Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

PRIMEIRAS LIÇÕES DE MORAL DA INFÂNCIA


De todas as chagas morais da Sociedade, parece que o egoísmo é a mais difícil de desarraigar. Com efeito, ela o é tanto mais quanto mais é alimentada pelos próprios hábitos da educação. Parece que se toma a tarefa de excitar, desde o berço, certas paixões que mais tarde tornam-se uma segunda natureza. E admiram-se dos vícios da Sociedade, quando as crianças o sugam com o leite. Eis um exemplo que, como cada um pode julgar, pertence mais à regra do que à exceção.

Numa família de nosso conhecimento há uma menina de quatro a cinco anos, de uma inteligência rara, mas que tem os pequenos defeitos das crianças mimadas, isto é, é um pouco caprichosa, chorona, teimosa, e nem sempre agradece quando lhe dão qualquer coisa, o que os pais cuidam bem de corrigir, porque fora esses defeitos, segundo eles, ela tem um coração de ouro, expressão consagrada. Vejamos como eles se conduzem para lhe tirar essas pequenas manchas e conservar o ouro em sua pureza.

Um dia trouxeram um doce à criança e, como de costume, lhe disseram: “Tu o comerás se fores boazinha”. Primeira lição de gulodice. Quantas vezes, à mesa, não dizem a uma criança que não comerá tal petisco se chorar. “Faze isto, ou faze aquilo”, dizem, “e terás creme” ou qualquer outra coisa que lhe apeteça, e a criança se constrange, não pela razão, mas em vista de satisfazer a um desejo sensual que aguilhoam.

É ainda muito pior quando lhe dizem, o que não é menos frequente, que darão o seu pedaço a uma outra. Aqui já não é só a gulodice que está em jogo, é a inveja. A criança fará o que lhe dizem, não só para ter, mas para que a outra não tenha. Querem dar-lhe uma lição de generosidade? Então lhe dizem: “Dá esta fruta ou este brinquedo a fulaninho”. Se ela recusa, não deixam de acrescentar, para nela estimular um bom sentimento: “Eu te darei um outro”, de modo que a criança não se decide a ser generosa senão quando está certa de nada perder.

Certo dia testemunhamos um fato bem característico neste gênero. Era uma criança de cerca de dois anos e meio, a quem tinham feito semelhante ameaça, acrescentando: “Nós o daremos ao teu irmãozinho, e tu ficarás sem nada.” Para tornar a lição mais sensível, puseram o pedaço no prato do irmãozinho, que levou a coisa a sério e comeu a porção. À vista disso, o outro ficou vermelho e não era preciso ser nem o pai nem a mãe para ver o relâmpago de cólera e de ódio que partiu de seus olhos. A semente estava lançada: poderia produzir bom grão?

Voltemos à menina, da qual falamos. Como ela não se deu conta da ameaça, sabendo por experiência que raramente a cumpriam, desta vez foram mais firmes, pois compreenderam que era necessário dominar esse pequeno caráter, e não esperar que com a idade ela adquirisse um mau hábito. Diziam que é preciso formar cedo as crianças, máxima muito sábia e, para a pôr em prática, eis o que fizeram: “Eu te prometo, disse a mãe, que se não obedeceres, amanhã cedo darei o teu bolo à primeira menina pobre que passar.” Dito e feito. Desta vez queriam manter a promessa e dar-lhe uma boa lição. Assim, no dia seguinte, de manhã, tendo visto uma pequena mendiga na rua, fizeram-na entrar e obrigaram a filha a tomá-la pela mão e ela mesma lhe dar o seu bolo. Então elogiaram a sua docilidade. Moral da história: A filha disse: “Se eu soubesse disto teria me apressado em comer o bolo ontem.” E todos aplaudiram esta resposta espirituosa. Com efeito, a criança tinha recebido uma forte lição, mas de puro egoísmo, da qual não deixará de aproveitar-se uma outra vez, pois agora sabe quanto custa a generosidade forçada. Resta saber que frutos dará mais tarde esta semente quando, com mais idade, a criança fizer a aplicação dessa moral em coisas mais sérias que um bolo.

Sabe-se todos os pensamentos que este único fato pode ter feito germinar nessa cabecinha? Depois disto, como querem que uma criança não seja egoísta quando, em vez de nela despertar o prazer de dar e de lhe representar a felicidade de quem recebe, impõem-lhe um sacrifício como punição? Não é inspirar aversão ao ato de dar àqueles que necessitam?

Outro hábito, igualmente frequente, é o de castigar a criança mandando-a comer na cozinha com os criados. A punição está menos na exclusão da mesa do que na humilhação de ir para a mesa dos serviçais. Assim se acha inoculado, desde a mais tenra idade, o vírus da sensualidade, do egoísmo, do orgulho, do desprezo aos inferiores, das paixões, numa palavra, que com razão são consideradas como as chagas da Humanidade.

É preciso ser dotado de uma natureza excepcionalmente boa para resistir a tais influências, produzidas na idade mais impressionável, na qual não podem encontrar o contrapeso nem da vontade, nem da experiência. Assim, por pouco que aí se ache o germe das más paixões, o que é o caso mais ordinário, dada a natureza da maioria dos Espíritos que se encarnam na Terra, ele não pode deixar de desenvolver-se sob tais influências, ao passo que seria preciso observar-lhe os menores traços para reprimi-los.

A falta, sem dúvida, é dos pais, mas é preciso dizer que muitas vezes estes pecam mais por ignorância do que por má vontade. Em muitos há, incontestavelmente, uma culposa despreocupação, mas em muitos outros a intenção é boa, no entanto, é o remédio que nada vale, ou que é mal aplicado.

Sendo os primeiros médicos da alma de seus filhos, os pais deveriam ser instruídos, não só de seus deveres, mas dos meios de cumpri-los. Não basta ao médico saber que deve procurar curar, é preciso saber como agir. Ora, para os pais, onde estão os meios de instruir-se nesta parte tão importante de sua tarefa? Hoje dá-se muita instrução à mulher; fazem-na passar por exames rigorosos, mas algum dia foi exigido da mãe que soubesse como fazer para formar o moral de seu filho? Ensinam-lhe receitas caseiras, mas foi iniciada aos mil e um segredos de governar os jovens corações?

Os pais, portanto, são abandonados sem guia à sua iniciativa. É por isto que tantas vezes seguem caminhos errados. Assim recolhem, nos erros dos filhos já crescidos, o fruto amargo de sua inexperiência ou de uma ternura mal compreendida, e a Sociedade inteira lhes recebe o contragolpe.

Considerando-se que o egoísmo e o orgulho são reconhecidamente a fonte da maioria das misérias humanas; que enquanto eles reinarem na Terra não se pode esperar nem paz, nem caridade, nem fraternidade, então é preciso atacá-los no estado de embrião, sem esperar que fiquem vivazes.

Pode o Espiritismo remediar esse mal? Sem dúvida nenhuma, e não hesitamos em dizer que ele é o único suficientemente poderoso para fazê-lo cessar, pelo novo ponto de vista com o qual ele permite perceber a missão e a responsabilidade dos pais; dando a conhecer a fonte das qualidades inatas, boas ou más; mostrando a ação que se pode exercer sobre os Espíritos encarnados e desencarnados; dando a fé inquebrantável que sanciona os deveres; enfim, moralizando os próprios pais. Ele já prova sua eficácia pela maneira mais racional empregada na educação das crianças nas famílias verdadeiramente espíritas. Os novos horizontes que abre o Espiritismo fazem ver as coisas de outra maneira. Sendo o seu objetivo o progresso moral da Humanidade, ele forçosamente deverá iluminar o grave problema da educação moral, primeira fonte da moralização das massas. Um dia compreender-se-á que este ramo da educação tem seus princípios, suas regras, como a educação intelectual, numa palavra, que é uma verdadeira ciência. Talvez um dia, também, será imposta a toda mãe de família a obrigação de possuir esses conhecimentos, como se impõe ao advogado a de conhecer o Direito.

Allan Kardec, na Revista Espírita de fevereiro de 1864. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

ALLAN KARDEC - UMA VIDA PELA CARIDADE

A abnegação, o devotamento desinteressado, a indulgência para com o próximo, a abstenção absoluta de toda palavra ou de todo ato que possam ferir o próximo, em uma palavra, a caridade em sua mais pura acepção, devem ser a regra invariável de conduta do espírita. – Allan Kardec (Viagem Espírita em 1862, Discurso III)


É muito comum possuirmos ideias preconcebidas a respeito de certas pessoas, das quais muito se fala, mas que são efetivamente pouco conhecidas, sobretudo na intimidade. É o que ocorre com Allan Kardec. Sempre citado pelos espíritas em seus centros, devido à importância de seu papel na elaboração da Doutrina Espírita, ele permanece, no entanto, um "ilustre desconhecido". Essa é a razão por que vemos alguns adeptos dizerem que Kardec foi um intelectual, que ficou alguns anos trancado em seu escritório, escrevendo as obras fundamentais do Espiritismo, cumpriu sua missão e desencarnou ao final dela. Alguns chegam mesmo a afirmar que ele não teve a oportunidade de praticar a caridade, posto que as tarefas que possuía não lhe deixavam tempo para isso, mas que seus continuadores, sim, puderam fazer todo o bem que ele não pôde. Ele é visto, por muitos espíritas, como um homem admirável por seus progressos intelectuais, mas quase nunca como exemplo de conduta.

Nosso objetivo, nesse pequeno artigo, é analisar a validade dessas ideias preconcebidas, não porque acreditemos que Kardec se sentiria honrado com o esforço que fizéssemos para que sua imagem fosse vista sem distorções, mas porque temos a convicção de tratar-se de um dever divulgarmos os bons exemplos, dada a importância de sua propagação para a transformação moral dos indivíduos. Deixaremos o leitor com alguns extratos do pensamento de Allan Kardec e relatos da visão que seus amigos tinham dele, de maneira que o próprio leitor possa analisar se o educador francês pode ser contado na categoria dos homens de bem...

Mesmo antes de iniciar suas observações a respeito dos fenômenos espíritas e dedicar-se à elaboração do Espiritismo, que tem como lema "Fora da Caridade não há Salvação", Rivail (seu nome de batismo) já consagrava sua vida e seus lazeres à prática da caridade. Vejamos o que diz seu contemporâneo, o Sr. E. Muller:

"Ele tinha horror à preguiça e à ociosidade: e este grande trabalhador morreu de pé, após um labor imenso, que acabou ultrapassando as forças de seus órgãos, mas não as do Espírito e do coração.
Educado na Suíça, naquela escola patriótica em que se respira um ar livre e vivificante, ocupava seus lazeres, desde a idade de quatorze anos, a dar aulas aos seus camaradas que sabiam menos que ele. (...) 

Não contente de utilizar suas faculdades notáveis numa profissão que lhe assegurava um tranquilo bem-estar, quis que aproveitassem os seus conhecimentos aqueles que não podiam pagar e foi um dos primeiros a organizar, nesta fase de sua vida, cursos gratuitos, mantidos na rua de Sèvres, nº 35, nos quais ensinava Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia etc..." (Discursos Pronunciados por Ocasião da Inauguração do Monumento a Allan Kardec no Cemitério Père-Lachaise, 1870)

Foi, no entanto, ao dedicar-se ao árduo trabalho de elaboração do Espiritismo que Kardec mais teve de abnegar-se e devotar-se à causa que empreendia e a todos aqueles que dela se beneficiavam. Chegou, progressivamente, a abdicar de todas suas outras ocupações em prol da Doutrina Espírita, pois percebia, pelos efeitos por ela gerados, que efetivamente tratava-se do Consolador prometido pelo Cristo à humanidade. Dessa maneira, dedicou a ela todas as suas forças, inclusive a própria saúde, conforme ele mesmo afirmou:

"Compreendi, então, a imensidade de minha tarefa e a importância do trabalho que me restava a fazer para completá-la. Longe de me apavorar, as dificuldades e os obstáculos redobraram a minha energia; vi o objetivo, e resolvi atingi-lo com a assistência dos bons Espíritos. Eu sentia que não tinha tempo a perder e não o perdi nem em visitas inúteis, nem em cerimônias ociosas. Foi a obra de minha vida; a ela dei todo o meu tempo; a ela sacrifiquei o meu repouso, a minha saúde, porque o futuro estava escrito diante de mim em caracteres irrefutáveis." (Revista Espírita, dezembro de 1868 – Constituição Transitória do Espiritismo)

É preciso muita coragem e perseverança para devotar-se tão abnegadamente a uma causa. Com efeito, Kardec não apenas trabalhou na divulgação do ensino dos Espíritos, mas foi o primeiro a colocá-los em prática em sua vida pessoal. As palavras de Jesus não eram esquecidas por ele: "Tomai, pois, por divisa estas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõem." (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, O Cristo Consolador, 8)

Seu amigo Alexandre Delanne, que partilhava, com sua família, da intimidade do lar do casal Allan Kardec, foi testemunha de inúmeras ocasiões onde o Mestre não se recusou a praticar a caridade, fosse através do auxílio material ou do socorro moral, da maneira mais modesta e desinteressada possível:

"Ninguém saberia, melhor do que eu, reconhecer as raras qualidades de Allan Kardec e render-lhe justiça. (...) Muitas vezes eu tive a honra de ser recebido em sua intimidade. Como testemunhei algumas de suas boas ações, creio não ser descabido fazer algumas citações aqui.

Um amigo meu de Joinville, o Sr. P..., veio ver-me certo dia. Fomos juntos à vila Ségur, a fim de visitar o Mestre. No decorrer da conversa, o Sr. P... narrou a vida de privações por que passava um compatriota seu, já avançado em idade e a quem tudo faltava, inclusive agasalhos para se cobrir no inverno, e obrigado a proteger os pés desnudos em toscos tamancos. Esse homem de bem, entretanto, longe estava de se lastimar e, sobretudo, de pedir auxílio: era um pobre envergonhado.

É que uma brochura espírita lhe caíra sob os olhos, permitindo-lhe haurir na Doutrina a resignação para as suas provas e a esperança de um futuro melhor.
Vi, então, rolar uma lágrima compassiva dos olhos de Allan Kardec e, confiando ao meu amigo algumas moedas de ouro, disse-lhe: "Tomai-as para que possais prover às necessidades materiais mais prementes do vosso protegido. E, já que ele é espírita e suas condições não lhe permitem instruir-se tanto quanto ele desejaria, voltai amanhã. Sereis portador de todas as obras de que eu puder dispor, a fim de as entregar a ele". Allan Kardec cumpriu a promessa e hoje o velhinho bendiz o nome do benfeitor que, não satisfeito em socorrer sua miséria, ainda lhe dava o pão da vida, a riqueza da inteligência e da moral.

Alguns anos atrás, recomendaram-me uma pessoa reduzida à extrema miséria, expropriada violentamente de sua casa e jogada sem recursos no olho da rua, com a mulher e os filhos. Fiz-me intérprete desses infortunados junto ao mestre. No mesmo instante, sem querer conhecê-Ios, sem mesmo inquirir de suas crenças (eles não eram espíritas), Allan Kardec forneceu-me os meios de os tirar da miséria, o que lhes evitou o suicídio, pois já haviam decidido libertar-se do fardo da vida, tornado pesado demais às suas almas desalentadas, caso tivessem que renunciar à assistência dos homens.

(...) Eu não pararia de falar, se me fosse dado lembrar os milhares de fatos deste gênero, conhecidos tão-somente por aqueles que ele socorreu; porque ele não aliviava apenas a miséria material, mas também levantava, com palavras confortadoras, o moral abatido, e isto sem que sua mão esquerda soubesse o que dava a direita. Eis o coração desse filósofo, tão desconhecido durante sua vida!" (Discursos Pronunciados por Ocasião da Inauguração do Monumento a Allan Kardec no Cemitério Père-Lachaise, 1870)

Esse é o Allan Kardec que a maioria dos espíritas ainda não conhece. Ele teve na caridade, em sua concepção mais pura, sua regra invariável de conduta. Não foi um intelectual de destaque, perdido entre papéis em seu escritório, escrevendo suas obras. Foi um homem que dedicou todas as suas forças pelo próximo e que merece ser relembrado com um dos melhores seres que já viveu em nosso planeta, um verdadeiro modelo para a humanidade.

Por fim, encerramos com essas palavras de Kardec, que nos mostram mais um pouco da grandeza de um homem que não fazia nenhum tipo de acepção quando se tratava de auxiliar o próximo, fosse ele um poderoso nobre, ou um simples operário:

"Para mim, um homem é um homem, isto apenas! Meço seu valor por seus atos, por seus sentimentos, nunca por sua posição social. Pertença ele às mais altas camadas da sociedade, se age mal, se é egoísta e negligente de sua dignidade é, a meus olhos, inferior ao trabalhador que procede corretamente, e eu aperto mais cordialmente a mão de um homem humilde, cujo coração estou a ouvir, do que a de um potentado cujo peito emudeceu. A primeira me aquece, a segunda me enregela.

Personagens da mais alta posição honram-me com sua visita, porém nunca, por causa deles, um proletário ficou na antecâmara. Muitas vezes, em meu salão, o príncipe se assenta ao lado do operário. Se se sentir humilhado, eu direi que ele não é digno de ser espírita. Mas, sinto-me feliz em dizer, eu os vi, muitas vezes, apertarem-se as mãos, fraternalmente e, então, um pensamento me ocorria: "Espiritismo, eis um dos teus milagres; este é o prenúncio de muitos outros prodígios!" (...) Eu coloco em primeira instância as consolações que é preciso dar aos que sofrem; levantar a coragem dos abatidos, arrancar um homem de suas paixões, do desespero, do suicídio, detê-lo talvez no limiar do crime; não vale mais isto do que os lambris dourados? Tenho milhares de cartas que para mim mais valem do que todas as honrarias da Terra e que vejo como meus verdadeiros títulos de nobreza." (Viagem Espírita em 1862, Discurso Pronunciado nas Reuniões Gerais dos Espíritas de Lyon e Bordeaux, III)

Que o nobre Allan Kardec, esse homem que dedicou a vida pela caridade, receba o nosso mais sincero agradecimento neste dia 03 de outubro, em que comemoramos 212 anos de seu nascimento. Que esse Espírito, que ainda acompanha de perto os homens, a quem tanto amou e a quem tão intensamente se dedicou, possa nos inspirar a força, a coragem e a perseverança para seguirmos seus passos e fazermos também da caridade a obra de nossas vidas.

Equipe IPEAK

terça-feira, 4 de outubro de 2016

NO MUNDO PESSOAL


Quando te observares na verdadeira posição de criatura imortal, nascida de Deus, com estrutura original, decerto te habilitarás a compreender que o Criador te conferiu tarefas individuais que deves aceitar por intransferíveis. 

* * * 

Reflete nisso :

Ninguém  possui  o  trabalho  que  te  foi  concedido executar,  conquanto  algumas  vezes  a  obra em tuas mãos possa assemelhar-se, de algum modo, a certas atividades alheias, no  levantamento do progresso geral. 

Ninguém dispõe da fonte de teus pensamentos plasmados por tua maneira especialíssima de ser.

Qual sucede com as impressões digitais, a voz que te serve se te erige em propriedade  inalienável.

Em qualquer plano e em qualquer tempo mobilizas todo um mundo interior de cujas manifestações mais íntimas e mais profundas os outros não participam.

À face disso, estarás em comunidade, mas viverás essencialmente contigo mesmo, com os teus sentimentos e diretrizes, ideais e realizações.

Isso porque o Governo da Vida te fez concessões que não estendeu a mais ninguém. 

* * * 

Observa os compromissos que te assinalam, seja em família ou seja no grupo social, e descobrirás para logo as obrigações que se te reservam de imediatismo das circunstâncias.

Se falhas no serviço a fazer, alguém te substitui no momento seguinte, porque a Obra do Universo não depende exclusivamente de nós; entretanto seja como seja onde te colocares, podes facilmente identificar as tarefas pessoais que a vida te solicita.

* * * 

Quis a Divina Providência viesses a nascer no Universo por inteligência única, de modo a cumprir deveres  inconfundíveis, sob a justa obrigação de te conheceres, mas não nos referimos a isso para que te percas no orgulho e sim para que te esmeres no burilamento próprio, valorizando-te na condição de criatura eterna em ascensão para a Espiritualidade Superior, a fim de brilhar e cooperar com Deus na suprema destinação da Sabedoria e do Amor, para a qual, por força da própria Lei de Deus, cada um de nós se dirige.  

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier 
no livro: Rumo Certo.

ESTIVE PENSANDO: SINGULARIDADE

Muitos pensadores, religiosos e cientistas se debruçaram, e ainda se debruçam, na busca pelo entendimento sobre o que nos leva a nos tornarmos naquilo que somos. 

Nossa construção mental neste lado ocidental do mundo, de tradição judaico-cristã imposta pelos colonizadores, nos trata como criaturas que são o que são dependendo sempre de como é nossa relação com o divino, com o transcendente, com Deus e também com os poderosos, os que possuem riquezas e nobreza.

Normalmente, na dificuldade em, dogmaticamente, explicar a questão, fomos impelidos e adestrados a convivermos com as ideias de pecado, de castigo, de punição, ou de redenção, de aprovação divina, de recompensa. Só nos restava portanto a aceitação, ou a morte, literal ou metaforicamente.

Em grande maioria partimos do coletivo para explicar o singular, acreditando que a primazia do meio sobre o Ser é natural, quando ela é normal, e isso é bem diferente. Resultado disso são os estereótipos, marcadamente preconceituosos.



A Doutrina dos Espíritos nos ensina que cada um de nós possui características, particularidades, singularidades que lhes são próprias e que nem sempre são características dos outros com quem vivemos e convivemos, o que explica tanta dificuldade que encontramos em nos relacionarmos com as diversidades, pois somos impelidos pelo meio religioso, social, cultural e principalmente econômico a fazermos parte de um todo, como se o todo determinasse o que somos.  Fomos condicionados a vincularmos nossas reflexões sobre nossas vidas baseando-se no que temos capacidade para consumirmos. 

Mas podemos pensar e estruturar nossas vidas de maneira diferente a que nos é proposta por essa sociedade de mercado.

O evangelista Mateus narra no que conhecemos como o Sermão da Montanha exortações de Jesus nos convidando a sermos "sal da terra" e que "brilhe a nossa luz"... 

Somos nós, na nossa individualidade, na nossa subjetividade, que temperamos o nosso mundo e que também providenciamos a intensidade em que nossa luz brilhará. 

Alguns nos podem servir de exemplo e inspiração, como nossos pais, familiares, professores, colegas de trabalho, líderes religiosos, gurus, intelectuais, artistas etc, mas cabe a cada um entender como deve viver a própria vida, pois nenhum de nós vivenciará a mesma história pois não possuem, à luz da doutrina espírita a mesma missão, pois a cada um será dado de acordo com suas obras. 

Na singularidade nos encontramos conosco mesmos, entendemos a partir do que gostamos ou não gostamos, o que somos e preparamo-nos no sentido de modificações necessárias a partir desses gostos pessoais e intransferíveis. Já na pluralidade nos encontramos com os outros e suas maneiras diferentes de ser, levando-nos ao aprendizado daquilo que não somos capazes de abarcar pela existência pessoal, uma vez que na pluralidade projetamos em todos o que nossa singularidade tem de entendimento naquele instante, propiciando a cada um a oportunidade de uma autoavaliação, um autodescobrimento.

Antes de procurar "fazer parte" que você se reconheça na parte que é... 

Seja um... seja você!!!

SAIBAMOS LEMBRAR

   “Lembrai-vos das minhas prisões.” — Paulo.
(COLOSSENSES, CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 18.) 
Nas infantilidades e irreflexões costumeiras, os crentes recordam apenas a luminosa auréola dos espíritos santificados na Terra. 

Supõem muitos encontrá-los, facilmente, além do túmulo, a fim de receber-lhes preciosas lembranças.

Não aguardam senão o céu, através de repouso brilhante na imensidade cósmica... 

Quantos se lembrarão de Paulo tão-somente na glorificação? Entretanto, nesta observação aos colossenses, o grande apóstolo exorta os amigos a lhe rememorarem as prisões, como a dizer que os discípulos não devem cristalizar o pensamento na antevisão de facilidades celestes e, sim, refletir, seriamente, no trabalho justo pela posse do reino divino. 

A conquista da espiritualidade sublimada tem igualmente os seus caminhos. É indispensável percorrê-los. 

Antes de fixarmos a coroa resplandecente dos apóstolos fiéis, meditemos nos espinhos que lhes feriram a fronte. 

Paulo conseguiu atingir as culminâncias, entretanto, quantos golpes de açoite, pedradas e ironias suportou, adaptando-se aos ensinamentos do Cristo, em escalando a montanha!... 

— Não mires, apenas, a superioridade manifesta daqueles a quem consagras admiração e respeito. Não te esqueças de imitá-los afeiçoando-te aos serviços sacrificiais a que se devotaram para alcançar os divinos fins. 

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier 
no livro: Pão Nosso.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

TRAGÉDIAS DO COTIDIANO


Prosseguem na sua faina interminável as tragédias do cotidiano, ceifando vidas de maneira perversa e descontrolada. No Mar Mediterrâneo continuam a ser abandonadas as vítimas dos países dilacerados pelas guerras cruéis, como recentemente mais de 1.500 foram resgatadas pela Itália, quando buscavam oportunidade nova de vida na Europa exausta e com excesso de população.

Em toda parte avolumam-se os atos de violência e de desespero em que existências louçãs ou não experimentam o gume que lhes ceifam a oportunidade de desenvolvimento.

E por mais se apresentem excruciantes, sempre surgem formas novas de extinção da vida, de maneira hedionda. Foi a ocorrência fatídica na Barra da Tijuca, conforme noticiou angustiada a Imprensa do país há poucos dias. Referimo-nos à família que foi destroçada, crê-se que pelo chefe do clã, cavalheiro honrado, desfrutando de respeitável posição socioeconômica, com esposa bela e filhos lindos. A senhora, possivelmente dormindo, foi assassinada a faca, e as duas crianças, seus filhos, foram atirados da janela do alto edifício com o próprio genitor. Apesar de acostumados com os dramas trágicos, essa calamidade surpreendeu, não apenas aos amigos, familiares e moradores do bairro, bem como toda a sociedade que lhe tomou conhecimento.

Que estado de desespero ou de consciência alterada leva alguém a cometer tantos e tão hediondos crimes? Quais as razões, se é que existem razões para ações de tal porte, que induzem a criatura humana a matar de maneira quase inconcebível?

Por mais que se encontrem fatores psicológicos, sociológicos, econômicos ou de outro porte, vale a pensar que “a criatura moderna perdeu o endereço de Deus” e, em consequência, perdeu o próprio também. A falta de fé na imortalidade reduz a vida na Terra a uma experiência sem sentido nem significado.

Torna-se necessário que se volte a Deus e à fé religiosa, seja qual for, para evitar-se tragédias de tal magnitude.

Por Divaldo Pereira Franco, publicado no jornal A TARDE, 
de 8 de setembro de 2016.

domingo, 2 de outubro de 2016

PSICOLOGIA E EVANGELHO





As ciências psicológicas atualmente contam com diversos sistemas de orientação com que pretendem guiar para a felicidade.


Nesse sentido, numerosas publicações correm mundo...

Livros para a descoberta do êxito, relacionando indicações para conduta e vantagem...

Manuais de otimismo, estabelecendo princípios de bom ânimo...

Compêndios filosóficos, propondo soluções aos problemas da depressão...

Tratados de psicanálise, endereçados à supressão dos conflitos emocionais...

Cartilhas de boas maneiras para a conquista de simpatia e cooperação...

E, por isso, arregimentam-se especialistas e estudiosos, comandando legiões de obreiros na Psicoterapia.

Cientistas, religiosos, professores e técnicos ensinam processos de autocondicionamento, objetivando a euforia ou o destaque da personalidade.

E todos eles – os que se esmeram no esforço da educação - avançam em rumo certo, aformoseando a face da existência terrestre, seja controlando os impulsos primitivistas da alma ou lubrificando o mecanismo das relações.

Importa reconhecer, porém, com o Evangelho do Cristo, que a vitória desses empreendimentos depende da regra áurea, aplicada na experiência de cada um: “Faze aos outros o que desejas que os outros te façam”.

A base de toda a terapêutica, destinada à garantia da sanidade de consciência, fundamenta-se na tarefa de compreender e auxiliar os nossos semelhantes, como esperamos que os nossos semelhantes nos compreendam e auxiliem.

De outro modo, as receitas de êxito exterior funcionarão exclusivamente ao modo das instruções que prevalecem para o asseio físico. O homem necessita de banho e não passará sem ele, se guarda fidelidade à higiene; mas, se o homem elege a criminalidade como sendo a norma da própria vida, por mais se ilumine ou se limpe por fora, carregará, por dentro, a sombra e a desorientação do mesmo jeito.

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier 
no livro: Encontro Marcado