Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

domingo, 19 de junho de 2016

O GRANDE DESAFIO DE REENCARNAR MULHER

Por Simone Mattos 

Reportagem publicada na edição 27 da SER Espírita impressa.







Espírito não tem sexo. Mas, qual seria então a finalidade, do ponto de vista da evolução do ser, em reencarnarmos como homens ou mulheres? A resposta, segundo Allan Kardec, é que a possibilidade do mesmo espírito animar ambos os sexos permite a ele maior evolução. “Aquele que encarnasse sempre como homem, apenas saberia o que sabem os homens”, diz, no capítulo quatro de O Livro dos Espíritos. A mesma obra de Kardec afirma ainda que, como não têm sexo, os espíritos encarnam ora como homens, ora como mulheres. “Como devem progredir em tudo, cada sexo, assim como cada posição social, lhes oferece provas, deveres especiais e a ocasião de adquirir experiência”.

Ser homem ou mulher, na opinião do professor universitário, sociólogo e pesquisador da Doutrina Espírita há três décadas, Airton Laufer Junior, representa sempre uma oportunidade de crescimento, progresso e desenvolvimento para o espírito. A opinião é compartilhada por outros estudiosos da Doutrina Espírita, como a professora e doutora em Educação Cleusa Maria Fuckner, que estuda a Doutrina há mais de 20 anos. “Entendo que nascemos em corpos femininos ou masculinos de acordo com a necessidade da experiência que precisamos vivenciar em cada encarnação”, afirma.

Laufer comenta que, quando devidamente consciente, responsável e num estágio de conhecimento que lhe permita discernir sobre o valor das experiências como homem ou mulher na Terra, o espírito pode aproveitar a melhor oportunidade possível naquele momento de sua história. “Assim, consegue alcançar objetivos maiores, realizar projetos de vida, desempenhando papéis e status que são característicos do homem ou da mulher na Terra”, explica. Ele cita a possibilidade da mulher vivenciar o papel de mãe, a primeira educadora inserida na biografia dos indivíduos, o que contribui para a educação dos mais jovens e no preparo do cidadão para a vida social. “Como esposa e companheira, dos lares mais simples aos mais luxuosos, a mulher é o alicerce da casa”, cita como outro exemplo. “A mulher é figura forte que frequenta as mais diversas profissões, bancos escolares, países e culturas”, comenta.

Laufer lembra ainda que a opção ou escolha em reencarnar como mulher estaria sempre subordinada ao estágio de evolução do espírito. “Se não houvesse oportunidade de reencarnar como mulher, o espírito nunca aprenderia aspectos do mundo feminino, da psicologia da mulher”, observa.

DESAFIOS

As diferentes experiências vividas pelo espírito encarnado num corpo do sexo feminino ou masculino são, em grande parte, provocadas pela desigualdade de direitos e deveres imposta pela sociedade da Terra. “Em países com histórico de repressão à mulher, como o Afeganistão, por exemplo, a situação é ainda mais crítica, com todo tipo de agressão motivado pela ignorância masculina, pelos valores de culturas retrógradas e preconceituosas”, explica Laufer.

Na análise da pesquisadora Célia, nas últimas décadas a mulher conquistou muitos espaços, mas o desafio ainda é conseguir igualdade plena, solidariedade e superação de dramas como a culpabilidade e a submissão a condições de violência e opressão. “É necessário promover o diálogo e o enfrentamento das condições injustas”, diz.

O fato é que, mesmo em países como o Brasil, governado por uma mulher, é ainda patente o preconceito, a discriminação e a falta de oportunidades de estudo, trabalho, de condições dignas de vida para muitas mulheres. “Particularmente, em regiões mais isoladas do país, em comunidades tradicionais onde o preconceito e a discriminação são velados e onde não houve tantos avanços sociais como apregoa a propaganda política oficial”, diz Laufer. Ele comenta que houve avanços, mas que estes ainda são tímidos, no que diz respeito à igualdade de condições entre sexos no Brasil. “Para uma democracia extremamente jovem que somos, conquistamos alguns avanços, mas a passos lentos”.
Segundo Laufer, à medida em que melhorarmos o nosso sistema de ensino, com oportunidades de crescimento, progresso e desenvolvimento para todos, poderemos mudar essa lógica. “O Brasil não pode continuar com a imagem do país do futebol, de mulheres seminuas, do paraíso tropical no mundo. É preciso dar oportunidades para todos, investir no ser humano, dando a cada cidadão a oportunidade de estudar, trabalhar, ter saúde e condições dignas de vida, atendendo os anseios tanto dos homens quanto das mulheres”. Ou seja, apenas teremos um mundo de paz, harmonia e amor, se verdadeiramente houver a promoção incondicional do ser humano, seja homem ou mulher. “Por isso, devemos lutar para construirmos juntos uma sociedade com mais justiça social para todos”, diz Laufer.

A administradora de Marketing e consultora de Comunicação e Mobilização Social para o Terceiro Setor, a mineira Adriana Torres, concorda que houve conquistas, mas ainda há muito para caminhar. “Hoje podemos votar e sermos votadas, temos acesso à educação e podemos escolher nossos companheiros. Mas, ao mesmo tempo, é triste ver que tantos direitos ainda são vistos como privilégios”, diz. Estudiosa do Espiritismo desde a adolescência, Adriana é uma das articuladoras do Coletivo Feminista Marcha das Vadias BH. Ela acredita que cada um de nós precisa vencer individualmente uma série de preconceitos culturais, arraigados em nossa cultura para avançar na lenta caminhada da busca de uma real igualdade entre os sexos. “É preciso reconhecer a mulher como um ser autônomo e capaz. E isso não é apenas questão de direitos humanos, mas a diminuição da desigualdade social e econômica provocada pela discriminação”, diz Adriana.

Ela afirma que, não por acaso, entre os Objetivos do Milênio da ONU aparece o desafio de “promover a igualdade entre os gêneros e dar mais poder às mulheres”, o que se tornou uma meta mundial. Segundo a lei de Causas e Desdobramentos, todos nós, que consciente ou inconscientemente promovemos a cultura da opressão ou não valorização do papel feminino na sociedade terrena, estaremos sujeitos a vivenciar os resultados das nossas atuais ações e omissões em nossas futuras encarnações. Isto se dará tanto como filhos e filhas de futuras mamães, assim como espíritos encarnados no papel de mulheres. Isto não significará nem resgate e nem castigo, mas simplesmente efeitos de uma cultura que ajudamos a criar ou contra a qual decidimos não agir.

RESPONSABILIDADE

Segundo dados do Censo Demográfico de 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de famílias chefiadas por mulheres no país passou de 22,2% para 37,3%, entre 2000 e 2010. Também aumentou o número de mulheres solteiras com filhos e o percentual de casais sem filhos. O número de casais sem filhos passaram de 14,9% para 20,2% do total de famílias brasileiras, o que significa que um a cada cinco casais brasileiros não tem herdeiros.

Mas, o que significa essa mudança que vem ocorrendo no perfil da mulher brasileira, que inclui ainda avanços como a Lei Maria da Penha, sancionada em 2006 e que visa a aumentar o rigor das punições das agressões contra as mulheres, ocorridas no âmbito doméstico ou familiar? “Vivemos em uma sociedade consumista em que a imagem feminina ainda é usada para comércio e exploração, porém cada vez mais percebemos as pessoas tendo consciência destas representações”, analisa a professora e doutora em Educação Cleusa Maria Fuckner. Ela comenta que, atualmente, é possível denunciar abusos no uso da imagem e que tais discussões são temas recorrentes nas redes sociais. “Percebo que os jovens hoje conseguem ter mais análise crítica sobre esta temática do que tínhamos no passado”, diz. “As questões de gênero e diversidade estão inseridas no universo escolar e a Lei Maria da Penha é um avanço, porém, ao mesmo tempo, ainda é assustador dados do aumento do numero de casos de estupros, não só no Brasil, mas no mundo”, diz a estudiosa.

Ou seja, avançamos muito, mas ainda há muito em que avançar. Estamos vivendo um processo de resgate do respeito e da valorização feminina, o que, certamente, proporcionará uma sociedade mais justa e com melhores condições de evolução aos espíritos encarnados.

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