Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

quinta-feira, 11 de maio de 2017

MISSÃO DA MULHER


(Lyon, 6 de julho de 1866, grupo da Sra. Ducard - Médium: Sra. B...)

A cada dia os acontecimentos da vida vos trazem ensinamentos de natureza a vos servir de exemplo e, contudo, passais sem compreendê-los, sem tirar uma dedução útil das circunstâncias que os provocaram. Entretanto, nesta união íntima entre a Terra e o espaço, entre os Espíritos livres e os Espíritos cativos, ligados à realização de sua tarefa, há desses exemplos cuja lembrança deve perpetuar-se entre vós: é a paz proposta durante a guerra. Uma mulher cuja posição social atrai todos os olhares, vai, humilde irmã de caridade, levar a todos a consolação de sua palavra, a afeição de seu coração, a carícia de seus olhos. Ela é imperatriz; sobre sua fronte brilha a coroa de diamantes, mas ela esquece a sua posição, esquece o perigo para acorrer ao meio do sofrimento e dizer a todos: “Consolai-vos, eis-me aqui! Não sofrais mais, eu vos falo; não vos inquieteis, eu tomarei conta de vossos órfãos!...” O perigo é iminente, o contágio está no ar, contudo, ela passa, calma e radiosa, em meio a esses leitos onde jaz a dor. Ela nada calculou, nada apreendeu, foi onde a chamava seu coração, como a brisa vai refrescar as flores murchas e reerguer as hastes vacilantes.

Este exemplo de devotamento e de abnegação, quando os esplendores da vida deveriam engendrar o orgulho e o egoísmo, é, por certo, um estimulante para as mulheres que sentem vibrar em si essa delicadeza de sentimento que Deus lhes deu para cumprir sua tarefa, porque elas estão encarregadas principalmente de espalhar a consolação e sobretudo a conciliação. Não têm elas a graça e o sorriso, o encanto da voz e a suavidade da alma? É a elas que Deus confia os primeiros passos de seus filhos; ele as escolheu como as nutrizes das doces criaturas que vão nascer.

Esse Espírito rebelde e orgulhoso, cuja existência será uma luta constante contra a desgraça, não lhes vem pedir que lhe inculque outras ideias, diferentes daquelas que ele traz ao nascer? É para elas que ele estende suas mãozinhas, e sua voz outrora rude, e seus acentos que vibravam como um cobre, abrandar-se-ão como um doce eco, quando disser: mamãe!

É à mulher que ele implora, esse doce querubim que vem ensinar a ler no livro da ciência; é para agradá-la que ele fará todos os esforços para instruir-se e tornar-se útil à Humanidade. ─ É ainda para ela que ele estende as mãos, esse jovem que se transviou em seu caminho e que deseja voltar ao bem. Ele não ousará implorar a seu pai, cuja cólera teme, mas sua mãe, tão suave, tão generosa, não terá para ele senão esquecimento e perdão.

Não são elas as flores animadas da vida, os devotamentos inalteráveis, essas almas que Deus criou mulheres? Elas atraem e encantam. Chamam-nas de tentação, mas deviam chamá-las de lembrança, porque sua imagem fica gravada em caracteres indeléveis no coração dos filhos, quando elas partiram. Não é no presente que são apreciadas, é no passado, quando a morte as entregou a Deus. ─ Então seus filhos as buscam no espaço, como o marinheiro busca a estrela que deve conduzi-lo ao porto. Elas são a esfera de atração, a bússola do Espírito que ficou na Terra e que espera encontrá-las no céu. Elas são, ainda, a mão que conduz e sustenta, a alma que inspira e a voz que perdoa, e assim como foram o anjo do lar terreno, tornam-se o anjo consolador que ensina a orar.

Oh! vós que tendes sido oprimidas na Terra, mulheres que sois tidas como escravas do homem, porque vos submetestes à sua dominação, vosso reino não é deste mundo! Contentai-vos, pois, com a sorte que vos está reservada; continuai vossa tarefa; continuai sendo as medianeiras entre o homem e Deus, e compreendei bem a influência de vossa intervenção. ─ Este é um Espírito ardente, impetuoso; o sangue lhe ferve nas veias e vai se exaltar, será injusto; mas Deus pôs a doçura em vossos olhos e a carícia em vossa voz. Olhai-o, falai-lhe, a cólera se apaziguará e a injustiça será afastada. Talvez tenhais sofrido, mas tereis poupado de uma falta o vosso companheiro de jornada e vossa tarefa foi cumprida. Aquele ainda é infeliz, sofre, a fortuna o abandona, ele se considera um pária!... Mas aí há um devotamento à prova, uma abnegação constante para erguer esse moral abatido, para dar a esse Espírito a esperança que o havia abandonado.

Mulheres, sois as companheiras inseparáveis do homem; com ele formais uma cadeia indissolúvel que a desgraça não pode romper, que a ingratidão não deve manchar e não poderia quebrar-se, porque o próprio Deus a formou e, embora às vezes tenhais na alma essas preocupações sombrias que acompanham a luta, contudo rejubilai-vos, porque nesse imenso trabalho de harmonia terrena, Deus vos deu a mais bela parte!

Coragem, pois! Ó vós que viveis humildemente, trabalhando por melhorar vosso interior, Deus vos sorri, porque vos deu essa amenidade que caracteriza a mulher. Quer sejam elas imperatrizes, irmãs de caridade, humildes trabalhadoras ou suaves mães de família, estão todas alistadas sob a mesma bandeira e levam escritas na fronte e no coração estas duas palavras mágicas que enchem a Eternidade: Amor e Caridade.

CÁRITA

Publicação de Allan Kardec na Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos de abril de 1867 na seção "Dissertações Espíritas".

INSTRUÇÃO DAS MULHERES


(Joinville Haute-Marne, 10 de março de 1868 - Médium: Sra. P...)

Neste momento, a instrução da mulher é uma das mais graves questões, porque não contribuirá pouco para realizar as grandes ideias de liberdade que dormem no fundo dos corações.

Honra aos homens de coragem que tomaram a sua iniciativa! Eles podem, de antemão, estar certos do sucesso de seus trabalhos. Sim, soou a hora da libertação da mulher; ela quer ser livre, e para isto há que libertar a sua inteligência dos erros e dos preconceitos do passado. É pelo estudo que ela alargará o círculo de seus conhecimentos estreitos e mesquinhos. Livre, ela fundará a sua religião sobre a moral, que é de todos os tempos e de todos os países. Ela quer ser e será a companheira inteligente do homem, sua conselheira, sua amiga, a instrutora de seus filhos e não um joguete de que se servem como uma coisa, e que depois se despreza para tomar outra coisa.

Ela quer trazer sua pedra ao edifício social que se ergue neste momento ao poderoso sopro do progresso.

É verdade que, uma vez instruída, ela escapa das mãos daqueles que a convertem num instrumento. Como um pássaro cativo, ela quebra a sua gaiola e voa para os vastos campos do infinito. É verdade que, pelo conhecimento das leis imutáveis que regem mundos, ela compreenderá Deus de modo diferente do que lhe ensinam; não acreditará mais num Deus vingador, parcial e cruel, porque sua razão lhe dirá que a vingança, a parcialidade e a crueldade não podem conciliar-se com a justiça e a bondade. O seu Deus, o dela, será todo amor, mansuetude e perdão.

Mais tarde ela conhecerá os laços de solidariedade que unem os povos entre si, e os aplicará em seu redor, espalhando com profusão tesouros de caridade, de amor e de benevolência para com todos. A qualquer seita a que pertença, saberá que todos os homens são irmãos e que o mais forte não recebeu a força senão para proteger o fraco e elevá-lo na Sociedade ao verdadeiro nível que ele deve ocupar.

Sim, a mulher é um ser perfectível como o homem, e suas aspirações são legítimas; seu pensamento é livre, e nenhum poder no mundo tem o direito de escravizá-la aos seus interesses e às suas paixões. Ela reclama sua parte de atividade intelectual, e a obterá, porque há uma lei mais poderosa do que todas as leis humanas, é a do progresso, à qual toda a criação está submetida.

UM ESPÍRITO

OBSERVAÇÃO: Temos dito e repetido muitas vezes, a emancipação da mulher será a consequência da difusão do Espiritismo, porque ele funda os seus direitos, não numa ideia filosófica generosa, mas na própria identidade da natureza do Espírito. Provando que não há Espíritos homens e Espíritos mulheres; que todos têm a mesma essência, a mesma origem e o mesmo destino, ele consagra a igualdade dos direitos. A grande lei da reencarnação vem, além disto, sancionar esse princípio. Considerando-se que os mesmos Espíritos podem encarnar-se tanto como homens quanto como mulheres, disso resulta que o homem que escraviza a mulher poderá ser escravizado por sua vez; que assim, trabalhando pela emancipação das mulheres, os homens trabalham pela emancipação geral e, por consequência, em proveito próprio. As mulheres têm, pois, um interesse direto na propagação do Espiritismo, porque este fornece ao apoio de sua causa os mais poderosos argumentos que jamais foram invocados. 

Publicação de Allan Kardec na Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos em abril de 1868 na seção de "Dissertações Espíritas".
  

segunda-feira, 8 de maio de 2017

SOBRE O ÓDIO, O AMOR E O PROBLEMÁTICO MUNDO DOS AFETOS

Publicado originalmente em REVISTA CULT.

Será que somos livres para amar e odiar se há tanto controle por trás dos afetos?

Começamos a falar de ódio há algum tempo, quando percebemos que ele estava em alta. Para muita gente, de repente, o ódio pareceu uma novidade. O discurso de ódio ganhou as televisões, as redes sociais, o dia-a-dia das pessoas e tornou-se algo natural. “Amar”, um poético verbo intransitivo, foi substituído pelo odiar.


Algo que é próprio da vida dos afetos é esquecer como eles surgem. Seja o ódio, seja o amor, que parece o seu contrário imediato, os afetos são vividos como que naturalmente. Isso quer dizer que são experimentados sem que haja consciência das mediações a partir das quais eles são possíveis na vida das pessoas. Não nos perguntamos por que odiamos. Do mesmo modo como não nos perguntamos por que amamos. Como passamos a odiar ou a amar? O que impulsiona nosso amor, nosso ódio? O ódio é nosso mesmo? Ou é coletivo? E, se for coletivo, seria ainda autóctone? O ódio é como aquele deus ex machina que vem do nada? Ou ele é produzido com fins específicos?

Pensamos que o ódio que sentimos vem de nós mesmos, que o amor que sentimos também. Que ele vem de um fundo pessoal, de algo como uma natureza própria. Mas será que esse tipo de raciocínio não prejudica a nossa compreensão desses fenômenos que definem nossas vidas e a vida dos outros e das comunidades com as quais convivemos?

Parece importante pensar um pouco mais na utilidade dos afetos. Pensar no uso que as instituições e os poderes fazem deles. Perguntar quando a família, a igreja, a televisão nos ensinam a amar e odiar. Será que somos livres para amar e odiar se há tanto controle por trás dos afetos?

Não seria a hora de perceber que há uma verdadeira economia política dos afetos que leva tanta gente a adorar shoppings e mercadorias em vez de promover o amor ao conhecimento e o respeito à educação e à escola? Que leva tantos a amar tecnologias, carros, telefones celulares, televisores de último tipo enquanto reservam seu ódio às pessoas?

Os afetos não estão fora da linguagem. Não são algo como um “instinto”. Os afetos não forjam discursos apenas, mas também são criados pelos discursos. Os discursos, por sua vez, são falas prontas que servem para definir estruturas e orientar ações. Todos nós somos vítimas de discursos: o publicitário e o anti-publicitário, o religioso e o anti-religioso, o partidário e o apartidário. Discursos são evidentemente causa e efeito de pensamentos e emoções, mas escolhem por onde levar esses ou aqueles pensamentos e emoções a um objetivo específico.

Todos estamos enrolados nos fios do círculo vicioso da discursividade. Como ser livre afetivamente, nessas condições?

Contra esse estado de coisas, só o pensamento crítico pode nos abrir caminhos lúcidos. A reflexão é a única ação que pode produzir mudanças capazes de fazer sentido hoje.

Por Márcia Tiburi de quem indicamos as seguintes obras para leitura: 


AGRADEÇO, SENHOR


Agradeço Senhor,
Quando me dizes “não”
Às súplicas indébitas que faço,
Através da oração.

Muitas daquelas dádivas que peço,
Estima, concessão, posse, prazer,
Em meu caso talvez fossem espinhos,
Na senda que me deste a percorrer.

De outras vezes, imploro-te favores,
Entre lamentação, choro, barulho,
Mero capricho, simples algazarra,
Que me escapam do orgulho...

Existem privilégios que desejo,
Reclamando-te o “sim”,
Que, se me florescessem na existência,
Seriam desvantagens contra mim.

Em muitas circunstâncias rogo afeto,
Sem achar companhia em qualquer parte,
Quando me dás a solidão por guia
Que me inspire a buscar-te.

Ensina-me que estou no lugar certo,
Que a ninguém me ligaste de improviso,
E que desfruto, agora a melhor tempo
De melhorar-me em tudo o que preciso.

Não me escutes as exigências loucas,
Faze-me perceber
Que alcançarei além do necessário,
Se cumprir meu dever.

Agradeço, meu Deus,
Quando me dizes “não” com teu amor,
E sempre que te rogue o que não deva,
Não me atendas, Senhor!...

Francisco Cândido Xavier pelo espírito Maria Dolores 
no livro "Antologia da Espiritualidade". 

AMOR

O Amor, sublime impulso de Deus, é a energia que move os mundos:  tudo cria, tudo transforma, tudo eleva... Palpita em todas as criaturas, alimenta todas as ações.

O ódio é o Amor que se envenena.
 
A paixão é o Amor que se incendeia.
 
O egoísmo é o Amor que se concentra em si mesmo.
 
O ciúme é o Amor que se dilacera.
 
A revolta é o Amor que se transvia.
 
O orgulho é o Amor que enlouquece.
 
A discórdia é o Amor que divide.
 
A vaidade é o Amor que ilude.
 
A avareza é o Amor que se encarcera.
 
O vício é o Amor que se embrutece.
 
A crueldade é o Amor que tiraniza.
 
O fanatismo é o Amor que petrifica... 

A fraternidade é o Amor que se expande.


A bondade é o Amor que se desenvolve.
 
O carinho é o Amor que se enflora.
 
A dedicação é o Amor que se estende.
 
O trabalho digno é o Amor que aprimora.
 
A experiência é o Amor que amadurece.
 
A renúncia é o Amor que se ilumina.
 
O sacrifício é o Amor que se santifica...

O Amor é o clima do Universo.
 
É a religião da vida, a base do estímulo e a força da Criação.

Ao seu influxo, as vidas se agrupam, sublimando-se para a imortalidade. 

Nesse ou naquele recanto isolado, quando se lhe retire a influência, reina sempre o caos.
 
Com ele, tudo se aclara.
 
Longe dele, a sombra se coagula e prevalece.
 
Em suma, o bem é o Amor que se desdobra, em busca da Perfeição no Infinito, segundo os Propósitos Divinos; e o mal é, simplesmente, o Amor fora da Lei.

Francisco Cândido Xavier pelo espírito João de Brito 
no livro "Falando à Terra".