Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

terça-feira, 5 de abril de 2016

ABRIR MÃO DE DESEJOS E APEGOS


Por Srim Prem Baba, publicado originalmente AQUI  e indicado pela amiga e leitora Margareth.

O ser humano, identificado com o ‘eu’ idealizado, quer isto ou aquilo, cobiçando o que está fora do alcance, e se frustra por não conseguir. Assim, ele fica com raiva e age estupidamente. Essa é uma das raízes da miséria. Esse processo venda os olhos, e assim perdemos a visão objetiva da realidade. Tudo que olhamos através desse véu, chega a nós de uma forma subjetiva, sempre a serviço de conseguir atingir a meta, que é obter isto ou aquilo. Nós nos colocamos dependentes do outro, e essa dependência nega o Divino dentro de nós mesmos. Então, nos sentimos impotentes e carentes, e assim o ciclo vicioso vai se fortalecendo.

O nosso trabalho é para retirar essas vendas que encobrem os olhos. Isso implica em nos libertarmos das dependências. Implica em abrir mão desse jogo criado pelo desejo; o desejo que nasce da identificação com o ‘eu’ idealizado.

Tudo o que o ‘eu’ idealizado quer através disso ou daquilo, é ser amado. Muitas vezes, ele sente vergonha de admitir que deseja ser amado, então ele distorce essa necessidade e ela se torna  uma necessidade de ser reconhecido e respeitado. Para cada um, o reconhecimento é diferente. Para alguns, é ter caprichos atendidos; para outros, é ter expectativas atendidas. Por trás da necessidade de ser atendido nas suas expectativas, está o desejo de ser amado.

É incrível como o ser humano faz qualquer coisa para obter reconhecimento. Ele tenta agradar ao outro, sem perceber que através dos jogos que ele faz para obter isso, ele está “vendendo a alma para o diabo”, pois desta forma ele está vendendo a liberdade de ser o que ele é. Assim, ele fica na mão do outro. Isso cria raiva e culpa por estar nesta situação. A partir daí, os desdobramentos são infinitos, a ponto de se tornar tão complexo que, para não sentir, ele amortece e congela. Com isso, ele passa a acreditar que está tudo bem na vida. Essa é uma camada mais externa encobrindo a visão real.

O que realmente ajuda no processo de libertação, é a ampliação da percepção, que está intimamente conectada com o testemunhar. Você se perde nos labirintos da mente, quando você segue os pensamentos; pensamentos gerados pela identificação com o ‘eu’ idealizado. Os pensamentos são sempre vozes do ‘eu’ ilusório. São pensamentos que tentam reafirmar a sua fantasia de onipotência. Ou você se coloca abaixo ou acima; ou você está atacando ou se defendendo. Então, você segue a trilha do pensamento, e assim cria uma história. Essa história é como um sonho: o seu corpo está acordado e seus olhos estão abertos, mas a sua mente está sonhando. O enredo desse sonho é baseado nos pensamentos. É nesse sonho mental que você sofre.

O que sustenta a identificação são as feridas que você carrega no seu corpo emocional, e esse sonho te impede de entrar em contato com essas feridas emocionais que continuam abertas, assim, você continua identificado com a mente e com o corpo.

Eu tenho dito que a iluminação começa quando você começa a parar de sonhar; quando você larga a identificação com o corpo e com a mente. Então, você se torna somente uma testemunha. Até mesmo o desejo pela iluminação precisa cair. Todas as crenças precisam cair. Até porque, muitas vezes, o desejo pela iluminação está baseado em uma crença – a crença de que se você se iluminar você será amado exclusivamente, e terá todas as suas expectativas atendidas. Quem quer se iluminar? Perceba que é o ‘eu’ idealizado que continua desejando, mas apenas muda o foco. Quando a entidade ainda não conhece nada sobre espiritualidade, ela deseja ser importante, deseja fama, deseja ter seu nome nos outdoors; ela quer um tapete vermelho para passar, mas depois que ela conhece um pouco sobre espiritualidade, muda o foco do desejo, porque ela acredita que, se ela se iluminar, terá todas as suas expectativas atendidas. Você cria uma fantasia de iluminação, que se torna um grande obstáculo, para que isso ocorra de fato.

A iluminação é infinita, mas ela começa pelo testemunhar, quando você pode estar desidentificado da mente e do corpo, sem se distrair com o pensamento. Você reconhece as vozes oriundas do ‘eu’ inferior e apenas deixa passar, sem dar atenção a elas.

Junto com esse testemunhar, o que você pode fazer é focalizar a sua mente no Divino; na beleza da vida, da natureza e até mesmo da beleza criada pelo homem. Porque a beleza é sempre uma manifestação divina. Respire a beleza e você vai ampliar a sua energia.

Outra forma de se conectar com o Divino, é através de um dos nomes dele. Todos que receberam diksha (iniciação), receberam um mantra, que é como uma corda que foi jogada para te retirar da areia movediça. Quem jogou a corda foi o seu guru que te deu esse mantra, que acorda a frequência do Divino dentro de você.

Observação ou testemunhar, focalização na beleza e seu gurumantra – esses são os principais instrumentos. Você pode fazer uso da oração de uma forma muito espontânea. Você pode conversar com a Divindade, como se você fosse uma criança que está conversando com os seus pais. De uma forma honesta e pura, peça para se tornar livre desse sonho, para que o véu seja removido da sua visão.

Tudo isso que estamos fazendo, é para preparar o campo para receber o darshan definitivo - aquele que te liberta da identificação com o ‘eu’ idealizado. Ele te liberta da ideia de que você é um corpo, ou a mente. Em outras palavras, isso significa o fim da dependência; o fim dessa necessidade tão absurda de querer arrancar do outro, algo para te preencher, mas que nunca preenche.  

A mente somente pode silenciar estando desidentificada do ‘eu’ idealizado. Estando identificada, ela não pode parar. A natureza do ‘eu’ idealizado é desejar. Isso porque ele é falso, e sempre se sente incompleto. Assim, ele está sempre desejando.

É verdade que o Eu real mora dentro de você. É verdade que a fragrância do Ser é alegria sem causa, amor e bem aventurança. Mas eu nunca te enganei, eu nunca disse que seria fácil chegar nesse lugar. Há que se ter disposição para remover as capas que encobrem o Ser; para abrir mão das dependências e do desejo. Há que se ter disposição para abrir mão do jogo do sofrimento, que consiste basicamente em forçar o outro a dar algo que ele não tem para te dar. Essa é a insanidade do ‘eu’ idealizado: ele cobiça algo que está fora do alcance. Esse jogo somente é interrompido, quando você se cansa dele, para poder abrir uma clareira; para receber a Graça que te liberta. Quando você está realmente cansado desse jogo, você consegue ser sincero no seu pedido por libertação. Assim, você abre um espaço para a Graça te pegar.

Mas, esse passo fundamental não pode ser dado, se você não estiver consigo mesmo. Você precisa aprender a ficar consigo mesmo. Muitos passam um tremendo aperto para chegar nesse lugar.

Quando você se move em direção ao Supremo, o Supremo se move na sua direção; e esse movimento em direção a você é como uma tesoura que vai cortando as suas dependências. Dependendo do grau dessa identificação, fica árido e apertado, mas não existe outro jeito, você precisa passar por esse funil.

Estando desidentificado da mente e do corpo, você está pronto para morrer. E estando pronto para morrer, você está pronto para viver - viver plenamente. Não importa a forma que você vive no mundo, se você quer realmente se libertar do sofrimento; se quer realmente experienciar o yoga, você vai precisar se libertar dos apegos a essa forma; a forma que é o jeito que você escolheu para viver. Um é casado, outro é solteiro; um trabalha no mundo, outro vive no ashram... Mas, isso não é o mais importante. O que importa, é como você se relaciona com o mundo. Você está livre das paixões ou dependente delas?

Esse é o caminho para você se tornar senhor de si mesmo; para você se tornar um swami (senhor de si mesmo). Muitos recebem esse título, mas poucos são realmente swamis. Cansei de ver isso durante o Kumbh Mela. Sanyasin não significa colocar uma roupa diferente. Eu me tornaria famoso rapidamente, se pedisse para alguns de vocês usarem roupas diferentes. Mas, isso não faz de você um sanyasin ou um swami, pois isso vem de dentro. É quando você já não depende, ou é tentado pelo mundo. É quando você cansou do brinquedo... Você não julga ou condena o brinquedo (e até acha graça de quem está brincando), mas simplesmente compreende que faz parte da vida e da evolução.

O principal vício é o vício no outro. Ao mesmo tempo é uma grande oportunidade para você se tornar livre. Esse é o grande paradoxo, é uma chance, porque você pode perceber a sua identificação com o falso ‘eu’. Enquanto você está identificado com o ‘eu’ idealizado, você não ama - você só quer ser amado. Ninguém está identificado com o ‘eu’ idealizado o tempo todo, há momentos que o Ser real se manifesta, e você tem vislumbres do amor. Mas você não sustenta, porque a conexão com o ‘eu’ idealizado continua. Mesmo que ela não exista o tempo todo, mas se você não chegou ao estado final de liberação, a identificação vai continuar voltando. Esse momento é ainda mais difícil para o buscador. Porque, no primeiro estágio, ele só quer receber, e não tem consciência de nada. Ele sofre, mas nem sabe que está sofrendo. Mas, quando ele começa a ter consciência do quanto ele abre e fecha tão rápido, torna-se muito difícil. Mas, essa é uma passagem absolutamente necessária, até que você se canse de estar fechado; até que se canse do jogo do sofrimento, e possa pedir, com toda a pureza da sua alma, para realmente se libertar disso. Então, inevitavelmente, você começa a receber essa cura, pois ela é um processo. Muitos estão dentro desse processo; muitos estão com essa cura aberta.

Alguns já estão podendo relaxar e celebrar, e outros estão ainda no meio da cirurgia. No meio da cirurgia, os sentimentos são diversos e contraditórios. Às vezes, você confia e se entrega para o médico; às vezes, você desconfia e acha que entrou em uma roubada - o que aumenta as suas resistências. Mas, o fato é que você está na mesa de cirurgia, sendo aberto. O que pode acontecer, é adiar o seu processo, até que a anestesia acabe. Mas, é assim mesmo. Está tudo certo. Até mesmo se você estiver resistindo, está tudo bem. Cada um dá o que tem para dar. Eu somente estou ilustrando o processo, para ajudar a compreensão de alguns.

Muitos já tiveram a experiência de que, quando Deus te pega, toda a resistência e todo medo vai embora. A questão é que, no nível consciente, você quer se libertar e ser pego por Deus, mas, no nível inconsciente, você quer continuar nessa guerra, tentando ter seus desejos realizados. Nessa área, onde os desejos não foram realizados, você não confia em Deus, e tem que fazer do seu jeito: “Eu controlo, eu mando”. Mas, é assim mesmo, até que você possa se render, o que significa entregar as armas.

“Seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no céu”. Esse é o jogo da evolução. Dependendo da sua entrega, milagres podem acontecer. Mas, eu não estou dizendo para você forçar a sua entrega (eu sei que isso não se força); eu só quero te explicar que isso existe. Esse lugar é mágico, e muitos milagres acontecem aqui.

Até a título de conhecimento, eu estou combinando com Swami Ashu Brahmachari, para ele nos contar algumas histórias sobre este lugar. Assim como, no futuro, eu quero organizar um livro sobre esses milagres. Eu estou coletando histórias, pois sei que existem muitas. Então, eu o convidei para vir até aqui todos os dias, por alguns minutos, para nos contar uma história. Existem outros swamis, que também têm contado muitas histórias, que eu tenho chamado de “tesouros de Sachcha”. Então, vamos aproveitar essa oportunidade para saber mais sobre a linhagem, o que vai ajudá-lo a iluminar a confiança.

Abençoado seja cada um de vocês. Que tenhamos a firme disposição de abrir mão de toda a ilusão. Até o nosso próximo encontro.

NAMASTE

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