Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sábado, 23 de julho de 2016

PSICOLOGIA DA GRATIDÃO

Os mitos sempre fizeram parte do inconsciente coletivo da sociedade pelos difíceis caminhos da História. Através deles assim como dos contos de fadas e do folclore, foi possível apresentar explicações lógicas para as complexidades dos fenômenos da vida, tornando-os aceitáveis, porquanto a sua abrangência abarca todas as questões que dizem respeito ao ser humano.

Todos os ensinos dos grandes mestres do passado foram realizados de forma simbólica, inclusive os de Jesus, que se utilizou das parábolas para perpetuar as Suas lições na psique dos ouvintes, insculpindo-as com vigor nos vinte séculos transcorridos desde a sua estada conosco.

Psicoterapias admiráveis, embora com outras denominações, têm sido aplicadas em pacientes graves, narrando-lhes histórias e curando-os, qual acontece na atualidade com alguns especialistas que até se utilizam dos símbolos mitológicos, uns reais, outros extraídos do Velho como do Novo Testamento, para culminarem proporcionando a conquista da saúde.

A mitologia, desse modo, tornou-se a psicologia essencial que contribui para o despertamento do indivíduo, a fim de que se resolva por movimentar os recursos de que dispõe no seu inconsciente, em favor de si mesmo.

É sempre válido recorrer aos seus mistérios, com objetivos relevantes, trabalhando-os em favor da renovação interior das pessoas, ou para revalidar conceitos e propostas que ainda não se firmaram no comportamento individual nem coletivo.

Entre os mitólogos, ocorrem apresentações diferentes das mesmas narrações, certamente como resultado da maneira como as vêem ou as interpretam.

O mito de Perseu, qual ocorre com o da caverna de Platão e muitos outros, tem sido objeto de interpretações variadas, adaptando-se a coragem desse herói ao objetivo psicológico do narrador.

Trazemo-lo em nossas páginas, numa síntese modesta, demonstrando a força dos valores morais na defesa dos seres amados e das lutas baseadas no perdão, para a construção da harmonia e da felicidade.

Como é sabido, segundo a mitologia grega, Perseu era filho de Dânae, um ser mortal, e de Zeus, o rei do Olimpo. O genitor de Dânae foi informado por um oráculo que, um dia, seria assassinado pelo próprio neto. De imediato tomou providências para reter distante da filha qualquer pretendente. Zeus, porém, a desejava, e dessa maneira adentrou-se na prisão em forma de chuva de ouro, de cujo encontro veio a nascer mais tarde Perseu.

Tomando conhecimento de que era avô, o rei Acrísio encarcerou a filha e o neto em uma caixa de madeira, lançando-os ao mar a fim de que perecessem por afogamento.

Informado dessa artimanha perversa, Zeus soprou ventos brandos que levaram a caixa à costa de uma ilha, onde foi recolhida por modesto pescador que os abrigou sob a aquiescência do rei local.

Sua mãe, no entanto, passou a sofrer insidiosa perseguição desse rei, que Perseu enfrentou. O rei propôs, como condição para salvar a mãe de Perseu, que este trouxesse a cabeça de uma das górgonas, a Medusa, monstro ameaçador que transformava em pedra todo aquele que lhe visse o rosto horrendo.

Para vencê-la, Perseu necessitava da ajuda dos deuses, e seu pai, Zeus, num gesto de acendrado amor, designou que Hades, rei do mundo subterrâneo, emprestasse-lhe um capacete com o qual ficaria invisível, enquanto Hermes deu-lhe sandálias aladas, e Atena ofereceu-lhe uma espada afiada e um escudo especial tão polido que se transformava em espelho, refletindo a imagem de tudo que o alcançasse.

Com esse escudo, Perseu pôde olhar apenas o reflexo da Medusa, evitando vê-la diretamente, e decepou lhe a cabeça.

O herói em triunfo retornou ao lar em júbilo, mas, quando voltava, encontrou uma linda jovem acorrentada a um rochedo próximo ao mar, aguardando que um monstro viesse devorá-la. 

O herói tomou conhecimento do seu nome, Andrômeda, e que seria sacrificada porque sua mãe ofendera os deuses que, desse modo, a castigaram.

Perseu apaixonou-se imediatamente, e a libertou, apresentando ao monstro marinho a cabeça da Medusa que o transformou em pedra. Levando em seguida a jovem para conviver com sua mãe, que se transferira para o templo de Atena a fim de fugir às investidas do rei ambicioso e depravado.

Desesperado, Perseu transformou em pedra todos os inimigos da sua genitora, erguendo a cabeça da Medusa, que foi oferecida a Atena, que a insculpiu no seu escudo, tornando-se o emblema da deusa.

Perseu, agradecido aos deuses, devolveu-lhes os preciosos presentes, e permaneceu feliz com Andrômeda.

Certo dia, porém, nos jogos atléticos, ao arremessar um disco, os ventos levaram-no para fora do estádio, matando um idoso. Lamentavelmente era Acrísio, o seu avô, confirmando-se a previsão do oráculo.

Como Perseu não era ambicioso, emocionado e triste, não desejou governar o reino que lhe pertencia por herança ancestral, solicitando ao rei de Argos que com ele trocasse de região, o que aconteceu, facultando-lhe construir a bela cidade de Micenas, com sua esposa e seus filhos.

O nome Perseu significa destruidor, e na mitologia vários elementos psicológicos têm curso: o medo de Acrísio, o receio de não chegar à velhice, a temeridade das punições àqueles que poderiam ser o veículo da sua morte, mas também a clemência de Zeus que protegeu a mulher amada e o seu filho, que arriscou a vida para salvá-la da situação desagradável e saiu para matar o monstro que destruía vidas; também está presente o amor por Andrômeda, transformando Perseu em libertador de vítimas inocentes.

No mito, Perseu castiga os maus e cruéis, tem a generosidade de devolver os presentes e ser grato aos deuses que o ajudaram na empreitada exitosa, sofrendo pela morte do avô e renunciando ao seu reino, que troca por outro.

Em todos os seres humanos encontramos esses arquétipos, havendo ocorrido o triunfo da coragem por amor, da gratidão por maturidade emocional, da proteção aos fracos em ato de compaixão, da renúncia aos bens transitórios.

Perseu triunfou porque descobriu o significado psicológico da sua existência, que era salvar a genitora, vencer os inimigos internos, perseverar nos propósitos elevados e reconhecer a própria vulnerabilidade ante as vicissitudes existenciais.

Quando alguém deseja alcançar a vitória sobre os fatores externos, eliminando as Medusas que lhe jazem no íntimo, nenhum medo mais o assusta ou aflige, porque a sua onda mental está localizada no idealismo do amor e do bem incessante, que prevalecem com alto significado, jamais se permitindo que o ressentimento ou a vingança lhe assinale a conduta.

Essa marcha contínua leva o lutador à individuação, após passar por todas as tormentas do ego e da sombra.

A psicologia da gratidão torna-se um instrumento hábil no eixo egol Self, devendo ser vivenciada em todos os momentos da existência corporal como roteiro de segurança para a conquista da sua realidade.

Filha do amadurecimento psicológico enriquece de paz e de alegria todo aquele que a cultiva.

Nesses dias de violência e de crueldade, de indiferença pelos valores morais e emocionais relevantes, a gratidão tem um papel significativo a desempenhar em referência à saúde integral dos seres humanos.

Vive-se o afã dos prazeres grosseiros e tóxicos, sem nenhuma oportunidade para o Espírito que se é, ante as pressões vigorosas do materialismo que domina a sociedade terrestre.

São convocados para essa luta sem quartel os Perseus destemidos, capazes de superar as circunstâncias aziagas, fixados na proteção de Deus que vela pelas Suas criaturas.

Esperamos que esta modesta contribuição psicológica possa auxiliar o homem e a mulher novos no grande empreendimento da auto conquista.

Salvador, 1° de janeiro de 2011.

Joanna de Ângelis (Espírito) através de Divaldo Pereira Franco  apresentando o livro "Psicologia da Gratidão" da autoria de ambos. 

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