Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sábado, 26 de março de 2016

A SUPREMACIA DAS LEIS DIVINAS


Por Fernando de Oliveira Maciel - Juiz de Direito/GO na Revista da ABRAME - nº 16/2015

Observa-se com tristeza o fato de concentrarmos nossas atenções no julgamento de condutas alheias. Ultimamente tornou-se comum ser tratada como verdadeira atração – quer na televisão, nos jornais escritos, no rádio e na internet – a exploração das misérias humanas pertinente aos casos policiais, em que transmitem todos os detalhes dos mais diversos crimes ocorridos em nossa sociedade, tais como homicídios, roubos, furtos e outros tantos.

Ocorre que, neste momento tão grave por que passamos – principalmente pelas notícias do Plano Maior acerca da fase transição do mundo de provas e expiações para o mundo de regeneração – convém uma análise mais criteriosa de nós próprios a esse respeito, sob as luzes dos ensinamentos do Cristo. Sem nos determos na lição do Mestre em não julgarmos a conduta alheia, percebe-se outro grave equívoco em acreditar que o parâmetro de comportamento mais relevante de que dispomos seriam as leis humanas. Ora, se está a tratar de leis que são produzidas pelo ser humano, parece lógico crer que tais normas não sejam perfeitas, mesmo porque não passa de um produto de um ente imperfeito, ou seja, de nós próprios. É claro que tal conclusão não nos autoriza ao desprezo das regras humanas, mas sim nos alerta que trata de algo que precisa de aperfeiçoamento, sendo perfectíveis, portanto. Não por outro motivo que se observa ao longo da história as inúmeras mudanças ocorridas na legislação em todos os tempos e em todas as nações. O que já foi considerado um crime odioso, com penas extremas (inclusive de morte), a exemplo do adultério (1) , hoje pode não guardar assim maior interesse na sociedade. E aqui, sob a ótica da psicologia do Cristo, parece ser muito relevante para nosso ego não contrariar as leis humanas para o conforto de nossa consciência, olvidando deliberadamente a supremacia e eternidade das Leis Divinas, notadamente as estabelecidas de modo absolutamente claro e didático em O Livro dos Espíritos, no terceiro livro, denominado Leis Morais, onde os espíritos assinalam a existência de dez Leis Morais, universais e imutáveis. (2)

Nesse sentido, após medir a extensão desses conceitos, emergem alguns questionamentos. Quem de nós é capaz de declarar que observa rigorosamente tais leis eternas? Quem de nós mede as consequências de todas nossas condutas que, de alguma forma, prejudica outrem ou a si mesmo? Quem de nós pode afirmar que em momento algum causou (ou ainda causa) dor ou sofrimento ao próximo? A verdade é que, em nossa condição espiritual atual, ainda somos reincidentes nas violações das Leis Divinas, muitas vezes, sem se dar conta desse fato de maneira honesta e, sobretudo, humilde. E preferimos observar os outros que transgridem as leis humanas, como forma de consolo para nosso próprio ego, acreditando que estamos em patamar muito superior a tais irmãos.

O parâmetro do Cristo, porém, sempre foi diverso, no sentido de observar o ser humano em toda plenitude, com o foco na observância nas Leis Divinas. Seria possível citar inúmeros exemplos de passagens em que Jesus esteve com pessoas que infringiram as regras humanas e demonstrou a supremacia da Lei do Amor, como nas narrativas contidas no Novo Testamento dos casos da mulher adúltera (3)  ou mesmo na vida de Paulo de Tarso (4) . Ou, de modo mais sutil, Jesus ainda demonstra como deve ser o comportamento cristão quando nos afigurarmos vítima em contendas envolvendo as leis humanas ao proclamar: “Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa”. (5) Entretanto, aproveitando da sensibilidade de Humberto de Campos, pelas mãos abençoadas de Chico Xavier, destaca-se um caso em que o Nazareno demonstra que nem sempre aqueles que violam as leis humanas coincidem com os que se mostram devedores da Lei Cósmica Universal. Consta no livro Boa Nova, capítulo 28, que Jesus trata com os discípulos sobre a questão da fé, momento em que Tomé externou com convicção que tal qualidade estaria reservada ao homem culto, à pessoa ocupada com o saber das ciências. Amorosamente, o Mestre assinalou o equívoco dessa visão ao dizer, em síntese, que a fé pertenceria aos que trabalham e confiam. Naquela situação, Jesus percebeu que a lição ainda estava incompleta, pois os discípulos ainda se confundiam com essa explicação. Mas, foi na cruz que Cristo reservou o complemento da lição, notadamente no momento em que predominavam gargalhadas e ironias da maioria daqueles que presenciavam o suplício. Tomé se aproximou do Mestre, ainda confundido e indeciso com tudo o que acontecia, e neste instante recordou sobre a questão da fé, tratada com o Mestre dias antes. Então, percebeu que Jesus deitava seus olhos sobre um dos ladrões, o qual, com sinceridade absoluta, disse:
“- Senhor! – disse ele, ofegante – lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino! O discípulo reparou que Jesus lhe endereçava, então, o olhar caricioso, ao mesmo tempo que aos seus ouvidos chegavam os ecos de sua palavra suave e esclarecedora: - Vês, Tomé? Quando todos os homens da lei não me compreenderam e quando meus próprios discípulos me abandonaram, eis que encontro a confiança leal no peito de um ladrão!...” (6)

Como se observa, Jesus observa o ser humano em sua integralidade, sempre pautado e comprometido com a supremacia das Leis Divinas a reger nossos destinos, não apenas neste momento, mas para toda eternidade. Antes de nos julgarmos superiores aos irmãos encarcerados ou envolvidos em crimes estabelecidos pelas leis humanas, que reflitamos com sinceridade da alma em nos reconhecermos igualmente como reincidentes na violação das Leis Imutáveis, comprometendo-se consigo mesmo a cumprir a missão que o Alto reservou a si próprio. Esta a nossa tarefa nesta existência, o que certamente irá aprimorar os nossos laços de afinidade com o Pai. Que Jesus continue a nos abençoar nesta marcha!

1 - No Brasil, o adultério, que já tinha pena irrisória, deixou de ser crime a partir de 2005, pela Lei 11.106/2005, a qual, entre outras alterações promovidas, revogou o art. 240 do Código Penal Brasileiro. 
2 - Todas as Leis Morais constam em O Livro dos Espíritos entre as questões 614 e 892. 
3 - Narrada no Evangelho de João, 8:1 a 11. 
4 - Narrada ao longo do Ato dos Apóstolos e, com muito mais detalhes, na conhecida obra Paulo e Estêvão, psicografada por Francisco Cândido Xavier, ditada pelo Espírito Emmanuel. 
5 - Narrada no Evangelho de Mateus, 5:40. 
6 - CAMPOS, Humberto de (Espírito). Boa nova, psicografado por Francisco Cândido Xavier. 34. ed., Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2005, p.188.

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