Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

CONSEGUES IR?

"Vinde a mim" - Jesus (Mateus 11, 28.)


O crente escuta o apelo do Mestre, anotando abençoadas consolações. O doutrinador repete-o para comunicar vibrações de conforto espiritual aos ouvintes.

Todos ouvem as palavras do Cristo, as quais insistem para que a mente inquieta e o coração atormentado lhe procurem o regaço refrigerante...

Contudo, se é fácil ouvir e repetir o “vinde a mim” do Senhor, quão difícil é “ir para Ele”!

Aqui, as palavras do Mestre se derramam por vitalizante bálsamo, entretanto, os laços da conveniência imediatista são demasiado fortes; além, assinala-se o convite divino, entre promessas de renovação para a jornada redentora, todavia, o cárcere do desânimo isola o espírito, através de grades resistentes; acolá, o chamamento do Alto ameniza as penas da alma desiludida, mas é quase impraticável a libertação dos impedimentos constituídos por pessoas e coisas, situações e interesses individuais, aparentemente inadiáveis.

Jesus, o nosso Salvador, estende-nos os braços amoráveis e compassivos. Com ele, a vida enriquecer-se-á de valores imperecíveis e à sombra dos seus ensinamentos celestes seguiremos, pelo trabalho santificante, na direção da Pátria Universal...

Todos os crentes registram-lhe o apelo consolador, mas raros se revelam suficientemente valorosos na fé para lhe buscarem a companhia. 

Em suma, é muito doce escutar o “vinde a mim... 

Entretanto, para falar com verdade, já consegues ir?




Francisco Cândido Xavier pelo espírito Emmanuel 
no livro Fonte viva.







terça-feira, 22 de novembro de 2016

IDIOTA À BRASILEIRA


Ele não faz trabalhos domésticos. Não tem gosto nem respeito por trabalhos manuais. Se puder, atrapalha quem pega no pesado. Trata-se de uma tradição lusitana, ibérica, reproduzida aqui na colônia desde os tempos em que os negros carregavam em barris, nos ombros, a toilete dos seus proprietários, e eram chamados de “tigres” – porque os excrementos lhes caíam sobre as costas, formando listras. O Perfeito Idiota Brasileiro, ou PIB, também não ajuda em casa. Influência da mamãe, que nunca deixou que ele participasse das tarefas – nem mesmo pôr ou tirar uma mesa, nem mesmo arrumar a própria cama. Ele atira suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as deixa lá, pelo caminho. Não é com ele. Ele foi criado irresponsável e inconsequente. É o tipo de cara que pede um copo d’água deitado no sofá. E não faz nenhuma questão de mudar. O PIB é especialista em não fazer, em fazer de conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Ele sabe que alguém fará por ele. Então ele se desenvolveu um sujeito preguiçoso. Folgado. Que se escora nos outros, não reconhece obrigações e adora levar vantagem. Esse é o seu esporte predileto – transformar quem o cerca em seus otários particulares.

O tempo do Perfeito Idiota Brasileiro vale mais que o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos. É a moça que estaciona em vaga para deficientes no shopping. É o casal que atrasa uma hora para um jantar com amigos. As regras só valem para os outros. O PIB não aceita restrições. Para ele, só privilégios e prerrogativas. Um direito divino – porque ele é melhor que os outros. É um adepto do vale-tudo social, do cada um por si e do seja o que Deus quiser. Só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os seus.

O PIB é o parâmetro de tudo. Quanto mais alguém for diferente dele, mais errado esse alguém estará. Ele tem preconceito contra pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente que mora longe. E ele é sexista para caramba. Mesma lógica: quem não é da sua tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda dos seus pré-julgamentos e da sua maledicência. A discriminação também é um jeito de você se tornar externo, e oposto, a um padrão que reconhece em si, mas de que não gosta. É quando o narigudo se insurge contra narizes grandes. O PIB adora isso.

O PIB anda de metrô. Em Paris. Ou em Manhattan. Até em Buenos Aires ele encara. Aqui, nem a pau. Melhor uma hora de trânsito e R$ 25 de estacionamento do que 15 minutos com a galera do vagão. É que o Perfeito Idiota tem um medo bizarro de parecer pobre. E o modo mais direto de não parecer pobre é evitar ambientes em que ele possa ser confundido com um despossuído qualquer. Daí a fobia do PIB por qualquer forma de transporte coletivo.

Outro modo de nunca parecer pobre é pagar caro. O PIB adora pagar caro. Faz questão. Não apenas porque, para ele, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é sinônimo de “cheguei lá” e “eu posso”. O sujeito acha que reclamar dos preços, ou discuti-los, ou pechinchar, ou buscar ofertas, é coisa de pobre. E exibe marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É assim que se mostra para os outros. Se pudesse, deixaria as etiquetas presas ao que veste e carrega. O PIB compra para se afirmar. Essa é a sua religião. E ele não se importa em ficar no vermelho – preocupação com ter as contas em dia, afinal, é coisa de pobre.

O PIB também é cleptomaníaco. Sua obsessão por ter, e sua mania de locupletação material, lhe fazem roubar roupão de hotel e garrafinha de bebida do avião e amostra grátis de perfume em loja de departamento. Ele pega qualquer produto que esteja sendo ofertado numa degustação no supermercado. Mesmo que não goste daquilo. O PIB gosta de pagar caro, mas ama uma boca-livre.

E o PIB detesta ler. Então este texto é inútil, já que dificilmente chegará às mãos de um Perfeito Idiota Brasileiro legítimo, certo? Errado. Qualquer um de nós corre o risco de se comportar assim. O Perfeito Idiota é muito mais um software do que um hardware, muito mais um sistema ético do que um determinado grupo de pessoas.

Um sistema ético que, infelizmente, virou a cara do Brasil. Ele está na atitude da magistrada que bloqueou, no bairro do Humaitá, no Rio, um trecho de calçada em frente à sua casa, para poder manobrar o carro. Ele está no uso descarado dos acostamentos nas estradas. E está, principalmente, na luz amarela do semáforo. No Brasil, ela é um sinal para avançar, que ainda dá tempo – enquanto no Japão, por exemplo, é um sinal para parar, que não dá mais tempo. Nada traduz melhor nossa sanha por avançar sobre o outro, sobre o espaço do outro, sobre o tempo do outro. Parar no amarelo significaria oferecer a sua contribuição individual em nome da coletividade. E isso o PIB prefere morrer antes de fazer.

Na verdade, basta um teste simples para identificar outras atitudes que definem o PIB: liste as coisas que você teria que fazer se saísse do Brasil hoje para morar em Berlim ou em Toronto ou em Sidney. Lavar a própria roupa, arrumar a própria casa. Usar o transporte público. Respeitar a faixa de pedestres, tanto a pé quanto atrás de um volante. Esperar a sua vez. Compreender que as leis são feitas para todos, inclusive para você. Aceitar que todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmo deveres – não há cidadãos de primeira classe e excluídos. Não oferecer mimos que possam ser confundidos com propina. Não manter um caixa dois que lhe permita burlar o fisco. Entender que a coisa pública é de todos – e não uma terra de ninguém à sua disposição para fincar o garfo. Ser honesto, ser justo, não atrasar mais do que gostaria que atrasassem com você. Se algum desses códigos sociais lhe parecer alienígena em algum momento, cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus do PIB. Reaja, porque enquanto não erradicarmos esse mal nunca vamos ser uma sociedade para valer.

Por Adriano Silva, publicado originalmente em  http://super.abril.com.br/historia/idiota-a-brasileira/


NÃO É SÓ

"Mas agora despojai-vos também de todas estas coisas: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes de vossa boca."- Paulo (Cl 3, 8.)

Na atividade religiosa, muita gente crê na reforma da personalidade, desde que o discípulo da fé se desligue de certos bens materiais.

Um homem que distribua grande quantidade de rouparia e alimento entre os necessitados é tido à conta de renovado no Senhor; contudo, isto constitui modalidade da verdadeira transformação, sem representar o conjunto das características que lhe dizem respeito.

Há criaturas que se despojam de dinheiro em favor da beneficência, mas não cedem no terreno da opinião pessoal, no esforço sublime de renunciação.

Enormes fileiras de aprendizes proclamam-se dispostas à prática do bem; no entanto, exigem que os serviços de benemerência se executem conforme os seus caprichos e não segundo Jesus.

Em toda parte, ouvem-se fervorosas promessas de fidelidade ao Cristo; todavia, ninguém conseguirá semelhante realização sem observar o conjunto das obrigações necessárias.

Pequeno erro de cálculo pode trair o equilíbrio de um edifício inteiro. Eis por que em se despojando alguém de algum patrimônio material, a benefício dos outros, não se esqueça também de desintegrar, em derredor dos próprios passos, os velhos envoltórios do rancor, do capricho doentio, do julgamento apressado ou da leviandade criminosa, dentro dos quais afivelamos pesada máscara ao rosto, de modo a parecer o que não somos.

Francisco Cândido Xavier pelo espírito Emmanuel 
no livro "Pão Nosso".

Para acesso à apresentação utilizada na reflexão no Centro Espírita Casimiro Cunha fazer o download A.Q.U.I..











 

OS BONS ESPÍRITAS

Bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, o Espiritismo leva aos resultados acima expostos (veja texto "O homem de Bem" clicando A.Q.U.I.) , que caracterizam o verdadeiro espírita, como o verdadeiro cristão, pois um o mesmo é que o outro. O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.

Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as conseqüências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos. A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é da sua essência mesma e é donde lhe vem a força, porque a faz ir direito à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo.

Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhes apreendem, com admirável precisão, os mais delicados matizes. Provém isso de que a parte por assim dizer material da ciência somente requer olhos que observem, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade do senso moral, maturidade que independe da idade e do grau de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encarnado.

Nalguns, ainda muito tenazes são os laços da matéria para permitirem que o Espírito se desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-lhes a visão do infinito, donde resulta não romperem facilmente com os seus pendores, nem com seus hábitos, não percebendo haja qualquer coisa melhor do que aquilo de que são dotados. Têm a crença nos Espíritos como um simples fato, mas que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas. Numa palavra: não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente para guiá-los e para lhes facultar uma vigorosa aspiração, capaz de vencer seus pendores. Atêm-se mais aos fenômenos do que à moral, que se lhes afigura cediça e monótona. Pedem aos Espíritos que incessantemente os iniciem em novos mistérios, sem procurar saber se já se tornaram dignos de penetrar os segredos do Criador. Esses são os espíritas imperfeitos, alguns dos quais ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos em crença, porque recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou das prevenções. Contudo, a aceitação do princípio da doutrina é um primeiro passo que lhes tornará mais fácil o segundo, noutra existência.

Aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral. O Espírito, que nele domina de modo mais completo a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem vibrar fibras que nos outros se conservam inertes. Em suma: é tocado no coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé. Um é qual músico que alguns acordes bastam para comover, ao passo que outro apenas ouve sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. Enquanto um se contenta com o seu horizonte limitado, outro, que apreende alguma coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele e sempre o consegue, se tem firme a vontade. 


Allan Kardec, no livro "O evangelho segundo o espiritismo", 
capítulo XVII, item 4.

O HOMEM DE BEM

O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.

Deposita fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria. Sabe que sem a sua permissão nada acontece e se lhe submete à vontade em todas as coisas.

Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça.

Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa.

O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.

Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor.

Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado.”

Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.

Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.

Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.

Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado.

Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões.

Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram.

O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente. 

Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus.

Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz. 

Allan Kardec, no livro "O evangelho segundo o espiritismo", 
capítulo XVII, item 3.


segunda-feira, 21 de novembro de 2016

CONSERVA O MODELO

"Conserva o modelo das sãs palavras". - Paulo. (II Timóteo, 1,13)

Distribui os recursos que a Providência te encaminhou às mãos operosas, todavia, não te esqueças de que a palavra confortadora ao aflito representa serviço direto de teu coração na sementeira do bem.

O pão do corpo é uma esmola pela qual sempre receberás a justa recompensa, mas o sorriso amigo é uma bênção para a eternidade.

Envia mensageiros ao socorro fraternal, contudo, não deixes, pelo menos uma vez por outra, de visitar o irmão doente e ouvi-lo em pessoa.

A expedição de auxílio é uma gentileza que te angariará simpatia, no entanto, a intervenção direta no amparo ao necessitado conferir-te-á preparação espiritual à frente das próprias lutas.

Sobe à tribuna e ensina o caminho redentor aos semelhantes; todavia, interrompe as preleções, de vez em quando, a fim de assinalar o lamento de um companheiro na experiência humana, ainda mesmo quando se trata de um filho do desespero ou da ignorância, para que não percas o senso das pro-porções em tua marcha.

Cultiva as flores do jardim particular de tuas afeições mais queridas, porque, sem o canteiro de experimentação, é muito difícil atender à lavoura nobre e intensiva, mas não fujas sistematicamente à floresta humana, com receio dos vermes e monstros que a povoam, porquanto é imprescindível te prepares a avançar, mais tarde, dentro dela.

Nos círculos da vida, não olvides a necessidade do ensinamento gravado em ti mesmo.

Assim como não podes tomar alimento individual, através de um substituto, e nem podes aprender a lição, guardando-lhe os caracteres na memória alheia, não conseguirás comparecer, ante as Forças Supremas da Sabedoria e do Amor, com realizações e vitórias que não tenham sido vividas e conquistadas por ti mesmo.

“Conserva”, pois, contigo, “o modelo das sãs palavras”.

Francisco Cândido Xavier pelo espírito de Emmanuel 
no livro "Pão Nosso".

domingo, 20 de novembro de 2016

TREINO PARA A MORTE

Preocupado com a sobrevivência além do túmulo, você pergunta, espantado, como deveria ser levado a efeito o treinamento de um homem para as surpresas da morte.

A indagação é curiosa e realmente dá que pensar.

Creia, contudo, que, por enquanto, não é muito fácil preparar tecnicamente um companheiro à frente da peregrinação infalível.

Os turistas que procedem da Ásia ou da Europa habilitam futuros viajantes com eficiência, por lhes não faltarem os termos analógicos necessários. Mas nós, os desencarnados, esbarramos com obstáculos quase intransponíveis.

A rigor, a Religião deve orientar as realizações do espírito, assim como a Ciência dirige todos os assuntos pertinentes à vida material. Entretanto, a Religião, até certo ponto, permanece jungida ao superficialismo do sacerdócio, sem tocar a profundez da alma.

Importa considerar também que a sua consulta, ao invés de ser encaminhada a grandes teólogos da Terra, hoje domiciliados na Espiritualidade, foi endereçada justamente a mim, pobre noticiarista sem méritos para tratar de semelhante inquirição.

Pode acreditar que não obstante achar-me aqui de novo, há quase vinte anos de contado, sinto-me ainda no assombro de um xavante, repentinamente trazido da selva mato-grossense para alguma de nossas Universidades, com a obrigação de filiar-se, de inopino, aos mais elevados estudos e às mais complicadas disciplinas.

Em razão disso, não posso reportar-me senão ao meu próprio ponto de vista, com as deficiências do selvagem surpreendido junto à coroa de Civilização.

Preliminarmente, admito deva referir-me aos nossos antigos maus hábitos. A cristalização deles, aqui, é uma praga tiranizante.

Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição. O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.

Os excitantes largamente ingeridos constituem outra perigosa obsessão. Tenho visto muitas almas de origem aparentemente primorosa, dispostas a trocar o próprio Céu pelo uísque aristocrático ou pela nossa cachaça brasileira.

Tanto quanto lhe seja possível, evite os abusos do fumo. Infunde pena a angústia dos desencarnados amantes da nicotina.

Não se renda à tentação dos narcóticos. Por mais aflitivas lhe pareçam as crises do estágio no corpo, aguente firme os golpes da luta. As vítimas da cocaína, da morfina e dos barbitúricos demoram-se largo tempo na cela escura da sede e da inércia.

E o sexo? Guarde muito cuidado na preservação do seu equilíbrio emotivo. Temos aqui muita gente boa carregando consigo o inferno rotulado de “amor”.

Se você possui algum dinheiro ou detêm alguma posse terrestre, não adia doações, caso esteja realmente inclinado a fazê-las. Grandes homens, que admirávamos no mundo pela habilidade e poder com que concretizavam importantes negócios, aparecem, junto de nós, em muitas ocasiões, à maneira de crianças desesperadas por não mais conseguirem manobrar os talões de cheque.

Em família, observe cautela com testamentos. As doenças fulminatórias chegam de assalto, e, se a sua papelada não estiver em ordem, você padecerá muitas humilhações, através de tribunais e cartórios. 


Sobretudo, não se apegue demasiado aos laços consanguíneos. Ame sua esposa, seus filhos e seus parentes com moderação, na certeza de que, um dia, você estará ausente deles e de que, por isso mesmo, agirão quase sempre em desacordo com a sua vontade, embora lhe respeitem a memória. 

Não se esqueça de que, no estado presente da educação terrestre, se alguns afeiçoados lhe registrarem a presença extraterrena, depois dos funerais, na certa intimá-lo-ão a descer aos infernos, receando-lhe a volta inoportuna.

Se você já possui o tesouro de uma fé religiosa, viva de acordo com os preceitos que abraça. É horrível a responsabilidade moral de quem já conhece o caminho, sem equilibrar-se dentro dele.

Faça o bem que puder, sem a preocupação de satisfazer a todos. Convença-se de que se você não experimenta simpatia por determinadas criaturas, há muita gente que suporta você com muito esforço. Por essa razão, em qualquer circunstância, conserve o seu nobre sorriso.

Trabalhe sempre, trabalhe sem cessar. O serviço é o melhor dissolvente de nossas mágoas.

Ajude-se, através do leal cumprimento de seus deveres.

Quanto ao mais, não se canse nem indague em excesso, porque, com mais tempo ou menos tempo, a morte lhe oferecerá o seu cartão de visita, impondo-lhe ao conhecimento tudo aquilo que, por agora, não lhe posso dizer.


Francisco Cândido Xavier pelo espírito do Irmão X, 
no livro "Cartas e Crônicas.


MISTÉRIOS DA TELEPATIA. A MENTE VAI MUITO ALÉM DO CÉREBRO


Publicado originalmente A.Q.U.I.

Os campos mentais estão radicados no cérebro, assim como os campos magnéticos ao redor de ímãs estão radicados nos ímãs em si, ou como os campos de transmissão em torno de celulares estão radicados nos telefones e em suas atividades elétricas internas. Assim como os campos magnéticos se estendem ao redor de ímãs e os campos eletromagnéticos em torno de celulares, campos mentais estendem-se em torno de cérebros.

Os campos mentais ajudam a explicar a telepatia, a sensação de estar sendo observado e outras habilidades de certa forma comuns, mas inexplicáveis. Acima de tudo, os campos mentais são subjacentes à percepção normal. Eles são parte essencial da visão.

Imagens fora de nossas cabeças

Olhe ao seu redor agora. As imagens que você vê estão dentro do seu cérebro? Ou estão fora de você – simplesmente onde parecem estar? Segundo a teoria convencional, há um processo de mão única: a luz se move para dentro, mas nada é projetado para fora.

O movimento da luz para dentro é bem familiar. Enquanto você olha para esta página, a luz refletida se move a partir da página, através do campo eletromagnético, para os seus olhos. As lentes dos seus olhos focalizam a luz para formar imagens de cabeça para baixo em sua retina. Essa luz que incide sobre os bastonetes e os cones da retina provoca alterações elétricas dentro dessas células, que desencadeiam alterações estampadas nos nervos da retina. Os impulsos nervosos ativam seus nervos ópticos e o cérebro, onde dão origem a complexos padrões de atividade elétrica e química.  Todos esses processos podem ser – e têm sido – estudados em detalhe por neurofisiologistas e outros peritos nas atividades do cérebro e da visão.

Mas então algo muito misterioso acontece. Você conscientemente experimenta o que está vendo, a página à sua frente. Você também se torna consciente das palavras impressas e dos seus significados. Do ponto de vista da teoria padrão, não há nenhuma razão pela qual você deveria estar consciente de tudo. Mecanismos cerebrais deveriam continuar muito bem sem consciência.

A teoria padrão da visão se aplica a todas as espécies de animais com olhos formadores de imagem. Ela não explica por que deveria haver visão consciente em qualquer espécie animal ou nas pessoas. Existe apenas um processamento de informações inconsciente, parecido a um computador, feito pelo sistema nervoso.

Em seguida, vem outro problema. Quando você vê esta página, não sente a imagem dela como estando dentro de seu cérebro, onde se suporia que ela estivesse. Em vez disso, você sente a imagem como estando a cerca de 60 centímetros à sua frente. A imagem está fora do seu corpo.

Por toda a sua sofisticação fisiológica, a teoria padrão não explica sua experiência mais imediata e direta. Supõe-se que toda a sua experiência ocorre dentro do cérebro, não onde ela parece estar.

A ideia básica que estou propondo é tão simples que é difícil de entender. Sua imagem desta página está apenas onde parece estar, na frente de seus olhos, e não por trás de seus olhos. Ele não está dentro de seu cérebro, mas fora do seu cérebro.

Assim, a visão envolve um movimento da luz para dentro e uma projeção externa de imagens. Através de campos mentais, nossas mentes se estendem para tocar o que estamos olhando. Se olharmos para uma montanha a 15 quilômetros de distância, as nossas mentes se esticarão 15 quilômetros. Se olharmos para as estrelas distantes, nossas mentes chegarão aos céus, em distâncias literalmente astronômicas.

A sensação de estar sendo observado

Às vezes, quando olho para alguém por trás, ele ou ela se vira e olha diretamente para mim. E às vezes viro de repente e encontro alguém olhando para mim. Pesquisas mostram que mais de 90% das pessoas tiveram experiências como essas. A sensação de estar sendo observado não deveria ocorrer se a atenção está toda dentro da cabeça. Mas se isso se estende para fora e nos liga ao que estamos olhando, então nosso olhar poderia afetar o que olhamos. É apenas uma ilusão ou a sensação de estar sendo observado realmente existe?


Essa questão pode ser explorada através de experimentos simples e baratos. Os voluntários trabalham em pares. Uma pessoa se senta com as costas voltadas para a outra, usando uma venda. A segunda pessoa fica atrás da primeira e, em uma série aleatória de testes, olha para o pescoço do parceiro, ou desvia o olhar e pensa em outra coisa. O início de cada teste é sinalizado por controle remoto mecânico ou bipe mecânico. Cada teste dura cerca de dez segundos e a pessoa vendada fala em voz alta sua impressão – “está olhando” ou “não está olhando”. Instruções detalhadas são dadas no meu portal: www.sheldrake.org.

Mais de 100 mil testes já foram realizados e os resultados são extremamente positivos e altamente significativos em termos estatísticos, com chance de o fenômeno acontecer de um em quatrilhões. A sensação de estar sendo observado funciona até mesmo quando as pessoas são olhadas através de circuito fechado de TV. Os animais também são sensíveis ao olhar das pessoas, e as pessoas ao olhar dos animais. Essa sensibilidade parece disseminada no reino animal e pode muito bem ter evoluído no contexto das relações predador-presa: um animal que sentia quando um predador invisível o estava olhando teria uma chance melhor de sobreviver do que um animal sem esse sentido.

Telepatia

As pessoas instruídas têm sido levadas a acreditar que a telepatia não existe. Como outros fenômenos chamados paranormais ou psíquicos, ele é rejeitado como uma ilusão.

A maioria das pessoas que defendem essas opiniões não o faz com base em um exame atento das provas. Elas fazem isso porque há um tabu contra levar a telepatia a sério. Esse tabu está relacionado ao paradigma predominante ou modelo de realidade dentro da ciência institucional, ou seja, a teoria “mente dentro do cérebro”, segundo a qual a telepatia e outros fenômenos paranormais, que parecem implicar tipos misteriosos de “ação a distância”, não pode existir.

Esse tabu remonta pelo menos ao Iluminismo, no fim do século XVIII. Mas este não é o lugar para examinar sua história (que discuto no livro A Sensação de Estar Sendo Observado, publicado no Brasil pela Editora Cultrix). Em vez disso, quero resumir algumas experiências recentes, que sugerem que a telepatia não só existe, mas é uma parte normal da comunicação animal.

Animais paranormais

Meu interesse pela telepatia surgiu há cerca de 25 anos, e comecei nessa época a procurar evidências nesse sentido nos animais que conhecemos melhor, ou seja, os animais de estimação. Logo me deparei com inúmeras histórias de donos de cães, gatos, papagaios, cavalos e outros animais que sugerem que esses animais pareciam capazes de ler suas mentes e intenções.

Por meio de apelos públicos, construí um grande banco de dados de histórias como essas, atualmente com mais de 4.700 relatos. Essas histórias se dividem em várias categorias. Por exemplo, muitos donos de gatos dizem que seu animal parece perceber quando eles estão planejando levá-los ao veterinário, mesmo antes de terem pegado a cesta de transporte ou dado qualquer indício aparente quanto à sua intenção. Algumas pessoas dizem que seus cães sabem quando vão ser levados para uma caminhada, mesmo quando estão em uma sala diferente, fora do alcance da visão ou da audição, e quando a pessoa está apenas pensando em levá-los a passear. Claro, ninguém acha esse comportamento surpreendente se isso acontece em um momento de rotina, ou se os cães veem a pessoa se preparando para sair, ou ouvem a palavra “passear”. Eles pensam que isso é telepático porque parece acontecer na ausência de tais indícios.

Uma das afirmações sobre cães e gatos mais comuns e fáceis de testar é que eles sabem quando seus donos estão chegando ao lar, em alguns casos antecipando sua chegada em dez minutos ou mais. Em pesquisas domiciliares aleatórias na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, meus colegas e eu descobrimos que cerca de 50% dos donos de cães e 30% dos donos de gatos acreditam que seus animais antecipam a chegada de um membro da família. Através de centenas de experimentos em vídeo, eu e meus colegas temos mostrado que os cães reagem a intenções de seus donos para voltar para casa mesmo que estes estejam a muitos quilômetros de distância, ou quando retornam em momentos aleatoriamente escolhidos, ou ainda quando vêm em veículos estranhos, como táxis. A telepatia parece ser a única hipótese que pode explicar os fatos. (Para mais detalhes, consulte meu livro Cães Sabem Quando Seus Donos Estão Chegando, publicado no Brasil pela Editora Objetiva.)

Telepatia em telefonemas

No curso da minha pesquisa sobre poderes inexplicáveis de animais, ouvi sobre dezenas de cães e gatos que pareciam antecipar telefonemas de seus proprietários. Por exemplo, se o telefone toca na casa de um conhecido professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, sua esposa sabe quando seu marido está do outro lado da linha porque Whiskins, seu gato malhado cinza, corre para o telefone e põe as patas no receptor. “Muitas vezes ele consegue tirá-lo do gancho e faz miados de apreço que são claramente audíveis para o meu marido, no outro lado”, diz ela. “Se alguém mais telefona, Whiskins não toma conhecimento.” O gato responde mesmo quando o professor telefona para casa de viagens de campo na África ou na América do Sul.

Isso me levou a refletir que eu mesmo havia tido esse tipo de experiência, em que havia pensado em pessoas sem nenhuma razão aparente que logo depois me ligavam. Perguntei à minha família e a amigos se eles nunca tinham tido essa experiência e logo descobri que a maioria era muito familiarizada com ela. Alguns disseram que sabiam quando sua mãe ou namorada ou outra pessoa significativa estava ligando porque o telefone soava de forma diferente!

Por meio de extensas pesquisas, meus colegas e eu descobrimos que a maioria das pessoas tiveram experiências aparentemente telepáticas com chamadas telefônicas. Na verdade, esse é o tipo mais comum de telepatia aparente no mundo moderno.

Isso é tudo uma questão de coincidência e memória seletiva, pela qual as pessoas se lembram apenas de quando alguém em que estavam pensando ligou e se esquecem de todas as vezes em que estavam erradas? A maioria dos céticos assume que esse é o caso, mas, até recentemente, nunca houve nenhuma pesquisa científica sobre o assunto.

Desenvolvi um experimento simples para testar a telepatia telefônica. Os participantes recebem um telefonema de um de quatro diferentes chamadores em um momento predeterminado, e eles mesmos selecionam os chamadores, geralmente amigos íntimos ou membros da família. Para cada teste, o chamador é escolhido aleatoriamente pelo experimentador, jogando um dado ou usando um gerador de números aleatórios computadorizado. O participante tem que dizer quem é o chamador antes que este fale algo. Se as pessoas estiverem apenas adivinhando, acertarão uma vez em quatro, ou 25% das vezes.

Fizemos mais de 800 desses testes, e a taxa média de sucesso é de 42%, bem acima do nível de chance de 25%, com probabilidades astronômicas contra o acaso.

Também realizamos uma série de testes em que dois dos quatro participantes eram familiares, enquanto os outros dois eram estranhos, cujos nomes os participantes sabiam, mas a quem não haviam visto. Nas chamadas de familiares, a taxa de sucesso foi de 56%, altamente significativa em termos estatísticos. Com estranhos a taxa estava no nível do acaso, em consonância com a observação de que a telepatia geralmente ocorre entre pessoas que compartilham laços emocionais ou sociais.

Além disso, descobrimos que esses efeitos não diminuem com a distância. Alguns dos nossos participantes eram da Austrália ou da Nova Zelândia, e eles podiam identificar quem estava ligando igualmente bem, estivessem os chamadores no Hemisfério Sul ou a apenas alguns quilômetros de distância, em Londres.

E-mails e mensagens de texto telepáticas são a versão mais recente desse fenômeno, e uma extensa série de experimentos com e-mails tem dado resultados muito semelhantes aos testes de telefone: positivos e muito significativos estatisticamente. (Os detalhes de toda essa pesquisa sobre telepatia nas pessoas e nos animais de estimação estão publicados em uma série de artigos em revistas e jornais, e os textos completos estão disponíveis em meu portal.)

Uma versão automatizada do teste de telepatia telefônica que funciona em celulares pode ser acessado a partir do Online Experiments Portal em meu site, www.sheldrake.org.

Mentes estendidas

Os estudos de laboratório feitos por parapsicólogos já forneceram evidências estatisticamente significativas para a telepatia (bem analisadas por Dean Radin em seu livro Conscious Universe, Harper). Mas a maioria das pesquisas de laboratório mostrou efeitos bastante fracos, provavelmente porque a maioria dos participantes e “transmissores” eram estranhos um ao outro, e a telepatia normalmente depende de laços sociais.

Os resultados de experiências de telepatia telefônica mostraram efeitos muito mais fortes e repetitivos porque envolvem pessoas que se conhecem bem. Descobri também que há ligações telepáticas marcantes entre mães que amamentam e os seus bebês. Da mesma forma, as reações telepáticas dos animais de estimação aos seus donos dependem de fortes laços sociais.

Sugiro que esses laços são aspectos dos campos que ligam os membros de grupos sociais (o que chamo de campos mórficos) e que atuam como canais para a transferência de informações entre os membros separados do grupo. Telepatia significa literalmente “sentimento distante” e, normalmente, envolve a comunicação de necessidades, intenções e angústia. Às vezes, as reações telepáticas são experimentadas como sensações, às vezes como visões ou a audição de vozes, e às vezes em sonhos. Muitas pessoas e animais reagem quando as pessoas a quem estão ligadas sofrem um acidente, ou estão morrendo, mesmo se isso estiver acontecendo a muitos quilômetros de distância.

Há uma analogia para esse processo na física quântica: se duas partículas foram parte de um mesmo sistema quântico e estão separadas no espaço, elas mantêm uma misteriosa conexão. Quando Einstein percebeu essa implicação da teoria quântica, pensou que a teoria devia estar errada, porque isso implicava o que ele chamou de “ação fantasmagórica à distância”. Experimentos têm mostrado que a teoria quântica está certa e Einstein estava errado. Uma mudança em uma parte separada de um sistema pode afetar a outra instantaneamente. Esse fenômeno é conhecido como não localidade quântica ou não separabilidade.


A telepatia, assim como a sensação de estar sendo observado, só é paranormal se definirmos como “normal” a teoria de que a mente está confinada ao cérebro. Mas, se a nossa mente vai além do nosso cérebro, assim como parece ocorrer, e se conecta com outras mentes, assim como parece ocorrer, então fenômenos como a telepatia e a sensação de estar sendo observado parecem normais. Eles não são assustadores e estranhos, nas margens da psicologia humana anormal, mas fazem parte da nossa natureza biológica.

É claro que não estou dizendo que o cérebro é irrelevante para a nossa compreensão da mente. É muito relevante, e os recentes avanços na pesquisa sobre o cérebro têm muito a nos dizer. Nossas mentes estão centradas em nossos corpos, e em nossos cérebros em particular. No entanto, elas não estão confinadas aos nossos cérebros, mas se estendem para além deles. Essa extensão ocorre através dos campos da mente, ou campos mentais, que existem dentro e fora dos nossos cérebros.

A ideia da mente estendida faz mais sentido para a nossa experiência do que a teoria da mente dentro do cérebro. Acima de tudo, ela nos liberta. Já não estamos presos dentro do limite estreito dos nossos crânios, nossas mentes separadas e isoladas umas das outras. Já não estamos alienados dos nossos corpos, de nosso meio ambiente e de outras pessoas. Estamos interligados.

Por Rupert Sheldrake, biólogo e autor de dez livros e de mais de 80 artigos em revistas científicas. Ele foi membro do Clare College, de Cambridge, e pesquisador membro da Royal Society. De 2005 a 2010, ele foi o diretor do Projeto Perrott-Warrick, financiado pelo Trinity College da Universidade de Cambridge. Ele é membro do Instituto de Ciências Noéticas, perto de San Francisco, e professor convidado do Graduate Institute, em Connecticut, nos Estados Unidos. Ele vive em Londres com sua esposa, Jill Purce, e seus dois filhos. Seu portal é www.sheldrake.org.