados com um funcionamento fisiológico positivo: quanto mais conciliador for o comportamento da vítima, maior será a queda na pressão dos perpetradores.

6 - Pode trazer benefícios ao sistema imunológico 

Uma pesquisa apresentada em um encontro de 2011 da Sociedade de Medicina Comportamental dos EUA descobriu que portadores do vírus HIV que perdoavam de verdade alguém que os havia magoado apresentavam um maior nível de células CD4, consideradas positivas para o sistema imunológico. “Os resultados comprovam nossas hipóteses e refletem descobertas anteriores sobre as relações entre fatores psicossociais com marcadores imunológicos em pessoas vivendo com HIV/AIDS, e as descobertas indicam que o perdão a outra pessoa pode trazer benefícios à saúde delas”, disse a pesquisadora Amy Owen, do Centro Médico da Universidade Duke. 

7 - Pode fortalecer seu relacionamento depois de uma traição 

Perdoar o parceiro ou parceira após uma traição pode ser a chave para salvar ou até fortalecer o seu relacionamento, diz um estudo publicado pela American Psychological Association. Os pesquisadores da Universidade de Missouri-Kansas City mostraram que, nestes casos, o perdão facilitou e muito o processo de recuperação do trauma da infidelidade, garantindo mais satisfação na relação e mais comprometimento mútuo.

8 - Quem perdoa pode se proteger do stress a longo prazo 

Possuir a habilidade de perdoar prediz uma saúde positiva tanto mental quanto física, de acordo com um estudo publicado este ano no Journal of Health Psychology. Os pesquisadores também notaram que a indulgência parece proteger contra os efeitos negativos do stress na saúde mental. “Nós descobrimos que a severidade do stress não estava relacionada com a saúde mental para pessoas que eram boas em perdoar, estava significativamente associada com uma saúde mental pior para pessoas que exibem níveis moderados de perdão, e mais fortemente relacionada com uma saúde mental pior para participantes exibindo os níveis mais baixos de capacidade de perdoar”, escreveram.