Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

À MARGEM, NO CAMINHO, UMA BELEZA IMPONENTE

A avenida segue majestosa o leito de um filete de água suja e mal cheirosa que um dia foi um ribeirão. Importante via de escoamento de tráfego, atravessa uma parte considerável da cidade ligando extremos e favorecendo a todos. 
À sua margem, como a dar vida além dos carros, ônibus e caminhões que nela circulam, uma ciclovia propicia espaço para a prática de exercícios físicos. Não raro vemos bicicletas e caminhantes, ou mesmo adeptos da corrida, valendo-se do espaço para aprimoramento do corpo e por conseguinte da alma, pois como nos legaram os gregos: mente sã e corpo são. 
À parte isso, há casas e estabelecimentos comerciais. Nas casas se vê pouca movimentação externa e nos comércios apenas mesmo os que dele necessitam serviços. A vida acontece de maneria semelhante a muitos lugares do mundo, com o ir e vir de carros e pessoas, a cimentar ainda mais a paisagem cinzenta do asfalto. 
Porém, como que a revelar que há mais ainda a ser visto, surge ele. Imponente, vistoso, belo, instigante: o Ipê. Ele está lá há muito tempo, mas quase poucos o veem, mas sua função de embelezar o mundo independe do que ele é, depende do que são os que com ele se relacionam, se interajam, se encontram.

Hoje, absorto em meus pensamentos e como que contando as passadas de uma caminhada despretensiosa, ousei olhar à margem, não a procura do que me incomoda, como o lixo, a sujeira, os pequenos roedores, as águas que insistem em permanecer paradas acumulando mal cheiro. Olhei de relance e fui surpreendido. O que era aquilo? Como podia ser tão bonito? Como se destacava na paisagem barulhenta e sem cores desse cotidiano de estar à margem. Ele lá estava. Imponente e bonito. Sereno. Quieto. Impactante. Estava lá como a me mostrar que é importante sim o foco no caminho, mas as belezas das margens não podem e nem devem ser menosprezadas. Quantas metáforas podemos extrair após refletirmos sobre um acontecimento assim? Várias. Duas se destacaram em mim: 
1 - Quantas vezes nos preocupamos com os objetivos, os caminhos a serem traçados e seguidos para alcançá-los e de tão bitolados que ficamos esquecemos de olhar para o lado e percebermos que há belezas que podemos considerar e assim amenizarmos nossa ansiedade gerada pela vontade inequívoca de encerrarmos a caminhada. A beleza nos propõe uma quietude, que acalma, sereniza, fortalece e nos permite re-avaliações;

2 - O Ipê está lá, sobrevivendo à especulação imobiliária, aos maus tratos dos que com ele mantém, contato, mas permanece firme no seu propósito de ser belo, por si só, sem se preocupar se os outros o perceberão, mas esperançoso de que isso ocorra para significar ainda mais sua existência. Ele permanece firme na certeza de que o tempo que lhe tiver disponível, se preparará para florescer, para com suas flores e frutos impactar os que dele se utilizam, por motivos os mais diversos, mas caso ninguém o note, ele terá cumprindo a potencialidade existente no seu gérmen, quando ainda era só uma semente. 
O Ipê seguirá firme até quando queiram, e assim será eternizado na alma daqueles que souberem avaliar positivamente sua contribuição para uma vida mais bonita, mais leve, mais suave.
Ele está lá, na Avenida Tereza Cristina, no Bairro Salgado Filho, encravado na selva de pedra, amolecendo a alma dos que se permitem enxergar perifericamente. 
Ele está lá, cumprindo sua missão, independente do reconhecimento de terceiros, fazendo a diferença apenas para os que querem que ele seja a diferença, sem imposições, sem verdades absolutas, apenas se valendo do que tem de melhor: a beleza de ser criatura divina!