Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sábado, 13 de abril de 2019

O NEGÓCIO DA DOAÇÃO

O professor Chaves, pioneiro da Doutrina Espírita, em Uberaba, Minas, foi procurado por prestigioso amigo do campo social, que lhe falou sem rebuços:
 
— Chaves, agora desejo doar duzentos contos para obras espíritas; entretanto, como você não desconhece, tenho aspirações políticas desde muito tempo. 

O distinto educador, sumamente conhecido por sua virtuosa austeridade, guardava silêncio. 

E o outro prosseguia:

— Já auxiliei construções espíritas numerosas, mas tudo sem resultado. Tenho apenas recebido ingratidões e mais ingratidões. É uma lástima. Em toda parte, mentiras e mentiras. Queria, desse modo…



Como a reticência se prolongasse, Chaves perguntou:

— Queria o que, meu amigo?

— Desejava a sua palavra empenhada, o apoio de seu prestígio diante dos espíritas, para que me garantissem o voto.

— Nada posso fazer — disse o professor, peremptório.

— Que é isso? — falou o amigo, com ar de censura. — Você prometeu receber-me e atender ao meu problema.

— Pensei que o senhor estivesse tratando de caridade, mas o que francamente procura é a realização de um negócio — disse Chaves, imperturbável.

— Que ideia! — falou o visitante, desencantado. — Entrego duzentos contos, duzentos contos de réis… Que é caridade, então?

Humilde e simples, o professor explicou:

— Caridade é o amor de Deus no coração humano. E esse amor, meu amigo, conforme nos ensina o Espiritismo, não tem preço. Onde é que o senhor já viu alguém pagar a luz do Sol, a bênção do ar, o tesouro do verdadeiro amor ou o espetáculo do céu estrelado?…

— Mas Chaves — disse o outro —, isso é muita filosofia… O que eu desejo é fazer uma dádiva… Para vocês, espíritas, o que vem a ser uma dádiva?

E o educador respondeu, sereno:

— Dádiva é o bem que a gente faz sem esperar recompensa de coisa alguma.

O político, nervoso, despediu-se e procurou distração num bilhar. E inquirido por alguns correligionários quanto aos resultados da entrevista, deu primorosa tacada e falou que o professor João Augusto Chaves não passava de um louco.


Francisco Cândido Xavier pelo espírito Hilário Silva no livro "A vida escreve - Hilário Silva - 2ª parte", publicado em fevereiro de 1960