Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

ESTIVE PENSANDO: DESCONSTRUIR SÓ PELO PRAZER DA NÃO-REALIZAÇÃO

Brincar nos montes de areia que tinham em frente às nossas casas em construção era uma atividade que nos demandava muita satisfação. 

Passávamos horas sulcando a areia, construindo pontes, túneis, avenidas, ruas, e tudo aquilo que achávamos interessante para depois colocarmos nossos carrinhos para a curtição. 

Interessante é que só terminávamos o serviço de construção pelas limitações inerentes às nossas condições naqueles momentos. É que no outro dia a areia seria utilizada na construção e aquilo que havíamos feito seria destruído e precisávamos curtir um pouco aquilo tudo. 

Se não fosse por isso acredito que ficaríamos construindo, construindo, sem fim... O prazer em fazermos algo, em ver a nossa impressão em alguma coisa era muito boa. Mais interessante ficava que após brincarmos um pouco com os carrinhos e sabendo que a construção realizada seria inutilizada, nós mesmos no final da brincadeira cuidávamos de destruir tudo. 

Essas memórias me trazem às situações de nossas vidas que demonstram como nos relacionamos com a existência.

Nossa missão é construir: a nós mesmos, à nossa família, à nossa comunidade, à nossa sociedade como um todo. Nossa missão é construirmos as ruas que favoreçam o trânsito entre as pessoas,  e para isso serão necessários túneis que vençam obstáculos que nos pareçam intransponíveis, pontes que nos acessem mais facilmente à situações futuras que almejamos, ou seja, a vida que merece ser vivida é a vida que nos demande ação. 

Como na brincadeira, onde a destruição da construção fazia parte da mesma, pois se transformaria em nossas casas, no nosso dia a dia,  precisamos desconstruir e construirmos novamente, e isso portanto é inerente à nossa condição existencial. 

O que precisamos cuidar em nós é que muitas vezes desconstruímos o que o outro construiu, mas não desconstruímos aquilo que realmente temos construído (e às vezes já se encontra solidificado) em nós. Alguns de nós insistem na condição de agentes da destruição alheia pelo simples fato de mostrar que não concordamos com o que o outro tem construído, porém, deixamos na maioria das vezes um local devastado, arrasado, e não nos colocamos na condição de auxiliares para a reconstrução do mesmo. Agimos na condição egoística de que fazemos aquilo que nos agrada somente.  

Em muitas situações nossas destruições são fomentadas por um sentimento de orgulho e até de inveja, pois não nos sentimos capazes de realizar o que o outro realiza e ao contrário de nos investigarmos a fim de encontrarmos os motivos dessa impossibilidade, preferimos desqualificarmos a construção alheia.

Já que construir e destruir faz parte da condição existencial, que saibamos fazer isso a partir de nós, e quando envolvermos um terceiro, que nos coloquemos a disposição para auxiliarmos tanto nas construções de novas realidades quanto na destruição de ideais equivocados. Sejamos solidários e seremos com certeza, mais úteis. E nada melhor do que fazer em nossas existências algo que seja útil a todos.    

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

DOMINGO EM COPACABANA - DE BERNARDO MELLO FRANCO - FOLHA DE SÃO PAULO

Vi uma multidão de verde e amarelo em Copacabana, com bandeiras do Brasil e cartazes contra o PT. Ouvi palavras de ordem e palavrões contra Dilma e Lula. Não ouvi os nomes de Aécio, Marina, Serra ou Alckmin, que Dilma e Lula derrotaram nas últimas quatro eleições.

Vi faixas contra os senadores Renan Calheiros e Fernando Collor, investigados no petrolão. Não vi nenhuma menção ao deputado Eduardo Cunha, o articulador do impeachment, que é acusado de embolsar US$ 5 milhões no mesmo escândalo.

Vi um desfile de camisas oficiais da seleção. Não vi ninguém citar os cartolas da CBF sob suspeita de corrupção, como Ricardo Teixeira e José Maria Marin, preso na Suíça.

Vi mais de uma centena de manifestantes pedindo a volta dos militares. Vi homens de boina do Exército a bordo de um jipe camuflado. Não vi nada que lembrasse os crimes da ditadura fardada de 1964.

Vi cartazes com a foto do juiz Sergio Moro, que prendeu José Dirceu há duas semanas. Não ouvi o nome de Joaquim Barbosa, que prendeu o petista há menos de dois anos.

Vi faixas contra o comunismo, ouvi que “a nossa bandeira jamais será vermelha”. Vi uma celebridade sumida da TV, o ex-casseta Marcelo Madureira, atacando o PT em um trio elétrico. Não vi a atriz Regina Duarte. Depois soube que ela perdeu o medo e escalou uma árvore para tirar “selfies” com a passeata ao fundo.

Vi manifestantes confraternizando com PMs. Também vi uma faixa a favor da PEC 300, que aumenta o salário dos PMs. Não vi atos de vandalismo e ninguém ameaçou “pegar em armas”, como fez o presidente da CUT em solenidade no Planalto.

Na volta, vi um deputado de blusa amarela na porta de um bar lotado de gente que chegava da manifestação. Ele andou até uma camionete, parada em local proibido, e buscou a filha com uma mulher negra. A mulher não parecia vir do protesto nem usava camisa da seleção. Vestia um uniforme branco de babá.