Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

CONVICÇÃO DO ESPÍRITO

Romeu de Campos Vergal (02/5/1903-2/7/1980) foi um dos espíritas mais atuantes no Estado de São Paulo, tendo sido Deputado Estadual (1935-1937) e Federal em várias Legislaturas, de 1946 a 1970. Político e espírita intimorato, ingressou bastante jovem no Espiritismo, participando de vários movimentos de propaganda da Doutrina, principalmente como privilegiado orador.
 

Em data exata que não conseguimos precisar, provavelmente entre 1950 e 1955, Campos Vergal, acompanhado de outros confrades, esteve em Pedro Leopoldo visitando Chico Xavier e recebeu esta mensagem, certamente ligada a seu trabalho de legislador, no qual deveria estar empenhado em alguma causa favorável à condição das mulheres. A sabedoria contida nas palavras de Emmanuel convida-nos a meditar o assunto.


Meus amigos, muita paz.

Espiritismo, em verdade, não é um sistema de promessas para a beatitude celestial. É realização do Bem, do Céu na Terra, serviço libertador de consciências e corações para hoje, aqui e agora. Congregados na mesma edificação, sentimo-nos felizes identificando-lhes o sadio propósito de concretizar os ideais divinos, no círculo das experiências humanas. Nossa fé, em tempo algum, deve circunscrever-se ao incenso adorativo, porquanto, em substância, é luta digna por um mundo melhor e por criaturas mais felizes, estendendo-se de nossas convicções mais íntimas aos nossos atos mais insignificantes. E por relacionarmos semelhantes imperativos dos princípios redentores que nos irmanam, cabe-nos o prazer de insistir com o nosso irmão Romeu Campos Vergal, que partilha conosco esta meta de espiritualidade no sentido de preservar em sua expressiva tarefa junto da mente feminina, à luz do Espiritismo santificante.

Permanecemos à frente de um mundo necessitado e o campo de serviço requisita compreensão e atividade sem tréguas em benefício da paz. A política internacional não modificou seus quadros de luta, e o espírito de hegemonia domina, infelizmente, os que governam, quase tanto quanto há dois mil anos, em que a sociedade humana se dividia entre os dominadores possíveis de hoje e as vítimas prováveis de amanhã, nos incessantes espetáculos de ruína e de sangue. 


Não obstante os entendimentos diplomáticos e, apesar da mensagem respeitável dos pensadores dignos, a dolorosa realidade não pode ocultar-se aos mais avisados de raciocínio. De armas ensarilhadas, tão somente, legiões compactas organizam-se vagarosamente para novos embates. Como cogitar uma paz duradoura sem as bases da concórdia espiritual? Em que alicerces pavimentar os programas da ordem se a revolta domina, se a insegurança prevalece, se a desesperação campeia em todos os climas? Impossível arregimentar elementos para o edifício da cooperação mundial, embora nosso dever é de respeito a todas as organizações veneráveis que objetivem a união da família humana, sem a construção da paz espiritual, fruto espontâneo do entendimento superior do homem no campo da vida. 

Defrontados por tremenda crise de caráter em quase todas as regiões do globo, urge renovarmos o roteiro da fé libertadora e esperança que nos reanime a consciência e fortaleça o coração para consentimentos indispensáveis. Não julguem que os desencarnados, de cuja sorte partilhamos, permaneçam a distância dos enigmas que ensandecem a mentalidade do mundo. A morte não nos exonera da responsabilidade perante a nossa realização, que é o Orbe Terrestre. Dividimos o serviço restaurador e velamos como todos, na marcha de reajustamento compartilhando alegria e dores, expectativas e desenganos. Leis eternas traçam-nos obrigações de reciprocidade nos círculos evolutivos em que nos movimentamos e, ainda que o poder humano nos desintegre a morada material que hoje lhes obriga a experiência corpórea, nem por isso estaríamos libertos do dever que nos irmana uns aos outros, em torno da ordem divina. 

Cooperamos, assim, na extensão do Espiritismo salvador, reconstruindo o santuário da crença que os dogmas destruíram. Combatamos, em nós mesmos, a sombra do exclusivismo, para que a universalidade nos enriqueça os sentimentos de mais luz para a vida eterna. 

E, nesse sentido, meu amigo, socorrer a mulher, conferindo-lhe os poderes dignos de uma destinação, na qualidade de doadora da vida, é esforço sagrado que as forças divinas abençoarão em sua estrada de missionário consagrado ao supremo Bem. 

O pensamento religioso é o curso da introdução à espiritualidade sublime. Em suas classes numerosas, é possível organizar proveitosas portas reveladoras da vida, a filosofia coordenar-nos-á os esforços, sincronizando-os quando é necessário, mas a religião traçar-nos-á os caminhos verticais de acesso aos suprimentos divinos. Lutemos, sim, contra as genuflexões, trabalho digno pelo planeta redimido, mas conduzamos o coração feminino aos mananciais dos recursos celestes, para que nossa compreensão facilite a humanidade. 


O mundo sempre esteve repleto de guerreiros dominados pela sede de hegemonia e destruição dos mais fracos; entretanto, semelhantes caracteres, futuros geradores de violência, não surgiriam sem mães belicosas afastadas provisoriamente do ministério que lhes assinala os passos na Terra. Os frutos correspondem à natureza das árvores. As águas trazem resquícios indiscutíveis das fontes em que nasceram. Esclarecer a alma feminil, erguendo-a ao altar do entendimento superior que lhe compete, é renovar a seiva da vida humana. Ajudemos, em vista disso, a mulher, para que a semeadura de flores do amor não se transforme periodicamente em colheita de lágrimas. As jardineiras da experiência humana agradecer-lhe-ão o serviço nobre, o concurso desinteressado e nobilitante.

E não suponha que as organizações do Mais Alto permaneçam distraídas de seu programa bendito de fraternidade e de luz. Unidos ao seu esforço incansável, abnegados companheiros da Esfera superior lhe acompanham a ação e regozijam-se com a coragem e com a fé viva impressas em seu mandato espiritual.

Prossigamos cooperando na doutrina que console e levante, que conforte e movimente a vida, que abrace o sofredor e lhe indique serviço a fazer, que aponte o Céu, mostrando, em seguida, as necessidades da Terra para solucioná-las com amor e dedicação. Não fomos chamados pelo Supremo Poder para a crença inoperante e exclusivista. À frente de nossos olhos, todos os quadros humanos, ainda mesmo os mais deploráveis, constituem apelos ao serviço santificador. Em todos os caminhos há levitas interessados em convenções e companheiros que choram relegados à dificuldade ou ao abandono como o desventurado da parábola. Os bons samaritanos, porém, são ainda raros e não haverá trabalho verdadeiramente salvacionista sem eles.

Que a sabedoria divina nos conceda a graça de incorporarmo-nos à fileira reduzida, e que nossas mãos não descansem no labor sublime do Bem. E que a sua palavra e a sua ação, o seu ideal e a sua fé permaneçam constantemente, como vem acontecendo a serviço da Terra melhor, é o desejo do amigo e servo humilde.

Recebido por Francisco Cândido Xavier, recolhido e relatado por Eduardo Carvalho Monteiro, publicado no livro "Chico Xavier - Inédito", capítulo 19.

A AURORA DOS NOVOS DIAS


"Eis-me aqui, eu que não evocais, mas que estou ansiosa para ser útil à Sociedade, cujo objetivo é tão sério quanto o é o vosso. Falarei de política. Não vos assusteis: sei em que limites devo restringir-me.
 

A situação atual da Europa oferece o mais impressionante aspecto ao observador. Em nenhuma época — não excetuo nem mesmo o fim do último século, que fez tão grande estrago nos preconceitos e abusos que oprimiam o espírito humano — o movimento intelectual se fez sentir mais ousado, mais franco. Digo franco, porque o espírito europeu marcha na verdade. 

A liberdade não é mais um fantasma sangrento, mas a bela e grande deusa da prosperidade pública. Na própria Alemanha, nesta Alemanha que retratei com tanto amor, o sopro ardente da época destrói os últimos baluartes dos preconceitos. Sede felizes, vós que viveis em tal momento; porém, mais felizes ainda serão os vossos descendentes. Aproxima-se a hora anunciada pelo precursor. Vedes empalidecer o horizonte, mas, como outrora os hebreus, ficareis no limiar da Terra Prometida e não vereis levantar-se o sol radioso dos novos dias."

Mensagem recebida na Sociedade de Estudos Espíritas coordenada por Allan Kardec, pela médium Sra. Costel e atribuída a importante escritora francesa desencarnada conhecida como Madame Stael, publicada na Revista Espírita de agosto de 1861. 

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO

A frágil criança que comove e desperta sentimentos nobres, convidando à carícia e ao enternecimento é Espírito com formação ancestral rica de valores positivos e negativos a que a reencarnação faculta aprimoramento.

Atravessando os diferentes períodos do desenvolvimento mental e dos sentimentos que nela jazem, desvela, a pouco e pouco, as experiências anteriores que necessitam ser aprimoradas ou corrigidas conforme as tendências que apresenta.


Deixada a esmo, por não possuir o discernimento hábil em torno dos próprios conteúdos nem das possibilidades que se lhe encontram factíveis, segue a trilha dos hábitos perniciosos que lhe predominam em a natureza, tornando-se  agressiva, aturdida, desconfiada e irresponsável. Os instintos, dos quais procedem as suas conquistas, ainda lhe sobrepujam na individualidade, prevalecendo as reações biológicas em vez das ações que resultam da razão e do equilíbrio.

Eis por que a educação exerce papel relevante na construção do caráter do cidadão, desde quando orientada a partir  da infância, mediante a criação de hábitos formadores dos sentimentos e do caráter, que propiciam o saudável relacionamento social e o consequente crescimento moral-espiritual.

Naturalmente a educação acadêmica, convencional, abre portas para as atividades externas, propiciando os conhecimentos que equipam o ser para os enfrentamentos, para as conquistas da ciência e da tecnologia, para a adoção de doutrinas filosóficas e sociais, para o desenvolvimento das aptidões para a cultura, para a arte, para a crença religiosa... No entanto, é a educação moral que deve ser igualmente conferida, a fim de encarregar-se de desenvolver os sentimentos capazes de enfrentar e superar o egoísmo, a crueldade, a imprevidência, esses inimigos ferrenhos do progresso pessoal e coletivo da Humanidade.

A educação consegue modificar as estruturas negativas da personalidade, proporcionar campo para o crescimento  dos impulsos morais edificantes, para guiar o pensamento no rumo dos deveres, oferecendo forças para que se expressem as aptidões nobres, que são herança divina jacente em todos os seres.

Pode-se perceber a importância da educação mesmo entre os animais irracionais; quando ao abandono, permanecem agressivos e destruidores, enquanto que, disciplinados  e orientados, tornam-se mansos, úteis e amigos das demais criaturas, da sua ou de outra espécie.

A educação integral, aquela que se apresenta nas áreas moral e intelectual, é a grande modeladora que tem por missão incutir hábitos saudáveis, roteiro de segurança, equilíbrio de comportamento e interesse pelas conquistas éticas que exornam o processo de evolução da Humanidade.

Quem não possui hábitos bons, tem-nos maus. Ninguém, porém, vive sem hábitos.

Animal gregário, o ser humano difere dos demais graças à razão, ao discernimento e às tendências para a beleza e a sublimação.

***

Pitágoras, o grande sábio grego, reconhecia o papel preponderante da educação, quando exclamou: – Eduquemos as crianças e não necessitaremos punir os homens.

A história da educação apresenta toda uma saga de experiências que surgem no oriente com a memorização dos  textos dos livros sagrados, passando aos deveres domésticos,  que cabia aos pais transmitir à prole.

Creta foi o Estado grego que logo percebeu a necessidade de cuidar dos jovens mediante a educação escolar, preparando-os para a cidadania, que significava desenvolver no aprendiz a consciência dos deveres para com a Pátria.

Atenas, por sua vez, orientava os seus jovens, após o dever exercido pelas mães e nutrizes, para o aprimoramento dos valores morais em favor da sociedade.

Roma deu prosseguimento à obra da educação conforme os padrões gregos, orientando crianças e jovens para a construção nobre dos grupos social e nacional.

Com Adriano, no entanto, o Estado romano assumiu a responsabilidade da educação orientada, quase sempre, para o conhecimento filosófico, estético, artístico, moral e de cidadania, em face do poder do Império espalhado pelo mundo, que necessitava de hábeis defensores.

A partir da Reforma, os Estados germânicos valorizaram sobremaneira a educação dos jovens, tornando obrigatória nas escolas públicas a alfabetização, a princípio na Saxônia, depois em Würtemberg, impondo o idioma nacional, ao invés do tradicional latim. Mediante a legislação de Weimar, em 1619, o ensino se tornou obrigatório para todas as crianças e adolescentes entre os 6 e 12 anos em toda a Alemanha.

Surgiram, então, as reações da Contrarreforma com os interesses religiosos em prevalência, a fim de preparar as mentes jovens para a manutenção dos seus postulados de fé, considerando os valores nobres da educação.

A seguir, alterou-se a paisagem da educação, graças a homens e a mulheres iluminados que apresentaram métodos mais eficazes para a formação da cultura e para o desenvolvimento moral dos educandos.


O educando, na infância, passou a merecer compreensão psicológica, sendo entendido como um ser em formação e jamais como um adulto em miniatura, criando-se os jardins de infância com Froebel, sendo ressuscitada a didática intuitiva sugerida por Comenius, agora baseada no conhecimento científico, passando a educação a ocupar papel preponderante nos Estados dignos e formadores de homens e mulheres de bem.

Jesus, o Educador por excelência, permanece como o maior didata da Humanidade, por haver demonstrado ser a educação o mais seguro processo de desenvolvimento dos  valores adormecidos na criatura.

Recusando o honroso título de bom, que Lhe foi conferido por um jovem que desejava segui-lo, elucidou que  somente Deus é bom, mas que Ele era mestre, sim, porque toda a Sua trajetória constituía-se uma permanente lição de sabedoria, de amor e de saúde integral.

Jamais se exasperando, mesmo quando desafiado pela pertinácia e pusilanimidade dos Seus adversários, demonstrou que a ciência e a arte da educação são todo um processo de iluminação paciente e enriquecedor, que tem por meta essencial libertar o educando da ignorância por meio do conhecimento da verdade.

Afável e nobre, lecionou pelo exemplo, aplicando a metodologia compatível com o nível de entendimento e de consciência daqueles que O acompanharam.

Somente, portanto, pela educação moral, como esclarece Allan Kardec, será possível edificar o indivíduo saudável,  responsável, capaz de edificar uma sociedade feliz.

 
Pelo Espírito Joanna de Ângelis (retirado do livro "Lições para a felicidade", psicografado por Divaldo Franco).