Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

domingo, 17 de julho de 2016

O ESPIRITISMO NÃO FAZ MILAGRES


Do livro A Gênese, de Allan Kardec - Capítulo XIII - Características dos milagres.

O Espiritismo vem, pois, por sua vez, fazer o que cada ciência fez no seu advento: revelar novas leis e explicar, conseguintemente, os fenômenos compreendidos na alçada dessas leis. Esses fenômenos, é certo, se prendem à existência dos Espíritos e à intervenção deles no mundo material. Ora, dizem, é justamente nisso que consiste o sobrenatural, mas, então, seria preciso provar que os Espíritos e suas manifestações são contrários às leis da natureza; que aí não há, nem pode haver, a ação de uma dessas leis.

O Espírito nada mais é do que a alma sobrevivente ao corpo; é o ser principal, visto que não morre, enquanto o corpo não passa de um acessório que se destrói. Sua existência, portanto, é tão natural depois, como durante a encarnação; está submetido às leis que regem o princípio espiritual, como o corpo está sujeito às leis que regem o princípio material; mas como esses dois princípios têm necessária afinidade, como reagem incessantemente um sobre o outro, como da ação simultânea deles resultam o movimento e a harmonia do conjunto, segue-se que a espiritualidade e a materialidade são duas partes de um mesmo todo, tão natural uma quanto a outra, não sendo, pois, a primeira uma exceção, uma anomalia na ordem das coisas.

Durante a sua encarnação, o Espírito atua sobre a matéria por intermédio do seu corpo fluídico ou perispírito, dando-se o mesmo quando ele não está encarnado. como Espírito, faz o que fazia o homem, na medida de suas capacidades; apenas, por já não ter o corpo carnal para instrumento, serve-se, quando necessário, dos órgãos materiais de um encarnado, que vem a ser o que se chama médium. Procede então como alguém que, não podendo escrever por si mesmo, se vale de um secretário, ou que, não sabendo uma língua, recorre a um intérprete. O secretário e o intérprete são os médiuns do encarnado, do mesmo modo que o médium é o secretário ou o intérprete de um Espírito.

Já não sendo o mesmo no estado de encarnação o meio em que os Espíritos atuam e os modos por que atuam, os efeitos também são diferentes. Tais efeitos só parecem sobrenaturais porque se produzem com o auxílio de agentes que não são os de que nos servimos. Desde, porém, que esses agentes estão na natureza e as manifestações se dão em virtude de certas leis, nada há de sobrenatural ou de maravilhoso. Antes de se conhecerem as propriedades da eletricidade, os fenômenos elétricos passavam por prodígios aos olhos de certa gente; a partir do momento em que se conheceu a causa, desapareceu o maravilhoso. Dá-se o mesmo com os fenômenos espíritas, que não saem mais das leis naturais do que os fenômenos elétricos, acústicos, luminosos e outros, que serviram de fundamento a uma imensidão de crenças supersticiosas.

Entretanto, dir-se-á, admitis que um Espírito pode levantar uma mesa e mantê-la no espaço sem ponto de apoio; não é isso uma derrogação da lei da gravidade? — sim, da lei conhecida. Conhecem-se, porém, todas as leis? Antes que se houvesse experimentado a força ascensional de certos gases, quem diria que uma pesada máquina, transportando vários homens, pudesse triunfar da força de atração?Aos olhos do vulgo, isso não pareceria maravilhoso, diabólico? Aquele que, há um século, tivesse proposto a transmitir um telegrama a 500 léguas e receber a resposta dentro de alguns minutos teria passado por louco; se o fizesse, teriam acreditado estar o diabo às suas ordens, porque então só o diabo era capaz de andar tão depressa. Hoje, no entanto, não só se reconhece possível o fato, como ele parece muito natural. Por que, pois, um fluido desconhecido não teria a propriedade de contrabalançar, em dadas circunstâncias, o efeito da gravidade, como o hidrogênio contrabalança o peso do balão? É, com efeito, o que ocorre no caso de que se trata. 

Estando na natureza, os fenômenos espíritas se hão produzido em todos os tempos; mas precisamente porque seu estudo não podia ser feito pelos meios materiais de que dispõe a ciência vulgar, permaneceram muito mais tempo do que outros no domínio do sobrenatural, de onde o Espiritismo agora os retira. Baseado em aparências inexplicáveis, o sobrenatural deixa livre curso à imaginação que, a vagar pelo desconhecido, gera as crenças supersticiosas. Uma explicação racional, fundada nas leis da natureza, reconduzindo o homem ao terreno da realidade, fixa um ponto de parada aos transviamentos da imaginação e destrói as superstições. Longe de ampliar o domínio do sobrenatural, o Espiritismo o restringe até os seus extremos limites e lhe derruba o último refúgio. Se é certo que ele faz crer na possibilidade de alguns fatos, não menos certo é que, por outro lado, impede a crença em muitos outros, porque demonstra, no campo da espiritualidade, a exemplo da ciência no âmbito da materialidade, o que é possível e o que não o é. Todavia, como não alimenta a pretensão de haver dito a última palavra seja sobre o que for, nem mesmo sobre o que é da sua competência, ele não se apresenta como absoluto regulador do possível e deixa de lado os conhecimentos reservados ao futuro.

Os fenômenos espíritas consistem nos diferentes modos de manifestação da alma ou Espírito, seja durante a encarnação, seja no estado de erraticidade. É pelas manifestações que produz que a alma revela sua existência, sua sobrevivência e sua individualidade; julga-se dela pelos seus efeitos; sendo natural a causa, o efeito também o é. São esses efeitos que constituem objeto especial das pesquisas e do estudo do Espiritismo, a fim de chegar-se a um conhecimento tão completo quanto possível da natureza e dos atributos da alma, como das leis que regem o princípio espiritual.

Para os que negam a existência do princípio espiritual independente e, por conseguinte, negam a existência da alma individual e sobrevivente, a natureza toda está na matéria tangível; todos os fenômenos que se referem à espiritualidade são, para esses negadores, sobrenaturais e, portanto, quiméricos. Não admitindo a causa, não podem admitir os efeitos e, quando estes são patentes, eles os atribuem à imaginação, à ilusão, à alucinação e se negam a aprofundá-los. Daí a opinião preconcebida que os torna inaptos a apreciar judiciosamente o Espiritismo, porque partem do princípio da negação de tudo que não seja material.

Embora o Espiritismo admita os efeitos, que são a consequência da existência da alma, não se segue que admita todos os efeitos qualificados de maravilhosos e que se proponha a justificá-los e dar-lhes crédito; que se faça campeão de todos os devaneios, de todas as utopias, de todas as excentricidades sistemáticas, de todas as lendas miraculosas. Seria preciso conhecê-lo muito pouco para pensar assim. Seus adversários julgam opor-lhe um argumento sem réplica, quando, depois de terem feito eruditas pesquisas sobre os convulsionários de Saint-Médard (153), sobre os calvinistas das Cevenas (154), ou sobre os religiosos de Loudun (155), chegaram a descobrir fatos patentes de embuste, que ninguém contesta. Mas essas histórias serão, porventura, o evangelho do Espiritismo? Seus adeptos já terão negado que o charlatanismo haja explorado em proveito próprio alguns fatos? Que a imaginação os tenha criado? Que o fanatismo os haja exagerado muitíssimo? Ele não é mais solidário com as extravagâncias que se cometam em seu nome do que a ciência com os abusos da ignorância e a verdadeira religião com os abusos do fanatismo. Muitos críticos julgam o Espiritismo pelos contos de fadas e pelas lendas populares, ficções daqueles contos. O mesmo seria julgar a História pelos romances históricos e pelas tragédias.

Na maior parte das vezes os fenômenos espíritas são espontâneos e se produzem sem nenhuma ideia preconcebida da parte das pessoas com que eles se dão e que, em regra, são as que neles menos pensam. Existem alguns que, em certas circunstâncias, podem ser provocados pelos agentes denominados médiuns. no primeiro caso, o médium é inconsciente do que se produz por seu intermédio; no segundo, age com conhecimento de causa, de que resulta a classificação de médiuns conscientes e médiuns inconscientes. Estes últimos são os mais numerosos e se encontram com frequência entre os mais obstinados incrédulos que, assim, praticam o Espiritismo sem o saberem, nem quererem. Por isso mesmo, os fenômenos espontâneos têm capital importância, visto não se poder suspeitar da boa-fé dos que os obtêm. Dá-se aqui o que se dá com o sonambulismo que, em certos indivíduos, é natural e involuntário, enquanto em outros é provocado pela ação magnética (156).

Quer esses fenômenos resultem ou não de um ato da vontade, a causa primeira é exatamente a mesma e em nada se afasta das leis naturais. Os médiuns, portanto, não produzem coisa alguma de sobrenatural; por conseguinte, não fazem nenhum milagre. As próprias curas instantâneas não são mais milagrosas do que os outros efeitos, já que resultam da ação de um agente fluídico, que desempenha o papel de agente terapêutico, suas propriedades não deixam de ser naturais por terem sido ignoradas até agora. O epíteto de taumaturgos, dado a certos médiuns pela crítica ignorante dos princípios do Espiritismo é, pois, totalmente impróprio. A qualificação de milagres atribuída, por comparação, a esta espécie de fenômenos, somente pode induzir em erro sobre o verdadeiro caráter deles.

A intervenção de inteligências ocultas nos fenômenos espíritas não os torna mais milagrosos do que todos os outros fenômenos devidos a agentes invisíveis, porque esses seres ocultos que povoam os espaços são uma das forças da natureza, força cuja ação é incessante sobre o mundo material, tanto quanto sobre o mundo moral.

Esclarecendo-nos acerca dessa força, o Espiritismo nos dá a solução de uma imensidade de coisas inexplicadas e inexplicáveis por qualquer outro meio e que, em tempos recuados, passaram por prodígios. Do mesmo modo que o magnetismo, ele revela uma lei, se não desconhecida, pelo menos mal compreendida; ou, melhor dizendo, conheciam-se os efeitos, porque eles se produziram em todos os tempos, porém não se conhecia a lei, e foi o desconhecimento desta que gerou a superstição. Conhecida essa lei, desaparece o maravilhoso e os fenômenos entram na ordem das coisas naturais. Eis por que os espíritas não operam milagres quando fazem que uma mesa se mova sozinha, ou que os mortos escrevam, do mesmo modo que o médico não opera um milagre quando faz que um moribundo reviva, ou o físico, quando faz que o raio caia. Aquele que pretendesse fazer milagres com o auxílio desta ciência ou seria um ignorante do assunto ou um enganador de tolos.

Considerando-se que o Espiritismo repudia toda pretensão às coisas miraculosas, fora da sua esfera haverá milagres, na acepção usual desta palavra?

Digamos, primeiramente, que entre os fatos reputados milagrosos, ocorridos antes do advento do Espiritismo e que ainda ocorrem no presente, a maior parte, se não todos, encontram explicação nas novas leis que ele veio revelar. Esses fatos, portanto, se compreendem, embora sob outro nome, na ordem dos fenômenos espíritas e, como tais, nada têm de sobrenatural. Fique, porém, bem entendido que só nos referimos aos fenômenos autênticos, e não aos que, com a denominação de milagres, são produto de uma indigna charlatanice, com vistas a explorar a credulidade. Tampouco nos referimos a certos fatos lendários que podem ter tido, originariamente, um fundo de verdade, mas que a superstição ampliou até o absurdo. É sobre esses fatos que o Espiritismo vem projetar luz, fornecendo meios de separar a verdade do erro.

(153) - N.E.: Em 1729, no Cemitério de Saint-Médard, junto ao túmulo do diácono Francisco de Paris, morto em 1727 e considerado homem muito caridoso, começaram a ocorrer milagres, pessoas passaram a visitar o túmulo e lá sofriam convulsões e se autoinfligiam torturas.

(154) - N.E.: Protestantes franceses que foram expatriados por pegarem em armas após a revogação do Édito de Nantes (1685); eram assim chamados por vestir camisa sobre suas roupas.

(155) - N.E.: A Possessão das Freiras de Loudun foi um suposto conjunto de possessões demoníacas que ocorreram em Loudun, França, em 1634; as freiras sofreram convulsões e proferiram linguagem abusiva.

(156) - Nota de Allan Kardec: O livro dos Médiuns, Segunda parte, cap. V; Revista espírita – exemplos: agosto e dezembro de 1865.

CAUSAS DA ESCANDALOSA FALTA DE ÉTICA NO BRASIL


Publicado originalmente em LeonardoBoff.com

O país, sob qualquer ângulo que o considerarmos, é contaminado por uma espantosa falta de ética. O bem é só bom quando é um bem para mim e para os outros; não é um valor buscado e vivido por si mesmo; mas o que predomina é a esperteza, o dar-se bem, o ser espertinho, o jeitinho e a lei de Gerson.

Os vários escândalos que se deram a conhecer, revelam um falta de consciência ética alarmante. Diria, sem exagero, que o corpo social brasileiro está de tal maneira putrefato que onde quer que aconteça algum pequeno arranhão já mostra sua purulência.

A falta de ética se revela nas mínimas coisas, desde as mentirinhas ditas em casa aos pais, a cola na escola ou nos concursos, o subordo de agentes da polícia rodoviária quando alguém é surpreendido numa infração de trânsito, desviar dinheiros públicos, beneficiar-se de cargos, enganar nos preços, em jogar lixo na calçada e até em fazer pipi na rua.

Essa falta generalizada de ética deita raízes em nossa pré-história.É uma consequência perversa do que foi a colonização. Ela impôs ao colonizado a submissão, a total dependência à vontade do outro e a renúncia a ter a sua própria vida. Estava entregue ao arbítrio do invasor. Para escapar da punição, se obrigava a mentir, a esconder intenções e a fingir. Isso levava a uma corrupção da mente. A ética da submissão e do medo leva fatalmente a uma ruptura com a ética (cf. J. Le Goff, O medo no Ocidente), quer dizer, começa a faltar com a verdade, a nunca poder ser transparente e, quando pode, prejudica seu opressor. O colonizado se obrigou, como forma de sobrevivência, a mentir e a encontrar um “jeitinho” de burlar a vontade do senhor. A Casa Grande e a Senzala são um nicho, produtor de falta de ética: pela relação desigual de senhor e de escravo. O ethos do senhor é profundamente anti-ético: ele pode dispor do outro como quiser pois é apenas uma “peça” como se dizia, a todo momento estava pronto a abusar sexualmente das escravas e a vender seus filhos pequenos para que não tivessem apego a eles. Nada de mais cruel, anti-ético e perverso do que a destruição dos laços de mãe e filhos.

Esse tipo de ética desumana criou hábitos e práticas que, de uma forma ou de outra, continuam,no inconsciente coletivo de nossa sociedade.

A abolição da escravatura ocasionou uma maldade ética imperdoável: alforiaram-se os escravos, mas sem fornecer-lhes um pedacinho de terra, uma casinha e um instrumento de trabalho. Foram lançados diretamente na favela. E hoje por causa de sua cor e pobreza são discriminados, humilhados e as primeiras vítimas da violência policial e social.

A situação, em sua estrutura, não mudou com a República. Os antigos senhores coloniais foram substituídos pelos coronéis e senhores de grandes fazendas e capitães da indústria. Aí as pessoas eram ultra-exploradas e feitas totalmente dependentes. Os comportamentos não eram éticos no sentido do respeito mínimo às pessoas e à garantia de seus direitos básicos. A relação era de medo e de uso de violência ou repressão. Foram feitos carvão para a produção como costumava dizer Darcy Ribeiro.

As relações de produção capitalista (em si altamente questionáveis eticamente pela relação desigual entre capital e trabalho) que se introduziram no Brasil pelo processo de industrializção e modernização foram selvagens. Nosso capitalismo nunca foi civilizado pois nunca foi possível uma verdadeira luta de classes (que tem suas regras), no sentido de equilibrar os interesses antagônicos. Ele guardou sua voracidade de acumulação como nas origens no século XVIII e XIX o que se vê claramente no sistema bancário atual, cujas taxas de juros são das mais altas do mundo e os lucros exorbitantes.

A exploração impiedosa da força de trabalho, os baixos salarios são situações eticamente malévolas pelo grau de desumanidade e de injustiça que encerram impondo privações e muito sofrimento às famílias.

Como superar essa situação que nos envergonha? Ela dura séculos e foi praticamente naturalizada. Como ouvi de uma pessoa ilustrada que acusava como corrupto um politico honrado que eu defendia. Sua resposta foi típica: se roubou foi esperto e se não roubou foi um bobo. Assim não dá…

Antes de fazer qualquer sugestão minima, importa fazer uma auto-crítica. Que educação deram as centenas de escolas católicas e cristas e as 16 universidades católicas (pontifícias ou não) a seus estudantes? Bastava terem-lhe ensinado o mínimo da mensagem de Jesus de amor aos pobres contra sua pobreza e comprometê-los em mudanças necessárias para que sua situação hoje fosse menos malvada.

Elas se transformaram, em boa parte, nem todas, em chocadeiras dos opressores. De lá sairam diretores de empresas exploradores, economistas de um liberalism feroz e funcionários públicos sem senso do bem comum, Segundo o motto estabelecido: “o que é de todos não é de ninguém, portanto, posso me apropriar dele tranquilamente”.

A catequese foi doutrinalesca, interessada mais na reta doutrina e menos no reto comportamento. Criou-se um cristianismo cultural que até prescinde da fé. Não foi um cristianismo de fé comprometida com a justiça social e com o destino das grandes maiorias pobres e discriminadas.

Como é possível que num país majoritariamente cristão vigore tanta injustiça, insensibilidade, discriminação social e humilhação de negros e pobres? Alguma coisa errada ocorreu em nossos processos de transmissão da mensagem libertadora e humanizadora de Jesus a ponto de os corruptos e corruptores cristãos, quase todos cristãos, sequer terem a má consciência do que fazem. É a resposta que o deputado Severino Cavalcanti, cassado de seu mandato por corrupção, deu a alguém que lhe perguntou se ia se suicidar: “não me suicido porque sou cristão”. Que signfificou para ele o fato de ser cristão? Nada.

Por isso, os que sairam das escolas cristãs não se distinguiramk pela incidência social numa perspectiva de transformação. São antes pela manutenção do status quo do que por mudanças.

Nem por isso queremos olvidar nomes notáveis em vários estratos sociais para os quas o cristianismo foi uma escola de humanização e de compromisso com a sorte dos mais vulneráveis. Infelizmente não foram eles que definiram o rumo de nossa história de corrupção.

Para superarmos a crise da ética não bastam apelos moralizantes, sempre tão fáceis, mas uma transformação da sociedade. Antes de ser ética, a questão é política, pois esta, a política, é estruturada em relações profundamente anti-éticas.

Já faríamos muito se assumíssemos a pregação do primo de Jesus, seu precursos, São João Batista. Aos que lhe perguntavam o que deviam fazer, respondia:”Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem nenhuma, e o mesmo faça a quem não tem alimentos”. Traduzindo para a nossa situação seria: “seja solidário e não deixe de ajudar os mais necessitados”. Aos cobradores de impostos lhes dizia:” Não exija mais do que a taxa definida”. À polícia respondia:”não pratiques torturas nem chantagens contra ninguém (delação premiada?) e contente-se com seu salário.”

Deixando para trás o permanente valor da mensagem ética de João Batista,diria para ser brevíssimo: tudo deve começar pela família. Criar caráter (um dos sentidos de ética) nos filhos e filhas, formá-los na busca do bem e da verdade para não se deixarem seduzir pela lei de Gerson e evitar, sistematicamente, o jeitinho. Princípio básico de toda e qualquer ética: tratar sempre humanamente a cada ser humano.

Tomar absolutamente sério a lei áurea que é testemunhada em todas as tradições culturais e religiosas: “não faça ao outro o que não quer que te façam a ti”. Ou “ame o próximo como a ti mesmo” que na versão do evangelho de São Jão e de São Francisco é assim traduzida:”ame o outro mais que a ti mesmo”; “que eu procure mais consolar que ser consolado, mais compreender do que ser comprendido, mais amar do que ser amado.”

Siga o preceito de Kant: que o princípio que te leva fazer o bem, seja válido também para os outros.    Oriente-se pelos dez mandamentos, escritos na Bíblia como forma de ordenar a vida social do Povo de Deus e, que no fundo, são universalmente válidos. Traduzidos para hoje: o “não matar” significa, venere a vida, cultive uma cultura da não violência. O “não roubar”: aja com justiça e correção e lute por uma ordem econômica justa. O “não cometer adultério”: amem-se e respeitem-se mutuamene, e obriguem-se a uma cultura da igualdade e pareceria entre o homem e a mulher.

Isso é o mínimo que poderíamos fazer para arejar um pouco a atmosfera ética de nosso país.

Repetindo o grande Aristóteles, o mestre da ética ocidental: ”não refletimos para saber o que seja a ética, mas para tornarmo-nos pessoas éticas”.

Leonardo Boff foi professor de ética na UERJ e em Heidelberg.

EVANGELHO NO CHÃO DA VIDA


Publicado originalmente por Eder Casagrande no site O Cafezinho.

Um senhor branco de bochecha rosada ficou viúvo. Ele mora em frente ao ponto de ônibus. É comum vê-lo no portão de sua garagem; ora recolhendo as folhas que caíram da árvore; ora com os braços pra fora, quieto, olhando o movimento da rua que não visita mais, ou pelo menos quase nunca. Às vezes ele usa chapéu. Mora com seu filho e seu cachorro, mas parece só. O seu Paulinho, dono da mercearia, reparou que ele murchou depois que perdeu a esposa; nem a cachacinha, nem o dia ensolarado lhe animava mais. Sua vizinha do outro lado da rua, Irene, mulher de uns 40 e poucos, passou a visita-lo com frequência. Toda manhã ela checa se ele está bem, se está comendo direito ou se precisa de algum cuidado especial. Além disso, ela tem insistido pra que ele saia de casa e caminhe com ela pela rua. Apesar de sua resistência, ela tenta persuadi-lo carinhosamente, como as mulheres bem sabem. Ele cede. Ela sorri. Eles caminham e conversam. Ele até esboça uma alegriazinha. Irene quer mais; o convida pra almoçar com sua família. Ele reluta. Ela insiste. Ele cede.

Irene, essa interesseira irreparável, só quer que ele se abra um tantinho assim, que não se entregue à clausura e solidão.

Os dias seguem iguais; Irene tentando transformar tormento em boa esperança.

***

Uma mulher jovem e seu filho piquinininho saíram pra almoçar num desses fast foods. O dia estava bonito, o shopping lotado. Hora de almoço, alvoroço. Ficaram na fila. Pediram. Ela o segurava pela mão, atenta. O menino parecia ter 4 aninhos, no máximo. Ela usava um laço lilás no cabelo. Escolheu uma mesa e sentaram-se. Acomodou o pequeno na cadeira. Abriu a embalagem. Colocou na mão dele o pacotinho de batata frita. Ele olhou pra ela e disse: - obrigado mamãe, meigo e com a pronúncia perfeita. Sua boquinha dava conta de comer um filete de batata por vez.

Essa cena tão corriqueira de grandes cidades passaria despercebida não fosse a atenção especial de um rapaz. Ele viu tudo. Mais ainda; o “obrigado mamãe” dito pelo niño invadiu seu peito com força, de tal modo que seu dia, pautado por uma rotina repetitiva cheia de coisas vãs, ganhou outro significado.

É difícil encontrar uma palavra que defina o que lhe ocorreu.

Epifania?

Revelação?

Catarse?

O fato é que sua dimensão misteriosa e profunda foi visitada.

***

Moradores de um bairro periférico da grande São Paulo costumavam fazer um buraco no muro da escola pra jogar futebol de salão fora do horário de aula. O problema era antigo; apesar da alternância na direção ao longo dos anos, nenhuma solução havia sido encontrada. Nenhum dos lados cedia e o muro seguia em constante reparo.

Até o dia em que uma diretora porreta decidiu dialogar com os moradores. Para ela a questão era simples: a escola estadual pertence à comunidade, logo, a comunidade poderia usufruir seu espaço, contanto que respeitasse a agenda escolar. A diretora explicou. Os moradores entenderam. Ambos concordaram. O muro agradeceu.

Ficou decidido que o portão da quadra ficaria sem cadeado, possibilitando a entrada de quem quisesse.

Algumas pessoas, entre elas professores e moradores do bairro, fizeram pressão pra que sua decisão fosse revogada, alegando que o patrimônio público seria destruído. Ela ficou firme e não retrocedeu.

Sua convicção residia no fato de que na periferia não moram bichos, mas gente.

Nenhum problema aconteceu até então.

***

O amor é um verbo. O Evangelho é ação amorosa. É também percepção e consciência sobre as consequências dessas ações ou da ausência delas.

Como bem diz um querido pregador: Deus escolheu ser amado no próximo!

terça-feira, 12 de julho de 2016

TODOS SÃO CAMINHOS

"[...] por que essa porta tão estreita, que é dada ao menor número transpor, se a sorte da alma está lixada para sempre depois da morte? É assim que, com a unicidade da existência, se está incessantemente em contradição consigo mesmo e com a justiça de Deus. Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se amplia...” (E.S.E. Capítulo 18, item 5.)



Também os caminhos inadequados que tomamos ao longo da vida são parte essencial de nossa educação. A cada tropeço é preciso aprender, levantar novamente e retornar à marcha.

Tudo o que sabemos hoje aprendemos com os acertos e erros do passado, e cada vez que desistimos de alguma coisa por medo de errar estamos nos privando da possibilidade de evoluir e viver.

A estrada por onde transitamos hoje é nossa via de crescimento espiritual e nos levará a entender melhor a vida, no contato com as múltiplas situações que contribuirão com o nosso potencial de progresso.

Devemos, no entanto, indagar de nós mesmos: “Será este realmente meu melhor caminho?” “Porventura é correta a senda por onde transito?”

É justa a observação e têm propósito nossas dúvidas; por isso, raciocinemos juntos: se Deus, perfeição suprema, nos criou com a probabilidade do engano, modelando-nos de tal forma que pudéssemos encontrar um dia a perfeição, é porque contava com nossos encontros e desencontros na jornada existencial.

Se nos gerou falíveis, não poderá exigir-nos comportamentos sempre irrepreensíveis, pois conhece nossas potencialidades e limites. Se criaturas como nós aceitamos as falhas dos outros, por que o Criador em sua infinita compreensão não nos aceitaria como somos? Pessoas não condenam seus bebês por eles não saberem comer, falar e andar corretamente; por que espíritos ainda imaturos pagariam por atos e pensamentos que ainda não aprenderam a usar convenientemente, pela sua própria falta de madureza espiritual?

O que pensar da Bondade Divina, que permite que as almas escolham seu roteiro, de acordo com o livre-arbítrio, e depois cobrasse aquilo que elas ainda não adquiriram?

A Divindade é “Puro Amor” e sabe muito bem de nossos mananciais espirituais, mentais, psicológicos e físicos, ou seja, de nossa idade evolutiva, pois habita em nosso interior e sempre suaviza nossos caminhos.

Na justa sucessão de espaço e tempo, condizente com o nosso grau de visão espiritual, recebemos, por meio do fluxo divino, a onipresença, a onisciência e a onipotência do Criador em forma de “senso de rumo certo”, para trilharmos as rotas necessárias à ampliação de nossos sentimentos e conhecimentos.
Diz a máxima: “Não se colhem figos dos espinheiros”; (Lucas 6, 44.) ora, como impor metas sem levar em conta a capacidade de escolha e de discernimento dos indivíduos?

Efetivamente, nosso caminho é o melhor que podíamos escolher, porque em verdade optamos por ele, na época, segundo nosso nível de compreensão e de adiantamento. Se, porém, achamos hoje que ele não é o mais adequado, não nos culpemos; simplesmente mudemos de direção, selecionando novas veredas.

A trilha que denominamos “errada” é aquela que nos possibilitou aprendizagem e o sentido do nosso “melhor”, pois sem o erro provavelmente não aprenderíamos com segurança a lição.

Nós mesmos é que nos provamos; a cada passo experimentamos situações e pessoas, e delas retiramos vantagens e ampliamos nosso modo de ver e sentir, a fim de crescermos naturalmente, desenvolvendo nossa consciência.

Ninguém nos condena, nós é que cremos no castigo e por isso nos autopunimos, provocando padecimento com nossos gestos mentais.

Aceitemos sem condenação todas as sendas que percorremos. Todas são válidas se lhes aproveitarmos os elementos educativos, porque, assim somadas, nos darão sabedoria para outras caminhadas mais felizes.

Mesmo aquelas trilhas que anotamos como caminhos do mal, não são excursões negativas de perdição perante a vida, mas somente equivocadas opções do nosso livre-arbítrio, que não deixam de ser reeducativas e compensatórias a longo prazo.

Cada um percorre a estrada certa no momento exato, de conformidade com seu estado de evolução. Tudo está certo, porque todos estamos nas mãos de Deus.

Hammed (Espírito) através de Francisco do Espírito Santo Neto, 
no livro "Renovando Atitudes".

TERRA - BÊNÇÃO DIVINA

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” – Jesus. (Jo, 3:16.)

Não amaldiçoes o mundo que te acolhe.

Nele encontras a Bênção Divina, envolvente e incessante, nas bênçãos que te rodeiam.

O regaço materno…

O refúgio do corpo…

O calor do berço…

O conforto do lar…

O privilégio da oração…

O apoio do alfabeto…

A luz do conhecimento…

A alegria do trabalho…

A riqueza da experiência…

O amparo das afeições…

Do mundo recebes o pão que te alimenta e o fio que te veste.

No mundo respiraram os heróis de teu ideal, os santos de tua fé, os apóstolos de tua inspiração e as inteligências que te traçaram roteiro.

O Criador não no-la ofertou por exílio ou prisão, mas por escola regenerativa e abrigo santo, qual divino jardim a pleno céu, esmaltado de sol, durante o dia, e envolvido de estrelas, durante a noite.

Se algo nele existe que o tisna de lágrimas e empesta de inquietação, é a dor de nossos erros…

Não te faças, assim, causa do mal no mundo, que, em todas as expressões essenciais, consubstancia o Bem Maior em si mesmo.

Lembra-te de que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, 
no livro "Palavras de Vida Eterna". 

É PORQUE IGNORAM

“E isto vos farão, porque não conhecem ao Pai nem a mim.” Jesus.
(Jo 16,3.)

Dolorosas perplexidades não raro assaltam os discípulos, inspirando-lhes interrogações.

Por que a desarmonia, em torno do esforço fraterno?

A jornada do bem encontra barreiras sombrias.

Tenta-se o estabelecimento da luz, mas a treva penetra as estradas. Formulam-se projetos simples para a caridade que a má-fé procura perturbar ao primeiro impulso de realização.

Quase sempre, a demonstração destrutiva parte de homens assinalados pela posição de evidência, indicados pela força das circunstâncias para exercer a função de orientadores do pensamento geral. São esses que, na maioria das ocasiões, se arvoram em expositores de imposições e exigências descabidas.

O aprendiz sincero de Jesus, todavia, não deve perder tempo com interrogações e ansiedades que se não justificam.

O Mestre Divino esclareceu esse grande problema por antecipação.

A ignorância é a fonte comum do desequilíbrio. E se esse ou aquele grupo de criaturas busca impedir as manifestações do bem, é que desconhece, por enquanto, as bênçãos do Céu.

Nada mais que isto.

É necessário, pois, esquecer as sombras que ainda dominam a maior parte dos setores terrestres, vivendo cada discípulo na luz que palpita no serviço do Senhor.

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, 
no livro "Pão Nosso". 

quinta-feira, 7 de julho de 2016

A CARNE É FRACA


Há tendências viciosas que são evidentemente inerentes ao Espírito, porque se devem mais ao moral do que ao físico; outras parecem mais consequência do organismo, e, por esse motivo, acredita-se que se é menos responsável: tais são as predisposições à cólera, à moleza, à sensualidade, etc.

É perfeitamente reconhecido hoje em dia, pelos filósofos espiritualistas, que os órgãos cerebrais, correspondendo às diversas aptidões, devem seu desenvolvimento à atividade do Espírito; que esse desenvolvimento é assim um efeito e não uma causa. Um homem não é músico porque tem a bossa da música, mas ele só tem a bossa da música porque seu Espírito é músico.

Se a atividade do Espírito reage sobre o cérebro, ela deve reagir igualmente sobre as outras partes do organismo. O Espírito é assim o artesão de seu próprio corpo, que ele modela, por assim dizer, a fim de adequá-lo a suas necessidades e à manifestação de suas tendências. Dado isso, a perfeição do corpo das raças avançadas não seria o produto de criações distintas, mas o resultado do trabalho do Espírito, que aperfeiçoa sua ferramenta à medida que suas faculdades aumentam.

Por uma consequência natural desse princípio, as disposições morais do Espírito devem modificar as qualidades do sangue, dar-lhe mais ou menos atividade, provocar uma secreção mais ou menos abundante de bile ou outros fluidos. É assim, por exemplo, que o guloso sente vir saliva à boca à vista de um prato apetitoso. Não é o prato que pode excitar o órgão do paladar, visto que não há contato; é portanto o Espírito, cuja sensualidade está desperta, que age, pelo pensamento, sobre esse órgão, ao passo que, sobre um outro, a vista desse prato não produz nenhum efeito. É ainda pela mesma razão que uma pessoa sensível derrama facilmente lágrimas; não é a abundância das lágrimas que dá a sensibilidade ao Espírito, mas é a sensibilidade do Espírito que provoca a secreção abundante das lágrimas. Sob o império da sensibilidade, o organismo adequou-se a essa disposição normal do Espírito, como se adequou à do Espírito guloso.

Seguindo esta ordem de ideias, compreende-se que um Espírito irascível deve impelir ao temperamento bilioso; de onde decorre que um homem não é colérico porque é bilioso, mas que é bilioso porque é colérico. O mesmo ocorre com todas as outras disposições instintivas; um Espírito mole e indolente deixará seu organismo num estado de atonia em relação com seu caráter, ao passo que, se for ativo e enérgico, dará a seu sangue, a seus nervos qualidades completamente diferentes. A ação do Espírito sobre o físico é tão evidente, que se veem com frequência graves desordens orgânicas se produzir pelo efeito de violentas comoções morais. A expressão vulgar: A emoção modificou-lhe o sangue não é tão desprovida de sentido quanto se poderia crer; ora, o que pôde modificar o sangue, senão as disposições morais do Espírito?

Pode-se então admitir que o temperamento é, ao menos em parte, determinado pela natureza do Espírito, que é causa e não efeito. Dizemos em parte, porque há casos em que o físico influi evidentemente sobre o moral: é quando um estado mórbido ou anormal é determinado por uma causa externa, acidental, independente do Espírito, como a temperatura, o clima, os vícios hereditários de constituição, um mal estar passageiro, etc. O moral do Espírito pode então ser afetado em suas manifestações pelo estado patológico, sem que sua natureza intrínseca seja modificada.

Lançar a culpa de suas más ações à fraqueza da carne não é, portanto, senão um subterfúgio para escapar da responsabilidade. A carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o que inverte a questão, e deixa ao Espírito a responsabilidade por todos os seus atos. A carne, que não tem pensamento nem vontade, nunca prevalece sobre o Espírito, que é o ser pensante e desejante; é o Espírito que dá à carne as qualidades correspondentes a seus instintos, como um artista imprime à sua obra material o cunho de seu gênio. O Espírito, libertado dos instintos da bestialidade, modela um corpo que não é mais um tirano para suas aspirações à espiritualidade de seu ser; é então que o homem come para viver, porque viver é uma necessidade, mas não vive mais para comer.

A responsabilidade moral pelos atos da vida é, pois, total; mas a razão diz que as consequências dessa responsabilidade devem ser proporcionais ao desenvolvimento intelectual do Espírito; quanto mais esclarecido ele for, menos é desculpável, porque com a inteligência e o senso moral nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto.

Esta lei explica o insucesso da medicina em certos casos. Uma vez que o temperamento é um efeito e não uma causa, os esforços tentados para modificá-lo são necessariamente paralisados pelas disposições morais do Espírito, que opõe uma resistência inconsciente e neutraliza a ação terapêutica. É, portanto, sobre a primeira causa que é preciso agir. Dai, se possível, coragem ao covarde, e vereis cessar os efeitos fisiológicos do medo.
Isto prova uma vez mais a necessidade, para a arte de curar, de levar em conta a ação do elemento espiritual sobre o organismo.

Allan Kardec, no livro "O Céu e o Inferno", 
capítulo VII.

terça-feira, 5 de julho de 2016

LEI DE RETORNO

"E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação.” — Jesus.
(Jo 5,29)

Em raras passagens do Evangelho, a lei reencarnacionista permanece tão clara quanto aqui, em que o ensino do Mestre se reporta à ressurreição da condenação. 

Como entenderiam estas palavras os teólogos interessados na existência de um inferno ardente e imperecível? 

As criaturas dedicadas ao bem encontrarão a fonte da vida em se banhando nas águas da morte corporal. Suas realizações do porvir seguem na ascensão justa, em correspondência direta com o esforço perseverante que desenvolveram no rumo da espiritualidade santificadora, todavia, os que se comprazem no mal cancelam as próprias possibilidades de ressurreição na luz. 

Cumpre-lhes a repetição do curso expiatório. 

É a volta à lição ou ao remédio. 

Não lhes surge diferente alternativa. 

A lei de retorno, pois, está contida amplamente nessa síntese de Jesus. 

Ressurreição é ressurgimento. E o sentido de renovação não se compadece com a teoria das penas eternas. 

Nas sentenças sumárias e definitivas não há recurso salvador. Através da referência do Mestre, contudo, observamos que a Providência Divina é muito mais rica e magnânima que parece. 

Haverá ressurreição para todos, apenas com a diferença de que os bons tê-la-ão em vida nova e os maus em nova condenação, decorrente da criação reprovável deles mesmos. 

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, 
no livro "Pão Nosso".

terça-feira, 28 de junho de 2016

O ESPINHO

 “E para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi me dado um espinho na carne, mensageiro de Satanás.” — Paulo.
(II Cor, 12-7)
 

Atitude sumamente perigosa louvar o homem a si mesmo, presumindo desconhecer que se encontra em plano de serviço árduo, dentro do qual lhe compete emitir diariamente testemunhos difíceis. É posição mental não somente ameaçadora, quanto falsa, porque lá vem um momento inesperado em que o espinho do coração aparece. 

O discípulo prudente alimentará a confiança sem bazófia, revelando-se corajoso sem ser metediço. Reconhece a extensão de suas dividas para com o Mestre e não encontra glória em si mesmo, por verificar que toda a glória pertence a Ele mesmo, o Senhor. 

Não são poucos os homens do mundo, invigilantes e inquietos, que, após receberem o incenso da multidão, passam a curtir as amarguras da soledade; muitos deles se comprazem nos galarins da fama, qual se estivessem convertidos em ídolos eternos, para chorarem, mais tarde, a sós, com o seu espinho ignorado nos recessos do ser. 

Por que assumir posição de mestre infalível, quando não passamos de simples aprendizes? 

Não será mais justo servir ao Senhor, na mocidade ou na velhice, na abundância ou na escassez, na administração ou ‘na subalternidade, com o espírito de ponderação, observando os nossos pontos vulneráveis, na insuficiência e imperfeição do que temos sido, até agora? 

Lembremo-nos de que Paulo de Tarso esteve com Jesus pessoalmente; foi indicado para o serviço divino em Antioquia pelas próprias vozes do Céu; lutou, trabalhou e sofreu pelo Evangelho do Reino e, escrevendo aos coríntios, já envelhecido e cansado, ainda se referiu ao espinho que lhe foi dado para que se não exaltasse no sublime trabalho das revelações.

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier 
no livro "Pão Nosso".