Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A CEPA E A IMORTALIDADE DA ALMA


Em Prolegômenos, de O Livro dos Espíritos, os Espíritos instruíram Kardec a colocar no cabeçalho do livro uma cepa, um ramo de videira, por eles desenhada. Buscando entender a mensagem da Espiritualidade superior, lembramos que, na ceia com seus apóstolos, que antecedeu à sua crucificação, Jesus repartiu o pão e serviu-lhes vinho.

O texto bíblico descreve: E, tomando o cálice e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue [...]. (Mateus, 26:27-28.)

Não é sem razão que Jesus tenha utilizado este símbolo. Na cultura hebraica a videira era tida como árvore sagrada que oferecia, entre outros atributos, prosperidade e proteção para aqueles que sob ela se estabelecessem. O próprio Jesus se comparou à videira: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador”. (João, 15:1.) A arte cristã se apropriou deste símbolo. A videira, suas folhas e a própria uva estão representadas em pinturas relacionadas à vida de Jesus. Na iconografia (área da História da Arte que identifica os símbolos e sua interpretação – Iconologia) constata-se que a videira e seus frutos são universalmente utilizados e têm vários significados, incluindo os da imortalidade, do conhecimento e da preexistência. (1)

Na arte funerária cristã, a presença da videira e das uvas também está relacionada à imortalidade. (1) O vinho, em razão de sua cor, é associado ao sangue, que sustenta a vida, vida corpórea do Espírito, ser imortal.

Para a arte cristã a imortalidade está relacionada à vitória do Cristo sobre a morte, pela ressurreição. Tal vitória assegura aos seus adeptos uma vida contemplativa no céu. A cepa desenhada em Prolegômenos, de O Livro dos Espíritos, é também apresentada como um conceito de imortalidade, e é interessante observarmos como os Espíritos se utilizam desse símbolo da arte cristã para definir tal conceito de forma simples. É preciso também ressaltar que o próprio desenho da cepa é bem simples e apresenta as principais características do ramo de uma videira, quais sejam: um galho, algumas folhas e um cacho de uvas.

Os Espíritos apresentam a iconologia para a videira: (2) Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque é o emblema do trabalho do Criador. Aí se acham reunidos todos os princípios materiais que melhor podem representar o corpo e o espírito. O corpo é a cepa; o espírito é o licor; a alma ou espírito ligado à matéria é o bago. O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e tu sabes que só mediante o trabalho do corpo o Espírito adquire conhecimentos. (2)

Na interpretação da gravura, os Espíritos destacam a comparação entre as propriedades da cepa, os atributos do Espírito imortal e o mecanismo por meio do qual o Espírito ganha domínio de si mesmo. A interpretação dada por eles mostra que o conceito de imortalidade na visão espírita não a relaciona a uma vida de contemplação em um plano invisível, mas de trabalho para que o Espírito imortal depure a si mesmo: “O homem quintessencia o Espírito pelo trabalho”, (2) através das reencarnações, “o trabalho do corpo”. (2)

Aplicando a análise iconográfica à cepa, identificamos primeiramente o seu significado convencional, ou seja, seus atributos mais facilmente reconhecíveis: a uva que se reproduz, nascendo, extinguindo-se e renascendo. A interpretação simbólica (iconológica) indica, segundo a obra Kardequiana, que “o espírito é o licor”. (2) Dessa forma, quando o texto bíblico sugere que o vinho é o sangue de Jesus, que venceu a morte física, deduzimos que se o Espírito é o licor (sumo ou seiva da uva), e entendendo o vinho como produto desta seiva, o Espírito também é imortal. Quando encarnado o Espírito é “a alma ou Espírito ligado à matéria”, (2) ou seja, “é o bago”. (2) O bago aqui representa a reencarnação do Espírito, licor, que fica confinado ao corpo físico. Na concepção espírita da imortalidade nós, Espíritos imortais, evoluímos por meio do “trabalho do corpo”, (2) isto é, da reencarnação, como apresentado nas perguntas 166 a 167 de O Livro dos Espíritos.

166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se? “Sofrendo a prova de uma nova existência.”

166a. Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito? “Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”

166b. A alma passa então por muitas existências corporais? “Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles.” 

166c. Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. É assim que se deve entender? “Evidentemente.”

167. Qual o fim objetivado com a reencarnação? “Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”

Entendemos assim, que a cepa apresentada pela Espiritualidade em O Livro dos Espíritos expressa a mensagem divina da imortalidade. O Espírito imortal conquista sua própria salvação, quando coloca em prática a mensagem de Jesus, o Cristo. Para o Espírito, a morte não existe, mas sim o aprendizado em diferentes vidas, como a uva da vinha que, submetida à pressão, gera o suco, libera a semente, que renasce, mantendo a vida.

Observamos que, ao contrário das pinturas cristãs, os Espíritos não associam a cepa à figura humana, consequentemente não a relacionam com qualquer escola religiosa preexistente. A imortalidade aqui é apresentada como atributo de todos, concedido por Deus, o Criador. Jesus, “guia e modelo” (Op. cit., q. 627) da Humanidade, é referência, mas não propriedade de uma dada religião cristã, pois Ele governa espiritualmente todo o Planeta3 e atende a todas as criaturas. Todo ser é imortal, e o que se busca é ser bom e estar em sintonia com as leis do Criador.

Apesar da simplicidade, representada na gravura na obra kardequiana, identifica-se ali a utilização pelos Espíritos, de forma didática, de um símbolo cristão, apresentando o conceito acerca da imortalidade da alma. A forma de sua utilização é diferenciada na Doutrina Espírita porque não invoca apenas a imagem de Jesus, mas a da sua seara, a sua vinha.

Magda Luzimar de Abreu - REFORMADOR OUTUBRO 2012

1-CHAVALIER, Jean; GHEERBRANT,Alain. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: Editora José Olympio Ltda., 2009.
2-KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.Guillon Ribeiro. 92. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2012. Prolegômenos, p. 60 e 62.
3-XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2012. Cap. 59.

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